sexta-feira, abril 30, 2004
...I'd like to propose a toast.
Here's to the ladies who lunch
Ev'rybody laugh.
Lounging in their caftans and planning a brunch
On their own behalf
Off to the gym, then to a fitting,
Claiming they're fat,
And looking grim 'cause they've been sitting
Choosing a hat.
Does anyone still wear a hat?
I'll drink to that.
Here's to the girls who stay smart.
Aren't they a gas?
Rushing to their classes in optical art,
Wishing it would pass.
Another long, exhausting day,
Another thousand dollars,
A matinee: a Pinter play,
Perhaps a piece of Mahler's.
I'll drink to that...
And one for Mahler!
Here's to the girls who play wife.
Aren't they too much?
Keeping house, but clutching a copy of Life
Just to keep in touch.
The ones who follow the rules
And meet themselves at the schools
Too busy to know that they're fools...
Aren't they a gem?
I'll drink to them!
Let's all drink to them!
And here's to the girls who just watch,
Aren't they the best?
When they get depressed, it's a bottle of scotch,
Plus a little jest.
Another chance to disapprove,
Another brilliant zinger.
Another reason not to move,
Another vodka stinger.
Aaaahhhh- I'll drink to that.
So here's to the girls on the go,
Ev'rybody tries.
Look into their eyes and you'll see what they know:
Ev'rybody dies.
A toast to that invincible bunch,
The dinosaurs surviving the crunch,
Let's hear it for the ladies who lunch:
Ev'rybody rise!
Rise!
Rise!
Rise!
Stephen Sondheim, Company, 1970
Here's to the ladies who lunch
Ev'rybody laugh.
Lounging in their caftans and planning a brunch
On their own behalf
Off to the gym, then to a fitting,
Claiming they're fat,
And looking grim 'cause they've been sitting
Choosing a hat.
Does anyone still wear a hat?
I'll drink to that.
Here's to the girls who stay smart.
Aren't they a gas?
Rushing to their classes in optical art,
Wishing it would pass.
Another long, exhausting day,
Another thousand dollars,
A matinee: a Pinter play,
Perhaps a piece of Mahler's.
I'll drink to that...
And one for Mahler!
Here's to the girls who play wife.
Aren't they too much?
Keeping house, but clutching a copy of Life
Just to keep in touch.
The ones who follow the rules
And meet themselves at the schools
Too busy to know that they're fools...
Aren't they a gem?
I'll drink to them!
Let's all drink to them!
And here's to the girls who just watch,
Aren't they the best?
When they get depressed, it's a bottle of scotch,
Plus a little jest.
Another chance to disapprove,
Another brilliant zinger.
Another reason not to move,
Another vodka stinger.
Aaaahhhh- I'll drink to that.
So here's to the girls on the go,
Ev'rybody tries.
Look into their eyes and you'll see what they know:
Ev'rybody dies.
A toast to that invincible bunch,
The dinosaurs surviving the crunch,
Let's hear it for the ladies who lunch:
Ev'rybody rise!
Rise!
Rise!
Rise!
Stephen Sondheim, Company, 1970
La cage aux folles
Sim, fui à estreia do musical dos famosos, em todos os sentidos possíveis da palavra. Não me apetece fazer uma crítica, propriamente dita, mas aqui ficam umas impressões. Para lá do "elenco de apoio", mais apropriadamente chamado de "equipa de trolhas" - Joana Capucho, Roberto Candeias, Nicole Eitner, Peter Michael, Pedro Pernas, Sónia Aragão -, seguros, profissionais e cada um com o seu momento para provar que serviam para mais alguma coisa do que para entregar deixas e cadeiras ao elenco principal - o que segura o espectáculo são os trabalhos de Marco Horácio - um actor de entrega, cheio de talento e profissionalismo -, Manuel Marques - longe dos bonecos do Herman, absolutamente credível e delicioso, o seu professor de Português do secundário - e Bruno Nogueira, que salvo uma elocução algo nebulosa em alguns momentos, tem uma presença simultaneamente sedutora e cómica e uma fisicalidade única - [vou cometer a indelicadeza de me apropriar de uma das piadas do espectáculo, mas que se lixe] assim uma espécie de filho do Buster Keaton com uma girafa extraordinariamente bem-parecida.
A música... bem, a música é do Sérgio Godinho e faz jus ao autor, mas nem sempre os intérpretes lhe fazem jus. E mais não digo. Os arranjos e a direcção de João Lucas são belíssimos, assim como os músicos.
