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quarta-feira, janeiro 25, 2006

Um país de fragateiros

Na Actual, a revista do Espesso, do fim-de-semana que passou, lá vem mais uma santa entrevista do novo director do D.Maria II. O provincianismo é, para além de esperado, quase enternecedor, lamento constatá-lo. Passo a citar:

"Na prática, aquilo que proponho é que a instituição não deve estar ao serviço dos artistas e dos seus projectos pessoais, precisa sim de princípios que tenham a ver com o país, que intervenham na sociedade e tenham sentido de utilidade pública. A cultura tem de estar ao serviço do desenvolvimento."

Até tremo com isto. Quem é que define esses princípios de utilidade pública e os sentidos de intervenção na sociedade? Quem, senão os artistas, pode fazer uma arte livre - que é a grande forma de ela ser autêntica e autenticamente interventiva [senhores, até o Álvaro Cunhal há décadas já renegara esse capítulo de "A arte, o artista e a sociedade" em que menorizava a arte não política, reconhecendo que qualquer arte de qualidade era interventiva e progressista pelo simples facto de ser livre; mas não, fica por cá o CF, com um avo de grandeza, todo compensado em arrogância intelectual]. Só de se ler que a cultura tem de estar ao serviço de seja-o-que-for, está um retrato feito em meia-dúzia de pinceladas.

"Tudo o que faço se baseia em quatro triângulos. Um pequeno triângulo que liga a matemática, à língua e à música, que são os instrumentos e as disciplinas de treino do cérebro, que quando se alargam a uma dimensão superior formam o triângulo do conhecimento - arte, ciência e filosofia. Esse triângulo, em termos sociais, traduz-se na memória do passado, na capacidade de intervir no presente e de ficcionar o futuro, acabando naquilo que inquieta o Homem, que é o que se passa no Universo, o que se passa dentro de nós ao nível do cérebro e o que se passa no centro da Terra, tudo coisas que desconhecemos totalmente. Juntando estes quatro triângulos, proponho uma programação centrada no conhecimento."

Bem sei que já é tarde e eu tenho trabalhado muito estes dias. Mas acho que contei bem. Não, espera, deixa cá reler... um, dois... Não, vou contar pelos dedos... um, dois... Mau. Quatro triângulos? Não andará a beber um bocadinho de champanhe a mais para comemorar essa nomeação?

"... aquele é o espaço do risco. É preciso que se faça ali o mesmo que se fez na televisão. Ao princípio, ninguém achava que tínhamos condições para produzir ficção portuguesa e agora ela existe em todos os canais. Já ninguém contesta."

Ninguém contesta, nomeadamente que a grande concorrência ao nível da representação é entre manequins e betos, como há dias me diziam à mesa do café, e que por mais boa-vontade e talento que haja nos actores que vão resistindo, there´s only so much you can do with a lousy text, ok? Não quero dizer com isto que não haja dramaturgia portuguesa que valha a pena, mas não me posso esquecer que foi no Trindade que assisti a um monólogo escrito por dois argumentistas da TVI, que de um tema interessante psicologicamente fizeram um texto sem sumo nem rumo, nem bom nem mau, antes pelo contrário, ideal para fritar.

"Quero apostar na adaptação dos grandes romances portugueses e na sua internacionalização. (...) É preciso internacionalizá-los através de uma ligação profunda e estratégica com teatros em Espanha, no Brasil e em todo o espaço ibero-americano. Neste projecto, vou ter a colaboração de intelectuais de referência, luso-descendentes, embaixadores de Portugal no mundo, que podem trazer até nós e levar de cá um conjunto diversificado de textos. Emanuel Demarcy [que dirige um centro dramático em França] e Paula de Vasconcelos [a trabalhar no Canadá] são dois nomes com que conto."

Primeiro, porquê a obsessão com romances em vez do estímulo ao texto dramatúrgico? Segundo, mais à frente, ainda tem a distinta lata de perguntar porque é que os teatros nacionais não fazem digressões? O senhor CF já deu conta que um dos teatros nacionais, o São João, é o único membro português da União dos Teatros da Europa, e que nessa qualidade tem tido uma actividade imparável a nível de intercâmbios? Neste momento ainda está em Madrid o Woyzzeck de Nuno Cardoso, e nem há dias regressou a trupe ubuesca da Comédie de Reims - esse tal centro dramático dirigido pelo Emanuel Demarcy-Mota, e já com o romano Teatro Argentina no currículo; e que a Bordeux vai agora o maravilhoso Cabelo Branco é Saudade, depois de uma emocionante aventura napolitana e que o Porto é há anos anfitrião privilegiado de espectáculos dos quais Lisboa nem ouve falar? Que tudo isto se deve quase na totalidade ao trabalho incansável, visionário e corajoso de um cosmopolita como Ricardo Pais num pântano como é Portugal? Sim, esse mesmo Ricardo Pais que CF pela primeira vez não hostiliza nesta entrevista, esse mesmo alvo das suas imponderadas e irresponsáveis críticas de gestão e programação. Desta vez CF foi mais discreto. Tem lido os jornais, provavelmente, não com bojardas de RP sobre outros, mas com os ecos do seu trabalho no São João e no Carlos Alberto. Do Trindade, infelizmente, conheço o modo de funcionamento, o desperdício, o comodismo, o provincianismo, a incompetência. E nem me ponho a falar do São João, que até parece mal dar demasiada graxa aos patrões. Mas posso dizer que, mesmo em tempos de crise, sou feliz no TNSJ. Como artista, como público, como cidadã, como trabalhadora. E aproveito este momento mais específico - e fonâmbulo - para deixar bem claro que este post não poderia ser mais pessoal. Falo em nome próprio, e só. Porque é que não fazem digressões? Mas digam lá se há outro nome senão "lata" para esta pergunta? Já agora, aconselho-o a não usar a expressão "luso-descendente" com Demarcy-Mota. Ouvi de fonte segura que não é conceito muito apreciado lá em casa...

Uma última nota de ironia. Na página anterior à da entrevista, a revista publica um anúncio do TNDMII com a programação para este ano deixada por António Lagarto e que Carlos Fragateiro se compromete claramente a manter. É um desmentido em si mesmo para quem mal-dizia a gestão do director cessante, fazendo gala em ignorar as dificuldades inerentes a fazer viver um mausoléu mastodôndico como todos sabemos que tem sido o D.Maria II. E não estou, ao contrário do que diz CF, a defender amizades, nem sou parcial: foi na direcção de António Lagarto que Ubu(s) não foi, escandalosamente a meu ver, a Lisboa. O que não me pode impedir de ver naquela página uma programação audaz, dinâmica, de classe e de risco como há muito não via alinhada pelo TNDMII. Fala por si.