terça-feira, novembro 29, 2005
Até o tempo parado se esgota...
Têm até ao próximo domingo, 4 de Dezembro, para entrar na casa sem paredes que Nuno Carinhas fez nascer no Teatro Carlos Alberto, no Porto. Emoções e silêncio enformados pelas mais belas palavras brilhantemente traduzidas. Belíssimo, é o mínimo que se pode dizer, deste Tio Vânia.
O Tio Vânia, de Anton Tchekov, traduzido por António Pescada e encenado por Nuno Carinhas, no TeCA até 4 de Dezembro. Em termos de beleza, o cartaz faz-lhe jus.
Têm até ao próximo domingo, 4 de Dezembro, para entrar na casa sem paredes que Nuno Carinhas fez nascer no Teatro Carlos Alberto, no Porto. Emoções e silêncio enformados pelas mais belas palavras brilhantemente traduzidas. Belíssimo, é o mínimo que se pode dizer, deste Tio Vânia.
O Tio Vânia, de Anton Tchekov, traduzido por António Pescada e encenado por Nuno Carinhas, no TeCA até 4 de Dezembro. Em termos de beleza, o cartaz faz-lhe jus.
It's oficial
Deixei de ser membro do Coro Gulbenkian. A minha carta explanando as [felizes] indisponibilidades para esta época teve como resposta uma mensagem deixada no telemóvel. Posso voltar como reforço, após audição, dizem eles. Talvez pense nisso quando reforçarem a boa-educação da Fundação para com os seus colaboradores de sete anos. Ou seja, dia de São Nunca. Querem ouvir-me, vão ver espectáculos, não ando propriamente escondida.
A merda é que lá vou ter de me juntar aos meus sacrificados colegas actores no kafkiano e gatuno regime geral da Segurança Social para os recibos verdes. Ou seja, trabalhes ou não trabalhes, ganhes o que ganhares, arrotas 150 mocas por mês. E se ficas desempregado, morres à fome antes de receberes um tostão de subsídio. De piolhos e actores, pois é. É a maravilhosa vida dos artistas do terceiro mundo.
Deixei de ser membro do Coro Gulbenkian. A minha carta explanando as [felizes] indisponibilidades para esta época teve como resposta uma mensagem deixada no telemóvel. Posso voltar como reforço, após audição, dizem eles. Talvez pense nisso quando reforçarem a boa-educação da Fundação para com os seus colaboradores de sete anos. Ou seja, dia de São Nunca. Querem ouvir-me, vão ver espectáculos, não ando propriamente escondida.
A merda é que lá vou ter de me juntar aos meus sacrificados colegas actores no kafkiano e gatuno regime geral da Segurança Social para os recibos verdes. Ou seja, trabalhes ou não trabalhes, ganhes o que ganhares, arrotas 150 mocas por mês. E se ficas desempregado, morres à fome antes de receberes um tostão de subsídio. De piolhos e actores, pois é. É a maravilhosa vida dos artistas do terceiro mundo.
Pensões abaixo dos 260 euros, em reportagem na SIC
Com 199 euros mensais de reforma, a velhota de pernas trôpegas e olhos vivos diz que nem todos os meses consegue aviar todos os medicamentos de que precisa. E o que faz quando o dinheiro não chega?, perguntam-lhe; -não tomo, tomo aspirinas. E ri-se, até jovialmente, encolhendo os ombros em desalento e resignação.
...
Se uma imagem destas não é suficiente para encher de vergonha quem no gabinete de luxo assina despachos e faz favores aos amigos, então é porque simplesmente não existe nos governos quem tenha vergonha na cara.
Com 199 euros mensais de reforma, a velhota de pernas trôpegas e olhos vivos diz que nem todos os meses consegue aviar todos os medicamentos de que precisa. E o que faz quando o dinheiro não chega?, perguntam-lhe; -não tomo, tomo aspirinas. E ri-se, até jovialmente, encolhendo os ombros em desalento e resignação.
...
