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quinta-feira, junho 30, 2005

A fina flor do entulho

Dia quatro de exames antes do final e mais importante. Este já não conta, vou só ajudar os colegas de grupo que precisam da nota. Nem sabe o professor da cadeira a sorte que teve por isso. Porquê? Lá chegaremos.

Ora o exame de hoje era da classe de Música Antiga. Aberturas e cenas da Fairy Queen de Henry Purcell, alguns dos momentos mais maravilhosos da música ocidental. Que melhor ambiente que o do Salão dos Embaixadores do Palácio Nacional da Ajuda? Bom, assim de repente... todos! É estranho e não é. Afinal estamos em Portugal. E o verdadeiro espelho do país não são os arraiais ao som de Quim Barreiros, mas estas elites enfeitadas a ouro que bocejam ao som de um génio e não conseguem focar o olhar, ao menos para fazer de conta que estão a ouvir qualquer coisa. Confessem, vá, um bom bailarico é que vos alegrava a noite, não era? De toda a experiência que tenho, a única imagem que bate as desta noite é a do D.Duarte Pio de Bragança Giroflé-giroflá a tirar discretamente uns burriezitos do nariz ao som do Messias na primeira fila do transepto da Sé de Angra do Heroísmo. Que é que pensam, isto da música erudita é um grande observatório sociológico, não duvidem!

A viagem pela elite portuguesa começou logo ao meio-dia com o ensaio de colocação. Diz-nos o senhor que aparentemente representa a directora do museu [um acessor de banco corrido que estava interessadíssimo em mostrar-nos como os focos de luz iam iluminar as plantas por detrás dos músicos], que não são admitidos outros convidados que não os do Palácio, "os mecenas que nele injectam milhões, e as respectivas famílias". Pronto, tocou a sineta na cabecinha d@ Manel, até então deliciad@ com o salão e boquiabert@ admirando o imponente lustre que o domina. Não são admitidos convidados? Mas isto é um exame do Politécnico, por lei tem de ser público. Aliás, foi por isso que há três anos uma dúzia de parolos puseram o seu exame de Interpretação Cénica em risco quando souberam que iam ser cobradas entradas -ninguém entrava no palco se a entrada não fosse livre. E a entrada foi livre. Mas este exame não era meu e havia colegas dependentes da nota que não pareciam interessados em levantar muitas ondas. E o bom contestatário é aquele que sabe quando é hora de não contestar... muito. Sou eu e o Manel Alegre, a mim ninguém me cala. Só que ultimamente tenho aprendido a misturar o melhor possível a franqueza com o cinismo social. E a verdade saída de uma boca diplomaticamente sorridente é, tenho aprendido, ainda mais assustadora. O dito senhor achou por bem, então, utilizar uma das tácticas mais velhas do mundo -afinal, ele não queria saber do exame para nada, mas os mecenas tinham de ouvir os macaquinhos amestrados da escola de música e ele não queria correr riscos. Abordou-me cordialmente, pediu para falar particularmente e off the record [só faltou dizer que se via logo que eu era muito inteligente e de confiança] e contou-me, para ilustrar as façanhas das orquestras escolares, uma patranha sobre como se comportaram os alunos de uma outra escola oficial e os seus convidados, uma patranha envolvendo comida e a tão conhecida alarvidade das classes mais rascas [esta acrescentei eu]. Descansei-o: -Meu caro, quando digo que tem de ser público falo do concerto, não do buffet. Bem podia acrescentar que no fim até podia mandar a malta para a cozinha, comer os restos da ceia dos senhores, que a gente não se importava. Mas contive-me. Ando a perder qualidades, é o que é.

Mas a comida parece ser uma preocupação premente. Logo a seguir quisemos confirmar que tínhamos direito a almoçar na cafetaria do IPPAR. Sim, tínhamos, mas era uma excepção, não costumava ser assim e a senhora directora estava com os cabelos em pé com essa história [sic], porque eles faziam o favor de nos pôr à disposição um espaço para mostrarmos o nosso trabalho, era justo que viéssemos com os nossos próprios meios. Digo eu, talvez umas iscas numa marmita de latão, não? Aí podia ter respondido muita coisa. Que era significativo que aquela mentalidade e aquela conversa viesse das mais altas instâncias do palácio que alberga o nosso Ministério da Cultura. Que de facto, com um pensamento tal nas elites, não admira que sejamos sempre o aluno virado para o canto com orelhas de burro. Que é esta a consideração que os donos do dinheiro da Cultura têm por aqueles que a vivem e fazem nascer e renascer todos os dias. Mas o velho Manel deu sinal de vida: -Então a senhora directora podia era pegar numa guitarrinha e ir ela ali para a frente animar os mecenas, que tal? Um silêncio aparvalhado do outro lado foi o sinal de que aquela conversa já não ia a mais lado nenhum. E eu também tinha mais que fazer do que aturar um sabujo armado ao aristocrata.

À noite, antes do exame, a senhora directora apareceu, mal vestida como o raio -como é apanágio destas senhoras quase todas, muito ouro, muito brocado, muita cor, a saia travada nos corpos inchados, enfim, o mais absoluto despudor estético- dizendo-nos para entrar. De repente senti-me fardad@ e de guardanapo branco no antebraço. A douta senhora entrou pela ala, de braço no ar, estalando os dedos, qual governanta, mandando-nos entrar para tocar sem sequer perguntar se estávamos prontos. Quando eu tinha a certeza de que ela ia gritar "Garçon!", veio a hesitação na voz e finalmente a palavra certa, raios estava debaixo da língua, "Ó Maestro, Maestro!", o braço alçado, os dedos a estalar e os meus pêlos dos braços a levantarem-se, um por um. Melhor que esta só a dos Jerónimos, que decidiu dar uma entrevista para a SIC no meio de uma cantata de Webern e teve de ser mandada calar pelo coro e pelo público.

