O Amor [II]
Para o Katraponga.
Talvez
Quem sabe um dia
Por uma alameda do zoológico ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não pudemos amar na vida
Com o estelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Por que sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe, minha vida
Para que não mais existam
Amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
Que sacrificar-se
Por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja pelo menos o universo
E a mãe
Seja no mínimo a terra
Vladimir Maiakovsky, adaptado por Caetano Veloso e Ney Costa Santos