Se uma imagem destas não é suficiente para encher de vergonha quem no gabinete de luxo assina despachos e faz favores aos amigos, então é porque simplesmente não existe nos governos quem tenha vergonha na cara.
segunda-feira, novembro 28, 2005
The constant director
Sempre que [re]vejo Cidade de Deus ando dias com nomes, rostos e becos recorrendo na memória. Hoje confirmei que o trabalho de Fernando Meireles me toca como poucos. No lugar da favela com nome de éden, a selvagem África, rude paraíso ao primeiro-mundo sacrificado, passando por uma asseada e pomposa Londres. A câmara tão saborosamente brasileira de Fernando Meireles integra-se com uma telúrica naturalidade nos espaços largos de África e nos cantos recônditos do amor e da emoção. Com a mesma sensibilidade, com a mesma ternura. Com a mesma clareza.
The constant gardner [O fiel jardineiro] é um filme de espionagem e um filme político, girando em torno das ligações obscuras entre multinacionais farmacêuticas, governos e ong's, e da lei da selva que rege a sua actuação assassina na África subnutrida e afundada na praga da SIDA. Bem a propósito, o filme é dedicado "to all who died giving a damn". Em redor disto se desmascaram realidades que estão à cega vista de todos e se constrói um thriller arrebatador e sem falha, filmado de modo nervoso, presente e esplendoroso. Mas neste big picture o motor e a pérola é a história de um amor liberto e vivo sobre e apesar dos equívocos, que após uma horrífica morte se vai revelando nos pormenores, nos curtos flash-backs, nos subtis raciocínios e no desfazer extemporâneo de equívocos; na sensibilidade das imagens, no recorte apaixonado dos rostos, na desarmante sensualidade e luz de Rachel Weisz, na contenção pungente do sempre admirável Ralph Fiennes. Ambos encarnam generosamente o yin e o yang deste filme, ela alimentada a curiosidade e espírito de justiça, motor e mártir da intriga, ele alimentado a amor e admiração, a amável estranheza progressivamente cedendo lugar, enfim, à partilha plena e à plena compreensão. Tessa é uma luz meteórica, mas terrena e real, que ama e arrasta Justin. E as imagens dessa fugaz intimidade, quasi-documentais na sua leveza, no protagonismo do riso e da cumplicidade, são das coisas bonitas que o cinema nos pode dar.
Um filme a rever, cheio de compromisso e amor, luta e sensibilidade, arte e mestria, luz e sombra. E um realizador feito e com um olhar muito particular. Cinema do melhor, minha gente!
Sempre que [re]vejo Cidade de Deus ando dias com nomes, rostos e becos recorrendo na memória. Hoje confirmei que o trabalho de Fernando Meireles me toca como poucos. No lugar da favela com nome de éden, a selvagem África, rude paraíso ao primeiro-mundo sacrificado, passando por uma asseada e pomposa Londres. A câmara tão saborosamente brasileira de Fernando Meireles integra-se com uma telúrica naturalidade nos espaços largos de África e nos cantos recônditos do amor e da emoção. Com a mesma sensibilidade, com a mesma ternura. Com a mesma clareza.
The constant gardner [O fiel jardineiro] é um filme de espionagem e um filme político, girando em torno das ligações obscuras entre multinacionais farmacêuticas, governos e ong's, e da lei da selva que rege a sua actuação assassina na África subnutrida e afundada na praga da SIDA. Bem a propósito, o filme é dedicado "to all who died giving a damn". Em redor disto se desmascaram realidades que estão à cega vista de todos e se constrói um thriller arrebatador e sem falha, filmado de modo nervoso, presente e esplendoroso. Mas neste big picture o motor e a pérola é a história de um amor liberto e vivo sobre e apesar dos equívocos, que após uma horrífica morte se vai revelando nos pormenores, nos curtos flash-backs, nos subtis raciocínios e no desfazer extemporâneo de equívocos; na sensibilidade das imagens, no recorte apaixonado dos rostos, na desarmante sensualidade e luz de Rachel Weisz, na contenção pungente do sempre admirável Ralph Fiennes. Ambos encarnam generosamente o yin e o yang deste filme, ela alimentada a curiosidade e espírito de justiça, motor e mártir da intriga, ele alimentado a amor e admiração, a amável estranheza progressivamente cedendo lugar, enfim, à partilha plena e à plena compreensão. Tessa é uma luz meteórica, mas terrena e real, que ama e arrasta Justin. E as imagens dessa fugaz intimidade, quasi-documentais na sua leveza, no protagonismo do riso e da cumplicidade, são das coisas bonitas que o cinema nos pode dar.