E depois o público. Meus deuses. A primeira fila era assustadora. Dos homens nem preciso de falar, cinzentos e balofos, todos iguais, todos aparentemente mortos. A mulher mais bem-vestida era a Maria Barroso -que ao sentar-se espetou com a longa écharpe nas trombas de uma professora do júri [trombas é como quem diz, que bem gira é ela] que estava sentada atrás dela-, tudo o resto estava ao nível da senhora directora, e abaixo dele. Assim sentadas, de saias arregaçadas, ainda eram mais repugnantes à vista. Os olhos, em geral, vagueavam pela sala, talvez em busca de um relógio, talvez em busca de nada que não a passagem rápida do tempo. Os bocejos também deram um ar da sua graça. De tosses esteve-se menos mal. Não havia os ácaros da Gulbenkian e está calor. Viva, um ponto a favor. A minha tia de estimação, de há dez anos conhecida de andanças corais amadoras, mulher sem problemas porque bem empregada na sólida firma Dias & Dias à Boa Vida, S.A., andava numa excitação, com a sua maquinazita fotográfica. Era uma perseguição no coro, pelo visto não mudou. Já tem histórias para contar no próximo ensaio, sobre as andanças de mais um@ filh@ pródig@ no seu palácio. Bom, esta pelo menos ainda está com umas pernas jeitosas, bem que podia ter-se sentado à frente, amenizava um bocadinho aquele friso flácido. É verdade, cá para mim aquele puto fardado de rosto triste que não tirou os olhos da orquestra vai começar a tocar contrabaixo. É um palpite...

Intervalo. E depois do intervalo os músicos em cena, aguardando o regresso do público por bem mais que cinco minutos. A falta de chá desta gente nem merece comentários. E o momento mais difícil da noite. Antes da Chaconne final, as deslumbrantes canções de Night, Mistery, Secrecy e, finalmente, Sleep: -Hush. No more. Be silent. Be silent all. Sweet repose has clos'd her eyes, soft as feather'd snow did fall. Softly, softly, steal from hence. No noise. Pausa. No noise, Pausa. disturb her sleeping sense. No noise. Pausa. No noise, Aaaaatchiiiiim!!! disturb her sleeping sense. A gargalhada a irromper, não Manel, tu és profissional, aguenta-te! Impossível olhar para a Cristina B.C., topou-me à légua, e na segunda fila, atrás da Maria Barroso, pode dar-se ao luxo de rir em silêncio mas com a cara toda. Não se faz. Foi um sofrimento!

No fim a senhora directora ofereceu-nos manjericos. Eram para os solistas dizia, e nós em coro, "solistas somos todos, isto é um grupo de câmara!". E no fim de tudo troca os nomes e agradece à vândala orquestra da qual o acessor me tinha contado as supostas alarvidades. Calculem o que tive de me conter para não lhe dizer: -Está a confundir-nos, nós temos mochilas mas não roubámos comida nenhuma, e nem sequer trouxémos convidados, ok?! Já calcularam? Calcularam mal. Foi muito mais que isso. Mas consegui. Estou a ficar adult@, será? E vinte e oito anos não será cedo de mais para tal desventura acontecer? Bolas!...

Em resumo, um dia bem passado no meio da fina flor do entulho. São estas as nossas elites. Francamente, ainda acham que a culpa é dos funcionários públicos? E quando é que se reforma esta gente? E os sucedâneos? E os sucedâneos dos sucedâneos? Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrggggghhhhhhhhhhh!!!!

terça-feira, junho 28, 2005

Marcas do Jornal da 2:, II

Este mundo é uma palhaçada, realmente. Ou então sou eu que estou hoje muito bem-dispost@.

Marcas do Jornal da 2:, I

O bastonário da Ordem dos Médicos diz que eticamente uma violação não é justificação para uma IVG, porque "a criança que vai nascer não tem culpa que o pai seja um criminoso" [sic].

Pelos vistos quem tem culpa é a mãe. Pois. É a história do costume.

Rai' das gajas descobrem tudo...

Eu aqui preparada para lhes fazer uma surpresa e lhes oferecer umas trutitas em versão boneca e elas descobrem o site da Vanessa antes de eu ter tempo de dizer qualquer coisa... :|
Mas elas são lindas (as trutas, as restantes lãzudas, a Vanessa e a Lilo, que está quase, quase a nascer), e estão expostas AQUI. Se se apaixonarem por uma princesinha destas, acho que podem fazer as vossas encomendas por e-mail: bonequeira[arroba]gmail[ponto]com.

A estrada está cheia de placas incompreensíveis.



