Um espectáculo que termina é uma vida que acaba e se renova. É um alívio angustioso. É uma satisfação triste. Ainda iremos a Setúbal, mas cada récita terminada deixa de ser mais uma para ser menos uma. Terei muitas saudades dos desvarios cénicos dos lunáticos génios da matemática e dos privados desvarios de cada uma daquelas vozes e daquelas almas que encheram fatos de espuma e personagens. Do meu querido companheiro de cena e contracena, sempre tão atento, sempre tão generoso, sempre tão inspirador nas trocas e reconfortante nas energias. Dos senhores-músicos-instrumentistas que nos afagaram o soalho limpo e regular onde deslizaram os pés destes tangos. Do jardineiro-do-roseiral, que tanto tempo dedicou a cada um de nós e dos gritos de dor colectiva nascidos dos exercícios que nos fortaleceram corpo e espírito a cada passo.
Este foi o meu brinde para cada um deles na noite da estreia. Hoje é também o meu brinde de despedida.
Acho sempre que estes putos estão prestes a voar. Como nós esta noite. MERDA!!!
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Fajã do Ouvidor, São Jorge, Açores