Sugestão de Campanha de Civilização dos Automobilistas
Há o spot da mãe do Hugo, que ia para o karaté e foi atropelado numa passadeira por um camião. Moral da história: é melhor parar por aqui, parar, escutar e olhar. Pergunta: mesmo quando os automóveis vêm a 90 e não se vêem chegar? Há o spot da filha do António, que não pode crer que o pai "já tenha falecido" [faz-me lembrar aquela já antiga que dizia que a vida se desmoronara como um castelo de cartas, a malta curte é eufemismos]. Pergunta: mesmo quando alguém parou para nos dar passagem e quando chegamos a meio da passadeira nos passa por cima um xico-esperto que acha que o da frente parou porque não tem mais nada que fazer? Ou a responsabilidade de cada um não interessa para o caso?
Pois é, como sou daqueles doidos que - por também conduzir - confia na própria capacidade de avaliar o perigo de obrigar um automobilista, perdão, um dono da rua a parar numa passadeira, esta campanha incomoda-me. E assusta-me. Por isso cá vai um texto alternativo.
Voz off: Esta é a Maria, filha do Gervásio.
Maria: O meu pai ensinou-me muita coisa. Sempre o admirei muito e sempre fez parte da minha vida. Até que atropelou um miúdo numa passadeira. Vinha depressa demais para parar, disse ele ao juiz. E o juiz respondeu-lhe que, estando as passadeiras perfeitamente sinalizadas e conhecendo o condutor o código da estrada, a responsabilidade de vir à velocidade que lhe permitisse parar numa passadeira era, obviamente, dele e só dele. A mãe do miúdo perdeu o filho. Eu perdi o meu pai, que por egoísmo e negligência matou uma criança. Ainda me custa a crer que ele seja um assassino. Eu acho que ele aprendeu a lição, só que à custa de uma vida...
Então, é demagógico o suficiente para a Escola de Pensamento que nos guia actualmente ou será que ainda precisa de alguns retoques?