Desculpem lá a definição não ser a melhor, sacanear um álbum de capa dura não é tarefa fácil. Giro giro é o nome com que ficou o ficheiro: Mordillo pé. É assim um bocado como Lambe-m'a-sala...

sábado, junho 25, 2005

Banda sonora do dia - III [Adenda pessoal]

Street's like a jungle
So call the police
Following the herd
Down to Greece
On holiday
Love in the 90's
Is paranoid
On sunny beaches
Take your chances looking for

Girls who are boys
Who like boys to be girls
Who do boys like they're girls
Who do girls like they're boys
Always should be someone you really love

Avoiding all work
Because there's none available
Like battery thinkers
Count your thoughts on 1 2 3 4 5 fingers
Nothing is wasted
Only reproduced
Get nasty blisters
Du bist sehr schon
But we haven't been introduced

Girls who are boys
Who like boys to be girls
Who do boys like they're girls
Who do girls like they're boys
Always should be someone you really love

Albarn/Coxon/James/Rowntree

Banda sonora do dia - II

Homofobia não, tu és bem mais que um defeito
Homofobia não, o crime tem de acabar
Homofobia não, sabemos o que tens feito
Homofobia, em Viseu ou em qualquer lugar

Tu queres fingir que eu nunca existi
E queres matar o que sempre senti
Vá, sai daqui - ou pensas que podes ser assim?

Homofobia não, já chega de preconceito
Homofobia vá, toca a desincorporar
Homofobia não, mas que horizonte tão estreito
Homofobia, estamos aqui p'ra te pôr a andar

Vamos unir a voz contra ti
E educar (vai ser o teu fim!)
Vá, sai daqui - ou pensas que podes ser assim?

É que a família não, não é nem deve ser
Um instrumento que usas para teres poder
E o casamento é, é mas não pode ser
Um privilégio que só alguns podem ter

Homofobia não, tu não tens esse direito
Homofobia não, nós vamos poder casar
Homofobia não, não queremos o teu respeito
Homofobia, vais é desaparecer do radar

Homofobia não, já chega de preconceito
Homofobia vá, toca a desincorporar
Homofobia não, mas que horizonte tão estreito
Homofobia, estamos aqui p'ra te pôr a andar

É que a família não, não é nem deve ser
Um instrumento que usas para teres poder
E o casamento é, é mas não pode ser
Um privilégio que só alguns podem ter

Letra: Paulo Côrte-Real
Música: António Variações

Banda sonora do dia - I

Marcha Nupcial do Orgulho

A constituição
A constituição
Já diz que não à discriminação

Direitos iguais
Direitos iguais
Queremos os mesmos, nem menos nem mais

Queremos o casamento civil
Queremos o casamento civil

Em Portugal
Em Portugal
Tal como em Espanha, amor livre e igual

Letra: Paulo Côrte-Real
Música: Richard Wagner [da ópera Lohengrin e de 90% dos casamentos]

É hoje! E é para todos os que exigem direitos iguais para cidadãos iguais.

Então até logo, pessoal!

sexta-feira, junho 24, 2005

Zombies.



Descubra as diferenças.

Adenda ao post anterior

Lembrei-me agora de uma gira...

Entrevista, na TSF, a um manifestante no Martim Moniz, sábado passado, "Sou português há oitocentos e cinquenta anos e tenho muito orgulho nisso".

Odeio pessoas - parte I de muitas

Hoje estava a almoçar descansadinha, sozinha, como bem gosto de almoçar às sextas feiras. Aproxima-se de mim uma senhora que me pergunta "posso sentar-me aqui?" e aponta para o lugar vazio à minha frente. Faço um ar incrédulo e ela diz-me "ah, se calhar está à espera de alguém...". Tenho de lhe responder. "Não estou à espera de ninguém. Mas preferia continuar a almoçar sozinha, se não se importa."
Ela faz um ar horrorizado e sai do restaurante, talvez em protesto pela minha indelicadeza.

Cada vez tenho menos paciência para pessoas. Tenho é de começar a ensaiar respostas mais giras...

De como uma mulher vale nada.

Eu nem tenho palavras para esta aberração. Fiquei mesmo consternada com esta história. Nem imagino o estado em que devem estar estes amigos do hetero-doxo, mas compreendo perfeitamente que não tenham força para avançar para um processo -sobretudo face à atitude cobarde dos médicos que poderiam e DEVERIAM testemunhar. Mas ajuda à revolta o sentimento de que é desta destruição psicológica, que tem como consequência humana a incapacidade de acção para punir os criminosos, que o ciclo se alimenta. É um ciclo praticamente impossível de quebrar. Praticamente. Desta educação icarística -para usar a feliz expressão do Miguel- vem também a impossibilidade de, no espírito destroçado de uma mulher que passe por tamanha violência, a revolta se sobrepôr à humilhação. E fecha-se o medievo cerco. Algum dia, alguma mulher o romperá. Estou certa. Quero estar certa.

É criminoso demais. Que dEus proteja a Ordem. E a tirania.

quinta-feira, junho 23, 2005

Campanha de adopção da União Zoófila

No próximo sábado dia 25, a União Zoófila estará no Centro Comercial das Amoreiras (à frente do Pão de Açúcar), com uma campanha de adopção e recolha de mantimentos. Presentemente temos na quarentena do gatil cerca de 40 gatinhos bebés, todos resgatados de zonas de risco, que esperam encontrar donos responsáveis nesta campanha. Por esta razão, agradecemos a V/ colaboração na divulgação desta acção.

Diariamente a UZ depara-se com muitas dificuldades para alimentar os 800 cães e 200 gatos que encontraram abrigo nesta instituição sem fins lucrativos. Não fique indiferente ao sofrimento dos animais que um dia alguém deitou fora. Eles merecem mais do que isso.