Quanto ao espectáculo em si, é longo demais, tem alguns momentos felizes, outros nem por isso, no geral acho-o fraco na génese. Com um texto e uma dramaturgia [ou ausência dela] - de Nuno Artur Silva e Nuno Costa Santos, das Produções Fictícias - que parecem baseados em meia-dúzia de larachas bem apanhadas e pouco mais, fico com a impressão de que António Feio fez o que pôde com o que lhe foi parar às mãos. É o mercado, estúpido!
Este é o espectáculo que se vai repetir até Julho, no São Luiz. Mas houve um outro espectáculo que só a estreia pôde proporcionar. O foyer estava cheio de bimbus famosus e de outros menos bimbos, dos bimbus cabeleireirus dus famosus, dos bimbus costureirus dus famosus, dos bimbus astrólogus dus famosus [aquela Maya tem mesmo cara de Irene], câmaras, fotógrafos, jornalistas, poses, gargalhadas, glamour à portuguesa, enfim, parafraseando novamente o texto, os famosos do Chiado, o Portugal dos Pequenitos em todo o seu confrangedor esplendor. No intervalo e no final senti-me do outro lado do espelho, as caricaturas da peça tinham ido assistir, tinham-lhes lançado ácido sulfúrico para cima durante duas horas e elas saíram sorridentes e ocas e maravilhosas, tal qual tinham entrado. Se calhar o ácido teatral potenciou os efeitos dos liftings...
E a esta gente que nem parece gente, eu gostaria de propôr um brinde...
Sim, fui à estreia do musical dos famosos, em todos os sentidos possíveis da palavra. Não me apetece fazer uma crítica, propriamente dita, mas aqui ficam umas impressões. Para lá do "elenco de apoio", mais apropriadamente chamado de "equipa de trolhas" - Joana Capucho, Roberto Candeias, Nicole Eitner, Peter Michael, Pedro Pernas, Sónia Aragão -, seguros, profissionais e cada um com o seu momento para provar que serviam para mais alguma coisa do que para entregar deixas e cadeiras ao elenco principal - o que segura o espectáculo são os trabalhos de Marco Horácio - um actor de entrega, cheio de talento e profissionalismo -, Manuel Marques - longe dos bonecos do Herman, absolutamente credível e delicioso, o seu professor de Português do secundário - e Bruno Nogueira, que salvo uma elocução algo nebulosa em alguns momentos, tem uma presença simultaneamente sedutora e cómica e uma fisicalidade única - [vou cometer a indelicadeza de me apropriar de uma das piadas do espectáculo, mas que se lixe] assim uma espécie de filho do Buster Keaton com uma girafa extraordinariamente bem-parecida.
A música... bem, a música é do Sérgio Godinho e faz jus ao autor, mas nem sempre os intérpretes lhe fazem jus. E mais não digo. Os arranjos e a direcção de João Lucas são belíssimos, assim como os músicos.
Quanto ao espectáculo em si, é longo demais, tem alguns momentos felizes, outros nem por isso, no geral acho-o fraco na génese. Com um texto e uma dramaturgia [ou ausência dela] - de Nuno Artur Silva e Nuno Costa Santos, das Produções Fictícias - que parecem baseados em meia-dúzia de larachas bem apanhadas e pouco mais, fico com a impressão de que António Feio fez o que pôde com o que lhe foi parar às mãos. É o mercado, estúpido!
Este é o espectáculo que se vai repetir até Julho, no São Luiz. Mas houve um outro espectáculo que só a estreia pôde proporcionar. O foyer estava cheio de bimbus famosus e de outros menos bimbos, dos bimbus cabeleireirus dus famosus, dos bimbus costureirus dus famosus, dos bimbus astrólogus dus famosus [aquela Maya tem mesmo cara de Irene], câmaras, fotógrafos, jornalistas, poses, gargalhadas, glamour à portuguesa, enfim, parafraseando novamente o texto, os famosos do Chiado, o Portugal dos Pequenitos em todo o seu confrangedor esplendor. No intervalo e no final senti-me do outro lado do espelho, as caricaturas da peça tinham ido assistir, tinham-lhes lançado ácido sulfúrico para cima durante duas horas e elas saíram sorridentes e ocas e maravilhosas, tal qual tinham entrado. Se calhar o ácido teatral potenciou os efeitos dos liftings...
E a esta gente que nem parece gente, eu gostaria de propôr um brinde...
Crítica Musical
Simone Young estava linda, tomou conta daquele palco, arrepiou e hipnotizou muitos dos presentes, conseguiu até arrancar uns entusiasmados aplausos ao público mumificado que frequenta a Fundação Calouste Gulbenkian às quintas-feiras.
Ah, g'anda mulher!
