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terça-feira, setembro 23, 2003

Da Aplicabilidade do Perfil de Bloguista ou Tirem-me Daqui Que Sou Claustrofóbica ou ainda Por Que São Os Homens Tão Redutores

Eis que vemos, há dias, uma referência ao nosso blog feita pelo José Mário! Scroll down, scroll down e damos por nós a ler um post acerca do perfil típico do bloguista português... 30 anos, divorciado ou solteiro, ligação fácil à internet (que é a tradução de "não tem nada que fazer e mata-se a conseguir uma ligação mais do que dez minutos"), possível jornalista (ou numa profissão em que tenha de escrever com uma certa regularidade) ou em vias de fazer o doutoramento... Pois é... O problema é que saber feito de senso comum não costuma levar a lado nenhum, e se bem que até tenha a sua piada imaginar o bloguista-tipo (parece que já lhe estamos a ver o desenho numa qualquer esquadra... PROCURA-SE... bem, pelos vistos já há quem corresponda ao perfil), esta coisa de reduzir a complexidade dá-nos logo uns calafrios e uma falta de ar... A realidade é demasiado estranha e complexa e não se dá bem com padronizações nem com os típicos encaixotanços da era televisiva. Como sempre, a melhor parte não cabe no ecrã...

No entanto, achámos alguma graça a este carimbo criado pelo José Mário. Pela simples razão de que não podia ser mais desadequado a estas trutas (e por isso sorrimos de satisfação quando lemos o “ecléctico”, na descrição que o José Mário fez das trutas). Nenhuma de nós tem 30 anos (meu Deus, descobrimos agora que a esperança média de vida de uma truta é de apenas 20 anos!!), nenhuma de nós nada sem a sua truta-metade e não pertencemos à classe média urbana (suburbana, talvez).
Qualquer uma das trutas viveu, recentemente, momentos de verdadeira angústia e desespero em frente ao computador. There's no such thing as “acesso fácil” seja ao que for, no que toca a computadores.
Quanto às profissões por nós exercidas, mais uma vez José Mário se engana redondamente. As trutas não exercem profissões que exijam hábitos de escrita diária. As trutas escrevem apenas porque lhes apetece e nunca porque tenham de se exercitar para desempenhar qualquer outra função.

Além disso, somos trutas muito instruídas e bem posicionadas ('xa-nos cá esticar as barbatanas, que é coisa que muito se faz aqui pela blogosfera): as que, de nós, ainda não são doutoradas, são gratificantemente reconhecidas nas suas profissões - todas elas ligadas às artes - pelo mérito até agora demonstrado. E esse mérito mede-se, sobretudo, no público, nas palmas, nas multidões em êxtase e nos admiradores à espera, com flores, por vezes debaixo de chuva torrencial, ao frio e ao vento. A eles o nosso agradecimento.

Agora que contradissemos o que abaixo foi dito acerca de o blog dever valer pelo que é e não pelas pessoas que o mantêm - teve de ser, não tínhamos leitores - voltaremos à tal invisibilidade, com a correspondente impunidade.