segunda-feira, janeiro 30, 2006
Bolhinhas
Semana dura, semana para lembrar. Nomes para guardar perto. Micas, Lígia, Pedro, João, Liliana, Sérgio, António. Duas salas esgotadas, dois espectáculos de energia transbordante e vezes sem conta - literalmente sem conta - a trupe obrigada a regressar para agradecer. Bolhinhas, muitas bolhinhas. Muito riso. Muitas lágrimas. E bolhinhas. E uma frase para me acompanhar ao longo da vida: Ne cherche pas l'absolu. Il est en toi comme un ravin de sécheresse qui te perdra.
Caves da Maison Taittinger, Reims, Janeiro de 2006
Fotografias de Manel da Truta
Semana dura, semana para lembrar. Nomes para guardar perto. Micas, Lígia, Pedro, João, Liliana, Sérgio, António. Duas salas esgotadas, dois espectáculos de energia transbordante e vezes sem conta - literalmente sem conta - a trupe obrigada a regressar para agradecer. Bolhinhas, muitas bolhinhas. Muito riso. Muitas lágrimas. E bolhinhas. E uma frase para me acompanhar ao longo da vida: Ne cherche pas l'absolu. Il est en toi comme un ravin de sécheresse qui te perdra.
Caves da Maison Taittinger, Reims, Janeiro de 2006
Fotografias de Manel da Truta
domingo, janeiro 29, 2006
É oficial!
Está a nevar em Lisboa...
:D
ok, ainda é um bocado insípido, mas a verdade é que estão milhões de floquinhos no ar!
Está a nevar em Lisboa...
:D
ok, ainda é um bocado insípido, mas a verdade é que estão milhões de floquinhos no ar!
sexta-feira, janeiro 27, 2006
Adoro este Seinfeld...
"I don't even know what, what is supposed to be attractive about fur? Why does a man want to see a woman in a fur? Men want women to shave their legs, shave their armpits, pluck their eyebrows and then before we go out, we dress them up like a bear.
To me, the only reason to wear fur would be if you were trying to sneak up on another animal. Did you ever see those tribal hunters where they wear the fur and then they had the other animals' head on top of their head? You know I’m sure there's a moose looking at that going, “Yeah,that looks real good. Yeah, I’m gonna turn my back on this goof ball with the extra head. Because there's nothing fishy going on there. I’ll just keep drinking from the stream. I've seen a lot of two-headed tigers with knees”."
"I don't even know what, what is supposed to be attractive about fur? Why does a man want to see a woman in a fur? Men want women to shave their legs, shave their armpits, pluck their eyebrows and then before we go out, we dress them up like a bear.
To me, the only reason to wear fur would be if you were trying to sneak up on another animal. Did you ever see those tribal hunters where they wear the fur and then they had the other animals' head on top of their head? You know I’m sure there's a moose looking at that going, “Yeah,that looks real good. Yeah, I’m gonna turn my back on this goof ball with the extra head. Because there's nothing fishy going on there. I’ll just keep drinking from the stream. I've seen a lot of two-headed tigers with knees”."
quarta-feira, janeiro 25, 2006
Um país de fragateiros
Na Actual, a revista do Espesso, do fim-de-semana que passou, lá vem mais uma santa entrevista do novo director do D.Maria II. O provincianismo é, para além de esperado, quase enternecedor, lamento constatá-lo. Passo a citar:
"Na prática, aquilo que proponho é que a instituição não deve estar ao serviço dos artistas e dos seus projectos pessoais, precisa sim de princípios que tenham a ver com o país, que intervenham na sociedade e tenham sentido de utilidade pública. A cultura tem de estar ao serviço do desenvolvimento."
Até tremo com isto. Quem é que define esses princípios de utilidade pública e os sentidos de intervenção na sociedade? Quem, senão os artistas, pode fazer uma arte livre - que é a grande forma de ela ser autêntica e autenticamente interventiva [senhores, até o Álvaro Cunhal há décadas já renegara esse capítulo de "A arte, o artista e a sociedade" em que menorizava a arte não política, reconhecendo que qualquer arte de qualidade era interventiva e progressista pelo simples facto de ser livre; mas não, fica por cá o CF, com um avo de grandeza, todo compensado em arrogância intelectual]. Só de se ler que a cultura tem de estar ao serviço de seja-o-que-for, está um retrato feito em meia-dúzia de pinceladas.
"Tudo o que faço se baseia em quatro triângulos. Um pequeno triângulo que liga a matemática, à língua e à música, que são os instrumentos e as disciplinas de treino do cérebro, que quando se alargam a uma dimensão superior formam o triângulo do conhecimento - arte, ciência e filosofia. Esse triângulo, em termos sociais, traduz-se na memória do passado, na capacidade de intervir no presente e de ficcionar o futuro, acabando naquilo que inquieta o Homem, que é o que se passa no Universo, o que se passa dentro de nós ao nível do cérebro e o que se passa no centro da Terra, tudo coisas que desconhecemos totalmente. Juntando estes quatro triângulos, proponho uma programação centrada no conhecimento."
Bem sei que já é tarde e eu tenho trabalhado muito estes dias. Mas acho que contei bem. Não, espera, deixa cá reler... um, dois... Não, vou contar pelos dedos... um, dois... Mau. Quatro triângulos? Não andará a beber um bocadinho de champanhe a mais para comemorar essa nomeação?
"... aquele é o espaço do risco. É preciso que se faça ali o mesmo que se fez na televisão. Ao princípio, ninguém achava que tínhamos condições para produzir ficção portuguesa e agora ela existe em todos os canais. Já ninguém contesta."
Ninguém contesta, nomeadamente que a grande concorrência ao nível da representação é entre manequins e betos, como há dias me diziam à mesa do café, e que por mais boa-vontade e talento que haja nos actores que vão resistindo, there´s only so much you can do with a lousy text, ok? Não quero dizer com isto que não haja dramaturgia portuguesa que valha a pena, mas não me posso esquecer que foi no Trindade que assisti a um monólogo escrito por dois argumentistas da TVI, que de um tema interessante psicologicamente fizeram um texto sem sumo nem rumo, nem bom nem mau, antes pelo contrário, ideal para fritar.
"Quero apostar na adaptação dos grandes romances portugueses e na sua internacionalização. (...) É preciso internacionalizá-los através de uma ligação profunda e estratégica com teatros em Espanha, no Brasil e em todo o espaço ibero-americano. Neste projecto, vou ter a colaboração de intelectuais de referência, luso-descendentes, embaixadores de Portugal no mundo, que podem trazer até nós e levar de cá um conjunto diversificado de textos. Emanuel Demarcy [que dirige um centro dramático em França] e Paula de Vasconcelos [a trabalhar no Canadá] são dois nomes com que conto."
Primeiro, porquê a obsessão com romances em vez do estímulo ao texto dramatúrgico? Segundo, mais à frente, ainda tem a distinta lata de perguntar porque é que os teatros nacionais não fazem digressões? O senhor CF já deu conta que um dos teatros nacionais, o São João, é o único membro português da União dos Teatros da Europa, e que nessa qualidade tem tido uma actividade imparável a nível de intercâmbios? Neste momento ainda está em Madrid o Woyzzeck de Nuno Cardoso, e nem há dias regressou a trupe ubuesca da Comédie de Reims - esse tal centro dramático dirigido pelo Emanuel Demarcy-Mota, e já com o romano Teatro Argentina no currículo; e que a Bordeux vai agora o maravilhoso Cabelo Branco é Saudade, depois de uma emocionante aventura napolitana e que o Porto é há anos anfitrião privilegiado de espectáculos dos quais Lisboa nem ouve falar? Que tudo isto se deve quase na totalidade ao trabalho incansável, visionário e corajoso de um cosmopolita como Ricardo Pais num pântano como é Portugal? Sim, esse mesmo Ricardo Pais que CF pela primeira vez não hostiliza nesta entrevista, esse mesmo alvo das suas imponderadas e irresponsáveis críticas de gestão e programação. Desta vez CF foi mais discreto. Tem lido os jornais, provavelmente, não com bojardas de RP sobre outros, mas com os ecos do seu trabalho no São João e no Carlos Alberto. Do Trindade, infelizmente, conheço o modo de funcionamento, o desperdício, o comodismo, o provincianismo, a incompetência. E nem me ponho a falar do São João, que até parece mal dar demasiada graxa aos patrões. Mas posso dizer que, mesmo em tempos de crise, sou feliz no TNSJ. Como artista, como público, como cidadã, como trabalhadora. E aproveito este momento mais específico - e fonâmbulo - para deixar bem claro que este post não poderia ser mais pessoal. Falo em nome próprio, e só. Porque é que não fazem digressões? Mas digam lá se há outro nome senão "lata" para esta pergunta? Já agora, aconselho-o a não usar a expressão "luso-descendente" com Demarcy-Mota. Ouvi de fonte segura que não é conceito muito apreciado lá em casa...
Uma última nota de ironia. Na página anterior à da entrevista, a revista publica um anúncio do TNDMII com a programação para este ano deixada por António Lagarto e que Carlos Fragateiro se compromete claramente a manter. É um desmentido em si mesmo para quem mal-dizia a gestão do director cessante, fazendo gala em ignorar as dificuldades inerentes a fazer viver um mausoléu mastodôndico como todos sabemos que tem sido o D.Maria II. E não estou, ao contrário do que diz CF, a defender amizades, nem sou parcial: foi na direcção de António Lagarto que Ubu(s) não foi, escandalosamente a meu ver, a Lisboa. O que não me pode impedir de ver naquela página uma programação audaz, dinâmica, de classe e de risco como há muito não via alinhada pelo TNDMII. Fala por si.
Na Actual, a revista do Espesso, do fim-de-semana que passou, lá vem mais uma santa entrevista do novo director do D.Maria II. O provincianismo é, para além de esperado, quase enternecedor, lamento constatá-lo. Passo a citar:
"Na prática, aquilo que proponho é que a instituição não deve estar ao serviço dos artistas e dos seus projectos pessoais, precisa sim de princípios que tenham a ver com o país, que intervenham na sociedade e tenham sentido de utilidade pública. A cultura tem de estar ao serviço do desenvolvimento."
