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sábado, janeiro 03, 2004

Desta vez, meti mesmo a pata na poça...

Compete-me vir aqui reconhecê-lo e agradecer ao Pickpocket algumas coordenadas. Realmente, passou-me ao lado um pormenorzito: a acusação está formalizada e foi com o processo dessa acusação, agora pública, que as denúncias anónimas se tornaram elas próprias públicas. De facto, há muito por esclarecer neste processo todo, disso não se pode fugir, mas reagi a quente - e mal - à sensação desconfortável e inquietante de que a esquerda não se tem escusado a fazer o jogo da direita, politizando demais o caso a partir de bases frequentemente pouco sólidas, enquanto PSD e PP assumem a sua tão querida imitação de pose de estado e ficam calmamente esperando a colheita dos dividendos eleitorais desta desorientação generalizada... que aos poucos parece querer emendar-se. Confesso, no entanto, que não tenho certezas quanto ao foco da incompetência do MP, ou seja, se o erro está no manter as cartas no processo ou antes no considerá-las irrelevantes, mas continuar por aí­ seria mera especulação, sendo eu um leigo sem acesso a informação verdadeiramente esclarecedora quanto a essa decisão.

Mas para defender um bocadinho a minha reacção precipitada, devo remeter-vos para este artigo de Helena Matos, intulado A infâmia e que começa por citar uma carta anónima, depositada no Arquivo Oliveira Salazar, sobre a professora Irene Lisboa, que, à altura da redacção desta carta, 1934, desempenhava as funções de inspectora-orientadora do Ensino Primário. Como esta existem nesse mesmo arquivo outras cartas anónimas enviadas por gente que quer ser chefe de secretaria, que deseja uma casa numa bairro económico... e crê que o melhor será denunciar os outros candidatos, acusando-os de serem da oposição, de viverem amancebados, de, sendo mulheres, se pintarem ou de qualquer outra coisa que aos autores destas missivas lhes parecesse servir os seus objectivos.
Às vezes quem escreve estas cartas não quer mais nada do que sentir-se importante, usufruir do momento em que ele, o anónimo, informa aquele homem tão poderoso sobre os outros, os conhecidos:(...)... houve até quem ganhasse o hábito de transformar as cartas anónimas numa espécie de diálogo directo com o poder. (...) É de ilusões como estas que se alimentam as ditaduras . E também boa parte desse desencanto cínico que se encontra nos líderes, sobretudo naqueles que exerceram o seu poder de forma autoritária.(...) Salazar mandava arquivá-las (...) e a leitura desses documentos constitui hoje um dos retratos mais perturbantes do paí­s que fomos e que somos.(...
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para depois continuar e muito correctamente apontar que É no destinatário que se inicia o processo de separação entre o que é apenas um reflexo do ódio e da maldade e o que é a expressão de um problema, por alguém que não se considera suficientemente seguro para dar a cara e o nome por aquilo que afirma. (...) ... em alguns casos, escrevê-las aparece aos cidadãos como o único meio possí­vel para denunciarem crimes cujos autores temem. (...) Pior do que uma carta anónima sem uma linha de verdade apensa a um processo será fazer de conta que a carta anónima nunca existiu. Ou, como acontece nas ditaduras, guardá-la. Para nada ou para o que der e vier. Mais insidioso ainda, destruir umas cartas e deixar outras consoante o objecto ou a personalidade denunciada.,

e finalmente concluir que O secretismo não só não protege ninguém da infâmia como propicia o caldo de cultura ideal à multiplicação de boatos. (...) No final (do processo Casa Pia) os portugueses terão também percebido que não basta acusar. Há que provar. Que não basta achar que... Há que ter a certeza. E também terão percebido que ninguém está a salvo de falsas acusações. O que, espera-se, nos torne menos complacentes com os boatos, mais exigentes na incriminação dos seus autores, mais disponí­veis para assinarmos as denúncias que queremos fazer e, sobretudo, menos lestos a atirar as pedras da infâmia.

Gostaria muito de acreditar plenamente neste último parágrafo. Acho que todos gostarí­amos.