Parabéns, minha Rita.
E bem-vinda à segunda maioridade. Que te abra mais portas para continuares a crescer, que te areie bem os espelhos para saberes quem és, que te dê força para procurar e discernimento para receber o vinho da vida - ou se preferires a ginja, que, como está mais que provado, não bate. Um grande, grande beijo, minha amiga linda.
Ultrabiográfico
Por um mistério de cerejeira
Subiu a terra. Floriu em mim.
Ah, não ser eu a trepadeira
Com que cheguei ao meu jardim!
Uma gaivota como alimento
Se é ser gaivota voar assim
Nesta voluta de alheamento
De carga de ouro dum bergantim.
Se houver raiz ela é por dentro
Que a minha raça é ser por fora
A esmeralda em que concentro
Um linhagem que me devora.
Pela teoria de um instrumento
De sete cordas ou de nenhuma,
Sou uma frase escrita pelo vento
Numa parede como a bruma.
Que sexta-feira de estilhaços!
(na via-sacra é a paixão)
Se já morri foi nos meus braços
Por não haver ressurreição.
Cheguei a esta mitologia
Como os ciganos, pelo caminho.
Na minha humana eucaristia
Não há o pão. Só bebo o vinho.
Deixem ao céu a concordata
Com uma flor, se lhe apetece.
Mas não me mostrem santos de prata
Como quem mostra o que padece.
Para Jeová, sofro de mais.
Para o demónio, sofro de menos.
Prefiro os olhos dos animais
E o meu vestido de ver a Vénus.
Natália Correia, in Passaporte