Até tremo com isto. Quem é que define esses princípios de utilidade pública e os sentidos de intervenção na sociedade? Quem, senão os artistas, pode fazer uma arte livre - que é a grande forma de ela ser autêntica e autenticamente interventiva [senhores, até o Álvaro Cunhal há décadas já renegara esse capítulo de "A arte, o artista e a sociedade" em que menorizava a arte não política, reconhecendo que qualquer arte de qualidade era interventiva e progressista pelo simples facto de ser livre; mas não, fica por cá o CF, com um avo de grandeza, todo compensado em arrogância intelectual]. Só de se ler que a cultura tem de estar ao serviço de seja-o-que-for, está um retrato feito em meia-dúzia de pinceladas.
"Tudo o que faço se baseia em quatro triângulos. Um pequeno triângulo que liga a matemática, à língua e à música, que são os instrumentos e as disciplinas de treino do cérebro, que quando se alargam a uma dimensão superior formam o triângulo do conhecimento - arte, ciência e filosofia. Esse triângulo, em termos sociais, traduz-se na memória do passado, na capacidade de intervir no presente e de ficcionar o futuro, acabando naquilo que inquieta o Homem, que é o que se passa no Universo, o que se passa dentro de nós ao nível do cérebro e o que se passa no centro da Terra, tudo coisas que desconhecemos totalmente. Juntando estes quatro triângulos, proponho uma programação centrada no conhecimento."
Bem sei que já é tarde e eu tenho trabalhado muito estes dias. Mas acho que contei bem. Não, espera, deixa cá reler... um, dois... Não, vou contar pelos dedos... um, dois... Mau. Quatro triângulos? Não andará a beber um bocadinho de champanhe a mais para comemorar essa nomeação?
"... aquele é o espaço do risco. É preciso que se faça ali o mesmo que se fez na televisão. Ao princípio, ninguém achava que tínhamos condições para produzir ficção portuguesa e agora ela existe em todos os canais. Já ninguém contesta."
Ninguém contesta, nomeadamente que a grande concorrência ao nível da representação é entre manequins e betos, como há dias me diziam à mesa do café, e que por mais boa-vontade e talento que haja nos actores que vão resistindo, there´s only so much you can do with a lousy text, ok? Não quero dizer com isto que não haja dramaturgia portuguesa que valha a pena, mas não me posso esquecer que foi no Trindade que assisti a um monólogo escrito por dois argumentistas da TVI, que de um tema interessante psicologicamente fizeram um texto sem sumo nem rumo, nem bom nem mau, antes pelo contrário, ideal para fritar.
"Quero apostar na adaptação dos grandes romances portugueses e na sua internacionalização. (...) É preciso internacionalizá-los através de uma ligação profunda e estratégica com teatros em Espanha, no Brasil e em todo o espaço ibero-americano. Neste projecto, vou ter a colaboração de intelectuais de referência, luso-descendentes, embaixadores de Portugal no mundo, que podem trazer até nós e levar de cá um conjunto diversificado de textos. Emanuel Demarcy [que dirige um centro dramático em França] e Paula de Vasconcelos [a trabalhar no Canadá] são dois nomes com que conto."
Primeiro, porquê a obsessão com romances em vez do estímulo ao texto dramatúrgico? Segundo, mais à frente, ainda tem a distinta lata de perguntar porque é que os teatros nacionais não fazem digressões? O senhor CF já deu conta que um dos teatros nacionais, o São João, é o único membro português da União dos Teatros da Europa, e que nessa qualidade tem tido uma actividade imparável a nível de intercâmbios? Neste momento ainda está em Madrid o Woyzzeck de Nuno Cardoso, e nem há dias regressou a trupe ubuesca da Comédie de Reims - esse tal centro dramático dirigido pelo Emanuel Demarcy-Mota, e já com o romano Teatro Argentina no currículo; e que a Bordeux vai agora o maravilhoso Cabelo Branco é Saudade, depois de uma emocionante aventura napolitana e que o Porto é há anos anfitrião privilegiado de espectáculos dos quais Lisboa nem ouve falar? Que tudo isto se deve quase na totalidade ao trabalho incansável, visionário e corajoso de um cosmopolita como Ricardo Pais num pântano como é Portugal? Sim, esse mesmo Ricardo Pais que CF pela primeira vez não hostiliza nesta entrevista, esse mesmo alvo das suas imponderadas e irresponsáveis críticas de gestão e programação. Desta vez CF foi mais discreto. Tem lido os jornais, provavelmente, não com bojardas de RP sobre outros, mas com os ecos do seu trabalho no São João e no Carlos Alberto. Do Trindade, infelizmente, conheço o modo de funcionamento, o desperdício, o comodismo, o provincianismo, a incompetência. E nem me ponho a falar do São João, que até parece mal dar demasiada graxa aos patrões. Mas posso dizer que, mesmo em tempos de crise, sou feliz no TNSJ. Como artista, como público, como cidadã, como trabalhadora. E aproveito este momento mais específico - e fonâmbulo - para deixar bem claro que este post não poderia ser mais pessoal. Falo em nome próprio, e só. Porque é que não fazem digressões? Mas digam lá se há outro nome senão "lata" para esta pergunta? Já agora, aconselho-o a não usar a expressão "luso-descendente" com Demarcy-Mota. Ouvi de fonte segura que não é conceito muito apreciado lá em casa...
Uma última nota de ironia. Na página anterior à da entrevista, a revista publica um anúncio do TNDMII com a programação para este ano deixada por António Lagarto e que Carlos Fragateiro se compromete claramente a manter. É um desmentido em si mesmo para quem mal-dizia a gestão do director cessante, fazendo gala em ignorar as dificuldades inerentes a fazer viver um mausoléu mastodôndico como todos sabemos que tem sido o D.Maria II. E não estou, ao contrário do que diz CF, a defender amizades, nem sou parcial: foi na direcção de António Lagarto que Ubu(s) não foi, escandalosamente a meu ver, a Lisboa. O que não me pode impedir de ver naquela página uma programação audaz, dinâmica, de classe e de risco como há muito não via alinhada pelo TNDMII. Fala por si.
terça-feira, janeiro 24, 2006
Um Monty Python para cada ocasião
Falou-se nos comentários no inevitável Always look on the bright side of life [desculpa, Jonas, mas a canção é deprimente se pensares que está um bando de patetas alegres pregados em cruzes a abanar a cabecinha, o nosso retrato, precisamente], falou-se na minha tão querida Sit on my face, mas acho que nada melhor para dar iníco a esta nova era de cavaquistão que o Accountancy Shanty retirado dessa obra-prima do cinema que é The meaning of life. Let's sail away, on the wide accountancy!
Sailing Away, Sailing Away.
It's fun to charter an accountant
And sail the wild accountancy
To find, explore, the funds offshore
and scourge the sholls of bankruptcy.
It can be manly in insurance,
we'll up your premium semi-annually.
It's all tax deductable,
we're fairly incorruptable.
We're sailing on the wide accountancy.
Sailing Away, Sailing Away
Falou-se nos comentários no inevitável Always look on the bright side of life [desculpa, Jonas, mas a canção é deprimente se pensares que está um bando de patetas alegres pregados em cruzes a abanar a cabecinha, o nosso retrato, precisamente], falou-se na minha tão querida Sit on my face, mas acho que nada melhor para dar iníco a esta nova era de cavaquistão que o Accountancy Shanty retirado dessa obra-prima do cinema que é The meaning of life. Let's sail away, on the wide accountancy!
Sailing Away, Sailing Away.
It's fun to charter an accountant
And sail the wild accountancy
To find, explore, the funds offshore
and scourge the sholls of bankruptcy.
It can be manly in insurance,
we'll up your premium semi-annually.
It's all tax deductable,
we're fairly incorruptable.
We're sailing on the wide accountancy.
Sailing Away, Sailing Away
Alfa Pendular
Pouca-terra, pouca-terra, pela janela vejo desfilar o cavaquistão, pouca-terra, nenhum cidadão, muito alcatrão.
Ao que me diz o João Vermelho:
-Eu respondia-te, mas decidi que não falo. Avisa toda a gente que eu agora sou diferente. Diz-lhes que é curioso e o quão interessante sou que até rimo enquanto calo.
E nada mais há a dizer.
Pouca-terra, pouca-terra, pela janela vejo desfilar o cavaquistão, pouca-terra, nenhum cidadão, muito alcatrão.
Ao que me diz o João Vermelho:
-Eu respondia-te, mas decidi que não falo. Avisa toda a gente que eu agora sou diferente. Diz-lhes que é curioso e o quão interessante sou que até rimo enquanto calo.
