Pesadelo
Dou por mim num palco, de violino nas mãos, uma orquestra por trás de mim e um maestro prestes a dar a entrada. Olho para mim: pânico!! Estou vestida com um fraque horrível, semelhante ao de um apresentador de circo. Felizmente é preto, mas ainda assim brilha tanto que me encandeia. Passo a mão pelo cabelo: horror!! Tenho o cocuruto cheio de caracolinhos à jogador de futebol... para me distrair deste desespero, decido começar a tocar. Até toco bem, os dedos andam depressa, faço uns truques giros, finjo que estou num concerto de heavy metal e começo a maltratar o instrumento, oiço exclamações abafadas de admiração vindas do público – está a resultar, penso – faço mais uns truques próprios da arte circense, os dedos continuam a mexer-se depressa, estou a fazer um sucesso enorme quando, de repente, PÓING!! Parte-se uma corda do violino! Calma, respira fundo, o protocolo manda que o concertino te ceda o seu violino. De facto, o concertino estende-me, gentilmente, o instrumento. Respiro de alívio – afinal, os concertinos têm sempre violinos de boa qualidade. Dou o primeiro acorde: desespero!! Aquele anormal não se deu ao trabalho de afinar uma das cordas! Mas como?! O concertino de uma orquestra... como é que é possível? Pensou que ninguém notasse? Achou que ia precisar pouco daquela corda e que não se justificava afiná-la?? DAVA MUITO TRABALHO? Faço um esforço para que não se note, corrijo a afinação a custo, só me apetece espancar o concertino cabeludo que olha para mim com um sorriso pateta (será que nem notou)?
Acordo, ofegante. Que alívio, foi só um sonho.
O Maxim Vengerov, ontem, na Gulbenkian, é que não teve a mesma sorte.