E se procura um amigo fiel, ele poderá estar algures entre os 1.000 pares de olhinhos tristes que esperam pela oportunidade de o conhecer.

Venha conhecê-los. O canil está aberto todos os dias das 14h às 17h, incluindo Sábados e Domingos.

Para mais Informações contacte com:
Maria João Catalão - 919 908 666
Luísa Barroso - 916 662 388

www.uniaozoofila.org


Recebi por e-mail. Ponderem seriamente. Uns sacos de ração não vos custam assim tanto. E quem sabe se o vosso bicho não estará por lá, à vossa espera...?

[O linque parece estar de momento desactivado, mas pronto, têm os outros contactos para mais esclarecimentos.]

Ok! Quem é que anda a brincar com o template?!!!

Está fiiiixe! :)

Extemporâneo...

... é ter de dar, em cena, um estalo à pessoa com quem há poucos meses terminei uma relação de quatro anos. Caramba, agora já não me apetece bater-lhe.

quarta-feira, junho 22, 2005

Belo blog, este...

Bom gosto, verve, elegância e economia de meios [duas coisas por definição, ligadas], sumo. Sete & Sismos a visitar, sem reticências.

É desta, é desta!!!

Cientistas britânicos da universidade de Sheffield anunciaram ontem um novo passo na investigação em células estaminais embrionárias, o da possibilidade de se produzirem células germinais humanas (ou reprodutoras) - os óvulos e os espermatozóides - a partir dessas primeiras células do embrião.
visto no Renas

Daqui a pouco tempo será possível aos casais do mesmo sexo reproduzirem-se a partir dos genes de ambos -sendo que a tarefa está nitidamente mais facilitada para as mulheres, olha, haja alguma coisa, também! Rejubilai, mulheres dos feudos da ICAR! Como muito bem aponta o Boss, esta é a grande oportunidade de levarmos a bom porto a legalização da IVG! Quando isto for possível o aborto há-de tornar-se um sacramento, como diria a Natália Correia. É desta, é desta!!!

É já no sábado, não se esqueçam!


Roubado ao Miguel

É para todos, como os direitos. E tal como gosto de ver homens na rua a lutar pela autodeterminação das mulheres, seria muito saudável que todos os lgbt que não têm vergonha do seu gosto sexual acorressem aos magotes, ladeados por magotes de heterossexuais que têm vergonha de ver destratar os seus concidadãos pela forma como gostam e pelas pessoas com quem gostam de fazer amor. Como diz o povo, temos de ser uns para os outros. Até porque os outros, num momento ou noutro, havemos de ser nós.



Homofobia não, já chega de preconceito
Homofobia vá, toca a desincorporar
Homofobia não, mas que horizonte tão estreito
Homofobia, estamos aqui p'ra te pôr a andar

Excerto de Canção de Ordem, letra da autoria do nosso Paulo, a cantar com a melodia de "Muda de vida", do Variações. Deixo-vos já as coordenadas, que é para irem ensaiando... ;) Mais que a propósito: Muda de vida, ó Portugal!

terça-feira, junho 21, 2005

Chegou o Verão!! :)

Image hosted by Photobucket.com
Fotografia de Fotógrafo Giro

segunda-feira, junho 20, 2005

Pele

Como água deslizo sobre o teu rosto sem nome e oiço os teus dedos em cada brisa. Os poros respiram um sopro quente sob a nuca. E as desencontradas correntes hesitam em misturar-se.


Man Ray, Sem Título, 1931

domingo, junho 19, 2005

Leica [Para Rodrigues]

os dedos são o contacto
entre o vidro onde escrevo e o interior do corpo

cada um de nós espreita por uma janela
surpreendemo-nos nesse espaço sem tempo
do que está e não está iluminado

a ponta do feltro risca a pálpebra molhada de tinta
as palavras surgem confusas... click!
a intensidade das luzes e por trás delas o olhar
na penumbra rente ao chão aproximas-te do vidro
focas disparas... o ruído da leica acorda-me
para o silêncio povoado desta sala vazia

é preciso muito pouca luz para definir um rosto
poucas palavras para que o fascínio desse segundo
torne possível dormir dentro da máquina fotográfica


Al Berto, Paulo Nozolino / 4 visões, Two Friends e uma Paixão, 1983


Fotografia de Rodrigues

quinta-feira, junho 16, 2005

Morreu um homem

Muito ódio se destilou. Mas todo ele foi em vão. Nós, os muitos muitos mil que nos despedimos do Álvaro [ao contrário do que diz o Tasco Pulido Valente, digo "o Álvaro", não com reverência, mas com o carinho com que poderia falar de um dos meus -bons- amigos], nós sabemos porque enchemos Avenida e Chile e Paiva Couceiro.