E nada mais há a dizer.
segunda-feira, janeiro 23, 2006
Resolução do Parlamento Europeu sobre a homofobia na Europa
(aprovada com 468 votos a favor e 149 contra)
O Parlamento Europeu ,
- Tendo em conta as obrigações em termos de direitos humanos a nível internacional e europeu, nomeadamente as contidas nas convenções das Nações Unidas sobre os direitos humanos e na Convenção Europeia dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais,
- Tendo em conta as disposições da legislação comunitária em matéria de direitos humanos, em particular a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia(1) , assim como os artigos 6º e 7º do Tratado UE,
- Tendo em conta o artigo 13º do Tratado CE, que confere à Comunidade competência para tomar as medidas necessárias para combater a discriminação em razão, nomeadamente, da orientação sexual e para promover o princípio da igualdade,
- Tendo em conta a Directiva 2000/43/CE do Conselho, de 29 de Junho de 2000, que aplica o principio da igualdade de tratamento entre as pessoas, sem distinção de origem racial ou ética(2) , e a Directiva 2000/78/CE do Conselho, de 27 de Novembro de 2000, que estabelece um quadro geral de igualdade de tratamento no emprego e na actividade profissional(3) , que proíbem a discriminação directa ou indirecta em razão da raça ou da origem étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual,
- Tendo em conta o nº 1 do artigo 21º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que proíbe "a discriminação em razão, designadamente, do sexo, raça, cor ou origem étnica ou social, características genéticas, língua, religião ou convicções, opiniões públicas ou outras, pertença a uma minoria nacional, riqueza, nascimento, deficiência, idade ou orientação sexual",
- Tendo em conta nº 4 do artigo 103º do seu Regimento,
A. Considerando que a homofobia pode ser definida como um receio irracional e uma aversão relativamente à homossexualidade e as pessoas do grupo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) baseada em preconceitos análogos ao racismo, à xenofobia, ao anti-semitismo, ao sexismo, etc.,
B. Considerando que a homofobia se manifesta nos domínios público e privado através de diferentes formas como, por exemplo, discursos de ódio e incitamento à discriminação, ridicularização, violência verbal, psicológica e física, perseguições e assassínios, discriminação em violação do princípio da igualdade e restrições injustificadas e não razoáveis de direitos, invocando, frequentemente, razões de ordem pública, de liberdade religiosa e de direito à objecção de consciência,
C. Considerando que, recentemente, uma série de acontecimentos preocupantes ocorreu nalguns Estados-Membros, conforme amplamente divulgado pela imprensa e pelas ONG, desde a proibição de manifestações do Orgulho Gay ou de marchas pela igualdade até à utilização de uma linguagem ameaçadora, cheia de ódio e incendiária por dirigentes políticos e religiosos, com a polícia a não conseguir proporcionar uma protecção adequada ou mesmo a dispersar manifestações pacíficas, manifestações violentas por grupos homófobos e a introdução de alterações nas constituições para impedir expressamente as uniões de pessoas do mesmo sexo,
D. Considerando que, simultaneamente, uma reacção positiva, democrática e tolerante nalguns casos emanou da própria população, da sociedade civil e de autoridades locais e regionais, que se manifestaram contra a homofobia, assim como de sistemas judiciais, que corrigiram as formas mais gritantes e mais ilegais de discriminação,
E. Considerando que, em alguns Estados-Membros, os parceiros homossexuais não gozam da totalidade de direitos e protecções de que beneficiam os parceiros heterossexuais e que, por conseguinte, são vítimas de discriminação e de desvantagens,
F. Considerando que, simultaneamente, um maior número de países europeus opta por avançar no sentido da garantia da igualdade de oportunidades, da integração e do respeito, bem como do reconhecimento das famílias homoparentais, e oferece protecção contra a discriminação em razão da orientação sexual, a expressão de género e a identidade de género,
G. Considerando o facto de a Comissão ter declarado o seu empenho em garantir o respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais na UE e ter instituído um grupo de Comissários responsáveis pelos direitos humanos,
H. Considerando que nem todos os Estados-Membros da União Europeia introduziram na sua ordem jurídica medidas de protecção dos direitos da população LGBT, conforme reclamado nas Directivas 2000/43/CE e 2000/78/CE, e que nem todos lutam contra a discriminação em razão da orientação sexual ou promovem a igualdade,
I. Considerando que são necessárias outras acções tanto a nível da União Europeia como a nível dos Estados-Membros para erradicar a homofobia e promover uma cultura de liberdade, de tolerância e de igualdade entre os cidadãos, assim como no âmbito da sua ordem jurídica,
1. Condena firmemente qualquer discriminação em razão da orientação sexual;
2. Convida os Estados-Membros a assegurarem por que as pessoas LGBT sejam protegidas dos discursos de ódio e da violência homófoba e que os parceiros do mesmo sexo gozem do mesmo respeito, da mesma dignidade e da mesma protecção que o resto da sociedade,
3. Exorta os Estados-Membros e a Comissão a condenarem firmemente a linguagem de ódio homófobo ou o incitamento ao ódio e à violência e a garantirem que a liberdade de manifestação – garantida por todas as convenções sobre os direitos humanos – seja efectivamente respeitada;
4. Solicita à Comissão que assegure que a discriminação com base na orientação sexual seja interdita em todos os sectores, completando o pacote antidiscriminação baseado no artigo 13º do Tratado, quer propondo novas directivas, quer propondo um quadro geral que permita abranger todas as razões de discriminação e todos os sectores;
5. Insta os Estados-Membros e a Comissão a acelerarem a luta contra a homofobia, através de meios pedagógicos – como, por exemplo, campanhas contra a homofobia nas escolas, nas universidades e nos meios de comunicação social -, bem como de meios administrativos, judiciais e legislativos;
6. Reitera a sua posição relativamente à proposta de decisão sobre o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, segundo a qual a Comissão deve assegurar que todas as formas de discriminação referidas no artigo 13º do Tratado e no artigo 2º da proposta sejam tratadas igualmente, de acordo com a posição do Parlamento sobre a proposta(4) , e recorda à Comissão a sua promessa de acompanhar de perto o assunto e sobre ele informar o Parlamento;
7. Insta a Comissão a assegurar que todos os Estados-Membros transponham e apliquem correctamente a Directiva 2000/78/CE e a instaurar processos por infracção contra os Estados-Membros que não o façam; solicita à Comissão que assegure que o relatório anual sobre a protecção dos direitos fundamentais na União Europeia contenha todas as informações disponíveis sobre a taxa de crimes e violências de natureza homófoba nos Estados-Membros;
8. Insta a Comissão a apresentar uma proposta de directiva relativa à protecção contra a discriminação, baseada em todos os motivos mencionados no artigo 13º do Tratado, com o mesmo âmbito de aplicação que a Directiva 2000/43/CE;
9. Insta a Comissão a considerar a aplicação de sanções penais em caso de violação das directivas baseadas no artigo 13º do Tratado;
10. Solicita a todos os Estados-Membros que tomem quaisquer outras medidas que lhes pareçam adequadas na luta contra a homofobia e a discriminação em razão da orientação sexual e que promovam e apliquem o princípio da igualdade na sua sociedade e ordem jurídica;
11. Insta os Estados-Membros a adoptarem disposições legislativas para pôr fim à discriminação de que são vítimas os parceiros do mesmo sexo em matéria de sucessão, de propriedade, de locação, de pensões, de impostos, de segurança social, etc.;
12. Congratula-se com as iniciativas recentemente tomadas em vários Estados-Membros para melhorar a situação da população LGBT e decide organizar um seminário para o intercâmbio de boas práticas em 17 de Maio de 2006 (Dia Internacional Contra a Homofobia);
13. Reitera o seu pedido à Comissão de que esta apresente propostas que garantam a livre circulação dos cidadãos da União e dos membros da sua família, assim como dos parceiros registados de ambos os sexos, conforme referido na recomendação do Parlamento de 14 de Outubro de 2004 sobre o futuro do espaço de liberdade, de segurança e de justiça(5) ;
14. Convida os Estados-Membros envolvidos a reconhecerem finalmente que os homossexuais foram alvo e vítimas do regime nazi;
15. Encarrega o seu Presidente de transmitir a presente resolução à Comissão e aos governos dos Estados-Membros, dos Estados em vias de adesão e dos países candidatos.
Eurodeputados portugueses que votaram contra: Ribeiro e Castro (membro da subcomissão dos Direitos do Homem) e Luís Queiró. Absteve-se: Silva Peneda.
(aprovada com 468 votos a favor e 149 contra)
O Parlamento Europeu ,
- Tendo em conta as obrigações em termos de direitos humanos a nível internacional e europeu, nomeadamente as contidas nas convenções das Nações Unidas sobre os direitos humanos e na Convenção Europeia dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais,
- Tendo em conta as disposições da legislação comunitária em matéria de direitos humanos, em particular a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia(1) , assim como os artigos 6º e 7º do Tratado UE,
- Tendo em conta o artigo 13º do Tratado CE, que confere à Comunidade competência para tomar as medidas necessárias para combater a discriminação em razão, nomeadamente, da orientação sexual e para promover o princípio da igualdade,
- Tendo em conta a Directiva 2000/43/CE do Conselho, de 29 de Junho de 2000, que aplica o principio da igualdade de tratamento entre as pessoas, sem distinção de origem racial ou ética(2) , e a Directiva 2000/78/CE do Conselho, de 27 de Novembro de 2000, que estabelece um quadro geral de igualdade de tratamento no emprego e na actividade profissional(3) , que proíbem a discriminação directa ou indirecta em razão da raça ou da origem étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual,
- Tendo em conta o nº 1 do artigo 21º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que proíbe "a discriminação em razão, designadamente, do sexo, raça, cor ou origem étnica ou social, características genéticas, língua, religião ou convicções, opiniões públicas ou outras, pertença a uma minoria nacional, riqueza, nascimento, deficiência, idade ou orientação sexual",
- Tendo em conta nº 4 do artigo 103º do seu Regimento,
A. Considerando que a homofobia pode ser definida como um receio irracional e uma aversão relativamente à homossexualidade e as pessoas do grupo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) baseada em preconceitos análogos ao racismo, à xenofobia, ao anti-semitismo, ao sexismo, etc.,
