Os três lados da história
Não esperem revelações aqui deste lado. Estou só a considerá-los, não necessariamente a reconhecê-los, enquanto leio este texto atordoante, postado por Vital Moreira no Causa Nossa.
Como se esperaria, as reacções a mais um caso dentro do caso têm sido céleres e seguido a linha que tão bem tem caracterizado esta novela: precipitação, nervosismo, falta de jeito, escolha de lados em vez de ponderação na procura da verdade. Vital Moreira, infelizmente, não foge aqui muito à regra. Segundo o seu indignado poste, as cartas anónimas não têm qualquer valor. Só neste caso? Ou por questão de jurisprudência passaria a ser esse o procedimento-padrão, isto é, se as cartas em questão realmente tivessem sido arquivadas ou mesmo destruídas, como defende José Miguel Júdice? É que vai ser a melhor notícia do ano para os traficantes de droga - não os graúdos, mas aqueles que correm riscos reais de captura -, uma vez que são tantas as apreensões feitas com base em denúncias anónimas. Quer dizer que a partir daqui, recebida denúncia anónima de carregamento ou transacção, a polícia não poderá nem deverá ir para o local em questão, confirmando ou não a dita denúncia. São crimes diferentes? São. Eu até considero a pedofilia um crime bem mais grave do que o tráfico de drogas, chamem-me louco.
Mas continuando a leitura da indignação de Vital Moreira, concluo que afinal as cartas até dão jeito para justificar a tese da cabala - palavra nunca utilizada por VM como significante, mas pelo texto disseminada como significado. Em que é que ficamos, então? Há ou não uma razão para o Ministério Público não ter destruído estas cartas? Afinal, podem ser indícios de que:
1 - de facto nomes como os de Jaime Gama e Jorge Sampaio estão ligados a todo este processo, ou
2 - há uma tentativa de saneamento político e social de várias figuras da área do PS, preferencialmente militantes/dirigentes/figuras mediáticas, ou ainda
3 - alguém, da área do PS ou não, tem inteligentes estratégias definidas para alimentar a tese da cabala, por forma a descredibilizar a acusação, constantemente debaixo de fogo cerrado neste ano que acaba de passar.
No fim de contas, Vital Moreira, há pelo menos três motivos para as "caluniosas denúncias anónimas" continuarem apensas ao processo. Ou está a escapar-me alguma coisa?