Estreei
Primeiro a excitação. Depois o frio na barriga e a vontade de fugir para qualquer lado onde não nos digam que faltam cinco minutos para entrar no palco. Expira, expira, lembra-te do Linhares, o ar entra sempre, preciso é deitá-lo fora. E a voz, que parecia tão brilhante há duas horas e agora luta para chegar cá fora. E o corpo que parece que só quer mandar, nunca obedecer. E um ensaio para os técnicos em que há um técnico que não se digna a aparecer.
E depois uma sessão de aquecimento ao som das Doce e da Cândida Branca-Flôr e da Manuela Bravo, provavelmente a primeira vez em que vi nove doidos fazendo abdominais enquanto batiam palmas, cantavam e riam. E os colegas que são amigos ou os amigos que são colegas. E encenador, coreógrafo e director musical que sugam tudo o que temos para dar e depois nos fazem sentir como se tivéssemos acabado de subir o Everest - ou o Pico - extenuados e felizes.
E finalmente os gongos. O público na sala, em burburinho, amigos, família, colegas de profissão, totais desconhecidos, todos ali, prontos a serem encantados pela música, a matemática, a diversão e a emoção. E a vida a acontecer no palco. E eu a dar tudo de mim e a receber tanto, tanto. E os autores da peça, dois norte-americanos completamente estupefactos com tudo o que nós vimos naquilo que eles criaram. Felizes. Agradecidos. Como nós a eles.
É algo que não se explica, o teatro. Somos nós inteiros e não é nada.