A guerra é a guerra...
Ontem, no debate do Prós e Contras, a luta de classes desfilou em passarela para quem quisesse admirá-la. Um lado afirma de cátedra que só há um caminho - o da aproximação aos direitos sociais asiáticos, o trabalho escravo-pouco-remunerado - e insiste na crise e que o dinheiro não cai do céu e acudam que vem aí a esquerda - mas qual crise, se nunca, como este ano, subiram tanto as vendas de automóveis de luxo [parece-me que só a Rolls escapou, será essa a crise?]. Do outro, a esquerda e as ciências humanas chamando os bois pelos nomes, respondendo que se age como se não existisse política [ou seja, escolha, direcção, prioridades] e só o mercado tirano valesse, o que é uma acabada mentira.
E dei por mim a pensar... realmente, é uma guerra.
A guerra entre os que comem dinheiro devorando vidas e os que todos os dias têm menos direito de viver. Não nos enganemos, senhores. Estão a tentar convencer-nos de que para isto não ir para a latrina nós temos de ser carne para canhão, escravos resignados. É MENTIRA, uma torpe mentira. Ainda hoje li um comentário no Renas que falava exactamente dos perigos de "baixar a guarda". Não poderia estar mais de acordo. Os glutões devoradores que se lambuzam enquanto tentam convencer-nos de que nós mesmos, a nossa individualidade, a nossa qualidade de vida, os nossos direitos sociais, são O OBSTÁCULO AO PROGRESSO, não se afundam sozinhos, antes se alimentam das nossas inércias, das nossas perplexidades, da nossa incapacidade para a associação e para a luta.
É a guerra, senhores. Sem obuzes, mas não menos guerra.
P.S.
Tiro o chapéu à participação de Miguel Portas. Assim como o outro Miguel, deu-me mais um sinal de que votei bem, de que não poderia ter votado melhor.