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sábado, abril 09, 2005

O próximo livro que vou comprar

Conheço pouco [mea culpa, mea culpa] do que se chama a nova geração de escritores portugueses [mea maxima culpa], se exceptuarmos o fascínio com que tenho mergulhado em algumas obras de José Luís Peixoto [minha máxima desculpa]. Mas hoje no suplemento Mil Folhas, do Público [não deixo linque porque é só para aderentes e se há substância com que eu embirro é com a cola] deliciei-me com a entrevista de Dulce Maria Cardoso. Ora espreitem:

Infelizmente nós raramente usamos o poder de pensar: uns porque não sabem que o podem fazer, outros porque rejeitam o trabalho que isso dá... A tendência é culpar a sociedade e o meio, esquecendo-nos que a sociedade é um produto e que o poder reside no indivíduo. Como eu só compreendo o que sinto, uma revolução implica uma profunda consciência do que se quer mudar. Eu poderia escrever cortando com o quotidiano, mas este interessa-me: os grandes problemas do mundo desfocam-nos, anestesiam-nos para a vida. Em "Campo de Sangue" há um homem prático. Perguntaram-me o que era: é um ser que se esgota na sobrevivência. Como os mosquitos. Um homem prático é isso. Garante conforto, por isso é tido como vencedor. Esses homens práticos precisam de seres amorfos, e estes precisam de homens práticos para lhes darem ordens. É uma simbiose...

(...)

Os meus romances são realistas porque me quero aproximar da vida: porque a ficção, apesar de tudo, é mais limitada do que a vida, está obrigada a uma lógica que a vida dispensa. A vida conta com o inesperado, sempre, e a ficção não. Viver, para mim, é discutir os vários caminhos -os vários papéis- que a vida nos oferece. Podemo-nos limitar a aceitá-los. Mas o mais interessante na vida é discuti-los, até porque somos múltiplos, enquanto filhos, trabalhadores, apaixonados, enlutados...

(...)

A realidade sempre me pareceu desajustada (ou fui eu sempre desajustada da realidade...!). A maneira que tenho de compensar a realidade é escrever.

(...)

Mas conheço pessoas ajustadas à realidade. É o tal homem prático. O desajuste é individual, a responsabilidade também. Construímo-nos moralmente inimputáveis...

(...)

Só me interessa a actualidade. Nesta voragem de sobrevivência -sobrevivemos a tudo, embora achemos sempre que não, e até mascaramos isso- em que fomos treinados para viver, o século XXI parece-me ter tomado isso de maneira central: tudo está assegurado, mas há tanta falta de coisas essenciais, e isso mascara-se com o conforto e o consumismo. É o primado do homem prático.

(...)

Quando vou às compras, passo pelas meninas das caixas, e penso que vidas terão... (...) O que me impressiona mais é a indiferença com que as pessoas passam por elas. As pequenas frases do verde-código-verde, e a obrigação de "sorria, porque é a última imagem que os clientes levam" é tudo falso. Gostava que, ao menos, quem lesse "Os meus sentimentos" olhasse para as meninas da caixa de outra maneira -e não porque precisem da minha defesa... Como gostava que alguém entrasse num espaço rearranjado e se lembrasse do que esse espaço foi. O futuro é só uma esperança, o presente não existe, e quando o projectamos é futuro. Somos sobretudo memórias, e quando não lhes damos lugar... Como com as árvores, que demoram 50, cem anos a crescer e que cortamos com uma serra eléctrica; antes ficam os avisos "árvore para abate", como antes ficavam os mártires. O mesmo se passa com os animais: a crueldade de que somos capazes é inimaginável. É a destruição do futuro.


Muito mais há para ler e pensar nesta entrevista. E só vos digo uma coisa, se a escrita for tão interessante como a pessoa, temos escritora. Temos presente e temos futuro.