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quinta-feira, janeiro 08, 2004

Mais... ils sont affreux, ces costumes!

Fui ontem à penúltima récita de Le vin herbé, obra de Frank Martin dirigida por João Paulo Santos e encenada por Luí­s Miguel Cintra no Teatro Aberto. Gostei. Gostei de ver um trabalho sério e escorreito. O trabalho musical é limpo e correcto, embora sem rasgos, o maestro seguro, a orquestra também. A encenação é simples e depurada - o espectáculo, aliás, assume-se mais como uma leitura encenada do que como uma encenação final, o que até resulta coerente com uma certa qualidade hermética da música. O elenco é equilibrado, os intérpretes, nomeadamente Ana Ester Neves, Mário Redondo, Luí­s Rodrigues e João Miguel Rodrigues, foram bastante competentes, vocal e cenicamente - um certo desní­vel, em ambos os aspectos, foi a performance de Ana Serôdio como Isolda das Brancas Mãos. Os protagonistas, Dora Rodrigues como Isolda, mas sobretudo o Tristão de Marco Alves dos Santos, entregaram-nos todo o desejo e toda a tensão deste mito sempre revisitado, com contenção e intensidade dramática notáveis.

No aspecto vocal, todos os cantores são prejudicados pela estranhí­ssima acústica da Sala Vermelha. Ó senhores! Então gasta-se um porradão de dinheiro para se fazer de raiz uma sala - com este tipo de repertório já previsto, ainda por cima - e a acústica é esta, com perdão da palavra, merda? Será que o génio que projectou o Grande Auditório da Gulbenkian era único no mundo?!

Plasticamente - uma desilusão. O grande, enorme, assassino problema - os figurinos. Os homens de casaca, assumindo a versão concerto - hum, imaginativo... As mulheres embrulhadas em deselegantes vestidos de veludo mais ou menos vermelho - ou melhor, uns vermelhos, outros encarnados. É pena. Bem sei que a obra nasce de um coro do qual saem os cantores que vestem cada personagem, mas não era preciso pôr as mulheres quase tão mal vestidas como as do Coro Gulbenkian. Muito antes de todos havia, pelo menos, os coros gregos. Podia não ser muito original, mas pelo menos havia alguma coisa que ligasse o que se veste ao pathos que tão bem se atravessa. Assim é ingrato pelo menos para quem vê. Se não o é para quem faz.

Enfim, no meio de tudo isto, saí­ munto sastifêtinho com o que vi. Preciso é não parar, não parar...