A melhor parte
Na SIC, um documentário que mostra o trabalho de um homem que recolhe animais selvagens em risco, os trata e, quando possível, liberta-os. Sinto uma inveja enorme daquela função tão rica e tão generosa, daquela convivência próxima com animais extraordinários e que, geralmente, estão "do outro lado"... Gostava um dia de ter sobre a minha cama, como este homem, um leãzinho de semanas apenas - gato colossal - hoje protegido, mas destinado à liberdade e com a savana a brilhar-lhe nos olhos.
Uma águia-sem-cauda à beira da paralisia devido à ingestão de carne envenenada é recolhida, tratada, marcada com tinta na parte interior da asa. Recebe a última refeição em cativeiro, como que alimentada por um passarão maior que lhe enfia na goela os dedos segurando nacos de carne limpa. A readaptação é sempre difícil, é preciso estar preparado.
E chega o momento da libertação. Por breves momentos as patas roçam o chão e o vôo eleva-se, largo, livre e grato. Olho para o rosto do tratador. Sem dúvida está a pensar o mesmo que eu: vê-la voar inteira... é esta a melhor parte.