Deixa-me saber o que tens entre as pernas para poder lidar convenientemente contigo...
Este é o mundo em que vivemos. Ainda. Este pedido estapafúrdio nunca se ouve, nunca se verbaliza, mas é ainda um interruptor que o mais da sociedade tem necessidade absoluta de ligar. Às vezes para perceber do grau de ridículo de um preconceito, é um bom método verbalizá-lo sem contemplações e ver se olhamos para nós próprios da mesma forma depois de fazê-lo: "Boa tarde, eu sou o Manel, tenho vagina, sou heterossexual, e você é?..." Pois, disparate não é? Somos pessoas, a diferença enriquece-nos, não nos superioriza ou inferioriza, só a tacanhez nos inferioriza, só a mesquinhez, só o preconceito de querermos esconder, banir ou castigar o que não entendemos, o que não escolhemos para nós próprios ou mesmo o que outros não escolheram para nós.
Este ano a Marcha e o Arraial Pride tiveram motivo extra para festejar: o 13 já não é um 31, constitucionalmente a orientação sexual não pode ser razão para qualquer tipo de discriminação ou favorecimento. Donde há ainda muito trabalho para fazer, já que temos agora muitos regulamentos civis e legais que são... anti-constitucionais. O casamento civil é logo o primeiro engulho. Mas por todos os motivos e mais alguns, esta luta não é só da comunidade LGBT, é de todos nós. A liberdade não se compadece com espíritos estreitos - ou melhor, os espíritos estreitos têm todo o direito de existir em liberdade, mas NUNCA deverão ter o poder ou a veleidade de cercear a dos outros - bem sei que a História me desmente [se bem que nem sempre, nem sempre...], mas a História fazêmo-la nós. Quem disser o contrário anda a tentar roubar chupas e rebuçados sem perceber que os meninos já são uns latagões perfeitamente capazes de defender as próprias guloseimas.
E foi meu prazer, a convite do Paulo, participar no Arraial e, logo a seguir à Odette Insert-Coin, entrar no palco com as minhas chinelas rasas - para desenjoar um bocadinho de tanta mulheraça - e oferecer duas grandes canções a quem se dirigiu ao Parque do Calhau em Monsanto para ser feliz sem culpas ou medos.
From craddle to tumb isn't that long a stay... life is a cabaret, old chum, and I love a cabaret!
Como cereja no topo do bolo, revi a blogayesfera já conhecida e tive oportunidade de conhecer o Pagan e as meninas Caccao que são lindas [acho que ando a precisar de rever aquela história de ser heterossexual, eu só me impressiono com mulheres, caraças!... não, com homens também, mas são menos de facto...] e levam um pouco de liberdade atrás de si para onde quer que vão - soube-me bem vê-las abraçadas à luz do dia, sem pudores, na manifestação em Belém no dia seguinte: mas basta olhar para os olhos daquelas duas mulheres para perceber que ali só há amor e verdade - base da mais aberta e mais inexpugnável das fortalezas. Um beijo para vocês, miúdas.