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O filme é, como já escrevi antes, um portento. A realização próxima, humana, suja, um som irrepreensível - coisa rara na produção nacional, como sabemos - sem o qual seriam impossíveis os diálogos simultâneos, as coreografias de palavras entre duas cenas paralelas no mesmo plano. É talvez este um dos efeitos mais bem conseguidos e mais impressionantes do filme: personagens juntas no espaço e diversas no objecto, por fim trocando posições de emissão e recepção, baralhando as cartas, mas seguindo um caminho comum ainda que constantemente silenciado, meio-dito, até meio-pensado. Mas representado de modo sublime e coincidentemente filmado, o mundo de Carla, aborto do mundo que cria e destrói Carlas. O mesmo mundo desde a Ifigénia original.
Não nos deprimamos demasiado, no entanto: neste mundo também se constroem Batardas. E Canijos.