Johannes Brahms
Ein deutsches Requiem, op.45
CORO GULBENKIAN
ORQUESTRA GULBENKIAN
SIMONE YOUNG (maestrina)
MARIA BENGTSSON (soprano)
ROMAN TREKEL (barítono)
Simone Young estava linda, tomou conta daquele palco, arrepiou e hipnotizou muitos dos presentes, conseguiu até arrancar uns entusiasmados aplausos ao público mumificado que frequenta a Fundação Calouste Gulbenkian às quintas-feiras.
Ah, g'anda mulher!
Johannes Brahms
Ein deutsches Requiem, op.45
CORO GULBENKIAN
ORQUESTRA GULBENKIAN
SIMONE YOUNG (maestrina)
MARIA BENGTSSON (soprano)
ROMAN TREKEL (barítono)
Nem Deus nem Senhor
A luz é tão cega
Que nunca se entrega
Só se deixa ver
Numa razão de ser
Sem sequer entender
Os olhos que a vão receber
E o rasto que fica
É uma coisa antiga
Que a gente tem p'ra dar
E só pode encontrar
Quando morrer a procurar
Salvo pelo amor
Só se pode ser salvo pelo amor
Do sentido perdido ganhador
Não tem Deus nem Senhor
esta dor
Anda à solta por aí
Que eu bem a vi
Ai, se eu pudesse parar
Se eu vos pudesse contar
Salvo pelo amor
Não existe derrota para a dor
Com o seu capital triturador
Não tem Deus nem Senhor
É simplesmente dor
Que é o que faz questão de ser
Sem entender
Que a vida toda surgiu
De um Sol que nunca se viu
Nem sei se existe
José Mário Branco, Resistir é Vencer, 2004
A luz é tão cega
Que nunca se entrega
Só se deixa ver
Numa razão de ser
Sem sequer entender
Os olhos que a vão receber
E o rasto que fica
É uma coisa antiga
Que a gente tem p'ra dar
E só pode encontrar
Quando morrer a procurar
Salvo pelo amor
Só se pode ser salvo pelo amor
Do sentido perdido ganhador
Não tem Deus nem Senhor
esta dor
Anda à solta por aí
Que eu bem a vi
Ai, se eu pudesse parar
Se eu vos pudesse contar
Salvo pelo amor
Não existe derrota para a dor
Com o seu capital triturador
Não tem Deus nem Senhor
É simplesmente dor
Que é o que faz questão de ser
Sem entender
Que a vida toda surgiu
De um Sol que nunca se viu
Nem sei se existe
José Mário Branco, Resistir é Vencer, 2004
quarta-feira, abril 28, 2004
O meu café
Os meus amigos ocupam as mesas do meu café. Uns já conheço bem, outros menos e outros não conheço de todo, mas todos encontrarão sempre uma mesa, uma cadeira, uma bejeca e um cinzeiro, um assunto e um interlocutor cheio de vontade de dar e de receber. Por vezes as conversas cruzam-se, num bruá de vivacidade e entusiasmo, por vezes ficamos dois de nós para trás, falando baixinho do amor e da felicidade e da mágoa e novamente do amor e da felicidade, por vezes parecemos uns putos disparatados, outras falamos do que mais nos move, do que mais nos preocupa, do que mais nos faz felizes, do que mais nos choca, magoa e desespera. E questionamo-nos uns aos outros e lançamos soluções como quem lança o barro à parede ou simplesmente partilhamos as angústias. Aqui, no meu café, já participei, já observei, já barafustei, já aprendi, já sorri, já gargalhei, já chorei.
Aqui, no nosso café.
Os meus amigos ocupam as mesas do meu café. Uns já conheço bem, outros menos e outros não conheço de todo, mas todos encontrarão sempre uma mesa, uma cadeira, uma bejeca e um cinzeiro, um assunto e um interlocutor cheio de vontade de dar e de receber. Por vezes as conversas cruzam-se, num bruá de vivacidade e entusiasmo, por vezes ficamos dois de nós para trás, falando baixinho do amor e da felicidade e da mágoa e novamente do amor e da felicidade, por vezes parecemos uns putos disparatados, outras falamos do que mais nos move, do que mais nos preocupa, do que mais nos faz felizes, do que mais nos choca, magoa e desespera. E questionamo-nos uns aos outros e lançamos soluções como quem lança o barro à parede ou simplesmente partilhamos as angústias. Aqui, no meu café, já participei, já observei, já barafustei, já aprendi, já sorri, já gargalhei, já chorei.
Aqui, no nosso café.
