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domingo, fevereiro 22, 2004

Ah, grande homem!

Fiquei siderado com a coluna A quatro mãos no Mil Folhas desta semana. João Barrento é um homem inteligentíssimo, já o sabia, delicio-me sempre com a sua escrita, a sua calma, a sua clarividência. Mas tenho de lhe agradecer por este texto. Eu andava a precisar de ler isto, ajuda à reflexão, ajuda à paciência, ajuda a sentir que vale a pena pensar e tentar agir como se pensa. Apesar de estar longe de ser um texto optimista.

Como não consigo aceder ao Mil Folhas, tomem lá.

E O DIÁLOGO?

Cai-me do texto de Walter Benjamin a frase que me dá a deixa: "Vai-se perdendo a liberdade do diálogo". Entrámos há algum tempo, como diz o título do livro, numa "Rua de sentido único" em que ninguém parece ir ao encontro de ninguém. "Ir ao encontro de": é esta, desde Sócrates, a essência do diálogo. O verbo alemão usado por Benjamin ("eingehen auf") abre-se num leque de sentidos que não encontro muito postos em prática por aí hoje: ser receptivo ao pensamento do outro, entrar nele, prolongá-lo. Como no método socrático, a maiêutica: pretende-se trazer à luz, progressivamente, uma ideia, arrancá-la ao limbo obscuro ou ambivalente onde se encontra - para proveito geral. Em suma, dar espaço ao adversário. Eu sei: no futebol, matéria quase exclusiva do não-diálogo nas formas actuais de sociabilidade, isso é fatal. Na guerra, forma quase exclusiva de ocupação de alguns políticos hoje, ainda mais. Na concorrência, único modo de estar no mundo para a mentalidade "ganhadora" dominante, também. Mas a convivência (a "democrática", precisamente) tem outras regras.

O que vejo mais, com raras excepções, entre aqueles de quem mais se esperaria que praticassem o diálogo (para proveito geral, entende-se) - "agentes culturais", entrevistadores, apresentadores, jornalistas, professores, amigos entre si (é caso para dizer, mimetizando o anúncio: "Amigos?" Amigo era o interlocutor de Sócrates, o "leitor amigo" dos diálogos dos românticos alemães em 1800, o "outro" da filosofia de Buber e Lévinas, ainda há pouco tempo) - o que vejo é a vontade, crispada ou irritada, de fazer prevalecer, sem argumentos que se vejam, uma opinião, de "arrasar" tudo e todos.

Basta olhar para o espaço público português de hoje, praticamente reduzido à guerra das televisões: desconhecem-se totalmente os princípios básicos do diálogo (e há espaço público que se forme e se firme sem diálogo?), como os da argumentação, da igualdade e da solidariedade entre parceiros. Continuamos a ser mestres no espírito do cacetismo (talvez porque o caciquismo não foi erradicado, mas regressou), o que conta é o achincalhamento, a fuga ao debate aberto, o entrincheiramento em opiniões cristalizadas, com a artilharia sempre pronta a disparar sobre o outro, simplesmente para fazer estragos, para desestabilizar e despistar. Ou então é o diálogo de surdos: cada um a disparar em direcções diferentes, a falar para si próprio, numa feira ruidosa em que ninguém se entende: o outro não existe. E quando o outro não existe, não há diálogo.

O universo concorrencial e empresarial dominante, mesmo em sectores que tradicional e intrinsecamente lhe são estranhos, a histeria do chamado terrorismo, resultante precisamente da incapacidade de diálogo livre, até mesmo a cultura demagogicamente pluralista, em que cada um - isto se não se chamar George W.Bush ou se não for seu acólito - faz e deixa fazer, acabaram com a velha arte do diálogo. Para não falar já do diálogo silencioso com as coisas - esse é o grande ausente, no meio da desconversa sem diálogo e cheia de ruído em que vivemos, que não sabe com entrar em relação com um objecto (um interlocutor) que simplesmente está aí e tem de ser aceite. Isto implicaria a aquiescência a um outro princípio, proclamado pelo menos desde a Constituição americana (que ironia!), mas que é cada vez mais letra morta: o da relação livre como lei universal. Os tempos vão de feição para os sofistas, aos Sócrates solitários espera-os a cicuta. Vale tudo para impor a "doxa", ninguém parece estar muito interessado (ou ter tempo para isso) em abrir caminho até à verdade possível. Também se podia dar outro nome à coisa, numa palavra e sem comentários: intolerância.