Parabéns, camarada Barreirinhas!
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Queriam posts? Agora não se queixem...
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Desova mesmo a pedir para o pessoal do costume vir sobre diferentes nicks deixar o seu veneno, que está sempre doidinho por espichar [a caixa está aberta, pessoal!]
Tive o prazer de falar contigo três vezes - bom, não vamos contar o facto de me teres visto em vários estádios, dos cueiros à infância e finalmente à voluntariosa adolescência, ambos sabemos que não passa de uma herança de família [e eu não sou nada patriarcal...] e para ti poderá ser, se ainda restarem imagens, sons ou palavras, uma pequeníssima memória. Prazer, é mesmo a palavra. Não digo privilégio, pois se para mim, há mais de dez anos atrás, foi tão fácil chegar a ti e conversar, não posso chamar privilégio a algo que era tão acessível. Seria mentira. Nunca foste um mito, ou melhor, nunca te comportaste como se tal tivesse qualquer importância. Sonhaste e seguiste o teu sonho, esbarrando e tacteando, como todos nós. Pensaste, criaste, lutaste, partilhaste. Um homem do renascimento que a luta proletária engoliu sem apelo - no (in)consciente colectivo português, pelo menos. Fazes-me pensar, tu e pessoas como tu, Álvaro, nas escolhas que fazemos e nos porquês de as fazermos, em como somos tão livres e tão limitados. Fazes-me pensar, olhando hoje em volta, em qual dos braços é mais forte, o da pena ou o da espada, o do pensamento ou o da acção. Fazes-me pensar se teremos nós, humanos, intrinsecamente, a capacidade de viver sempre de acordo com o que consideramos digno e justo, pesem embora os limites da consciência, dos dias e das horas. Fazes-me pensar no que é mais urgente, a luta ou a arte, e no que as distingue realmente.
Foi um prazer, sempre, conversar contigo. Foi um prazer olhar-te nos olhos e ver sempre brilho, curiosidade, empatia, inteligência. Ouvir-te falar, falar contigo e ver que me ouvias, que olhavas atento para uma miúda no fim do secundário que sentia o peso do mundo todo nos ombros. Acho que é isso que nunca esquecerei. Os nossos caminhos não são o mesmo, mas sem o teu não sei se este meu atalho seria o que é. Aliás, sei. Seria outro, Forçosamente, seria outro.
Hoje fizeste noventa e um anos. Mas nunca mais me cruzei contigo, vives na tua simplicidade, no teu canto, quando morreres a diferença quase não se sentirá. Mas às vezes entristece-me saber que não me despedirei de ti.
Parabéns, camarada.