Ai...
Desculpem, não encontrei melhor título - e sinceramente nem me dei ao trabalho. Serve o presente apenas para vos falar um pouco da entrevista que Carlos Fragateiro, novo co-director do D.Maria II, deu à Visão em conjunto com o co-director José Manuel Castanheira [fonâmbulo para sonâmbulos, em constante tentativa de equilibrar na sua vara de esteta do teatro o pato-bravo que insiste em nela pousar]. Não é que me apeteça dissertar sobre isto. Mas há umas pequenas coisinhas que têm absolutamente de ser sublinhadas.
A primeira é que, ao contrário do que afirmou e reiterou no Expresso [ver por onde nadava a truta há três meses...], a programação para este ano não se mantém. Os Praga [ou, como surge escrito na Visão, o Teatro de Praga, sendo que Praga, neste caso, fica ali mesmo ao lado do Campo de Santana], como companhia marginal que são, até podem preencher uma Culturgest, mas nunca uma Sala Garrett sob a égide de CF. Os espectáculos no Salão Nobre são fait-divers, donde, também foram à vida. Foi-se, pois, a promessa de manter os compromissos assumidos para este ano, com a maior cara de pau, como se o contrário não tivesse sido afirmado ipsis-verbis e repetidamente. Bom, seja...
A segunda é que CF vem dizer que um dos grandes defeitos da direcção de António Lagarto é que os dois teatros nacionais viviam de costas voltadas. Presume-se que com CF as coisas devam mudar. E para começar, CF traz em Julho ao Rossio, o Don Juan de Molière que há uma ano apresentou o Teatro do Bolhão, enquanto o São João traz na mesma altura ao São Luiz o Dom João de Molière que foi estreado no TNSão João em Fevereiro e será reposto a partir de 18 deste mês de Abril. E isto é não estando de costas voltadas. Mas parece-me que também não estão de frente... ainda devem estar só de lado.
Por fim, e isso sim, preocupa-me de sobremaneira, novamente a ficção nacional - onde se fazem os piores textos de que há memória e que alegremente continua a trabalhar na calcificação das sinapses dos portugueses - essa ficção nacional dos Morangos com Açúcar, do Dói-me quase Tudo e outros títulos tirados das piores canções de casino que a pseudo-pop-beta portuguesa nos tem dado, essa ficção continua a ser brandida como exemplo pelo director do TNDMII. E para acompanhar o prato, só mesmo a defesa dos espectáculos feitos no Trindade sobre os textos de Freitas do Amaral. Textos maus, para maus espectáculos com má direcção de actores. Sinceramente, isto preocupa-me. Só posso esperar que o que Castanheira não disse exista na mesma, trabalhe e dirija na mesma e compense os chorrilhos de palavras vazias que preenchem o discurso do director designado para o nosso primeiro Teatro Nacional.
Acreditem-me, eu desejo o melhor. Mas o horizonte do teatro institucional português mantem-se um ringue de tachos e panelas tentanto a todo o custo não perder a tampa. Nada de espantar, no entanto. Pois se o teatro é o retrato do país, então pode dizer-se, como do país se usa dizer, que temos o Teatro que merecemos.