B. Considerando que a homofobia se manifesta nos domínios público e privado através de diferentes formas como, por exemplo, discursos de ódio e incitamento à discriminação, ridicularização, violência verbal, psicológica e física, perseguições e assassínios, discriminação em violação do princípio da igualdade e restrições injustificadas e não razoáveis de direitos, invocando, frequentemente, razões de ordem pública, de liberdade religiosa e de direito à objecção de consciência,
C. Considerando que, recentemente, uma série de acontecimentos preocupantes ocorreu nalguns Estados-Membros, conforme amplamente divulgado pela imprensa e pelas ONG, desde a proibição de manifestações do Orgulho Gay ou de marchas pela igualdade até à utilização de uma linguagem ameaçadora, cheia de ódio e incendiária por dirigentes políticos e religiosos, com a polícia a não conseguir proporcionar uma protecção adequada ou mesmo a dispersar manifestações pacíficas, manifestações violentas por grupos homófobos e a introdução de alterações nas constituições para impedir expressamente as uniões de pessoas do mesmo sexo,
D. Considerando que, simultaneamente, uma reacção positiva, democrática e tolerante nalguns casos emanou da própria população, da sociedade civil e de autoridades locais e regionais, que se manifestaram contra a homofobia, assim como de sistemas judiciais, que corrigiram as formas mais gritantes e mais ilegais de discriminação,
E. Considerando que, em alguns Estados-Membros, os parceiros homossexuais não gozam da totalidade de direitos e protecções de que beneficiam os parceiros heterossexuais e que, por conseguinte, são vítimas de discriminação e de desvantagens,
F. Considerando que, simultaneamente, um maior número de países europeus opta por avançar no sentido da garantia da igualdade de oportunidades, da integração e do respeito, bem como do reconhecimento das famílias homoparentais, e oferece protecção contra a discriminação em razão da orientação sexual, a expressão de género e a identidade de género,
G. Considerando o facto de a Comissão ter declarado o seu empenho em garantir o respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais na UE e ter instituído um grupo de Comissários responsáveis pelos direitos humanos,
H. Considerando que nem todos os Estados-Membros da União Europeia introduziram na sua ordem jurídica medidas de protecção dos direitos da população LGBT, conforme reclamado nas Directivas 2000/43/CE e 2000/78/CE, e que nem todos lutam contra a discriminação em razão da orientação sexual ou promovem a igualdade,
I. Considerando que são necessárias outras acções tanto a nível da União Europeia como a nível dos Estados-Membros para erradicar a homofobia e promover uma cultura de liberdade, de tolerância e de igualdade entre os cidadãos, assim como no âmbito da sua ordem jurídica,
1. Condena firmemente qualquer discriminação em razão da orientação sexual;
2. Convida os Estados-Membros a assegurarem por que as pessoas LGBT sejam protegidas dos discursos de ódio e da violência homófoba e que os parceiros do mesmo sexo gozem do mesmo respeito, da mesma dignidade e da mesma protecção que o resto da sociedade,
3. Exorta os Estados-Membros e a Comissão a condenarem firmemente a linguagem de ódio homófobo ou o incitamento ao ódio e à violência e a garantirem que a liberdade de manifestação – garantida por todas as convenções sobre os direitos humanos – seja efectivamente respeitada;
4. Solicita à Comissão que assegure que a discriminação com base na orientação sexual seja interdita em todos os sectores, completando o pacote antidiscriminação baseado no artigo 13º do Tratado, quer propondo novas directivas, quer propondo um quadro geral que permita abranger todas as razões de discriminação e todos os sectores;
5. Insta os Estados-Membros e a Comissão a acelerarem a luta contra a homofobia, através de meios pedagógicos – como, por exemplo, campanhas contra a homofobia nas escolas, nas universidades e nos meios de comunicação social -, bem como de meios administrativos, judiciais e legislativos;
6. Reitera a sua posição relativamente à proposta de decisão sobre o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, segundo a qual a Comissão deve assegurar que todas as formas de discriminação referidas no artigo 13º do Tratado e no artigo 2º da proposta sejam tratadas igualmente, de acordo com a posição do Parlamento sobre a proposta(4) , e recorda à Comissão a sua promessa de acompanhar de perto o assunto e sobre ele informar o Parlamento;
7. Insta a Comissão a assegurar que todos os Estados-Membros transponham e apliquem correctamente a Directiva 2000/78/CE e a instaurar processos por infracção contra os Estados-Membros que não o façam; solicita à Comissão que assegure que o relatório anual sobre a protecção dos direitos fundamentais na União Europeia contenha todas as informações disponíveis sobre a taxa de crimes e violências de natureza homófoba nos Estados-Membros;
8. Insta a Comissão a apresentar uma proposta de directiva relativa à protecção contra a discriminação, baseada em todos os motivos mencionados no artigo 13º do Tratado, com o mesmo âmbito de aplicação que a Directiva 2000/43/CE;
9. Insta a Comissão a considerar a aplicação de sanções penais em caso de violação das directivas baseadas no artigo 13º do Tratado;
10. Solicita a todos os Estados-Membros que tomem quaisquer outras medidas que lhes pareçam adequadas na luta contra a homofobia e a discriminação em razão da orientação sexual e que promovam e apliquem o princípio da igualdade na sua sociedade e ordem jurídica;
11. Insta os Estados-Membros a adoptarem disposições legislativas para pôr fim à discriminação de que são vítimas os parceiros do mesmo sexo em matéria de sucessão, de propriedade, de locação, de pensões, de impostos, de segurança social, etc.;
12. Congratula-se com as iniciativas recentemente tomadas em vários Estados-Membros para melhorar a situação da população LGBT e decide organizar um seminário para o intercâmbio de boas práticas em 17 de Maio de 2006 (Dia Internacional Contra a Homofobia);
13. Reitera o seu pedido à Comissão de que esta apresente propostas que garantam a livre circulação dos cidadãos da União e dos membros da sua família, assim como dos parceiros registados de ambos os sexos, conforme referido na recomendação do Parlamento de 14 de Outubro de 2004 sobre o futuro do espaço de liberdade, de segurança e de justiça(5) ;
14. Convida os Estados-Membros envolvidos a reconhecerem finalmente que os homossexuais foram alvo e vítimas do regime nazi;
15. Encarrega o seu Presidente de transmitir a presente resolução à Comissão e aos governos dos Estados-Membros, dos Estados em vias de adesão e dos países candidatos.
Eurodeputados portugueses que votaram contra: Ribeiro e Castro (membro da subcomissão dos Direitos do Homem) e Luís Queiró. Absteve-se: Silva Peneda.
domingo, janeiro 22, 2006
Do A.Castanho, com amor II
A verdade é só uma: o Povo deu 14% ao candidato do PS. A partir de hoje o governo está a prazo! Se o filósofo não vê isto, então não só está coxo como também é cego.
Viva a filosofia! Haja alegria! Gaudeamus!
A verdade é só uma: o Povo deu 14% ao candidato do PS. A partir de hoje o governo está a prazo! Se o filósofo não vê isto, então não só está coxo como também é cego.
Viva a filosofia! Haja alegria! Gaudeamus!
Do A.Castanho, com amor
Que sondagens acertaram? E que interessa isso agora? Elas é que governam o eleitorado! Pobre povo português, vai apenas ter o que merece! Viva a poesia! Haja alegria!
recebido por sms
Que sondagens acertaram? E que interessa isso agora? Elas é que governam o eleitorado! Pobre povo português, vai apenas ter o que merece! Viva a poesia! Haja alegria!
recebido por sms
O presidente que merecemos
Somos uma democracia de anedota. Bem merecemos um presidente que age como um monarca desejado e milagroso, que desrespeita todos os códigos democráticos aguardando em casa e chegando em cortejo ao CCB, curiosamente mesmo ao lado do Palácio de Belém. Só um cego pode não ver o que esta eleição de triste memória significa e implica. Quem me dera ser ceg@, só por hoje.
Somos uma democracia de anedota. Bem merecemos um presidente que age como um monarca desejado e milagroso, que desrespeita todos os códigos democráticos aguardando em casa e chegando em cortejo ao CCB, curiosamente mesmo ao lado do Palácio de Belém. Só um cego pode não ver o que esta eleição de triste memória significa e implica. Quem me dera ser ceg@, só por hoje.
E o circo continua
Quer na SIC quer na RTP, corta-se a declaração certeira e sumarenta de Jerónimo de Sousa para filmar o proto-salazar a sair de casa, onde esperou que lhe garantissem que era dono do terreno e onde não disse, como se previa, absolutamente nada. Longe vão os tão seguros 61%, perto, pertinho, esteve a segunda volta. Temos os próximos negros cinco anos a agradecer à nossa vergonhosa imprensa, ao PS de Sócrates e a trinta anos de incapacidade de construção de uma cidadania democrática. É triste, este país. Mas como se gritava ainda há pouco na sede de campanha do Louçã, "estaremos cá amanhã".
Adenda: agora cortam o discurso ao Alegre para passar para o secretamente feliz Sócrates. Afinal, que importância pode ter o candidato que só por décimas não vai à segunda volta, face ao primeiro-ministro, que com a sua inépcia ofereceu o cargo presidencial a um proto-salazar?
Quer na SIC quer na RTP, corta-se a declaração certeira e sumarenta de Jerónimo de Sousa para filmar o proto-salazar a sair de casa, onde esperou que lhe garantissem que era dono do terreno e onde não disse, como se previa, absolutamente nada. Longe vão os tão seguros 61%, perto, pertinho, esteve a segunda volta. Temos os próximos negros cinco anos a agradecer à nossa vergonhosa imprensa, ao PS de Sócrates e a trinta anos de incapacidade de construção de uma cidadania democrática. É triste, este país. Mas como se gritava ainda há pouco na sede de campanha do Louçã, "estaremos cá amanhã".
Adenda: agora cortam o discurso ao Alegre para passar para o secretamente feliz Sócrates. Afinal, que importância pode ter o candidato que só por décimas não vai à segunda volta, face ao primeiro-ministro, que com a sua inépcia ofereceu o cargo presidencial a um proto-salazar?
Para que não haja dúvidas
Se as sondagens fossem estas, não haveria dúvida de que o proto-salazar ganharia à primeira volta. Mas, angustiosamente para o seu séquito, não é aqui que se decide. É nas urnas. A elas!
Veremos, se somos um povo de eleitores ou um bando de gansos a quem enfiam o que querem pela goela abaixo para depois fazer foie gras.
Eu tenho orgulho em dizer: EU NÃO GRASNO, POR ISSO A MOREIA NÃO RIRÁ DE MIM.
Se as sondagens fossem estas, não haveria dúvida de que o proto-salazar ganharia à primeira volta. Mas, angustiosamente para o seu séquito, não é aqui que se decide. É nas urnas. A elas!
Veremos, se somos um povo de eleitores ou um bando de gansos a quem enfiam o que querem pela goela abaixo para depois fazer foie gras.
Eu tenho orgulho em dizer: EU NÃO GRASNO, POR ISSO A MOREIA NÃO RIRÁ DE MIM.
Razões para ir votar amanhã
Porque apesar dos pesares, esta terra de escravos, cu pró ar ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto merece a luminosa oportunidade de uma segunda volta, merece a esperança de deixar de ser uma irrisória face de lama, de cobiça, e de vileza, de mesquinhez, de fátua ignorância.
