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quinta-feira, janeiro 13, 2005

É não perder este espectáculo até ao próximo domingo.

E não venham com o IC 19 e tal e aquilo é fora de Lisboa e não há tempo e o rabo afunda-se no sofá e tenho uma vida muito dura. Ontem à noite demorei vinte minutos a chegar à Teatroesfera e até me enganei no caminho. E se preferirem as desculpas... bom, vocês é que perdem. Perdem seis peças curtas inteligentes, seis jogos de palavras, situações, metáforas, referências e citações que são uma verdadeira trip para o cérebro, seis belíssimos actores e o enorme gosto de ver teatro do melhor. Uma jaula onde três macacos dactilografam até que os seus dedos inadvertidamente os levem a Elsinore, um encontro de desconhecidos em que os tropeções do primeiro reconhecimento são sucessivamente salvos e apagados pelo toque da campainha, uma aula da língua universal Unamunda passeando pelos traumas sociais, pelas aldrabices e pelo amor por fim, uma queda numa Filadélfia em plena Nova Iorque [não tentem perceber, sobretudo se hoje tiverem acordado numa Los Angeles, onde quer que estejam - já eu por exemplo ia gravar de manhã não fosse o som dos martelos pneumáticos a invadir o estúdio, ou seja, acordei claramente numa Cleveland], um Trotsky perplexo com o machado de montanhismo que encontra cravado no próprio crânio e com as péssimas notícias que lhe dá uma enciclopédia de 2004 para o dia de 21 de Agosto de 1940, e por fim um espantoso, divertidíssimo e rigorosíssimo momento musical em que entramos nas crises existenciais de Phillip Glass, a mulher que em tempos amou e um pão de forma [Trutinhas, amigas, aquilo naquele sítio que a gente sabe dava para mês e meio de ensaios com gente em pânico no dia do concerto agarrada ao diapasão - ali havia apenas um pão de forma, provavelmente afinado a 445hz :p]

A Teatroesfera surpreende-me sempre, apaixona-me sempre, enriquece-me sempre. Que mais se pode pedir? Só que o público não passe ao lado.