Violinhos
Recordo-me bem desta sensação. Sentada, com o violino nas mãos, à espera da minha vez de entrar no palco. Recordo-me de que todos os palcos tinham um tamanho assustador e que qualquer público era o mais exigente do mundo. E de aguardar pacientemente, com as mãozitas suadas e um nó na garganta, pela minha vez de tocar...
Fotografia de Laranja
Recordo-me bem desta sensação. Sentada, com o violino nas mãos, à espera da minha vez de entrar no palco. Recordo-me de que todos os palcos tinham um tamanho assustador e que qualquer público era o mais exigente do mundo. E de aguardar pacientemente, com as mãozitas suadas e um nó na garganta, pela minha vez de tocar...
Fotografia de Laranja
domingo, abril 25, 2004
Frase do dia
Era bom que a Evolução estivesse tanto de parabéns como a Revolução.
Filipa Louro, oradora hoje no Rossio em representação da juventude.
Era bom que a Evolução estivesse tanto de parabéns como a Revolução.
Filipa Louro, oradora hoje no Rossio em representação da juventude.
Quem és tu, Romeiro?
No Público de hoje vem um folheto comemorativo-publicitário da FNAC relativo aos trinta anos da Revolução. Agradável surpresa e uma prova de que o bom marketing e o serviço público não têm de ser incompatíveis. Entre sugestões e informações sobre livros, cd's e dvd's realcionados directa ou indirectamente com o 25 de Abril, apresenta também uma muito sintética resenha historico-cultural dos últimos trinta anos e a opinião de diversos intelectuais e artistas sobre o que ganhámos e perdemos em 30 anos de democracia. Estas duas tocam-me particularmente, embora parecendo muito diferentes. Eu não acho que sejam.
João Cutileiro - Escultor
Primeiro: o que ganhamos? Tudo, claro. Emancipámo-nos. Não temos PIDE, embora ainda haja laivos pidescos que vêm pelo menos desde a Inquisição. Aqui, em Évora, desde o cardeal-rei. O que perdemos? Perdemos a esperança de que quando viesse o 25 de Abril Portugal iria ser o paraíso. Antigamente a culpa era deles. Agora é toda nossa. NÓS PODEMOS MUDAR PORTUGAL. 'Com os fixos olhos rasos de ânsia a Deus as mãos alçamos, mas Deus não dá licença que partamos'.
É impossível seleccionar uma obra. Sempre, claro, Grândola, Vila Morena de José Afonso. A nível pessoal, o meu D.Sebastião de Lagos. Fiz. Coloquei-o. Seis meses depois não o tinham tirado: o Estado Novo estava velho e entrou o MFA. A partir daí todas as obras de arte, da música à escultura, são obras do 25 de Abril. TODAS.
Alberto Pimenta - Professor Universitário
Se me perguntassem o que ganhei e perdi em 30 anos de vida, eu dizia: a vida. Tudo certo, tudo bem, tudo normal, até que a morte ou um estado de coma (ou parecido) venha pôr fim à coisa. Essa é a única questão: será que o nome ficou e a coisa já se foi? Será que o nome foi mudando lentamente de significado, como acontece a tantos nomes? Será que o nome nunca foi claro, precisamente por designar a legitimidade da mais rasgada diversidade de opiniões e modos de se realizar? Será que é um conceito auto-contraditório, já que a teoria que propõe - se é praticável! - nunca foi realmente praticada, pelo menos em nenhum lugar dito civilizado? Só dúvidas, e cada vez mais, e mais angustiantes, porque vou chegar ao fim da minha viagem sem ter conseguido perceber nada.
No Público de hoje vem um folheto comemorativo-publicitário da FNAC relativo aos trinta anos da Revolução. Agradável surpresa e uma prova de que o bom marketing e o serviço público não têm de ser incompatíveis. Entre sugestões e informações sobre livros, cd's e dvd's realcionados directa ou indirectamente com o 25 de Abril, apresenta também uma muito sintética resenha historico-cultural dos últimos trinta anos e a opinião de diversos intelectuais e artistas sobre o que ganhámos e perdemos em 30 anos de democracia. Estas duas tocam-me particularmente, embora parecendo muito diferentes. Eu não acho que sejam.
João Cutileiro - Escultor
Primeiro: o que ganhamos? Tudo, claro. Emancipámo-nos. Não temos PIDE, embora ainda haja laivos pidescos que vêm pelo menos desde a Inquisição. Aqui, em Évora, desde o cardeal-rei. O que perdemos? Perdemos a esperança de que quando viesse o 25 de Abril Portugal iria ser o paraíso. Antigamente a culpa era deles. Agora é toda nossa. NÓS PODEMOS MUDAR PORTUGAL. 'Com os fixos olhos rasos de ânsia a Deus as mãos alçamos, mas Deus não dá licença que partamos'.