Um filme a rever, cheio de compromisso e amor, luta e sensibilidade, arte e mestria, luz e sombra. E um realizador feito e com um olhar muito particular. Cinema do melhor, minha gente!
domingo, novembro 27, 2005
Paradeiro desconhecido
Hotel Royal, Macau, Outubro de 1999
Fotografia de Rodrigues
Por onde andará Stephen Fry?
Por onde andará Stephen?
Ninguém sabe do seu paradeiro
Ninguém sabe p'ra onde ele foi
p'ra onde ele vai
Stephen may be feeling all alone
Stephen never do this again
Come back home
Se correr o bicho pega Stephen
Se ficar o bicho come
Zeca Baleiro, OUVIR AQUI
Hotel Royal, Macau, Outubro de 1999
Fotografia de Rodrigues
Por onde andará Stephen Fry?
Por onde andará Stephen?
Ninguém sabe do seu paradeiro
Ninguém sabe p'ra onde ele foi
p'ra onde ele vai
Stephen may be feeling all alone
Stephen never do this again
Come back home
Se correr o bicho pega Stephen
Se ficar o bicho come
Zeca Baleiro, OUVIR AQUI
segunda-feira, novembro 21, 2005
Meatarashii shiken!!
My japanese name is 中島 Nakashima (center of the island) 久美子 Kumiko (eternal beautiful child).
Take your real japanese name generator! today!
Created with Rum and Monkey's Name Generator Generator.
domingo, novembro 20, 2005
A voz
Após uma tarde de vozes explorando e saboreando Molière, mais vozes me acompanharam à noite. Dilacerada entre um convite para o Ensemble Intercontemporain na Casa da Música e duas horas de Tchekov no TeCA - ainda ontem dizíamos que o Porto é um bidé, mas digo eu que nunca vi bidé tão cosmopolita, eheheh... - decido-me enfim pela segunda hipótese, cheia de complexos por trocar mestre Boulez por um espectáculo que ainda poderia ver por mais duas semanas. Sacrilégios para o intelecto, mas há noites em que algo nos diz que o intelecto está mas é parvo e há instintos mais prementes a seguir. Décimo sexto sentido ou apenas leis da atracção, que me importa, o certo é que fui ao encontro das vozes que me queriam falar e que eu queria ouvir.
Bom, primeiro que tudo, e FYIT [o T é de tripeiro, naturalmente], assisti a um Tio Vânia belíssimo, em que as horas passaram a correr e os sentidos, o espírito e o cérebro se deliciaram e regeneraram. Vozes, umas mais familiares que outras, e presenças, servindo(-nos) um texto eternamente novo e uma psicologia desconfortavelmente actual. Ao TeCA, minha gente, até 4 de Dezembro.
O TeCA. Como me sinto em casa naquele teatro. As vozes são-me próximas e queridas. O cheiro dos bastidores é inconfundível, assim que abro a porta do palco retrocedo seis meses. Céus, como precisava das vozes da C. e da L., e das presenças daquelas mulheres lindas, tão diferentes de mim e tão iguais. O bar do teatro foi vazando, ficaram só as últimas luzes, e nós três à mesa, uma cerveja diferente frente a cada uma, falando, ouvindo, rindo, aconselhando, acarinhando. Que belas podem ser as vozes das mulheres. Fechámos a casa, nada mais natural, era em casa que estávamos. Mas antes uma mensagem inesperada. E um telefonema bem longe de estar previsto. Logo me havia de acontecer a mim, que detesto falar ao telefone, olhar para o aparelhómetro antecipando-lhe o toque, para falar com alguém de quem conheço tanto... mas de quem desconhecia a voz. Não te pareceu a primeira vez, dizias. Levavas vantagem nesse ponto, reconheces. Estranhamente, mal percebi o que senti. Mas sei que sorrio ainda, horas depois, ao lembrar. A audição foi definitivamente o sentido-tema deste meu dia. A voz, as vozes, foram a luz, o néctar e o consolo.
