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domingo, março 28, 2004

Portogofone

Seis espectáculos em três dias.

Despertar da Primavera, de Wedekind, no TeCa. Uma visão de Nuno Cardoso de um texto pré-freudiano [meia-dúza de anos depois deve ter sido um autêntico bom-bom para o nosso Segismundo, aliás, já que o antecipou admiravelmente], uma adolescência que continua viva, reprimida, ignorada, fábrica de caminhos, de pessoas e de monstros. Eu era apenas um bébé quando nasci! Uma rapariga de quatorze anos que não percebe muito bem como é que engravida e que morre ali à nossa frente às mãos de uma fazedora de anjos. Quantas morreram em Portugal pelas mesmas razões enquanto me sentei no auditório e assisti ao nosso retrato, imutável por cem anos? Quantos anjos se fizeram enquanto me deliciei com um espectáculo cheio de beleza, com um elenco jovem e cheio de talento, com uma sala cheia de canalha de pé, aplaudindo? Este espectáculo tem de vir a Lisboa, tem de percorrer o país. Este espectáculo é belíssimo e urgente. Como a sexualidade. Como a adolescência.

Escrever, falar, de Jacinto Lucas Pires, no Rivoli. O texto no espaço. As palavras que são nossas mas que dizemos como se fossem de outros. Que palavras conseguimos dizer, que palavras conseguimos escutar, até onde agentamos antes de gritar, desnecessariamente? Digamos que o homem entra num lugar como este, pára e senta-se... digamos que um outro homem, portanto, já temos dois homens.Matei a minha mulher porque ela tinha um amante, desculpe, como disse?, nada, nada, e a sua Clara?, no Parque da Cidade, sozinha e eu sem coragem de lhe falar, mas um dia vou, um dia vou... digamos que.

Retrato de Nós, no São João, leituras encenadas por António Durães. O jantar de Sttau Monteiro desenhou-nos no prato há quarenta anos. Digamos que o Super Pop já não é o que era e o reflexo continua lá.

Um Hamlet a Mais, no São João, Ricardo Pais, naturalmente. Shakespeare e o negro príncipe da Dinamarca, Ofélia e Gertrude, a mulher e o seu duplo, a luta como coreografia, a esgrima como modo de vida, a plasticidade, a luz, o som, a reinterpretação e a procura, a inquietação, a fronteira entre a luz e a sombra, entre a liberdade e a clausura. As cumplicidades. Não deves confiar em nós, somos pessoas instáveis. No D. Maria II, brevemente.

Tudo isto é fado, recital de Luísa Cruz e Jeff Cohen. A cereja no topo do bolo. As imagens do fado projectadas nas mãos de Jeff Cohen, as palavras do fado na voz e no corpo de Luísa Cruz, o nobre São João e o seu público fizeram sombra à mais castiça casa de Alfama e os poetas ocuparam os lugares que não se vêem e deixaram-se levar na corrente, como nós todos. Esperamos o cd. O fado espera o cd que há-de vir. Ah, garganta linda!!!

Aguantar, de Nuno Carinhas, no Rivoli. Hoje foi dia de Frida Kahlo, ou seja, de luta, sofrimento, auto-reconhecimento e beleza. Vim ao Porto alimentar-me. Morra Marta, morra farta!

Todas as cidades de teatro são pólos de uma cosmogonia de muitas cidades outras e das suas línguas. Fazer teatro é pertencer naturalmente a uma nação plural e infinita. E sobreviver nessa nação é um imperativo ético para quem tem consciência exacta da sua dimensão. Cosmopolita não é o que mimetiza as grandezas dos outros, mas o que aceita o desafio de deixar-se sobressaltar por essas grandezas.
Ricardo Pais, 1999