A demonização de Álvaro Cunhal é algo que resiste quase tanto como ele resistiu à prisão, à tortura, ao isolamento, ao cansaço, à doença, à falta de alimento e de perspectivas, à falta de luz. Não me surpreende, de facto. Mas revolta-me e entristece-me. Também se compreende e não pensem que não me dou o devido desconto [ou o desconto possível nestas coisas dos afectos]. Eu cresci com o Álvaro. Sendo filha de comunistas nascida nos estertores do PREC, naturalmente toda a mística do Partido e o carisma do seu líder me acompanharam desde que me lembro de pensar. A sua presença física também. A sua afabilidade, a sua inteligência, o seu sentido de humor, a sua disponibilidade e capacidade de ouvir. Sinto-me francamente privilegiada por isso. Por pouco tempo e dividido que tenha sido, guardo das conversas que tive com ele -sobretudo no fim da adolescência, a última terá sido há pouco mais de dez anos- memórias exactas de palavras e expressões, de entendimento, de conforto e abertura. Em nenhuma situação me intimidou, em nenhuma situação me fez sentir inferior ou indiferente. E mesmo quando me comecei a afastar do PCP -embora afectivamente me assuma muito ligada, sobretudo a algumas pessoas específicas e à presença ainda viva do sonho e do ideal-, mesmo quando continuava a votar CDU com reservas e preocupações e finalmente quando a caneta acabou por cruzar outro quadrado, nunca a imagem que guardo do Álvaro se esfumou ou se deixou engolir pela diabolização ora de menorização disfarçada que sempre varreu a sociedade não-comunista portuguesa -com numerosas e honrosas excepções, felizmente.

Mas não foi por falta de dúvidas ou divergências. E talvez por isso me seja hoje tão grato afirmar a amizade que lhe guardo ainda, a admiração que guardarei sempre.

Ontem a SIC perdeu a oportunidade de prestar um importantíssimo serviço público. Um excelente documentário sobre a vida e a personalidade do Álvaro passou cerca das duas da manhã. Bem estruturado, completo, isento, esclareceu muitas facetas e muitos percursos. Apresentado à hora que merece, em vez de uma qualquer novela, despertaria muita gente para a ilusão que é analisar a história do PCP com base nas premissas progressistas do mundo actual. O mundo não era o mesmo [ou talvez fosse, mas o jogo tinha regras bem diferentes]. O PCP, como partido clandestino, perseguido, consecutivamente despedaçado e reorganizado, era absolutamente dependente da ajuda do Bloco Socialista e sobretudo da URSS, naturalmente. Álvaro era um homem que abraçou uma causa, um ideal e uma utopia que -nas suas próprias palavras- parecia transformar-se em projecto. Entre as abjecções pseudo-democráticas do liberalismo ocidental e um projecto aparentemente em curso de construção de uma sociedade mais justa com base no ideário por si mesmo partilhado, a escolha parece-me bastante compreensível. Tudo o resto daí advém e é história. Demasiadas vezes truncada, mas história - e psicologia. Neste mesmo documentário, um militante comunista conta como interpelou Cunhal quanto à mudança de posição na inicial condenação pelo PCP da invasão da Checoslováquia. A resposta é clara, sem a ajuda do PCUS o Partido tinha poucas ou nenhumas hipóteses de sobreviver à perseguição fascista e à dureza da clandestinidade e do exílio. E I rest my case. Erros posteriores, houve-os, com certeza, o maior dos quais, na minha perspectiva, o inicial apoio aos golpistas que derrubaram Gorbachov -e subsequentemente a URSS. Este é para mim um dos grandes "ses" desta história: e se Gorbachov não tivesse caído? Tenho por quase certo que este "se" ecoou também muitas vezes na mente do Álvaro. Pode ser que me engane, mas algo me diz que não.

A discussão acerca da validade do projecto comunista está, para mim, num plano muito mais filosófico que político. A política tornou-se na minha cabeça em algo muito mais quotidiano, a utopia cheira-me hoje, por vezes, ao adiar do possível para morrer pelo impossível. A liberdade, valor supremo que me foi legado pelos comunistas como o meu pai [não, não é nenhum combatente famoso, mas foi cumprindo a sua parte e é, na sua inteligência e idealismo, o meu comunista doméstico, donde, de referência], pelo Álvaro, o Dias Lourenço [cuja fuga nocturna e solitária do segredo em Peniche é, para mim, a mais impressionante aventura da epopeia comunista portuguesa], a Catarina Eufémia, o Luís Sá, o João Amaral, o Octávio Teixeira, o Pires Jorge, a Rosa Rabiais, o Edgar Correia, o Manuel Gusmão, essa liberdade que com eles aprendi a valorizar e a defender, é o ponto que me dita que a obsessão da utopia pode ser suicidária. Mas não esqueço que foi deles que recebi o legado. E que ao seu lado a luta faz mais sentido.

Não queria deixar também de falar das questões que hoje mais me movem e me parecem mais prementes. Muito se fala do papel das mulheres no imaginário comunista, mais particularmente no imaginário cunhalista e na sua obra literária. Novamente, vemos tudo pelas nossas lentes sem sequer perceber que tiramos os óculos quando olhamos para a nossa própria realidade. Em "Até amanhã, camaradas", guia de sobrevivência na clandestinidade, as mulheres são menorizadas, diz-se, são as amigas, as cumpridoras das tarefas domésticas, as responsáveis pela segurança das casas clandestinas e pelos trabalhos de dactilografia, por vezes também o célebre "repouso do guerreiro". Tenho uma palavra e um prefixo para isso: "Neo-Realismo". Tal como as mulheres do Eça não eram doutoras, senão putas, criadas, dondocas, ocasionalmente inteligentes e/ou intelectuais [doutros estratos sociais se falava, também], as mulheres de Cunhal são o que eram. Rurais. Simples. Remetidas naturalmente ao seu papel aparentemente menor a olhos progressistas do século XXI por uma sociedade fechadíssima que nem ponderava sequer olhar para elas de outro modo. Nem elas mesmas sabiam olhar-se de outro modo. Além de que as condições da clandestinidade levavam a que naturalmente naquele tempo os trabalhos mais nómadas, as viagens mais duras, as epopeias a cavalo numa bicicleta fossem executadas por homens. Mas e nas fábricas cheias de trabalhadoras, não me digam que não leram da importância das mulheres na mobilização e na organização? Vá, procurem melhor... E leia-se as cenas da prisão e da tortura, da resistência e do silêncio e procure-se a menorização da mulher numa linha que seja, não se achará. Atente-se bem nas principais personagens femininas e rapidamente se percepcionará as diferenças bem marcadas nas personagens de Rosa e Maria, duas dessas "amigas", próximas nas tarefas mas tão diferentes nas origens, nas aspirações, nos relacionamentos e na afectividade, e no outro extremo a mulher do advogado, contacto urbano e, passe o anacronismo, do cosmopolitanismo possível, verdadeira força resistente na casa de um homem que quer ser bom mas a quem a coragem falta bastas vezes. E depois, durante o século XX português nenhum outro partido político se bateu e conquistou tanto pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e entre "raças". É agradecer e andar, meus amigos, e o resto é conversa.