Porque é preciso ir votar Louçã ou Jerónimo. E gramar com um dos xuxas na segunda volta, sim. Porque, contrariamente ao que tenho lido por aí, a democracia não é ganhar eleições nas sondagens/projecções e sobre o fofo colchão da manipulação e da hipocrisia. Democracia é, muitas vezes, escolher o mal menor.
A quem me pediu alternativas positivas, aqui vai uma, então:
A alternativa mais positiva é não vir a ter um Cávaco como presidente.
Bom domingo para todos!
Porque apesar dos pesares, esta terra de escravos, cu pró ar ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto merece a luminosa oportunidade de uma segunda volta, merece a esperança de deixar de ser uma irrisória face de lama, de cobiça, e de vileza, de mesquinhez, de fátua ignorância.
Porque é preciso ir votar Louçã ou Jerónimo. E gramar com um dos xuxas na segunda volta, sim. Porque, contrariamente ao que tenho lido por aí, a democracia não é ganhar eleições nas sondagens/projecções e sobre o fofo colchão da manipulação e da hipocrisia. Democracia é, muitas vezes, escolher o mal menor.
A quem me pediu alternativas positivas, aqui vai uma, então:
A alternativa mais positiva é não vir a ter um Cávaco como presidente.
Bom domingo para todos!
terça-feira, janeiro 17, 2006
Reims, terra do champanhe e da Joana d'Arc - embora se pronuncie como a terra do Tino, mais coisa menos coisa
Estarei por lá até dia 21. Mas vou continuar com parte da mente aqui. E sempre que me lembrar da moreia salazarenta procurarei o ciber-café mais próximo para alegre e ecumenicamente partilhar os meus pensamentos convosco.
A caixa de sugestões continua aberta. É fartar, vilanagem!
Estarei por lá até dia 21. Mas vou continuar com parte da mente aqui. E sempre que me lembrar da moreia salazarenta procurarei o ciber-café mais próximo para alegre e ecumenicamente partilhar os meus pensamentos convosco.
A caixa de sugestões continua aberta. É fartar, vilanagem!
Razões para não votar Cavaco XVIII
Porque as geniais palavras que se seguem, escritas já nos idos de mil e setecentos, o foram nitidamente para ele:
Já não há vergonha nisto: a hipocrisia é um vício da moda, e todos os vícios da moda passam por virtudes. A personagem do homem de bem é a melhor de todas as personagens que se podem representar hoje-em-dia, e a profissão de hipócrita tem maravilhosas vantagens. É uma arte cuja impostura é sempre respeitada; e quando descoberta, nada se ousa dizer contra ela. Todos os outros vícios dos homens estão sujeitos à censura, e cada um tem a liberdade de os atacar abertamente; mas a hipocrisia é um vício privilegiado, que, com a sua mão, fecha a boca a todo o mundo, e usufrui tranquilamente de uma impunidade soberana. Cria-se, à custa de dissimulações, uma sociedade fechada com todos os que tomam esse partido. Quem afronta um vê-se a braços com todos os outros; e aqueles que sabemos agirem de boa-fé acerca do assunto, e que são conhecidos por acreditarem verdadeiramente, esses, digo eu, são sempre os instrumentos dos outros; deixam-se manipular inocentemente pelos dissimuladores e apoiam cegamente as suas acções. (...) Bem podemos conhecer as suas intrigas e a eles mesmos pelo que são, não deixam por isso de merecer crédito entre toda a gente; e qualquer vez que baixem a cabeça, suspirem de despeito, e rolem duas vezes os olhos, é quanto basta para que o mundo não lhes cobre o que fazem.
Molière, Dom Juan
tradução aqui do Manel [sob a inescapável e positiva influência de Nuno Júdice]
Porque as geniais palavras que se seguem, escritas já nos idos de mil e setecentos, o foram nitidamente para ele:
Já não há vergonha nisto: a hipocrisia é um vício da moda, e todos os vícios da moda passam por virtudes. A personagem do homem de bem é a melhor de todas as personagens que se podem representar hoje-em-dia, e a profissão de hipócrita tem maravilhosas vantagens. É uma arte cuja impostura é sempre respeitada; e quando descoberta, nada se ousa dizer contra ela. Todos os outros vícios dos homens estão sujeitos à censura, e cada um tem a liberdade de os atacar abertamente; mas a hipocrisia é um vício privilegiado, que, com a sua mão, fecha a boca a todo o mundo, e usufrui tranquilamente de uma impunidade soberana. Cria-se, à custa de dissimulações, uma sociedade fechada com todos os que tomam esse partido. Quem afronta um vê-se a braços com todos os outros; e aqueles que sabemos agirem de boa-fé acerca do assunto, e que são conhecidos por acreditarem verdadeiramente, esses, digo eu, são sempre os instrumentos dos outros; deixam-se manipular inocentemente pelos dissimuladores e apoiam cegamente as suas acções. (...) Bem podemos conhecer as suas intrigas e a eles mesmos pelo que são, não deixam por isso de merecer crédito entre toda a gente; e qualquer vez que baixem a cabeça, suspirem de despeito, e rolem duas vezes os olhos, é quanto basta para que o mundo não lhes cobre o que fazem.
Molière, Dom Juan
tradução aqui do Manel [sob a inescapável e positiva influência de Nuno Júdice]
segunda-feira, janeiro 16, 2006
É o ciclo sem fim... da bimbalhice
Dito e repetido por Jorge Gabriel: "Quem é o autor da peça King Lear - Rei Leão [!?!]?"
É. Tenho uma vaga memória de que as últimas palavras do senhor Olivier no filme tinham sido "Hakuna-matata!" Sempre achei que tinha sido uma "buxa". Mas afinal parece que foi o Shakespeare que escreveu, mesmo...
Dito e repetido por Jorge Gabriel: "Quem é o autor da peça King Lear - Rei Leão [!?!]?"
É. Tenho uma vaga memória de que as últimas palavras do senhor Olivier no filme tinham sido "Hakuna-matata!" Sempre achei que tinha sido uma "buxa". Mas afinal parece que foi o Shakespeare que escreveu, mesmo...
Manipulação?! Essa agora... II
Quantos dos que não estiveram há dois dias no Pavilhão Atlântico sabem que o mesmo albergou mais de vinte mil pessoas e que umas largas centenas não puderam entrar e acompanharam o comício através de écran gigante no exterior? Quantos sabem que o discurso de Jerónimo de Sousa não foi de meia hora, mas de hora e meia, quão limpo e incisivo foi, que pontos focou, em que questões se deteve, com que linhas se coseu? Quantas televisões o mostraram? Quantos jornais o descreveram?
Manipulação? Nãããão... persuasão, assim é que é.
Quantos dos que não estiveram há dois dias no Pavilhão Atlântico sabem que o mesmo albergou mais de vinte mil pessoas e que umas largas centenas não puderam entrar e acompanharam o comício através de écran gigante no exterior? Quantos sabem que o discurso de Jerónimo de Sousa não foi de meia hora, mas de hora e meia, quão limpo e incisivo foi, que pontos focou, em que questões se deteve, com que linhas se coseu? Quantas televisões o mostraram? Quantos jornais o descreveram?
Manipulação? Nãããão... persuasão, assim é que é.
Razões para não votar Cavaco XVI
Cavaco Silva indisponível para debate com os restantes candidatos
Cavaco Silva não está disponível para participar num debate com os outros cinco candidatos à Presidência da República, que teria lugar esta sexta-feira, nas instalações da Rádio Difusão Portuguesa (RDP), "por motivos de agenda".
Cavaco Silva indisponível para debate com os restantes candidatos
Cavaco Silva não está disponível para participar num debate com os outros cinco candidatos à Presidência da República, que teria lugar esta sexta-feira, nas instalações da Rádio Difusão Portuguesa (RDP), "por motivos de agenda".
domingo, janeiro 15, 2006
Razões para não votar Cavaco XV
por Jonas
Com Cavacos e bolos se enganam os tolos. Por isso, em Janeiro sobe ao outeiro; se vires verdejar, põe-te a cantar, se vires Cavacar, põe-te a chorar.
por Jonas
Com Cavacos e bolos se enganam os tolos. Por isso, em Janeiro sobe ao outeiro; se vires verdejar, põe-te a cantar, se vires Cavacar, põe-te a chorar.
Razões para não aceitar o Fragateiro no Rossio III
Porque é de muito baixo nivel, cagar sentenças arrogantes acerca do teatro nacional que há anos funciona - e bem - neste país, a tal ponto que é estudado em universidades como modelo de gestão teatral [imagino que o modelo estudado na Universidade de Aveiro seja o do Trindade, pior para os alunos...], e da pessoa que o consolidou dessa forma e que por acaso é - e muito justamente - uma referência maior do teatro português.
Está bem assim, Amet? ;) Agora não tenho tempo para mais...
Porque é de muito baixo nivel, cagar sentenças arrogantes acerca do teatro nacional que há anos funciona - e bem - neste país, a tal ponto que é estudado em universidades como modelo de gestão teatral [imagino que o modelo estudado na Universidade de Aveiro seja o do Trindade, pior para os alunos...], e da pessoa que o consolidou dessa forma e que por acaso é - e muito justamente - uma referência maior do teatro português.
Está bem assim, Amet? ;) Agora não tenho tempo para mais...
Razões para não aceitar o Fragateiro no Rossio II
Porque o Trindade, ao contrário da imagem que quer passar, pensa em quantidade e não em qualidade. E porque as avassaladoras correntes de público que supostamente tem não passam de auto-promoção mediática do seu director. E porque com a carrada de dinheiro ali injectada pelo INATEL gerir-se-iam três teatros nacionais com espectáculos com qualidade, investigação e sofisticação. Coisa que o Trindade, infelizmente, nunca alcançou com regularidade que se visse.
Porque o Trindade, ao contrário da imagem que quer passar, pensa em quantidade e não em qualidade. E porque as avassaladoras correntes de público que supostamente tem não passam de auto-promoção mediática do seu director. E porque com a carrada de dinheiro ali injectada pelo INATEL gerir-se-iam três teatros nacionais com espectáculos com qualidade, investigação e sofisticação. Coisa que o Trindade, infelizmente, nunca alcançou com regularidade que se visse.