Não mais uma qualquer semana. Um fim de ciclo.
Após uma tarde de vozes explorando e saboreando Molière, mais vozes me acompanharam à noite. Dilacerada entre um convite para o Ensemble Intercontemporain na Casa da Música e duas horas de Tchekov no TeCA - ainda ontem dizíamos que o Porto é um bidé, mas digo eu que nunca vi bidé tão cosmopolita, eheheh... - decido-me enfim pela segunda hipótese, cheia de complexos por trocar mestre Boulez por um espectáculo que ainda poderia ver por mais duas semanas. Sacrilégios para o intelecto, mas há noites em que algo nos diz que o intelecto está mas é parvo e há instintos mais prementes a seguir. Décimo sexto sentido ou apenas leis da atracção, que me importa, o certo é que fui ao encontro das vozes que me queriam falar e que eu queria ouvir.
Bom, primeiro que tudo, e FYIT [o T é de tripeiro, naturalmente], assisti a um Tio Vânia belíssimo, em que as horas passaram a correr e os sentidos, o espírito e o cérebro se deliciaram e regeneraram. Vozes, umas mais familiares que outras, e presenças, servindo(-nos) um texto eternamente novo e uma psicologia desconfortavelmente actual. Ao TeCA, minha gente, até 4 de Dezembro.
O TeCA. Como me sinto em casa naquele teatro. As vozes são-me próximas e queridas. O cheiro dos bastidores é inconfundível, assim que abro a porta do palco retrocedo seis meses. Céus, como precisava das vozes da C. e da L., e das presenças daquelas mulheres lindas, tão diferentes de mim e tão iguais. O bar do teatro foi vazando, ficaram só as últimas luzes, e nós três à mesa, uma cerveja diferente frente a cada uma, falando, ouvindo, rindo, aconselhando, acarinhando. Que belas podem ser as vozes das mulheres. Fechámos a casa, nada mais natural, era em casa que estávamos. Mas antes uma mensagem inesperada. E um telefonema bem longe de estar previsto. Logo me havia de acontecer a mim, que detesto falar ao telefone, olhar para o aparelhómetro antecipando-lhe o toque, para falar com alguém de quem conheço tanto... mas de quem desconhecia a voz. Não te pareceu a primeira vez, dizias. Levavas vantagem nesse ponto, reconheces. Estranhamente, mal percebi o que senti. Mas sei que sorrio ainda, horas depois, ao lembrar. A audição foi definitivamente o sentido-tema deste meu dia. A voz, as vozes, foram a luz, o néctar e o consolo.
Não mais uma qualquer semana. Um fim de ciclo.
Duas semanas
Mais uma semana que chega ao fim, mas não mais uma qualquer semana. Fim de ciclo. Deslocamento e frio, súbita solidão desejada e temida, noites sem sono e dias de trabalho. Após a última jornada, uma violenta viagem solitária e praticamente directa de uma ponta à outra do país. Há uma semana atrás, a estafa, a exaustão física e psicológica tomando o castelo do profissionalismo e da obstinação, abrindo os ferrolhos da frustração e exigindo implacável a impossível decisão: o recital não se faz, não tenho condições físicas, seria uma fraude. Só os meus gatos e o meu fouton foram capazes de me sentar novamente atrás do volante para fazer Lagos-Lisboa de olhos enxutos e pregados na estrada, quase sem pestanejar, em busca sedenta de um pedacinho de lar que pudesse arrastar comigo um dia depois num regresso menos triste à rua alegre. Os beijos, carinhos e mimos de que precisava, de quem precisava, os doces da mãe, a voz calma e preocupada do pai. E uma noite de ternura e amor, alimento que só uns poucos seres no mundo nos podem dar. De que me queixo, afinal, tenho bem mais do que já perdi, e há tanto ainda para andar. Parco consolo, em ingratos dias desconsolados.
