Razões para não votar Cavaco XVIII
Porque as geniais palavras que se seguem, escritas já nos idos de mil e setecentos, o foram nitidamente para ele:
Já não há vergonha nisto: a hipocrisia é um vício da moda, e todos os vícios da moda passam por virtudes. A personagem do homem de bem é a melhor de todas as personagens que se podem representar hoje-em-dia, e a profissão de hipócrita tem maravilhosas vantagens. É uma arte cuja impostura é sempre respeitada; e quando descoberta, nada se ousa dizer contra ela. Todos os outros vícios dos homens estão sujeitos à censura, e cada um tem a liberdade de os atacar abertamente; mas a hipocrisia é um vício privilegiado, que, com a sua mão, fecha a boca a todo o mundo, e usufrui tranquilamente de uma impunidade soberana. Cria-se, à custa de dissimulações, uma sociedade fechada com todos os que tomam esse partido. Quem afronta um vê-se a braços com todos os outros; e aqueles que sabemos agirem de boa-fé acerca do assunto, e que são conhecidos por acreditarem verdadeiramente, esses, digo eu, são sempre os instrumentos dos outros; deixam-se manipular inocentemente pelos dissimuladores e apoiam cegamente as suas acções. (...) Bem podemos conhecer as suas intrigas e a eles mesmos pelo que são, não deixam por isso de merecer crédito entre toda a gente; e qualquer vez que baixem a cabeça, suspirem de despeito, e rolem duas vezes os olhos, é quanto basta para que o mundo não lhes cobre o que fazem.
Molière, Dom Juan
tradução aqui do Manel [sob a inescapável e positiva influência de Nuno Júdice]