Razões para não aceitar o Fragateiro no Rossio I
dedicado ao Amet e à ministra Pires de Lima, por motivos diferentes, claro
Porque tenho suores frios só de imaginar a Sala Garrett recebendo um texto do Freitas do Amaral encenado pelo Jorge Fraga e protagonizado pelo Gonçalo Diniz e pela Elsa Raposo.
dedicado ao Amet e à ministra Pires de Lima, por motivos diferentes, claro
Porque tenho suores frios só de imaginar a Sala Garrett recebendo um texto do Freitas do Amaral encenado pelo Jorge Fraga e protagonizado pelo Gonçalo Diniz e pela Elsa Raposo.
Razões para não votar Cavaco XIII
Que diabo, afinal isto é um país - ainda que do lusco-fusco - ou um episódio da Twilight Zone?!
Que diabo, afinal isto é um país - ainda que do lusco-fusco - ou um episódio da Twilight Zone?!
Razões para não votar Cavaco XII
por Possante
Não quero um PR cuja residência oficial seja a "Vivenda Mariani". Em Fonte, ex-Poço, de Boliqueime.
por Possante
Não quero um PR cuja residência oficial seja a "Vivenda Mariani". Em Fonte, ex-Poço, de Boliqueime.
sábado, janeiro 14, 2006
Razões para não votar Cavaco XI
Porque, tal como ao Professor Vale de Almeida, o site do Professor Cavaco dá-me ataques de snobeira.
E porque não sou ceguinh@ e sei ler a lista da Comissão de Honra, a saber [e uso os termos cientificamente indicados pelo Professor Vale de Almeida], Américo Corticeira Amorim, Diogo Somague Vaz Guedes, Fernando BPI Ulrich, Francisco CIP Van Zeller, Ludgero AIP Marques, e Cª Lda. A sua augusta clientela.
Porque, tal como ao Professor Vale de Almeida, o site do Professor Cavaco dá-me ataques de snobeira.
E porque não sou ceguinh@ e sei ler a lista da Comissão de Honra, a saber [e uso os termos cientificamente indicados pelo Professor Vale de Almeida], Américo Corticeira Amorim, Diogo Somague Vaz Guedes, Fernando BPI Ulrich, Francisco CIP Van Zeller, Ludgero AIP Marques, e Cª Lda. A sua augusta clientela.
Razões para não votar Cavaco IX
por A.Castanho
Se você estivesse num avião com a equipa do Chelsea e o piloto morresse, substituí-lo-ia pelo co-piloto à beira da reforma, ou pelo Mourinho?
por A.Castanho
Se você estivesse num avião com a equipa do Chelsea e o piloto morresse, substituí-lo-ia pelo co-piloto à beira da reforma, ou pelo Mourinho?
Manipulação? Essa agora...
A propósito desta dança das sondagens, muito me tenho lembrado de uma impagável conversa com uma santa alminha com meio curso de comunicação na Universidade Católica no currículo: pois que de acordo os seus católicos professores, nos media não se podia falar em manipulação... mas em persuasão.
Ora então retiro o que tenho dito. Estas sondagens, à luz dos princípios de ética jornalística ensinados na UC - parte do trio-maravilha que chegou aos brilhantes 61% - não são manipulação. São persuasão. Ou seja, pegar no Público ou no desdobrável do Modelo equivale mais ou menos ao mesmo. A diferença é que a publicidade dos hipermercados nos chega gratuitamente à caixa de correio, enquanto que para ter o Público na caixa de correio - mesmo electrónico - é preciso pagar. Persuasão seja, então.
E como já dizia uma moçoila que eu conheço, par bo entend mei palavr bast.
A propósito desta dança das sondagens, muito me tenho lembrado de uma impagável conversa com uma santa alminha com meio curso de comunicação na Universidade Católica no currículo: pois que de acordo os seus católicos professores, nos media não se podia falar em manipulação... mas em persuasão.
Ora então retiro o que tenho dito. Estas sondagens, à luz dos princípios de ética jornalística ensinados na UC - parte do trio-maravilha que chegou aos brilhantes 61% - não são manipulação. São persuasão. Ou seja, pegar no Público ou no desdobrável do Modelo equivale mais ou menos ao mesmo. A diferença é que a publicidade dos hipermercados nos chega gratuitamente à caixa de correio, enquanto que para ter o Público na caixa de correio - mesmo electrónico - é preciso pagar. Persuasão seja, então.
E como já dizia uma moçoila que eu conheço, par bo entend mei palavr bast.
sexta-feira, janeiro 13, 2006
Razões para não votar Cavaco VIII
por Tiago
Eu não quero um Presidente que não possa comer bolo rei em público!
por Tiago
Eu não quero um Presidente que não possa comer bolo rei em público!
Razões para não votar Cavaco - Anexo
Aceitam-se razões e contribuições. Se o proto-salazar está a ser vendido como um tira-nódoas milagroso para um fato que já nem com benzina lá vai, façamos então também a nossa publicidade. Aqui na Truta queremos dar-lhe um espaço onde pode encontrar, à sua medida, uma ou mais razões para não votar Cavaco.
Vá pessoal, para o meile ou nos salmonetes, é dar-lhe à vez, tem bons lombos, o miserável!
Aceitam-se razões e contribuições. Se o proto-salazar está a ser vendido como um tira-nódoas milagroso para um fato que já nem com benzina lá vai, façamos então também a nossa publicidade. Aqui na Truta queremos dar-lhe um espaço onde pode encontrar, à sua medida, uma ou mais razões para não votar Cavaco.
Vá pessoal, para o meile ou nos salmonetes, é dar-lhe à vez, tem bons lombos, o miserável!
Razões para não votar Cavaco VI
por Katraponga
Já não haver saco para o fenómeno "Um Salazar em cada esquina". Já começa a enjoar ouvir as pessoas dizerem que é disso que o país precisa. Sobretudo as mais velhas, mas não só, o que é pior. "Ele vai pôr mão nisto", "é um eleito", "o professor Cavaco é muito sério" e outras tiradas que tais também já são motivo para acreditar no renascimento do Sebastianismo.
E além disso, nunca vi ninguém tocar tão mal bombo.
por Katraponga
Já não haver saco para o fenómeno "Um Salazar em cada esquina". Já começa a enjoar ouvir as pessoas dizerem que é disso que o país precisa. Sobretudo as mais velhas, mas não só, o que é pior. "Ele vai pôr mão nisto", "é um eleito", "o professor Cavaco é muito sério" e outras tiradas que tais também já são motivo para acreditar no renascimento do Sebastianismo.
E além disso, nunca vi ninguém tocar tão mal bombo.
quinta-feira, janeiro 12, 2006
Razões para não votar Cavaco V
Salazar foi um pré-cavaco. Salazar haveria de ter orgulho no Portugal que quer seguir um cavaco. Cavaco é um proto-salazar.
Salazar foi um pré-cavaco. Salazar haveria de ter orgulho no Portugal que quer seguir um cavaco. Cavaco é um proto-salazar.
Razões para não votar Cavaco IV
É o pai do défice. Com carradas de dinheiro da CEE fez desenvolver o betão, a especulação, a repressão, a revolta, as desigualdades sociais, o autismo, a mesquinhez, a mentira, o vazio. Não se espantem por a nossa mana Espanha estar a anos-luz de nós: é que eles não tiveram dez anos de Cavaco durante o tempo em que era suposto recuperar do atraso provocado pelas ditaduras de décadas de dois silenciosos, austeros e paternais pré-cavacos.
É o pai do défice. Com carradas de dinheiro da CEE fez desenvolver o betão, a especulação, a repressão, a revolta, as desigualdades sociais, o autismo, a mesquinhez, a mentira, o vazio. Não se espantem por a nossa mana Espanha estar a anos-luz de nós: é que eles não tiveram dez anos de Cavaco durante o tempo em que era suposto recuperar do atraso provocado pelas ditaduras de décadas de dois silenciosos, austeros e paternais pré-cavacos.
E finalmente, uma boa notícia
A maestrina australiana Simone Young foi convidada para assumir, a partir da temporada de 2007/2008, o título de maestro convidado principal [da Orquestra Gulbenkian].
Na verdade, ter esta mulher a dirigir seja o que for no nosso país já é uma excelente notícia.
A maestrina australiana Simone Young foi convidada para assumir, a partir da temporada de 2007/2008, o título de maestro convidado principal [da Orquestra Gulbenkian].
Na verdade, ter esta mulher a dirigir seja o que for no nosso país já é uma excelente notícia.
Razões para não votar Cavaco II
Mente quando diz que não é político. Foi primeiro-ministro durante dez anos, logo depois foi candidato derrotado a presidente da república e passou o segundo mandato de Jorge Sampaio a preparar na sombra, silenciosa e cautelosamente, esta candidatura. É o mais obscuro e tortuoso dos políticos que se apresentam a votos, pois apenas esteve de licença sabática para poder fazer o grande come-back.
Mente quando não revela que os seus financiadores são aqueles que mais têm ganho com a crise, são aqueles que a provocam, fugindo com a conivência dos governos às suas obrigações sociais e contributivas. Aqueles que alimentam o comércio de luxo que tão escandalosamente floresce num país que murcha de sede e falta de horizontes. São eles que lhe puxam os fios. Foi a eles que serviu por dez anos, é a eles que servirá por mais dez se for eleito.
Mente quando quer passar a ideia de que é um candidato independente e supra-partidário. Cavaco é o candidato da direita, o candidato do PSD e do CDS.
Mente quando diz que não é político. Foi primeiro-ministro durante dez anos, logo depois foi candidato derrotado a presidente da república e passou o segundo mandato de Jorge Sampaio a preparar na sombra, silenciosa e cautelosamente, esta candidatura. É o mais obscuro e tortuoso dos políticos que se apresentam a votos, pois apenas esteve de licença sabática para poder fazer o grande come-back.
