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segunda-feira, março 08, 2004

Simone de Beauvoir
Porque as lutas não terminam porque nós queremos ou porque mudámos de milénio


Encontro esta resposta de súmula e consciência no Grão de Areia, por ocasião deste dia da mulher trabalhadora. Infelizmente, caros amigos, está ainda actual. Felizmente está nas nossas mãos continuar a lutar para que deixe de estar.

Gerassi. Disse que a sua própria consciência feminista desenvolveu-se durante a experiência de escrita de “O Segundo Sexo”. De que forma vê o desenvolvimento do movimento depois da publicação deste livro do ponto de vista da sua própria trajectória?

Beauvoir.
Ao escrever “O Segundo Sexo” percebi, pela primeira vez, que eu própria estava a levar uma vida falsa, ou melhor, que estava a lucrar desta sociedade centrada no homem sem me dar conta disso. O que aconteceu é que desde cedo aceitei os valores masculinos, e vivia de acordo com eles. Claro que eu tinha bastante sucesso, e isso reforçou a crença de que homens e mulheres poderiam ser iguais se a mulher quisesse tal equidade. Por outras palavras, eu era uma intelectual. Tivera a sorte de provir de um dado sector da sociedade, a burguesia, que não só pôde financiar as melhores escolas mas também permitir que me ocupasse calmamente de ideias. Devido a isso, consegui entrar no mundo dos homens sem muita dificuldade. Mostrei que podia debater filosofia, arte, literatura, etc., ao “nível dos homens”. Reservei o que era particular à condição da mulher para mim mesma. Fui incentivada a continuar pelo meu sucesso. À medida que o ia fazendo, vi que poderia ganhar a vida tão bem quanto um intelectual do sexo masculino e que era levada tão a sério como qualquer um dos meus pares. (…) Cada passo reforçou a minha ideia de independência e igualdade. Assim sendo, tornou-se muito fácil esquecer que uma secretária jamais usufruiria dos mesmos privilégios. (…) De facto, eu pensava, sem nunca admitir, que “se eu posso, também elas podem”. Ao pesquisar e escrever “O Segundo Sexo” apercebi-me que os meus privilégios resultavam do facto de ter abdicado, pelo menos em alguns aspectos cruciais, da minha condição feminina. Se colocarmos isto em termos de classe, percebê-lo-á facilmente: tinha-me tornado uma colaboracionista de classe. Bom, era uma espécie de equivalente nos termos da luta entre géneros. Através de “O Segundo Sexo” tomei consciência da necessidade da luta. Percebi que a grande maioria das mulheres simplesmente não tivera as oportunidades que eu tivera, que as mulheres são, de facto, definidas como um Segundo sexo pela sociedade centrada nos homens, cuja estrutura implodiria caso essa orientação fosse genuinamente destruída. E que, tal como os povos económica e politicamente dominados em qualquer parte do mundo, é muito difícil e lento o desenvolvimento de uma rebelião. Primeiro esses povos teriam que tornar-se conscientes dessa dominação. Depois teriam que crer na sua própria força para transformá-la. Aquelas que lucram com a sua “colaboração” têm que perceber a natureza da sua traição. E, finalmente, aquelas que têm mais a perder por tomarem partido, ou seja, mulheres que, como eu, ascenderam a uma carreira e posição de sucesso, têm de ter vontade de arriscar a insegurança para ganharem respeito próprio. E terão que perceber que, de entre as suas irmãs, as que são mais exploradas serão as últimas a juntarem-se-lhe. (…) Ou seja, por todas estas razões as mulheres não se mobilizaram. Claro que houve movimentos interessantes, muito inteligentes e pequenos, que lutaram por emancipações políticas, pela participação política das mulheres, mas não me reporto a esses. Depois veio o ano de 1968 e tudo mudou. Sei que alguns acontecimentos importantes ocorreram antes disso.(...) De facto, as mulheres americanas estavam bastante mobilizadas por essa altura. Elas, mais do que ninguém, por razões óbvias, estavam mais conscientes das contradições entre a nova tecnologia e o papel conservador de manter a mulher na cozinha. À medida que se desenvolve a tecnologia – sendo esta o poder do cérebro e não do músculo – o raciocínio de que a mulher é o sexo fraco e que, por isso, deve ter um papel secundário já não pode ser racionalmente mantido. Uma vez que as inovações tecnológicas estavam tão largamente difundidas na América, as americanas não poderiam escapar às contradições. Assim, foi normal que o movimento feminista tenha o seu maior impulso no coração do capitalismo imperialista, mesmo que esse impulso tenha sido estritamente económico, ou seja, baseado na reivindicação de salário igual para trabalho igual. Mas foi dentro do movimento anti-imperialista que a verdadeira consciência feminista se desenvolveu. Tanto no movimento contra a Guerra do Vietname como no rescaldo da revolta de 68 em França e em outros países europeu, as mulheres começaram a perceber o seu poder. Tendo percebido que o capitalismo conduz necessariamente à dominação dos povos pobres de todo o mundo, massas de mulheres começaram a juntar-se à luta de classes – mesmo que não aceitassem o termo “luta de classes”. Tornaram-se activistas. Juntaram-se às marchas, manifestações, campanhas, grupos clandestinos e à esquerda militante. Lutaram, tanto quanto qualquer homem, por um futuro sem exploração nem alienação. Mas o que aconteceu? Nos grupos ou organizações a que se juntaram, descobriram que eram tanto o segundo sexo como o eram na sociedade que queriam suplantar. (…) As mulheres tornaram-se as dactilógrafas, as fazedoras de café desses grupos pseudo-revolucionários. Bem, não deveria dizer pseudo. Muitos destes grupos eram genuinamente revolucionários. Mas treinados, desenvolvidos, moldados numa sociedade orientada para o homem, e esses revolucionários trouxeram essa orientação para o seio do próprio movimento. Como é natural, esses homens não abandonariam voluntariamente essa orientação, tal como a classe burguesa não abandonará voluntariamente o seu poder. Assim sendo, tal como pertence aos pobres destruir o poder dos ricos, também pertence às mulheres destruir o poder dos homens. E isso não significa dominar os homens em alternativa. Significa estabelecer a igualdade. Tal como o socialismo, o verdadeiro socialismo, estabelece a igualdade económica entre todos os povos, o movimento feminista aprendeu que terá de estabelecer a igualdade de género através da conquista desse poder à classe dominante dentro do movimento, ou seja, aos homens. Por outras palavras: uma vez dentro da luta de classes, as mulheres perceberam que essa luta não eliminaria a luta entre sexos. Foi neste ponto que me consciencializei do que acabara de dizer. Antes disso estava convencida que a igualdade de género seria apenas possível depois do capitalismo ser destruído e, consequentemente – e é este “consequentemente” que é uma falácia – deveríamos encetar, primeiramente, a luta de classes. É verdade que a igualdade entre sexos é impossível sob o capitalismo. (…) Mas não é verdade que uma revolução socialista estabeleça necessariamente a igualdade sexual. Veja-se a URSS ou a Checoslováquia, onde (mesmo que lhe chamemos “socialistas”, e eu não chamo) existe uma profunda confusão entre emancipação do proletariado e emancipação da mulher. O proletariado acaba sempre por ser composto de homens. Os valores patriarcais mantiveram-se lá tanto quanto aqui. E isso – esta consciência de que a luta de classes não integra a luta de sexos – é o que é novo.

(tradução de Andreia Cunha)