<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d5669356\x26blogName\x3dThe+Amazing+Trout+Blog\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dTAN\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://theamazingtroutblog.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://theamazingtroutblog.blogspot.com/\x26vt\x3d7427130160736514488', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

quinta-feira, maio 06, 2004

Gabriel V

Do colo para a boca, é na boca que sinto agora Gabriel, fugazes que sejam as realidades e, consequentemente, as memórias, as possibilidades da câmara lenta são infinitas e o nosso cérebro capaz de inesperadas e bruscas mudanças de velocidade. Gabriel na boca. A mão sobre o cabelo e Gabriel na boca. Mas como? Será que Gabriel não tem corpo? Para caber na boca não pode ter corpo. E será que deveria tê-lo? Tornar-se realmente real e físico e ter um pescoço para cheirar e morder, um pescoço onde me pudesse perder para não mais emergir? O pescoço de Gabriel. Vontades minhas e de Gabriel, medos meus e de Gabriel.

Sentada onde esteve Gabriel, esperando outra pessoa que não ele, no local onde deliberadamente nos encontrámos pela primeira vez, onde pela primeira vez não foram as coincidências que nos juntaram. A sua imagem continua viva, sentado nos degraus, erguendo-se de um pulo, como gato que é, à minha aproximação, olá tudo bem, sim tudo, então onde vamos, pequenos-almoços, lanches, qualquer coisa, se estamos juntos que importam os pormenores, se estamos finalmente juntos? Qualquer coisa. E no entanto ambos somos acasos, nas nossas vidas, na vida um do outro. Acasos e, por tal, predestinados. Pois se todos somos frutos do acaso todos estamos condenados à partida a ser o que somos, já que uma indizivelmente pequena diferença de tempos ou um desencontro não implicariam que fôssemos diferentes, mas pura e simplesmente outros que não nós, o corpo e o resto que ainda ninguém conseguiu explicar-me de que é feito.

À distância passo-lhe a mão pelo cabelo, os caracóis escuros enrolados nos dedos, os dedos escuros enrolados nos caracóis, passeando numa longa carícia que sei que Gabriel sente. Sei que sente. Desta estranheza somos feitos, eu e ele, de mesmo na dúvida nos dominarem as certezas do outro, o pulsar do coração do outro e, portanto, o sangue que no outro corre, no outro, será? Será Gabriel meu irmão ou serei eu Gabriel, será Gabriel o meu negro ou eu o seu? Destas estranhezas somos feitos, Gabriel e eu. De guardarmos os sons das vozes como que gravados e de os repetirmos mentalmente até à exaustão. E de nos desejarmos tanto que não suportamos a presença um do outro.

E por isso nos separamos mais quanto mais nos encontramos. E mais próximos estamos quanto mais longe conseguimos estar. E tudo se repete e roda sem fim, para nossa terna angústia e eterna certeza.