E não é evidente? Quem acredita que um penedo caia com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia? Esta era a inteligência que dEus nos deu...
Pois que todos, enquanto somos como somos, sem o saber, levamos as nossas vidas de civilizados numa confusão de facto insensata de religiões jamais inteiramente mortas e raro inteiramente compreendidas e praticadas; de morais outrora exclusivas, mas que se sobrepõem ou se combinam no pano de fundo dos nossos comportamentos elementares; de complexos ignorados, mas por isso tanto mais activos; e de instintos herdados, bem menos de qualquer natureza animal que de costumes totalmente esquecidos, que se tornaram traços ou cicatrizes mentais, inconscientes e, por esse motivo, facilmente confundidos com o instinto. Que foram, ora artifícios cruéis, ora ritos sagrados ou gestos mágicos, por vezes também disciplinas profundas elaboradas por místicas longínquas simultaneamente no tempo e no espaço.
Denis de Rougemont, in O Amor e o Ocidente, Trad. Anna Hatherly, Vega