Mas a segunda semana veio e chegou ao fim. Agora. Semana cheia de trabalho e procura, na sapa de um texto que de tão essencial e mítico podemos lançar para onde quisermos só pela simples tomada de pequenas decisões, na identificação progressiva e na paixão inexorável por uma personagem que a cada dia reconheço que foi um dos maiores e mais generosos presentes que já me ofertaram, quer pessoal quer profissionalmente. Semana em que ao fim do dia regressei já para uma espécie de lar, com a minha música, os meus trapos e livros e os miados carinhosos pela manhã. Em que abracei de novo uma amiga querida que infelizmente já está de volta, mas felizmente está de novo perto. Em que nova data para o recital foi marcada, confirmada e salvaguardada.
Respiro, agora. Não tenho o coração mais claro, mas o espírito está bem menos turvo. Um guiará o outro, confio.
Não mais uma qualquer semana. Um fim de ciclo.
Mais uma semana que chega ao fim, mas não mais uma qualquer semana. Fim de ciclo. Deslocamento e frio, súbita solidão desejada e temida, noites sem sono e dias de trabalho. Após a última jornada, uma violenta viagem solitária e praticamente directa de uma ponta à outra do país. Há uma semana atrás, a estafa, a exaustão física e psicológica tomando o castelo do profissionalismo e da obstinação, abrindo os ferrolhos da frustração e exigindo implacável a impossível decisão: o recital não se faz, não tenho condições físicas, seria uma fraude. Só os meus gatos e o meu fouton foram capazes de me sentar novamente atrás do volante para fazer Lagos-Lisboa de olhos enxutos e pregados na estrada, quase sem pestanejar, em busca sedenta de um pedacinho de lar que pudesse arrastar comigo um dia depois num regresso menos triste à rua alegre. Os beijos, carinhos e mimos de que precisava, de quem precisava, os doces da mãe, a voz calma e preocupada do pai. E uma noite de ternura e amor, alimento que só uns poucos seres no mundo nos podem dar. De que me queixo, afinal, tenho bem mais do que já perdi, e há tanto ainda para andar. Parco consolo, em ingratos dias desconsolados.
Mas a segunda semana veio e chegou ao fim. Agora. Semana cheia de trabalho e procura, na sapa de um texto que de tão essencial e mítico podemos lançar para onde quisermos só pela simples tomada de pequenas decisões, na identificação progressiva e na paixão inexorável por uma personagem que a cada dia reconheço que foi um dos maiores e mais generosos presentes que já me ofertaram, quer pessoal quer profissionalmente. Semana em que ao fim do dia regressei já para uma espécie de lar, com a minha música, os meus trapos e livros e os miados carinhosos pela manhã. Em que abracei de novo uma amiga querida que infelizmente já está de volta, mas felizmente está de novo perto. Em que nova data para o recital foi marcada, confirmada e salvaguardada.
Respiro, agora. Não tenho o coração mais claro, mas o espírito está bem menos turvo. Um guiará o outro, confio.
Não mais uma qualquer semana. Um fim de ciclo.
sexta-feira, novembro 18, 2005
Pausa militante na licença sabática*
Apenas para vos fazer notar esta pérola de campanha. É bom que não esqueçamos, ao votar em Cavaco não estamos a votar num idóneo político não-profissional que, qual avôzinho desejado que em tempos se chamou Sebastião e agora já não recorda o próprio nome, virá providencialmente reequilibrar-nos os mealheiros e passajar-nos os pés-de-meia; estamos, isso sim, a votar nisto.
As pessoas que não sabem História ainda pensam que o Estado Novo foi uma ditadura. Já tenho perguntado a juristas que digam se foi um governo de força ou de tipo proteccionista. A verdade é que foi um regime em que a lei funcionava e em que os próprios titulares dos cargos davam o exemplo da austeridade.