Quando penso no Álvaro, nisto tudo e em tanto mais, quando oiço ou leio os comentários desdenhosos, sopra-se-me sempre ao ouvido um momento de América, de Franz Kafka, em que se lê que é impossível um homem defender-se quando não há um mínimo de boa-vontade da parte de quem julga. O que vale é que o Álvaro não precisa de defender-se. Muito menos diante de tais juízes.

Morreu um homem. Com um percurso romanesco e acidentado, com uma vida entregue à luta e com uma admirável felicidade com essa escolha. Um homem franco e decente, de sorriso aberto e inteligência larga. Com muito sentido de humor. Com erros e acertos, avanços e recuos. De uma generosidade rara. De um humanismo verdadeiro. Como num abraço disse ontem ao meu amigo Bruno, triste como nunca o vi, ainda paradoxalmente perplexo -como todos nós- face àquilo que todos esperávamos: -Ficamos cá nós. E como me respondeu ele, nós e os que a nós se juntarem. Venham de que norte vierem, de que canto ou gruta ou palácio vierem, desde que por bem e dispostos a lutar para que a cada dia a liberdade, a igualdade, a fraternidade e a justiça possível possam dar-nos mais e mais espaço para abrirmos as asas. Até amanhã, camaradas.

P.S.
Não resisto a partilhar convosco a informação que recebi ontem, de fonte mais que segura, a última coisa que este homem conseguiu fazer para me deixar estupefacta. Na véspera da sua morte, Álvaro Cunhal ditou, claro e consciente, a carta de condolências para a família de Vasco Gonçalves. A própria dignidade, a vida interior e a generosidade, levou-as até ao fim.

terça-feira, junho 14, 2005

Fujam fujam, vêm aí os comunistas!

Não há cú, perdoem-me o latim, para esta gente que tira o dia para deixar comentários cheios de fel em cada blogue que assinale respeitosamente a morte do Álvaro Cunhal, como sucedeu aqui e no Renas, por exemplo. Esperar-se-ia ao menos um pouco de respeito por um homem com esta dimensão humana, artística e política. Um homem que nunca matou ninguém, bem pelo contrário, contribuíu para salvar e melhorar muitas vidas, arriscou a sua pela nossa liberdade, pôs os seus [enormes] dons em segundo plano por um ideal de igualdade e democracia. Estejam em que quadrante estiverem, o mínimo é mostrarem um pouco de respeito, pelo menos na hora em que morre um homem desta estatura. É o mínimo. Mas no caso dos salivantes molossos do anti-comunismo primário, o mínimo talvez seja pedir muito.

segunda-feira, junho 13, 2005

Há dias estranhos, em que o mundo parece que encolhe.


Álvaro Barreirinhas Cunhal, 1913-2005

Mais um adeus. Este custa-me mais que o de ontem.

On the screen, almost everybody dies, but you get two hours of fine, thrilling cinema...





Indeed, it's a fair trade
. E este senhor aqui em cima à direita está mesmo de cair para o lado, uma verdadeira [re]encarnação numa personagem mais que desenhada à medida, antes para a qual foi ele mesmo sendo desenhado à medida... pela vida. Marv está vivo [mesmo depois da death row] e chama-se Rourke. Literalmente esmagador. Os homens são de morrer, as mulheres nem se fala [post it: lembrar, nos tomos próximos dos homens sedutores segundo @ Manel, de acrescentar o Benício, o Michael Madsen -bom, com uns quilinhos a menos, talvez...- e o Josh Hartnett, como é possível ter-me esquecido de qualquer um deles, ó heresia!?]. O ritmo, a fotografia, a banda sonora, as respirações da BD e do filme negro captadas, traduzidas e adoradas. A violência arrasadora, como os diálogos, de génio -Power doesn't come from a badge or a gun, power comes from lying, lying bigtime and getting people to go along with it. When you make people believe something they know in their hearts isn't true, then you've got them by the balls, diz o senador todo-poderoso da sanguinária e feudal família ao polícia-arquétipo-mártir Hartigan [começo a ficar fã do Bruce Willis, e isso preocupa-me, confesso]. Uma epopeia. Enfim, e como diria uma pessoa que eu cá sei, breathtaking.

domingo, junho 12, 2005

Adeus...

...e obrigad@s por muito, apesar da tal muralha de aço ter enferrujado.