Mente quando não revela que os seus financiadores são aqueles que mais têm ganho com a crise, são aqueles que a provocam, fugindo com a conivência dos governos às suas obrigações sociais e contributivas. Aqueles que alimentam o comércio de luxo que tão escandalosamente floresce num país que murcha de sede e falta de horizontes. São eles que lhe puxam os fios. Foi a eles que serviu por dez anos, é a eles que servirá por mais dez se for eleito.
Mente quando quer passar a ideia de que é um candidato independente e supra-partidário. Cavaco é o candidato da direita, o candidato do PSD e do CDS.
Razões para não votar Cavaco I
Às perguntas que lhe são colocadas responde que não responde porque já respondeu... em algum dos livros que se exibem orgulhosos e severos nos escaparates. Esqueceu-se de dizer que cada livro tem um preço médio-mínimo de €20. Quatro mil réis, é o mínimo que o eleitor tem de desembolsar para conhecer a esfinge-candidata, ou não é nem digno de esclarecimento. Pode parecer um pormenor. Mas é todo um pensamento(?), todo um desdém, toda uma demagogia que se revela numa só atitude.
Às perguntas que lhe são colocadas responde que não responde porque já respondeu... em algum dos livros que se exibem orgulhosos e severos nos escaparates. Esqueceu-se de dizer que cada livro tem um preço médio-mínimo de €20. Quatro mil réis, é o mínimo que o eleitor tem de desembolsar para conhecer a esfinge-candidata, ou não é nem digno de esclarecimento. Pode parecer um pormenor. Mas é todo um pensamento(?), todo um desdém, toda uma demagogia que se revela numa só atitude.
quarta-feira, janeiro 11, 2006
Vitória, vitória? Mas se ainda não se acabou a história...
Sessenta e um, dizem eles. Sessenta e um por cento. Mas é mentira. Desses sessenta e um apenas cerca de 39% são intenções reais de voto, o resto são contas-malabarismos especulatórios feitos com os 25% de indecisos [muito mais provavelmente de esquerda que de direita] que nestas sondagens, curiosamente, se decidiu distribuir pelos candidatos ao invés de os sublinhar como aquilo que são: indecisos.
E agora pensem comigo - sim, porque se o Público pode decidir que o Cavaco pulverizou já a hipótese de uma segunda volta com base em 39% das intenções reais de voto no proto-salazar contra 25% de indecisos [há coisas que nunca é demais repetir] também aqui na truta se pode dar um bocado à barbatana no sentido inverso deste holográfico remoinho -, pensemos então na possibilidade de um futuro mais risonho: quantos dos votantes em Cavaco não terão ainda decidido votar nele?; não será mais plausível que estes indecisos se encontrem precisamente no terreno da dividida [e ainda bem] esquerda, nomeadamente no eleitorado socialista, mas não só? Quantos alérgicos ao Cavaco conhecem vocês que estejam indecisos, angustiosamente indecisos? Eu cá não tenho mãos para os contar. Até há bem pouco tempo me encontrava entre eles. Já tomei uma decisão, mas houve momentos em que achei que só com a caneta na mão me decidiria. Mas isso nunca me livrou da certeza de que votaria, e não em Cavaco. Quantos estão ainda por aí como eu? Basta, portanto, que grande parte desta indecisão tome este rumo ou o da abstenção para garantir uma segunda volta. E as altíssimas expectativas que um tal resultado goraria seriam o suficiente para apagar para sempre esse "sopro de vitória" que a propaganda disfarçada de comunicação e informação nos quer impingir como arrasador. Não há razões plausíveis para tomar a vitória de Cavaco à primeira volta como facto consumado. Há apenas sondagens-propaganda ao melhor estilo fascizóide. Respirem fundo, ok? É tempo de agir, não de desistir.
Entretanto, a não perder, a sempre clara análise do Miguel Vale de Almeida, n'Os Tempos que Correm, e a respectiva caixa de comentários que graças à questão logo lançada pela Leonor Areal se torna num bom antídoto para a sensação de derrota que o post acaba por deixar. Ela não é certa, essa temida vitória da ausência de ideias, de verticalidade, de honestidade, de humanidade. E todos sabemos, há décadas, que o que faz falta é avisar a malta. Na era da comunicação, porque não tomar em mãos alguma informação relevante e pôr o pessoal a pensar e a respirar?
Sessenta e um, dizem eles. Sessenta e um por cento. Mas é mentira. Desses sessenta e um apenas cerca de 39% são intenções reais de voto, o resto são contas-malabarismos especulatórios feitos com os 25% de indecisos [muito mais provavelmente de esquerda que de direita] que nestas sondagens, curiosamente, se decidiu distribuir pelos candidatos ao invés de os sublinhar como aquilo que são: indecisos.
E agora pensem comigo - sim, porque se o Público pode decidir que o Cavaco pulverizou já a hipótese de uma segunda volta com base em 39% das intenções reais de voto no proto-salazar contra 25% de indecisos [há coisas que nunca é demais repetir] também aqui na truta se pode dar um bocado à barbatana no sentido inverso deste holográfico remoinho -, pensemos então na possibilidade de um futuro mais risonho: quantos dos votantes em Cavaco não terão ainda decidido votar nele?; não será mais plausível que estes indecisos se encontrem precisamente no terreno da dividida [e ainda bem] esquerda, nomeadamente no eleitorado socialista, mas não só? Quantos alérgicos ao Cavaco conhecem vocês que estejam indecisos, angustiosamente indecisos? Eu cá não tenho mãos para os contar. Até há bem pouco tempo me encontrava entre eles. Já tomei uma decisão, mas houve momentos em que achei que só com a caneta na mão me decidiria. Mas isso nunca me livrou da certeza de que votaria, e não em Cavaco. Quantos estão ainda por aí como eu? Basta, portanto, que grande parte desta indecisão tome este rumo ou o da abstenção para garantir uma segunda volta. E as altíssimas expectativas que um tal resultado goraria seriam o suficiente para apagar para sempre esse "sopro de vitória" que a propaganda disfarçada de comunicação e informação nos quer impingir como arrasador. Não há razões plausíveis para tomar a vitória de Cavaco à primeira volta como facto consumado. Há apenas sondagens-propaganda ao melhor estilo fascizóide. Respirem fundo, ok? É tempo de agir, não de desistir.
Entretanto, a não perder, a sempre clara análise do Miguel Vale de Almeida, n'Os Tempos que Correm, e a respectiva caixa de comentários que graças à questão logo lançada pela Leonor Areal se torna num bom antídoto para a sensação de derrota que o post acaba por deixar. Ela não é certa, essa temida vitória da ausência de ideias, de verticalidade, de honestidade, de humanidade. E todos sabemos, há décadas, que o que faz falta é avisar a malta. Na era da comunicação, porque não tomar em mãos alguma informação relevante e pôr o pessoal a pensar e a respirar?
segunda-feira, janeiro 09, 2006
Ando há uns dias para escrever sobre o Cavaco...
... mas tive recentemente uma bruta ressaca e temo que o meu fígado não aguente mais esta.
... mas tive recentemente uma bruta ressaca e temo que o meu fígado não aguente mais esta.
FORA!
Rui Chafes/Pedro Costa
em Serralves até 15 de Janeiro
Nha cretcheu, meu amor
O nosso encontro torna a nossa vida mais bonita, pelo menos há mais de trinta anos.
Pela minha parte, torno-me mais novo e volto cheio de força.
Eu gostava de te oferecer cem mil cigarros,
uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos,
um automóvel,
uma casinha de lava que tu tanto querias,
um ramalhete de flores de quatro tostões.
Mas antes de todas as coisas
Bebe uma garrafa de vinho do bom,
Pensa em mim.
Aqui o trabalho nunca pára.
Agora somos mais de cem.
No outro ontem, no meu aniversário
Foi altura de um longo pensamento para ti.
A carta que te levaram chegou bem.
Não tive resposta tua.
Fico à espera.
Todos os dias, todos os minutos,
Todos os dias aprendo umas palavras novas e bonitas, só para nós dois.
Mesmo assim à nossa medida, como um pijama de seda fina que tu não queres.
Só te posso chegar uma carta por mês.
Ainda sempre nada da tua mão.
Fica para a próxima.
Às vezes tenho medo de construir esta parede
Eu, com picareta e cimento
E tu, com o teu silêncio
Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento.
Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver
O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como as ervas secas.
Às vezes perco a força e juro que vou esquecer de mim.
Fontaínhas, de Pedro Costa [e Ventura]
Serralves, Janeiro de 2006
Fotografias de Manel da Truta
A ver, claro, todas as outras exposições patentes, cada uma pelas suas razões, mas sobretudo as salas das Anschool. Nela afirma Thomas Hirschhorn, é preciso fazer arte politicamente, em lugar de arte política. Pedro Costa e Rui Chafes, entre muitas outras coisas, mostram como se pode também fazê-la.
Rui Chafes/Pedro Costa
em Serralves até 15 de Janeiro
Nha cretcheu, meu amor
O nosso encontro torna a nossa vida mais bonita, pelo menos há mais de trinta anos.
Pela minha parte, torno-me mais novo e volto cheio de força.
Eu gostava de te oferecer cem mil cigarros,
uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos,
um automóvel,
uma casinha de lava que tu tanto querias,
um ramalhete de flores de quatro tostões.
Mas antes de todas as coisas
Bebe uma garrafa de vinho do bom,
Pensa em mim.
Aqui o trabalho nunca pára.
Agora somos mais de cem.
No outro ontem, no meu aniversário
Foi altura de um longo pensamento para ti.
A carta que te levaram chegou bem.
Não tive resposta tua.
Fico à espera.
Todos os dias, todos os minutos,
Todos os dias aprendo umas palavras novas e bonitas, só para nós dois.
Mesmo assim à nossa medida, como um pijama de seda fina que tu não queres.
Só te posso chegar uma carta por mês.
Ainda sempre nada da tua mão.
Fica para a próxima.
Às vezes tenho medo de construir esta parede
Eu, com picareta e cimento
E tu, com o teu silêncio
Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento.
Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver
O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como as ervas secas.
Às vezes perco a força e juro que vou esquecer de mim.