Em tudo isto. É essa a nossa responsabilidade. É essa a nossa decisão. A história no-la cobrará mais tarde. Mas não esta história do senhor Veríssimo Serrão, que transforma opressão em austeridade, hipocrisia em exemplo, tirania em bondade. De alguma forma, é ilusoriamente tranquilizador que o senhor Veríssimo Serrão, como o senhor Cavaco, presumo, estejam noutra história que não a minha. Demasiados vilões também chateia...
*[ou seja, que vai pelo menos até sábado...]
Apenas para vos fazer notar esta pérola de campanha. É bom que não esqueçamos, ao votar em Cavaco não estamos a votar num idóneo político não-profissional que, qual avôzinho desejado que em tempos se chamou Sebastião e agora já não recorda o próprio nome, virá providencialmente reequilibrar-nos os mealheiros e passajar-nos os pés-de-meia; estamos, isso sim, a votar nisto.
As pessoas que não sabem História ainda pensam que o Estado Novo foi uma ditadura. Já tenho perguntado a juristas que digam se foi um governo de força ou de tipo proteccionista. A verdade é que foi um regime em que a lei funcionava e em que os próprios titulares dos cargos davam o exemplo da austeridade.
Em tudo isto. É essa a nossa responsabilidade. É essa a nossa decisão. A história no-la cobrará mais tarde. Mas não esta história do senhor Veríssimo Serrão, que transforma opressão em austeridade, hipocrisia em exemplo, tirania em bondade. De alguma forma, é ilusoriamente tranquilizador que o senhor Veríssimo Serrão, como o senhor Cavaco, presumo, estejam noutra história que não a minha. Demasiados vilões também chateia...
*[ou seja, que vai pelo menos até sábado...]
quinta-feira, novembro 10, 2005
quarta-feira, novembro 09, 2005
Bleu, blanc, rouge
A propósito do estado de sítio em Paris, três posts a ler [azul, vermelho, branco], no Domingo de Manhã. Tenho de reproduzir aqui o final do post Vermelho, síntese de esperança, realismo e desencanto.
Que se invente e se use um antibiótico social que ajude a corrigir os desequilíbrios e que vitamine, de humanidade e compaixão, a política ultra-liberal praticada.
Mas não creio que não se possa pedir ao torcionário, o desespero (e a coragem) que sobram ao oprimido. Porque não se pode, creio, ser água e turbina ao mesmo tempo.
Assino em baixo, querido Durães...
A propósito do estado de sítio em Paris, três posts a ler [azul, vermelho, branco], no Domingo de Manhã. Tenho de reproduzir aqui o final do post Vermelho, síntese de esperança, realismo e desencanto.
Que se invente e se use um antibiótico social que ajude a corrigir os desequilíbrios e que vitamine, de humanidade e compaixão, a política ultra-liberal praticada.
Mas não creio que não se possa pedir ao torcionário, o desespero (e a coragem) que sobram ao oprimido. Porque não se pode, creio, ser água e turbina ao mesmo tempo.
Assino em baixo, querido Durães...
terça-feira, novembro 08, 2005
O triplo salto
A partir dos confrontos em França, o Hetero_doxo faz um belo e triste post sobre esta bela e triste Europa. Ainda ontem falava com o Pagan, e ambos sentimos que algo está para acontecer. Algo assustador, talvez, mas inevitável e talvez até necessário. Esta sociedade "euro-americana", que apregoa a justiça mas vive e se alimenta da exclusão - sem ela, a exploração nunca seria possível -, que mergulha numa globalização puramente economicista e esclavagista, que arruma a sua mão-de-obra em caixotes fechados a qualquer perspectiva de uma vida mais plena, ao menos uns quantos nós acima do limiar da sobrevivência, que desdenha do Estado-Providência e da solidariedade dentro das sociedades como se fossem cancros, enquanto mina militantemente as conquistas que os mais optimistas gostam de encarar como solidificadas e garantidas, esta sociedade, dizia, está numa crise diferente das que já lhe conhecíamos. E é bom, se não queremos perder os faróis, que não nos esqueçamos de que a responsabilidade é de todos. O outro somos nós. E não é um pénis branco, heterossexual e cristão que nos coloca no patamar ariano da santidade.
