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sexta-feira, julho 23, 2004



Sou um instrumentista popular. Tudo o que conheço da música erudita é apenas aquilo que me é exigido por uma cultura geral tão bem fundamentada quanto possível. Sei, isso sim, por experiência própria, que se alguma coisa está por dentro da música, da poesia, da ciência, da cultura, enfim, é a realidade. Se sinto a música de um lado e a realidade do outro, não tenho dúvidas: estou a viver uma falsa música ou uma falsa realidade. Quem poderá ver, alguma vez, a realidade por fora da cultura? Por mim, só consigo ver alguma coisa quando ela me é revelada pela Arte, pela Ciência, pela Política. Não pode esquecer-se que cada uma das obras que sobrevive para além do seu tempo pode transformar-se, nas nossas mãos, num instrumento de descoberta da realidade, em qualquer lugar e em qualquer época.

As forças mais conservadoras que têm ocupado 90% do nosso território e da nossa história, entendem que a realidade deve ser intocável como as vacas sagradas da Índia. Isto, evidentemente, quando essa realidade é do seu inteiro agrado. E creiam: não a vão procurar através da Arte, através da cultura que reduziram à condição de mero objecto de gozo estético, maçadora imposição social ou símbolo de prestígio pessoal. Reconhecem-na nos privilégios e vantagens económicas que por nada deste mundo desejariam perder.

Ora os grandes artistas, e não só, sentem a realidade por dentro da sua arte. E isso ainda seria o menos. O mais importante é que a sentem em movimento, em transformação e se a realidade se transforma será sempre possível corrigi-la ou transformá-la de acordo com as justas aspirações humanas. É o que nos pretendem demonstrar, sem excepção, todos os criadores de cultura.

Compreende-se, assim, que em confronto com a governação retrógrada, os artistas corram, tradicionalmente, em Portugal, o risco de serem isolados, exilados, debilitados pela fome ou queimados na fogueira.

Apesar disso, ninguém pôde impedir que das escolas, liceus e universidades espalhados pelo País, saíssem muitos dos maiores poetas que a nossa língua conhece. Mas foi fácil manter em número caricatamente reduzido a quantidade de salas de concerto e escolas de música, frustrar a coordenação do ensino nos seus graus básico, médio e superior, não ir além de uma ou duas orquestras sinfónicas oficiais para dez milhões de portugueses, deixar a amadores e a semiprofissionais o encargo de formar os nossos agrupamentos orais mais importantes, desprestigiar, por mil e uma formas, a profissão de músico, uma vez que tudo isto e o muito que seria necessário fazer dependem do poder administrativo e do programa que defendem.

Pelo que aqui deixamos dito, bem correcto teria sido afirmar, da minha parte, com a mais profunda convicção: é difícil ser-se Poeta, em Portugal, mas muito, muitíssimo, mais difícil é ser-se Músico.


Carlos Paredes, in Jornal de Letras, 15 de Setembro de 1981