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sábado, agosto 12, 2006

Mr Boogie-man!...

O telejornal da RTP mostra alegremente uma reportagem na qual tenta demonstrar que em qualquer drogaria de bairro se pode comprar os ingredientes para fazer uma bomba caseira para fazer explodir aviõezinhos cheios de amigos, irmãos, pais, mães de alguém. Cuidado pessoal, está aí o Papão! Qual spot teleshop, o Telejornal público mostra o catálogo, diz onde comprar e até diz o preço. O Papão, malta, o Papão! Cerca de €39, parece que é o que custa. Até o sem-abrigo ali da arcada pode fazer umas poupanças para comprar, basta-lhe para aí um ano. Caralho, não me ouvem, está aí o Papão! €39, é verdade, e se ligar já tem 20% de desconto em todos os materiais e ainda recebe como brinde um lenço igual ao daquele senhor que chegou a ser o líder de um país em projecto e com futuro e acabou os seus dias quase de volta à condição de símbolo terrorista, Yasser, parece que se chamava assim. Vai-nos comer, o Papão, vai-nos comer a todos! Quando começa a segunda parte da reportagem, em que se demostrava como pode comprar a sua bomba no senhor Manel da esquina que lhe vende os piaçabas, a imagem começa a ondular, qual alucinação psicadélica e surge o cágado Rodrigues dos Santos, com os olhos entre o consternado e o surpreso, explicando-se com dificuldades técnicas. O Papão, então, e não nos mostram o Papão? As dificuldades técnicas, providenciais, cheiram-me a chuva de telefonemas de telespectadores portugueses com um mínimo de dois neurónios activos. E o Papão? E esta reportagem abjecta da RTP cheira-me a obscurantismo, a cultura do medo, a provincianismo inconsciente [se for consciente ainda é mais grave], a alimento de xenofobia, a intoxicação mental. O Papão, o Papão pode estar em qualquer lado, aquele gajo brasileiro que a polícia matou no metro de Londres por ser um bocado mais escuro, quem garante que ele não era um dos papões, também há árabes no Brasil! Qual o objectivo informativo de tal reportagem? Talvez publicidade à fita Tesa, para vedar cada frincha como hilariante defesa da guerra química, como se viu fazer pela América fora [a parte tosca, naturalmente]; talvez um empurrãozinho nas vendas de pó de talco para os atentados postais com antraz. O Papão pode ser o carteiro, o porteiro, o calceteiro, o meu vizinho, eu, caramba, eu posso ser o Papão!

Ainda não passaram, as dificuldades técnicas. Pode ser que desta ainda nos safemos de um Patriot Act.





Bu!