Um cagado todo cagado...*
Recorda-me a Sara que entre Portugal e Brasil se continua a marrar na incompreensível necessidade de um acordo ortográfico. Isto há-de ser sempre um mistério para mim: por que raio é que americanos e ingleses convivem perfeitamente com o facto de uns dizerem/escreverem dinner e outros supper enquanto nós andamos para aqui a discutir se se diz pequeno-almoço ou café da manhã, em batalhas duras multiplicando baixas pelos quatro cantos do mundo? Não entendo esta obsessão com a normalização. Não gosto muito de ler livros de trabalho em "brasileiro", porque não penso em "brasileiro", mas é-me delicioso cantar interiormente as cenas eróticas de Pedro Bala e Dorinha no Amado linguajar bahiano. No que toca à literatura e à poesia, nada me perturba. No que toca ao resto, bom, às vezes tenho de ler em italiano, o que para mim é bem mais complicado e não me queixo.
No seguimento do que escreveu o troblogdita na caixa de comentários mais doce da blogosfera, para fazer frente à hegemonia do português do Brasil, se é esse o objectivo, só traduzindo mais e melhor, trabalhando mais e melhor e tendo preocupações com coisas realmente importantes em vez desta compulsão pela indiferenciação forçada. Enquanto pelas ruas de Lisboa se multiplicarem toldos orgulhosamente abertos ostentando essa bela palavra que é "residêncial", isto dos acordos ortográficos só pode ser anedota.
Sinceramente, senhores, não têm mais nada com que se preocupar? Em tempos também dizíamos ónibus, não tínhamos era que discutir com ninguém sobre o nome de um autocarro.
*a ler, naturalmente, Um cágado todo cagado...