A partir dos confrontos em França, o Hetero_doxo faz um belo e triste post sobre esta bela e triste Europa. Ainda ontem falava com o Pagan, e ambos sentimos que algo está para acontecer. Algo assustador, talvez, mas inevitável e talvez até necessário. Esta sociedade "euro-americana", que apregoa a justiça mas vive e se alimenta da exclusão - sem ela, a exploração nunca seria possível -, que mergulha numa globalização puramente economicista e esclavagista, que arruma a sua mão-de-obra em caixotes fechados a qualquer perspectiva de uma vida mais plena, ao menos uns quantos nós acima do limiar da sobrevivência, que desdenha do Estado-Providência e da solidariedade dentro das sociedades como se fossem cancros, enquanto mina militantemente as conquistas que os mais optimistas gostam de encarar como solidificadas e garantidas, esta sociedade, dizia, está numa crise diferente das que já lhe conhecíamos. E é bom, se não queremos perder os faróis, que não nos esqueçamos de que a responsabilidade é de todos. O outro somos nós. E não é um pénis branco, heterossexual e cristão que nos coloca no patamar ariano da santidade.
segunda-feira, novembro 07, 2005
Parto
Agora eu fui-me embora, embora, a dôr não quer ir já embora... mas este parto está feito, com dôr. Deixei-te longe, a túneis e avenidas de distância. Longe, a ti e a um grande, enorme pedaço de mim, arrancado de mim. Aguardemos, meu amigo, inimigo, amor, parceiro. Deixemos medrar um pouco o que hoje finalmente nasceu, até que ganhe força por si e por si se faça entender. O que quer que seja, é novo. E ambos sabemos que só pode ser melhor. O amor, esse, sei que, como eu, o sentes presente, ligando estes dois apartamentos ainda frios e ainda sem os nossos cheiros. No Porto se abalou. No Porto há-de pousar.
Dorme bem.
Agora eu fui-me embora, embora, a dôr não quer ir já embora... mas este parto está feito, com dôr. Deixei-te longe, a túneis e avenidas de distância. Longe, a ti e a um grande, enorme pedaço de mim, arrancado de mim. Aguardemos, meu amigo, inimigo, amor, parceiro. Deixemos medrar um pouco o que hoje finalmente nasceu, até que ganhe força por si e por si se faça entender. O que quer que seja, é novo. E ambos sabemos que só pode ser melhor. O amor, esse, sei que, como eu, o sentes presente, ligando estes dois apartamentos ainda frios e ainda sem os nossos cheiros. No Porto se abalou. No Porto há-de pousar.
Dorme bem.
domingo, novembro 06, 2005
Isto foi antes de o senhor me ver no meio de público e de me saltar para cima
Já não se pode ir gira e cheia de pinta, que os homens mandam-se logo aos nossos pés...
Já não se pode ir gira e cheia de pinta, que os homens mandam-se logo aos nossos pés...
sábado, novembro 05, 2005
Aqui está, é o meu retrato...
Muito, muito interessante, este teste. Ainda estou parva, ó Vermelha...
The Keys to Your Heart |
You are attracted to those who are unbridled, untrammeled, and free. In love, you feel the most alive when your lover is creative and never lets you feel bored. You'd like to your lover to think you are stylish and alluring. You would be forced to break up with someone who was ruthless, cold-blooded, and sarcastic. Your ideal relationship is open. Both of you can talk about everything... no secrets. Your risk of cheating is low. Even if you're tempted, you'd try hard not to do it. You think of marriage as something that will confine you. You are afraid of marriage. In this moment, you think of love as commitment. Love only works when both people are totally devoted. |
Muito, muito interessante, este teste. Ainda estou parva, ó Vermelha...