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sexta-feira, outubro 21, 2005

O filhos e os enteados
ou
A hipocrisia é uma vício na moda, e os vícios da moda passam por virtudes...


«PS e PSD querem procriação assistida só para casais heterossexuais, casados ou a viver em união de facto há pelo menos dois anos. BE abre excepção para mulheres sós, desde que inférteis as que, sendo férteis, queiram ter um filho sem recurso a relação sexual, não são contempladas no respectivo projecto-lei. Também a selecção de um embrião com o objectivo de fazer nascer um bebé que permita salvar a vida de uma criança já existente (o "bebé-medicamento") é afastada pelo PS, PSD e BE. Só o PCP admite essa possibilidade e a da "produção independente". (...) Desolado, Mário Sousa vê-se a "enviar gente para Espanha", como aliás já faz agora, por ausência de resposta dos serviços portugueses. "Estou sempre a enviar mulheres para lá. É muito mau, até porque essas pessoas depois têm de lá ter os bebés."»


Extraordinário. Ok, parece-me que fiz um desvio de rota, mas vou voltar a votar preferencialmente CDU, uma vez que o comportamento do Bloco nestes assuntos, que supostamente são pedras de toque para a sua "identidade", é pura e simplesmente gelatinoso, vergonhoso, capachoso e outras coisas acabadas em oso. Quanto aos outros relicários de beatices políticas e tiranias [a]morais, já pouco resta a dizer: o PSD é o que é, o PS, nomeadamente desde o início da era Guterres, também. Agora, o Bloco? Cujos slogans sempre contemplaram a homoparentalidade e o combate à homofobia? O direito ao casamento e a igualdade de direitos tout court? Esta capachosa e invertebrada posição do Bloco só me vem demonstrar que o embarque na onda do segundo referendo acerca da IVG não foi um acidente de percurso, mas uma opção de linha de acção. E sinceramente, cheira-me muito mal. É preciso chegar ao poder, sim, não tenho qualquer tipo de entusiasmo artistico-literário em ser um eterno marginal, mas se para fazê-lo é preciso renunciar aos mais básicos princípios de liberdade e tornar-se o side-car do PS, não contem comigo para ajudar. O eleitorado do Bloco merecia mais que isto, senhores.

E eu tenciono, num futuro próximo, ter um filho com um homem que amo muito, com quem me entendo muito bem e com quem não quero ir para a cama [bom, resumindo e concluindo, ele também não está numa de ir para a cama comigo, já que é gay]. Teremos, por isso, de ir a Espanha ou de arranjar uns riscos de coca e muito álcool a ver se conseguimos saltar para cima um do outro sem desatar a rir. Porque nos livros de quadradinhos que esta gente lê o príncipe manda sempre três fadas na princesa e depois têm muitos filhinhos. E eu estou a fugir à norma das princesas. Ainda se fosse infértil, entrava na norma das coitadinhas. Agora, fértil, solteira e sem querer dormir com o pai do próprio filho? T'arrenego, puta, que nem consegues caçar numa esquina qualquer um homem que te emprenhe! Pensas que o Estado é o quê, lá porque vos fode quotidianamente?

Quase nem vale a pena falar das células estaminais. Resta-nos esperar que o Cavaco fique com Alzheimer para os ver mudar de opinião. A única razão porque uma investigação que pode salvar inúmeras vidas é ilegalizada deve-se à necessidade de sustentar o serôdio e hipócrita compêndio de argumentos anti-IVG. Novamente, os pró-vida escolhem a morte.