Ontem, com 83 anos, morreu Vasco Gonçalves, primeiro-ministro dos II, III, IV e V governos provisórios entre 1974 e 1975. Um dos homens mais incompreendidos e mal-amados da história recente portuguesa.

sábado, junho 11, 2005

O catolicismo não é uma doença. Pelo direito dos católicos ao casamento e à adopção, por direitos iguais numa sociedade democrática.

Parece que o autor é um tal Allan Psicobyte. Mas independentemente da fonte, ponham os olhos nisto e a seguir examinem os vossos mais mesquinhos preconceitos à imagem deste espelho invertido.


Sou completamente a favor da legalização do casamento entre católicos. Parece-me uma injustiça e um erro tentar impedi-lo. O catolicismo não é uma doença. Os católicos, pese embora que muitos não gostem do que lhes parece estranho, são pessoas normais e devem ter os mesmos direitos que os demais, como se fossem, por exemplo, informáticos ou homossexuais. Estou consciente de que muitos comportamentos e traços de carácter das pessoas católicas, como a sua atitude quase doente face ao sexo, podem parecer-nos estranhos. Sei que inclusivamente, por vezes se poderiam esgrimir argumentos de saúde pública, como a sua perigosa e deliberada recusa do preservativo. Sei também que muitos dos seus usos, como a exibição pública de imagens de torturados, podem incomodar algumas sensibilidades. Mas isto, além de ser mais uma imagem mediática do que uma realidade, não é razão para lhes impedir o exercício do matrimónio. Alguns poderiam argumentar que um casamento entre católicos não é um casamento real, porque para eles é um ritual e um preceito religioso ante o seu deus, em lugar da união entre duas pessoas.

Também, dado que os filhos fora do matrimónio são gravemente condenados pela igreja, alguns poderiam considerar que permitir que os católicos se casem incrementará o número de matrimónios por "o que se falará" ou pela simples busca de sexo [proibido fora do matrimónio pela sua religião], incrementando assim a violência doméstica e as famílias disfuncionais. Mas há-que recordar que isto não ocorre apenas nas famílias católicas e que, dado que não podemos meter-nos na cabeça dos outros, não devemos julgar as suas motivações. Por outro lado, o dizer-se que tal não é casamento e que deveria ter outra designação, não é mais que um modo um tanto ruim de desviar o debate para questões semânticas que não vêm ao caso: ainda que seja entre católicos, um casamento é um casamento, uma família é uma família.

E com esta alusão à família, passo a outro tema importante face ao qual, espero, a minha opinião não surja como demasiado radical: também sou a favor da legalização da adopção de crianças por católicos. Alguns se escandalizariam ante uma afirmação deste tipo. É provável que alguém responda com exclamações do tipo "Católicas adoptando crianças? Essas crianças correm um grave risco de virem a tornar-se católicos!" Vejo esse tipo de críticas e respondo: sim, bem, é certo que os filhos de católicos têm uma bem maior probabilidade de se tornarem católicos [ao contrário do que ocorre, por exemplo, na informática ou na homossexualidade], mas já argumentei acima que os católicos são pessoas como as outras.

Pesem embora as opiniões de alguns e os indícios, não há provas evidentes de que os pais católicos estejam pior preparados para educar um filho, nem de que o ambiente religiosamente enviesado de um lar católico seja uma influência negativa para a criança. Para além do mais, os tribunais de adopção julgam cada caso individualmente e é precisamente sua função determinar a idoneidade dos candidatos a pais. Definitivamente, e não obstante a opinião de alguns sectores, creio que deveria permitir-se também aos católicos tanto o matrimónio como a adopção. Exactamente como aos informáticos e aos homossexuais...


Visto no Miguel

Não me interpretem mal, mas não se sentem mesmo muito estúpidos após tal exercício? Eu sinto-me, sempre que exponho o que desconfio ou sei serem preconceitos a este filtro do avesso do avesso do avesso. E se há coisa de que não gosto é de sentir-me estúpid@. Por isso mesmo, mudo, ou melhor, por vários processos, vou mudando [e o infinito que escapa à minha clarividência, nem quero pensar... é tarefa para mais do que uma vida, a merda é eu não acreditar na reencarnação]. Talvez não seja tão simplicista - nomeadamente a um nível colectivo e civilizacional -, mas individualmente é bem mais simples do que pensamos. Afinal, a vossa mente, essa coisa abstracta, nascida de um aglomerado de tecido orgânico cinzento, pertence a quem?

Com que então...

...tudo de fim-de-semana prolongado, ahn? Cambada de poltrões! Hmmmpffff...

sexta-feira, junho 10, 2005


Celebremos, pois, o que há para celebrar... Tomo IV


Erros meus, má fortuna, amor ardente,
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram,
que para mim bastava o amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
a grande dor das cousas que passaram,
que as magoadas iras me ensinaram
a não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa [a] que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse que fartasse
este meu duro génio de vinganças!

Celebremos, pois, o que há para celebrar... Tomo III

Endechas a Bárbara escrava


Paul Gaugin

Aquela cativa,
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
que em suaves molhos,
que para meus olhos
fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
nem no céu estrelas,
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.

üa graça viva
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão
que o siso acompanha:
bem parece estranha,
mas bárbara não.

Presença serena
que a tormenta amansa:
nela enfim descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo,
e, pois nela vivo,
é força que viva.

