O afecto, o que é?
Há duas noites atrás fui até ao Castelo curtir um belo pagode com o meu amado Zeca Baleiro. No meio da deliciosa caldeirada de forró, rock, rap e samba que é a música do Baleiro - Venha provar meu brunch/ Saiba que eu tenho approach/ Na hora do lunch/ Eu ando de ferry-boat - surge-me à frente um rosto que há muito eu não via. Colega de faculdade, outro polo de uma admiração mútua, companheiro-caloiro-palhaço. Saudades sentidas e abraços apertados. Há pessoas que temos de farejar depois de um longo afastamento, outras parece que nunca entraram nem saíram da nossa vida: estão lá e pronto.
Ali ficámos, conversando sobre o que marcou os dois juntos e cada um nos diversos e separados trilhos posteriores, os amigos que ficam no coração e os que se vão perdendo na névoa, que caminho cada um trilha agora, ele num jornal aqui em Lisboa, eu em palcos por onde calha. E sai-lhe assim pela boca fora: - Foi bonito assistir àquela tua indecisão quando acabaste por deixar a faculdade. Estavas indecisa entre a vocação e o afecto.
E assim, dez anos depois, percebi porque chorei tanto quando cá dentro a urgência da escolha se foi impondo. Dez anos depois, percebi por que razão me encontrei a mim mesma no afecto e continuo sempre a acarinhar a vocação.
Dez anos depois, compreendo por que razão há pessoas de quem nunca nos esquecemos.
Ricardo... O afecto, o que é?