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quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Névoa

III

O dia da morte ficaria definido tal como o dia do abandono o ficaria, se fosse um abandono violento e marcante, uma morte de morrer e não de se deixar morrer, se fosse suficientemente romanesco nunca condenaria r. a caminhar atrás de s. em forma de névoa, como todos os outros caminham atrás de r., s. teria de guardar o seu rosto, seria forçoso que o olhasse com uma perplexidade regular, r. nunca seria parte da névoa de s., antes o poço da morte, nunca caminharia como alma penada ainda viva, indefinida em contorno e essência, e se um dia parisse, s. não visitaria a sua cria, mas quando finalmente morresse s. iria ao seu funeral porque a presença de r. estaria tão viva em s. que s. daria necessariamente pela sua morte.

Por isso não responde quando s. lhe pergunta por que tanto se incomoda com as névoas das suas vidas, as névoas carregadas de defuntos, e quanto mais s. profere as suas elegias mais as suas névoas entram pelo olhar de r. e o turvam e lhe irritam os olhos que logo exigem as lágrimas que humilham e sugam. Quase preferiria ser um fantasma, morrer já para não viver no pavor de poder vir a morrer, ser um espectro como esse que s. diz não existir, se calhar porque largou a s. para tomar conta de r., mudou de hospedeiro, mas não é um vírus, talvez por isso possa ter largado o hospedeiro original para tomar conta de um outro, r. quer crer que sim e na realidade não terá muitas razões para crer o contrário.

s. preferiria ser o assassino das névoas de r., mas r. não deixa, o que é seu é seu e se o não fosse r. não seria hoje quem é e talvez o amor de s. não fosse como é, quem sabe por que delirantes razões se amam e se se amariam do mesmo modo se se tivessem conhecido outros, noutro tempo, noutro lugar, com outros elementos da mesma velha névoa. Qual deles terá coragem de dizer que gostaria que o outro lhe chegasse branco às mãos, s., que nunca abdicaria do seu caminho mas que gostaria que o outro pudesse voltar atrás e abdicar do seu? Como saberemos se este amor nasceu apenas de uma contingência ou se prepará-lo foi função dos outros, como saberemos se seria igual, não, igual não seria por certo, melhor ou pior, como saberemos como seria se as névoas de ambos não existissem, como saberemos, e para quê?