Ainda o aborto
Novamente no Barnabé, o Rui Tavares resume a questão do aborto num post desempoeirado. Muito atacado, como seria de esperar. Deu-me vontade de sistematizar aqui também as minhas ideias, tão bem sintetizadas pelo Senhor Carne, esse rei dos celôganes: Sou contra o aborto, como qualquer pessoa sensível, sou a favor da despenalização do aborto, como qualquer pessoa sensata.
Quer queiram quer não, senhores, tudo se resume ao seguinte:
1. ninguém tem certezas quanto ao início da vida e do que se convencionou chamar de "pessoa humana";
2. a despenalização não se pretende estendida para lá de uma certeza: a da existência de um sistema nervoso central já formado, entre as 12 e as 24 semanas;
3. todos os pontos de partida para a avaliação do que é um aborto se baseiam apenas e só em conceitos morais-filosóficos-ideológicos-éticos-pessoais, cada um tão válido como o outro, e em nada mais;
4. é uma questão de integridade física e de consciência da mulher - eventualmente do homem, mas esse tem escolha e muitas vezes escolhe não ter nada a ver com o assunto sem que ninguém o obrigue a carregar uma gravidez de nove meses no seu próprio corpo, não é verdade? -, de cada mulher individualmente, é uma decisão pessoal, é um direito inalienável e não é com base em princípios subjectivos e absolutamente contraditórios que um determinado grupo, por muito convicto que esteja da superioridade moral dos seus cânones, deve poder determinar o que é legal ou não no que toca à esfera íntima de cada um.
E se acham que isto, que não é mais do que escreve o Rui no seu post, é leviandade ou arrogância ideológica, então, caros senhores, permitam-me dizer que o conceito de democracia já conheceu, realmente, melhores dias.