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sábado, fevereiro 19, 2005

A Paixão considerada como uma prova de montanha

Bom, acabo de descobrir este texto - ou melhor, acabam de mo dar a descobrir - e ri-me tanto que não resisto a partilhá-lo convosco. E é melhor que seja agora, no início da Quaresma. Se o postasse na Páscoa nem quero imaginar a quantidade de cibernautas que me cairíam em cima... e pensar que é um texto com cerca de cem anos. [suspiro]


Barrabás, inscrito, desistiu.

O "starter" Pilatos, puxando pelo seu cronómetro de água, ou clepsidra, que lhe molhou as mãos, a menos que tivesse, muito simplesmente, cuspido lá para dentro -, deu o sinal de partida.

Jesus arrancou a toda a velocidade.

Segundo o excelente redactor desportivo São Mateus, era uso, naqueles tempos, flagelar, à partida, os "sprinters" ciclistas, como fazem os cocheiros aos seus hipomotores. O chicote é não só um estimulante como uma massagem higiénica. Jesus, portanto, arrancou em óptima forma, mas logo lhe sobreveio um acidente com os pneus. Uma sementeira de espinhos deixou-lhe a roda da frente toda crivada.

Reprodução fiel dessa autêntica coroa de espinhos se pode ver, hoje em dia, na montra de quelquer loja de velocípedes, como reclamo de pneus à prova de furo. Coisa que não o era o pneu de Jesus, mero tubo-sigla para provas de pista.

Os dois ladrões, que se entendiam às mil maravilhas, tomaram a dianteira.

É falso que se tenham utilizado cravos. Os três que figuram nas imagens constituem o desmonta-pneus conhecido por "à la minuta".

Mas é conveniente falar, antes de mais nada, nos trambolhões. Antes disso, porém, descrevamos o melhor possível a máquina.

O quadro é uma invenção relativamente recente. Só em 1890 é que apareceram as primeiras bicicletas com quadro. Até aí, o corpo da máquina era formado por dois tubos soldados perpendicularmente um ao outro. Era a chamada bicicleta direita ou de cruz. Depois do acidente dos pneus, subiu por conseguinte Jesus a encosta a pé, levando às costas o quadro ou, por assim dizer, a cruz.

Gravuras da época reproduzem, de fotografias, todo esse espectáculo. Parece, todavia, que depois do conhecido acidente que tão desastrosamente pôs termo à corrida da Paixão e que hoje, próximo da data do seu aniversário, toma foros de actualidade, dado o acidente semelhante acontecido ao conde Zborowski na serra da Túrbia, o desporto velocípede foi durante algum tempo proibido por decreto do Governo Civil. Daí se percebe que os jornais ilustrados, ao reproduzirem essa célebre cena, tivessem figurado as bicicletas de um modo fantasista. Confudiram a cruz do corpo da máquina com essoutra cruz, o guiador direito. Representavam Jesus com as duas mãos espalmadas sobre o guiador, e agora por isso, notemos que Jesus velocipedava deitado de costas, no intuito de diminuir a resistência do ar.

Note-se, também, que o eixo ou cruz da máquina era, como certos aros de roda actuais, feito de madeira.

Houve quem insinuasse, sem motivo, que a máquina de Jesus era uma draisiana, aparelho bastante inverosímil na subida de uma prova de montanha. Segundo velhos hagiógrafos velocipedófilos, tais como Santa Brígida, Gregório de Tours e Ireneu, a cruz estava munida de um dispositivo que eles designam por "suppedaneum". Não é preciso ser-se muito douto para o traduzir por "pedal".

Justo Lípsio, Justino e Erício Puteano descrevem um outro acessório que em 1634, no dizer de Cornélio Curtius, ainda se nos depara nas cruzes do Japão: uma saliência da cruz ou do eixo, feita de madeira ou coiro, sobre a qual o ciclista se encavalita: o selim, como é evidente.

Estas descrições não são, aliás, mais inexactas do que a definição de bicicleta dada hoje pelos Chineses: "Mula pequena guiada pelas orelhas e forçada a caminhar à custa de muitas pézadas."

Abreviaremos o relato da corrida propriamente dita, bastamente referida em obras especializadas e expostas, através da pintura e da escultura, em monumentos "ad hoc".

Na encosta bastante escarpada do Gólgota há catorze curvas. Foi à terceira que Jesus deu o primeiro trambolhão. Sua mãe, nas bancadas, alarmou-se.

O excelente treinador Simão Cireneu cuja função, se não fora o acidente dos espinhos, seria a de o "puxar" e de lhe aparar o vento, carregou com a máquina.

Jesus, se bem que de braços a abanar, transpirou. Não é certo que uma espectadora lhe tivesse enxugado o rosto; o que não há dúvida, porém, é que a reporter Verónica lhe tirou um instantâneo com a sua kodak.

O segundo trambolhão ocorreu ao chegar à sétima curva, com o chão escorregadio. Jesus derrapou pela terceira vez sobre uma calha, à undécima curva.

À oitava, as semimundanas de Israel acenavam com os lenços.

O deplorável acidente por demais sabido ocorreu na décima primeira curva. Encontrava-se Jesus, nesse preciso momento, dead-head com os dois ladrões. Ninguém ignora, também, que ele continuou a corrida como aviador... mas isso sai fora deste assunto.


Alfred Jarry, in Spéculations, Trad. Luiza Neto Jorge [Antologia do Humor Negro, Edições Afrodite]