E pronto!
Uma semana depois da morte de Fehér, no fim da semana em que se dizia que o luto deveria ajudar a trazer a paz ao futebol português, unindo desportistas e adeptos independentemente da cor clubística, o balanço dificilmente seria mais positivo, isto se considerarmos que estamos num país do décimo-quarto mundo, que nem sequer vai participar no Euro 2004, quanto mais organizá-lo:
1- Mourinho acusa o Sporting e diz que gostava de ver Rui Jorge a morrer no campo - este homem é, realmente, uma mente superior;
2- O Sporting acusa Mourinho;
3- Os jogadores do Boavista e do Vitória de Guimarães decidem discutir com os punhos o que não conseguiram discutir com os pés durante noventa minutos;
4- Os adeptos, obviamente, querem entrar na manifestação de alegria desportiva, arremessando tudo o que lhes vem às mãos, nomeadamente cadeiras às cabeças da equipa de arbitragem;
5- Tudo isto no estádio onde, há uma semana, tombou o húngaro que, de acordo com todos estes senhores, ia acabar com a discórdia no futebol português, e hora e meia depois de mais um sentido minuto de silêncio.
Psicanálise colectiva compulsória, já que, pelos vistos, não é possível demonstrar-lhes - até porque ninguém os trata assim - que são apenas 22 gajos de calções a correr atrás de uma bola? Uma espada Hatori Hanzo? Um chaimite a invadir o estádio? Acabar, por decreto, com um desporto que cada vez mais envergonha este país - quase mais que quem nos governa?
Se calhar o melhor mesmo é emigrar, de uma vez por todas. O que acabo de ver na televisão é deprimente, é bárbaro, é ofensivo, é assustador, é vergonhoso.
É Portugal. É futebol. Quase inevitavelmente, é lixo, merda, desumanidade. Eu tenho vergonha.