La cage aux folles
Sim, fui à estreia do musical dos famosos, em todos os sentidos possíveis da palavra. Não me apetece fazer uma crítica, propriamente dita, mas aqui ficam umas impressões. Para lá do "elenco de apoio", mais apropriadamente chamado de "equipa de trolhas" - Joana Capucho, Roberto Candeias, Nicole Eitner, Peter Michael, Pedro Pernas, Sónia Aragão -, seguros, profissionais e cada um com o seu momento para provar que serviam para mais alguma coisa do que para entregar deixas e cadeiras ao elenco principal - o que segura o espectáculo são os trabalhos de Marco Horácio - um actor de entrega, cheio de talento e profissionalismo -, Manuel Marques - longe dos bonecos do Herman, absolutamente credível e delicioso, o seu professor de Português do secundário - e Bruno Nogueira, que salvo uma elocução algo nebulosa em alguns momentos, tem uma presença simultaneamente sedutora e cómica e uma fisicalidade única - [vou cometer a indelicadeza de me apropriar de uma das piadas do espectáculo, mas que se lixe] assim uma espécie de filho do Buster Keaton com uma girafa extraordinariamente bem-parecida.
A música... bem, a música é do Sérgio Godinho e faz jus ao autor, mas nem sempre os intérpretes lhe fazem jus. E mais não digo. Os arranjos e a direcção de João Lucas são belíssimos, assim como os músicos.
Quanto ao espectáculo em si, é longo demais, tem alguns momentos felizes, outros nem por isso, no geral acho-o fraco na génese. Com um texto e uma dramaturgia [ou ausência dela] - de Nuno Artur Silva e Nuno Costa Santos, das Produções Fictícias - que parecem baseados em meia-dúzia de larachas bem apanhadas e pouco mais, fico com a impressão de que António Feio fez o que pôde com o que lhe foi parar às mãos. É o mercado, estúpido!
Este é o espectáculo que se vai repetir até Julho, no São Luiz. Mas houve um outro espectáculo que só a estreia pôde proporcionar. O foyer estava cheio de bimbus famosus e de outros menos bimbos, dos bimbus cabeleireirus dus famosus, dos bimbus costureirus dus famosus, dos bimbus astrólogus dus famosus [aquela Maya tem mesmo cara de Irene], câmaras, fotógrafos, jornalistas, poses, gargalhadas, glamour à portuguesa, enfim, parafraseando novamente o texto, os famosos do Chiado, o Portugal dos Pequenitos em todo o seu confrangedor esplendor. No intervalo e no final senti-me do outro lado do espelho, as caricaturas da peça tinham ido assistir, tinham-lhes lançado ácido sulfúrico para cima durante duas horas e elas saíram sorridentes e ocas e maravilhosas, tal qual tinham entrado. Se calhar o ácido teatral potenciou os efeitos dos liftings...
E a esta gente que nem parece gente, eu gostaria de propôr um brinde...