Plasticina
Já fui ao TeCA há mais de uma semana, mas o meu estado assim-pó-deprimido impediu-me de escrever fosse o que fosse. Exprimir em palavras as imagens que Nuno Cardoso vê nos textos tão particulares que escolhe é cansativo e redutor. Falar da soqueira que Maksim [João Melo] molda com raiva para sempre usar apenas contra o ar e esmagar contra o chão. Da claustrofobia de um cenário em ruínas em que casas e ruas se confundem para tudo se traduzir no oposto do espaço aberto que em concreto está no palco. Do abanão que foi para mim a cena em que Maksim, o saco de porrada, recusa a ajuda de uma desconhecida numa fila para votar onde se dá carne picada, o eu desintegrado que está debaixo dessa reacção de animal cujo instinto desorientado faz correr para a morte e recusar o abrigo. O teatro duro e bruto. O mergulho obstinado no lixo que nos sustenta o chão, em Moscovo ou na Musgueira. O recusar da fuga.
Enfim, o que importa mesmo é que esteve no TeCa e eu não vos disse nada. Mea culpa.