A Birra do Morto: ainda pelo Ballet Gulbenkian
A petição que mais de 18 000 pessoas já assinaram continua aberta e activa. Foi endereçada ao Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, como devem saber, e já entregue. Claro que o feedback é nulo. Outra coisa não se esperaria.
Temos, portanto, de avançar para quem tem o dever de defender os nossos interesses como cidadãos e público. A Assembleia da República, o Governo, a Presidência da República. Apelo a todos que adiram e, sobretudo, divulguem o mais possível esta carta modelo. Não estamos a tentar ditar nada, só temos consciência de que o pessoal é preguiçoso. Esta carta está pronta a assinar e a alterar livremente.
Exmo. Sr. X
Líder do Grupo Parlamentar do Partido X / Primeiro-Ministro / Presidente da República / Ministra da Cultura
No seguimento de uma petição assinada por mais de dezoito mil pessoas contra a extinção do Ballet Gulbenkian, vimos por este meio sensibilizá-lo para esta situação e manifestar o nosso mais veemente repúdio contra este acto.
Em primeiro lugar, é pouco designar por extinção a morte repentina de um agrupamento em pleno vigor, com quarenta anos de história incomparável e seis estreias absolutas previstas para a temporada assim abortada. O nível do Ballet Gulbenkian, sem dúvida uma das melhores companhias de dança moderna da Europa, senão do mundo, nunca teve paralelo no nosso país, e os seus bailarinos e projectos continuavam a crescer e a evoluir. A cada ano de quatro décadas formou públicos e profissionais da dança, marcou percursos, renovou visões, elevou a vivência artística de um público limitado em opções e artisticamente subnutrido.
Em segundo lugar, está em causa todo um património que foi legado ao povo português. Um património cultural e artístico que a todos pertence e deve, por isso, ser defendido e preservado. Nem a memória de Calouste Gulbenkian, nem o país, nem a própria Fundação, merecem assistir a um tão célere desmantelamento de civilização, cosmopolitanismo e modernidade que ganham corpo e vida no Ballet Gulbenkian.
Em terceiro lugar, acreditamos que a Fundação tem responsabilidades públicas que saem da sua esfera meramente privada, por mais soberana que tenha sido a tomada desta decisão. Um organismo que funciona como motor do desenvolvimento cultural, artístico e científico – e que a tal foi destinado pelo seu fundador – não pode de um momento para o outro optar por um desinvestimento radical numa das áreas. Tal comportamento, inclusivé, vai contra estudos do Parlamento Europeu que salientam a crescente relação entre as indústrias culturais e o emprego na União Europeia, tendo a cultura como uma das bases do crescimento económico.
Em suma, se há lugar à manutenção do património e do potencial artístico e cultural em Portugal, ele passa por um acompanhamento por parte do Estado. Com seu altíssimo nível artístico, o Ballet Gulbenkian, como é do conhecimento geral, dança onde há um palco. Mais do que Lisboa, as populações afastadas dos centros mais cosmopolitas vão sofrer com esta decisão. Vão reduzir horizontes e vivência artística, num indesculpável e injustificável recuo de décadas. No estado em que o país se encontra, nomeadamente no contexto europeu, este é um facto dramático. E é obviamente a Fundação Calouste Gulbenkian quem tem quer a capacidade quer a vocação para assumir a tutela do Ballet Gulbenkian. Mas ainda que se admita uma autonomização ou transferência da companhia, são inaceitáveis e indignos os contornos desta extinção. Perante, em primeiro lugar, os bailarinos e funcionários – que o amor a uma profissão como esta não se paga só com o dinheiro das indemnizações. Mas sobretudo perante um público que não merecia saber que o espectáculo que passou foi afinal o último e que o bilhete comprado para uma temporada que se anunciava brilhante vale apenas o seu retorno em euros. Não é digno de um país europeu, não é digno da nossa democracia. Não é digno da Fundação Calouste Gulbenkian.
Chamamos a atenção de V.Exa para o facto de esta opinião ser consensual não só no meio artístico, mas também entre uma larga camada de cidadãos, portugueses e estrangeiros que, no fundo, são a quem se destina toda esta riqueza que agora anunciam como perdida.
Em conlusão, Sr. X, apelamos à vossa intervenção junto das entidades que possam impedir este cenário. O que está em causa é de uma grande responsabilidade social e tem a dimensão identitária de Portugal. A consolidação de uma identidade cultural deveria sempre traduzir-se em acção política.
Com os melhores cumprimentos,
A petição contra esta extinção encontra-se acessível em:
http://www.petitiononline.com/bg05ext/petition.html
Ou, melhor seria ainda, digam de vossa justiça, façam jus à vossa cidadania, escrevam as vossas próprias mensagens. Aqui estão alguns contactos:
Grupo Parlamentar do PS: gp_ps@ps.parlamento.pt
GP do PSD: gp_psd@psd.parlamento.pt
GP do PCP: gp_pcp@pcp.parlamento.pt
GP do PP: gp_pp@pp.parlamento.pt
GP do BE: blocoar@ar.parlamento.pt
GP do PEV: PEV.correio@pev.parlamento.pt
Assembleia da República - Geral: Correio.Geral@ar.parlamento.pt
Ministério da Cultura: infocultura@min-cultura.pt
MC - Secretaria-geral [Dr.ªFernanda Soares Heitor]: sgmc@mail.min-cultura.pt
Governo
Presidência da República
Um enorme agradecimento ao Katraponga