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domingo, abril 25, 2004

Quem és tu, Romeiro?

No Público de hoje vem um folheto comemorativo-publicitário da FNAC relativo aos trinta anos da Revolução. Agradável surpresa e uma prova de que o bom marketing e o serviço público não têm de ser incompatíveis. Entre sugestões e informações sobre livros, cd's e dvd's realcionados directa ou indirectamente com o 25 de Abril, apresenta também uma muito sintética resenha historico-cultural dos últimos trinta anos e a opinião de diversos intelectuais e artistas sobre o que ganhámos e perdemos em 30 anos de democracia. Estas duas tocam-me particularmente, embora parecendo muito diferentes. Eu não acho que sejam.

João Cutileiro - Escultor


Primeiro: o que ganhamos? Tudo, claro. Emancipámo-nos. Não temos PIDE, embora ainda haja laivos pidescos que vêm pelo menos desde a Inquisição. Aqui, em Évora, desde o cardeal-rei. O que perdemos? Perdemos a esperança de que quando viesse o 25 de Abril Portugal iria ser o paraíso. Antigamente a culpa era deles. Agora é toda nossa. NÓS PODEMOS MUDAR PORTUGAL. 'Com os fixos olhos rasos de ânsia a Deus as mãos alçamos, mas Deus não dá licença que partamos'.
É impossível seleccionar uma obra. Sempre, claro, Grândola, Vila Morena de José Afonso. A nível pessoal, o meu D.Sebastião de Lagos. Fiz. Coloquei-o. Seis meses depois não o tinham tirado: o Estado Novo estava velho e entrou o MFA. A partir daí todas as obras de arte, da música à escultura, são obras do 25 de Abril. TODAS.


Alberto Pimenta - Professor Universitário


Se me perguntassem o que ganhei e perdi em 30 anos de vida, eu dizia: a vida. Tudo certo, tudo bem, tudo normal, até que a morte ou um estado de coma (ou parecido) venha pôr fim à coisa. Essa é a única questão: será que o nome ficou e a coisa já se foi? Será que o nome foi mudando lentamente de significado, como acontece a tantos nomes? Será que o nome nunca foi claro, precisamente por designar a legitimidade da mais rasgada diversidade de opiniões e modos de se realizar? Será que é um conceito auto-contraditório, já que a teoria que propõe - se é praticável! - nunca foi realmente praticada, pelo menos em nenhum lugar dito civilizado? Só dúvidas, e cada vez mais, e mais angustiantes, porque vou chegar ao fim da minha viagem sem ter conseguido perceber nada.