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terça-feira, maio 04, 2004

Gabriel III

Já contei como encontrei Gabriel. Subia a rua que eu descia, simplesmente, e viu-me por dentro e eu vi-o por dentro e compreendemos os caminhos um do outro. Sabia o meu nome, eu não sabia o seu, mas depressa se lhe colou na minha memória que tão dificilmente guarda nomes como facilmente guarda rostos. E o rosto de Gabriel não é fácil de esquecer, os olhos de gato vadio, de anjo de asas cortadas, os cotos escondidos por sob as costas de um casaco que não me lembro se usava. Ainda não era Primavera, talvez fizesse ainda frio, talvez não. Nos primeiros dias de Março já o Sol por vezes surge e aquece os que à rua se fazem.

Sempre me dei bem com o Sol, com os dias de preguiça que ele exige, contra tudo e contra todos, dias de ronronar sob as oliveiras, dias de fazer nada, por muito que se tenha para fazer. Um nada bem longo e aberto... Naaaaada! Gabriel brinca comigo. Com a forma como os meus olhos se fecham ao sol, com as pequenas rugas que os marcam ainda mais, como quando me rio. Gabriel diz que os meus olhos falam tanto fechados pelo riso ou pela claridade como abertos para a calma ou para a penumbra. Sei que é verdade, Gabriel é assim e eu sou como Gabriel. E os gatos gostam de sol.

Tenho agora Gabriel no colo. E no meu colo ganha definitivamente a realidade da sua existência intermitente, de todos os ausentes o ausente, ainda que presente, sempre. É tão belo e tão livre que custa acreditar que o não seja. Mas sim, Gabriel também tem cartões vários que o categorizam com números diversos, bilhete de identidade, número de identificação fiscal, cartões bancários... carta de condução? Coisas que ditam regras, mas regras que não são as de Gabriel. Que também as tem, muito menos próprias e individuais do que ele gosta de as conceber.

Há dias em que Gabriel me esquece. Eu nunca esqueço Gabriel, embora por vezes gostasse, para aliviar um pouco o peso de viver com os dois dentro de mim, ele e eu, a ordem é absolutamente arbitrária, estas almas não têm grau de importância, são regras que não estão estabelecidas, ainda não pelo menos. Ainda assim tenho alguns momentos de descanso, de maior leveza, pois quando Gabriel me esquece também eu me esqueço de mim e a minha alma fica mais leve, só com o peso do que resta das asas de Gabriel. E quando Gabriel regressa, regressam com ele o peso e a felicidade, os medos e os sonhos, o cansaço e a insónia. E a raiva. A raiva às regras de Gabriel. As regras de Gabriel são cruéis e duras. E que me importam as suas leis? Que me importa o resto? Se o sei meu e me sei sua? Que me importa?

Mas importa. O amor é assim, tanto se procura que se rejeita, tanto nos faz bem que nos faz mal, tanto nos identifica que nos descaracteriza. Todo o amor é exílio e só um tolo se exila voluntariamente. Um tolo ou um viajante. Eu e Gabriel somos viajantes. E tolos também.