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segunda-feira, novembro 28, 2005

The constant director

Sempre que [re]vejo Cidade de Deus ando dias com nomes, rostos e becos recorrendo na memória. Hoje confirmei que o trabalho de Fernando Meireles me toca como poucos. No lugar da favela com nome de éden, a selvagem África, rude paraíso ao primeiro-mundo sacrificado, passando por uma asseada e pomposa Londres. A câmara tão saborosamente brasileira de Fernando Meireles integra-se com uma telúrica naturalidade nos espaços largos de África e nos cantos recônditos do amor e da emoção. Com a mesma sensibilidade, com a mesma ternura. Com a mesma clareza.



The constant gardner
[O fiel jardineiro] é um filme de espionagem e um filme político, girando em torno das ligações obscuras entre multinacionais farmacêuticas, governos e ong's, e da lei da selva que rege a sua actuação assassina na África subnutrida e afundada na praga da SIDA. Bem a propósito, o filme é dedicado "to all who died giving a damn". Em redor disto se desmascaram realidades que estão à cega vista de todos e se constrói um thriller arrebatador e sem falha, filmado de modo nervoso, presente e esplendoroso. Mas neste big picture o motor e a pérola é a história de um amor liberto e vivo sobre e apesar dos equívocos, que após uma horrífica morte se vai revelando nos pormenores, nos curtos flash-backs, nos subtis raciocínios e no desfazer extemporâneo de equívocos; na sensibilidade das imagens, no recorte apaixonado dos rostos, na desarmante sensualidade e luz de Rachel Weisz, na contenção pungente do sempre admirável Ralph Fiennes. Ambos encarnam generosamente o yin e o yang deste filme, ela alimentada a curiosidade e espírito de justiça, motor e mártir da intriga, ele alimentado a amor e admiração, a amável estranheza progressivamente cedendo lugar, enfim, à partilha plena e à plena compreensão. Tessa é uma luz meteórica, mas terrena e real, que ama e arrasta Justin. E as imagens dessa fugaz intimidade, quasi-documentais na sua leveza, no protagonismo do riso e da cumplicidade, são das coisas bonitas que o cinema nos pode dar.

Um filme a rever, cheio de compromisso e amor, luta e sensibilidade, arte e mestria, luz e sombra. E um realizador feito e com um olhar muito particular. Cinema do melhor, minha gente!