Celebremos, pois, o que há para celebrar... Tomo II


Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Nua hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar ua hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.


Ah pois, não são estas assombrosas cousas sobejante razão para feriado nacional?

Celebremos, pois, o que há para celebrar: o espírito e a arte... de Luís Vaz


Este é para a Violeta, com um beijo

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.

De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e da fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

Tirar Inês do mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hua fraca dama delicada?

Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,

Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigurosos);
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:

"Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piadoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos de Roma edificaram:

Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hua donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois não te move a culpa que não tinha.

(...)

Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste."

(...)

Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regados tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia!
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.

(...)

As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.


in Os Lusíadas, Canto III

Wake me up, before you come come!

George Michael
Masturbation Personality: George Michael


What's Your Masturbation Personality?
brought to you by Masturbation Techniques


Agora, como é que depois de eu responder "preto" o teste tem a lata de dizer que a minha cor é o rosa? E eu sou gay? Olh'á novidade, desde os inícios deste blogue, já vai para ano e meio, que assumo que sou totalmente imberbe e um bocado abichanado...

[Só tenho pena de não poder postar a festiva versão de elevador dos Wham que acompanha o resultado do teste, eheheh...]

And here's to you, Mrs Bancroft!




quinta-feira, junho 09, 2005

Os sentidos

Pode-se postar um jacarandá em flor...


Fotografia de Rútilo

... mas infelizmente não se pode postar o inebriante cheiro das tílias que os acompanha nos -poucos- jardins de Lisboa. Felizmente um deles é mesmo aqui, ao fundo da minha rua. Privilégios de alface apaixonada...

quarta-feira, junho 08, 2005

Momento Sex and the City do dia

Num café nada franchisado e maravilhoso ali para os lados do Carmo, um moço muuuuito interessante -vulgo, bom com'ó milho, pão [e queijo], giro que se farta, posta, lasca, etc...- atende-nos aos quatro por detrás do balcão. Insinuante e bem-cheiroso, quando não tem nada que fazer vai-se meneando ao som da música [boa] e seduzindo. Jesus, moço, pensas que um@ gaj@ é de ferro, um@ gaj@ não é de ferro, que ideia é essa de te debruçares todo sobre a minha ementa para me ajudares a escolher o chá sem teína -ou como tu escolheste dizer, não te preocupes, não é excitante, ah pois, se fosse não respondia por mim-, ahn, o que é que eu estava a dizer? -perdi-me algures numa curva de pescoço...

Diz-me o B., tão [bem] interessado como eu, quando finalmente e a custo decidimos que já são horas de sair e os deveres chamam:

-Bom, agora piramo-nos sem pagar e separamo-nos à porta, para ver para que lado é que ele corre...

terça-feira, junho 07, 2005

E a propósito do De Fillipo, a prova de que o sentido de humor germânico também tem que se lhe diga
ou
Afinal sempre valeu a pena estudar para o exame de Estudo de Estilos desta manhã...


Diz Anton Webern: Eu quero "a coisa-ela-própria". A realidade de uma obra de arte não é um símbolo, nem a imitação da Natureza, interna ou externa. Uma obra de arte não imita a pulsação do coração. Ela é apenas ela própria, com a sua própria pulsação. Doutro modo, tudo poderia ser imitação em relação a algo. Talvez seja assim. Talvez esse algo seja Deus. Só que eu não gosto da palavra "imitação".

... pois. Nem eu.

domingo, junho 05, 2005

Consolação


Antony Gormley, Critical Mass
Royal Academy of Arts, Londres 1998
Fotografia com Manel da Truta


Allégeance

Dans les rues de la ville il y a mon amour. Peu importe où il va dans le temps divisé. Il n'est plus mon amour, chacun peut lui parler. Il ne se souvient plus; qui au juste l'aima?

Il cherche son pareil dans le voeu des regards. L'espace qu'il parcourt est ma fidélité. Il dessine l'espoir et léger l'éconduit. Il est prépondérant sans qu'il y prenne part.

Je vis au fond de lui comme une épave heureuse. À son insu, ma solitude est son trésor. Dans le grand méridien où s'inscrit son essor, ma liberté le creuse.

Dans les rues de la ville il y a mon amour. Peu importe où il va dans le temps divisé. Il n'est plus mon amour, chacun peut lui parler. Il ne se souvient plus; qui au juste l'aima et l'éclaire de loin pour qu'il ne tombe pas?


René Char, La Fontaine Narrative [1947], in Fureur et Mystère

sábado, junho 04, 2005

Frase da noite

Somos uma associação pró-vida. Só que sem o apoio da Igreja, porque somos uma associação pró-vida... pronto, para vivos.


Rui Zink, acerca da Associação de Cidadãos Automobilizados, no programa A Revolta dos Pastéis de Nata, RTP 2

Pois o que eu vos digo...

... é que os xico-espertos que ao sair do metro em direcção ao largo do Chiado resolvem -pândegos- pressionar o botão stop para depois se rirem muito porque pararam as escadas rolantes, deviam ser alinhados em fila-tipo-fuzilamento para levarem um grande e puxado estalo de cada passageiro cansado, carregado, coxo e/ou velho que eles obrigam a ofegar ao subir aquela escadaria a pé. Talvez aprendessem alguma coisa.

quarta-feira, junho 01, 2005

Cancelados.

Os tais concertos de comemoração dos vinte anos de adesão à UE de que falo uns posts abaixo foram cancelados. Como o país. Faz sentido.