Fontaínhas, de Pedro Costa [e Ventura]
Serralves, Janeiro de 2006
Fotografias de Manel da Truta
A ver, claro, todas as outras exposições patentes, cada uma pelas suas razões, mas sobretudo as salas das Anschool. Nela afirma Thomas Hirschhorn, é preciso fazer arte politicamente, em lugar de arte política. Pedro Costa e Rui Chafes, entre muitas outras coisas, mostram como se pode também fazê-la.
domingo, janeiro 08, 2006
quarta-feira, janeiro 04, 2006
O Sexo... ou a cidade.
Há já umas semanas que o magnífico quarteto de Manhattan regressou ao meu quotidiano invicto [ler, "sem tvcabo"], e em boa hora, pois se poucas respostas se podem encontrar com facilidade, o certo é que em cada crónica Carrie Bradshaw procura com mais afinco as interrogações que as soluções. Ontem, enquanto Charlotte seguia na sua obstinação em engravidar, Carrie, em equilíbrio instável entre vontade e natureza, lançava-se novamente em territórios de fronteiras obscuras e dava voz a algumas das minhas grandes questões. O que é em nós, mulheres - embora a pergunta seja pertinente para qualquer género -, o que é em nós wanting e o que é shoulding, até que ponto esta dicotomia entre "querer" e "dever" nos confunde, angustia ou condiciona a tomar decisões contra as nossas reais vontades, até que ponto não queremos algo só porque devemos querê-lo. E, mais importante ainda, em que ponto de nós o querer e o dever se misturam a ponto de serem quase indescrimináveis. Ou recordando algumas conversas com a minha Micas, o que é que "temos" de fazer e o que é que "queremos" fazer, afinal? Why are we shoulding all over ourselves? É um auto-questionamento aplicável a quase tudo na vida, mas que ganha uma dimensão inexorável no assunto em questão, a maternidade. Sim, há um sacana de um relógio biológico, o que faz com que as decisões tomadas numa determinada fase da vida venham a condicionar irreversivelmente tudo o que dela decorre; mas também há a adopção, a família, todas as relações de afecto que se pode desenvolver tanto ou mais que com um filho; há, resumindo, o amor em toda a infinita paleta que possui e na qual se derrama e mistura sob os nossos olhos, se recusarmos as vendas. Sim, um homem não sente esse tétrico tic-tac, ainda que sinta a pulsão da paternidade, e tem uma vida inteira para deixar que aconteça. Mas há mais que isso, há qualquer coisa bem mais profunda que essa. Há uma razão de "sentido", de missão, de utilidade, atrevo-me a dizer, inversamente proporcional à forma como a polis encara a mulher. Um nobre, puro e final propósito de vida, que de uma mulher igual às outras - um ser que é ainda olhado com basta estranheza por uma sociedade androcêntrica, repressiva subliminar e ostensivamente, consoante o momento - faz nascer um cidadão cuja utilidade indiscutível assegura a justeza da sua existência. Já o grande doutor Villas-Boas o deixou bem claro quando disse que uma lésbica não é uma mulher completa porque não pode procriar. Ninguém o demitiu do lugar estatal que ocupava. É porque devia ter razão. Como se tivesse sido ontem, recordo como a irmã do meu primeiro namorado me disse que não queria ter filhos, com a maior das naturalidades [que no caso dela correspondia a uma tromba de meio metro, mas isso agora é irrelevante]. Ela tinha dezanove anos, e eu, do alto dos meus dezasseis, reagi apenas com um perplexo "Não?!" Recordo-me bem de como a achei diminuída, não por inteiro - felizmente nunca tive veleidades de juiz -, mas pelo menos numa grande parte da sua natureza de mulher, como se faltasse um pedaço qualquer no seu coração ou no seu espírito. Só eu sei como me sinto hoje diminuída ao recordar essa sensação, e como lhe pediria já desculpa por ter julgado o que não tenho o direito de julgar: a sua vontade mais íntima. Se havia julgamento a fazer, seria o de que era admirável que uma jovem de 19 anos fizesse tal afirmação com desassombro, não por provocação, mas por honestidade.
É por tudo isto que a grande Samantha Jones é a personagem mais esmagadora da série. Não quer amarras. Não quer filhos. Se o mítico Dom João é o marido de todo o género feminino, Samantha quer ser a outra de todo o género masculino [por enquanto, que ainda não surgiu a Sónia Braga]. Não aceita a culpa, nem quando ela vem como sidedish de uma quimioterapia [não esqueçamos os grupos que ainda pretendem que a interrupção voluntária da gravidez está relacionada com o cancro da mama]. A decisão é sua, e não admite intromissões. She's wanting all over herself.
Há já umas semanas que o magnífico quarteto de Manhattan regressou ao meu quotidiano invicto [ler, "sem tvcabo"], e em boa hora, pois se poucas respostas se podem encontrar com facilidade, o certo é que em cada crónica Carrie Bradshaw procura com mais afinco as interrogações que as soluções. Ontem, enquanto Charlotte seguia na sua obstinação em engravidar, Carrie, em equilíbrio instável entre vontade e natureza, lançava-se novamente em territórios de fronteiras obscuras e dava voz a algumas das minhas grandes questões. O que é em nós, mulheres - embora a pergunta seja pertinente para qualquer género -, o que é em nós wanting e o que é shoulding, até que ponto esta dicotomia entre "querer" e "dever" nos confunde, angustia ou condiciona a tomar decisões contra as nossas reais vontades, até que ponto não queremos algo só porque devemos querê-lo. E, mais importante ainda, em que ponto de nós o querer e o dever se misturam a ponto de serem quase indescrimináveis. Ou recordando algumas conversas com a minha Micas, o que é que "temos" de fazer e o que é que "queremos" fazer, afinal? Why are we shoulding all over ourselves? É um auto-questionamento aplicável a quase tudo na vida, mas que ganha uma dimensão inexorável no assunto em questão, a maternidade. Sim, há um sacana de um relógio biológico, o que faz com que as decisões tomadas numa determinada fase da vida venham a condicionar irreversivelmente tudo o que dela decorre; mas também há a adopção, a família, todas as relações de afecto que se pode desenvolver tanto ou mais que com um filho; há, resumindo, o amor em toda a infinita paleta que possui e na qual se derrama e mistura sob os nossos olhos, se recusarmos as vendas. Sim, um homem não sente esse tétrico tic-tac, ainda que sinta a pulsão da paternidade, e tem uma vida inteira para deixar que aconteça. Mas há mais que isso, há qualquer coisa bem mais profunda que essa. Há uma razão de "sentido", de missão, de utilidade, atrevo-me a dizer, inversamente proporcional à forma como a polis encara a mulher. Um nobre, puro e final propósito de vida, que de uma mulher igual às outras - um ser que é ainda olhado com basta estranheza por uma sociedade androcêntrica, repressiva subliminar e ostensivamente, consoante o momento - faz nascer um cidadão cuja utilidade indiscutível assegura a justeza da sua existência. Já o grande doutor Villas-Boas o deixou bem claro quando disse que uma lésbica não é uma mulher completa porque não pode procriar. Ninguém o demitiu do lugar estatal que ocupava. É porque devia ter razão. Como se tivesse sido ontem, recordo como a irmã do meu primeiro namorado me disse que não queria ter filhos, com a maior das naturalidades [que no caso dela correspondia a uma tromba de meio metro, mas isso agora é irrelevante]. Ela tinha dezanove anos, e eu, do alto dos meus dezasseis, reagi apenas com um perplexo "Não?!" Recordo-me bem de como a achei diminuída, não por inteiro - felizmente nunca tive veleidades de juiz -, mas pelo menos numa grande parte da sua natureza de mulher, como se faltasse um pedaço qualquer no seu coração ou no seu espírito. Só eu sei como me sinto hoje diminuída ao recordar essa sensação, e como lhe pediria já desculpa por ter julgado o que não tenho o direito de julgar: a sua vontade mais íntima. Se havia julgamento a fazer, seria o de que era admirável que uma jovem de 19 anos fizesse tal afirmação com desassombro, não por provocação, mas por honestidade.
É por tudo isto que a grande Samantha Jones é a personagem mais esmagadora da série. Não quer amarras. Não quer filhos. Se o mítico Dom João é o marido de todo o género feminino, Samantha quer ser a outra de todo o género masculino [por enquanto, que ainda não surgiu a Sónia Braga]. Não aceita a culpa, nem quando ela vem como sidedish de uma quimioterapia [não esqueçamos os grupos que ainda pretendem que a interrupção voluntária da gravidez está relacionada com o cancro da mama]. A decisão é sua, e não admite intromissões. She's wanting all over herself.
terça-feira, janeiro 03, 2006
Os momentos que se seguem são da exclusiva responsabilidade d@ abaixo-assinad@
Quinta da Atalaia, Setembro de 2005
Fotografia de Manel da Truta
Já estivémos mais longe de nos tornarmos num copo de plástico vazio, de uma marca que, como todas, vende felicidade, largado num território onde se celebra a liberdade, pelo menos uma vez por ano. Com Cavaco na presidência daremos o último golo de nós mesmos. Dia 22 não votem Cavaco e sobretudo não caguem no assunto. Eu venho de avião propositadamente para fazer a minha parte, que me parece tão pequena. Ao menos uma segunda volta. Que não seja uma viagem em vão, de regresso a um país em vão.
Quinta da Atalaia, Setembro de 2005
Fotografia de Manel da Truta
Já estivémos mais longe de nos tornarmos num copo de plástico vazio, de uma marca que, como todas, vende felicidade, largado num território onde se celebra a liberdade, pelo menos uma vez por ano. Com Cavaco na presidência daremos o último golo de nós mesmos. Dia 22 não votem Cavaco e sobretudo não caguem no assunto. Eu venho de avião propositadamente para fazer a minha parte, que me parece tão pequena. Ao menos uma segunda volta. Que não seja uma viagem em vão, de regresso a um país em vão.
Votos para 2006
a partir de Molière
A constância só é boa para os ridículos. Recebamos, pois, o devir. E que ninguém diga que somos capazes de arrependimento.
a partir de Molière
A constância só é boa para os ridículos. Recebamos, pois, o devir. E que ninguém diga que somos capazes de arrependimento.