Fiz ontem o pior bolo de todos os tempos... Um pão-de-ló que empapou, não cresceu, meio-colado à forma... Uma coisa indescritível que consegui trincar ontem e hoje está duro como um bacalhau. Metade da massa empederniu e por cima ficou uma pequena crosta que cresceu um milimetro no forno. E ainda dizem que a disposição de uma pessoa influencia. Eu estava tão bem disposta...
Volta e meia passam-me umas revistas femininas pelas mãos nos ensaios do coro... Não me lembro do nome desta, ainda está enfiada na minha estante, atrás das partituras (por enquanto é só uma, Macbeth de Verdi). Por entre a verdadeira floresta de anúncios de maquilhagem, perfumes, jóias, roupa, acessórios, cremes de beleza e que tais, estava um artigo, muito lightezinho (que a cabecinha das mulheres mais não permite) acerca das dificuldades de conciliação da carreira com a vida familiar... Pejadinho estava ele de estórias de infelicidade devido à crescente incapacidade feminina (os mecanismos de regulação do universo empresarial continuam vocacionados para os homens e para o sucesso profissional masculino) em conciliar o melhor de dois mundos. A moral do artigo, tão bem documentada pelos casos verídicos, é de que as mulheres estão a perder o melhor da vida delas quando optam pela carreira em detrimento da vida familiar... Opinião partilhada por Sylvia Ann Hewlett, autora de Creating a Life: Professional Women and the Quest for Children. Aceito. Mas não concordo totalmente... É um mundo difícil, sempre o foi, para as mulheres, em especial desde a industrialização e da entrada destas no mercado de trabalho. Tantos séculos de coisificação do outro sexo, o supostamente frágil, só poderiam levar-nos a um precário equilíbrio entre os recentemente conquistados direitos de igualdade e a hereditária massa informe da desumanização (que continua viva, como bem o prova a força da indústria pornográfica e o tráfego de mulheres, e não se recomenda).
Mas a verdade é que tenho muita dificuldade em vestir estas camisolas do one size fit all... É que a senhora termina o seu livro/estudo com a seguinte conclusão/conselho:
Hewlett's advice to young women is strangely retro: get married you'll be happier and healthier. She counsels them to give "urgent priority" to finding a marriage partner fast, "have your first baby before 35" and look for work at a family-friendly corporation.
E gostaria de cruzar este conselho com a estatística de divórcios nos Estados Unidos do National Center for Health Statistics:
Quase metade dos casamentos nos Estados Unidos terminam em divórcio. Em Portugal a situação é semelhante. Alguém me explica o porquê do conselho de Sylvia Ann Hewlett? A aposta no outro não poderá revelar-se, a médio/longo prazo, um verdadeiro tiro no pé? A estatística aponta para tal... (In)Felizmente, e mais uma vez, parece-me que quando se trata de decidir acerca da nossa concentração de esforços, é tudo uma questão de fé. Tenho fé de que o casamento me realiza plenamente enquanto pessoa? Mas mais do que uma carreira? Faça favor de comprar o livro e seguir o conselho de Hewlett... Se possível, opte até por deixar de trabalhar.
O meu trabalho não é somente algo que faço para me sustentar todos os meses. A minha vocação é cantar. É aí que está a minha fé. Na crença de que é meu dever levar até às últimas consequências as possibilidades da minha voz e do meu ser. E é agora, e não baseada em suposições do que posso vir a sentir aos 45 anos, que eu tenho de tomar decisões...
Há também aqui uma série de paradigmas subreptícios no meio desta descoberta das necessidades "familiares" nas mulheres mais velhas... 17% das portuguesas moram sozinhas... Estarão todas infelizes? A taxa de natalidade está pelas ruas da amargura... É necessário definir o modelo: as mulheres têm de ter filhos, têm de constituir famílias, têm de sentir todas necessidade de procriar antes dos trinta (ou pouco depois). E não há melhor do que pô-las a meditar nas possíveis futuras angústias da meia-idade. Lamento, a necessidade ainda não se me enfiou pela cabecinha. E a minha estatística diz-me que faria muito mau negócio em apostar por aí... Ainda por cima, só tenho dois pezinhos. Andar para aí aos tiros seria, no mínimo, tolo.
*Ok... Eu sei que o texto também está no outro blog... Prometo originais para a semana, só para as trutas... :-)
A avó Cremilda lá me deu a receita do melhor arroz de pato que eu já comi, mas confesso que fico sempre com a sensação de que ela não me diz tudo, não porque não queira partilhar a receita, mas porque para ela há coisas que são tão óbvias que nem carecem de ser ditas. Mas aqui vai:
Arranjar um bom pato, tirar-lhe a pele e as asas (blargh, espero que os senhores do talho o façam por mim), porque isto é um arroz de pato light, sem muitas gorduras. Mete-se o pato numa panela com água, juntamente com um bom molho de salsa, outro de coentros, 4 cabeças de alho (grandes), 1 cebola, 1 folha de louro e um punhado de grãos de pimenta. Junta-se um bocado de chouriço, previamente picado com um garfo, e um naco de presunto. Temperar com sal.
Isto fica pelo menos 45mn a cozer. Talvez um pouco mais... Tira-se o pato, passa-se a água de cozer por um passador e reserva-se. Coze-se a quantidade de arroz desejada na água onde cozeu o pato, e enquanto isso desfia-se o bicho, tirando tudo quanto é ossos e peles que por acaso tenham ficado.
Quando o arroz estiver quase cozido (mesmo quase, mas ainda um pouco rijinho), deita-se numa travessa e mistura-se com o pato desfiado. Agora é uma questão de gosto... para o arroz ficar húmido, não se pode escorrer totalmente a água onde cozeu. Eu acho boa ideia guardar um bocadinho dessa água numa tigela, para o caso de ter de corrigir. Corta-se o chouriço às rodelas e presunto aos bocadinhos e põe-se por cima do arroz ou misturado no mesmo, conforme o gosto.
Leva-se ao forno a tostar um bocadinho (a minha avó não foi específica neste ponto, parece que depende muito do forno em questão).
Favas com entrecosto Ingredientes (para 2 pessoas um bocado alarves): - 2 cebolas - 2 dentes de alho (granditos) - azeite - 1/2 chouriço - entrecosto (pouco) - 1/2 morcela - um bom molho e coentros - favas (a olho)
Pica a cebola e os dentes de alho, junta azeite e deixa alourar. Pica o chouriço com um garfo e manda lá pa dentro, juntamente com o entrecosto. Deixa uns 10/15 minutos, com o lume mais ou menos brando. Depois junta as favas, água a ferver (é um pouco menos que a cobrir, para ficar muito molhinho) e um bom molho de coentros. Mas é mesmo um BOM molho. Daí a 10 minutos põe a morcela dentro do tacho com o resto, e deixa mais 20 minutos, sempre tapadinho (mas se puderes deixar um intervalo pequenino entre o tacho e a tampa, melhor. A minha mãe recusa-se a mexer as favas com a colher de pau, para não as desfazer, mas eu confesso que adoro que algumas se desfaçam, para engrossar o molho. Faz arroz branco para acompanhar.