É impossível seleccionar uma obra. Sempre, claro, Grândola, Vila Morena de José Afonso. A nível pessoal, o meu D.Sebastião de Lagos. Fiz. Coloquei-o. Seis meses depois não o tinham tirado: o Estado Novo estava velho e entrou o MFA. A partir daí todas as obras de arte, da música à escultura, são obras do 25 de Abril. TODAS.
Alberto Pimenta - Professor Universitário
Se me perguntassem o que ganhei e perdi em 30 anos de vida, eu dizia: a vida. Tudo certo, tudo bem, tudo normal, até que a morte ou um estado de coma (ou parecido) venha pôr fim à coisa. Essa é a única questão: será que o nome ficou e a coisa já se foi? Será que o nome foi mudando lentamente de significado, como acontece a tantos nomes? Será que o nome nunca foi claro, precisamente por designar a legitimidade da mais rasgada diversidade de opiniões e modos de se realizar? Será que é um conceito auto-contraditório, já que a teoria que propõe - se é praticável! - nunca foi realmente praticada, pelo menos em nenhum lugar dito civilizado? Só dúvidas, e cada vez mais, e mais angustiantes, porque vou chegar ao fim da minha viagem sem ter conseguido perceber nada.
Estamos na rua
Estamos mesmo na rua. Entre cravos, abraços e discussões. Entre canções e emoções, recordações e ambições. Entre divergências e partilhas. Entre sonhos e desilusões. E vontade. E consciência. O caudal inundou a avenida e tomou o lugar do braço de rio que outrora a ocupou, empurrou do seu caminho os camiões do exército que o barravam, curiosamente enviados àquela hora para desmontar o palanque onde hoje não se aplaudiram os palhaços, e alagou Restauradores e Rossio ao som da marcha do MFA.
E ali reafirmámos que somos livres. Ali olhei em volta e tive esperança que aquele mar de gente, que este mar de gente, saiba que, mais do que esperá-la, pode fazer a liberdade.
Estamos mesmo na rua. Entre cravos, abraços e discussões. Entre canções e emoções, recordações e ambições. Entre divergências e partilhas. Entre sonhos e desilusões. E vontade. E consciência. O caudal inundou a avenida e tomou o lugar do braço de rio que outrora a ocupou, empurrou do seu caminho os camiões do exército que o barravam, curiosamente enviados àquela hora para desmontar o palanque onde hoje não se aplaudiram os palhaços, e alagou Restauradores e Rossio ao som da marcha do MFA.
E ali reafirmámos que somos livres. Ali olhei em volta e tive esperança que aquele mar de gente, que este mar de gente, saiba que, mais do que esperá-la, pode fazer a liberdade.
Nem que apenas um único grão de areia o impeça...
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
— pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
— é força revolucionária!
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.
Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
— Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.
Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
José Carlos Ary dos Santos, Lisboa, Julho-Agosto de 1975
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
— pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
— é força revolucionária!
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.
Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
— Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.
Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
José Carlos Ary dos Santos, Lisboa, Julho-Agosto de 1975
sexta-feira, abril 23, 2004
Liberdade
Aquele que se dispõe a sacrificar a liberdade ao conforto e à segurança, não merece nem o conforto nem a segurança.
Benjamin Franklin
Aquele que se dispõe a sacrificar a liberdade ao conforto e à segurança, não merece nem o conforto nem a segurança.
Benjamin Franklin
Intervenção - 25 de Abril 2003
Abril fez das gerações nascidas depois de 1974 jovens portadores de uma herança de luta e de liberdade, legada pelos milhares de homens e mulheres que durante os terríveis 48 anos de fascismo resistiram à opressão e à perseguição, quantas vezes dando a sua própria vida em nome do sonho da construção de uma sociedade de liberdade e solidariedade, de democracia e igualdade.
É verdade que se costuma afirmar – como se de um defeito se tratasse – que os jovens nascidos depois do 25 de Abril encaram a liberdade como algo tão natural como respirar. Claro que para a liberdade plena e absoluta ainda nos faltam muitos passos a dar, de todos e de cada um. Mas é um valor positivo, de que todos nós, e especialmente todos aqueles que das mais diversas formas fizeram com que as portas de Abril se abrissem, nos devemos orgulhar. É um valor positivo que os jovens reajam quase instantaneamente contra quem lhes queira cercear a liberdade, impor decisões sem os ouvir, censurá-los. É boa esta certeza da liberdade conquistada, é bom que entendamos todos que a melhor forma de a defender é exercê-la. E quando pensamos nas lutas dos estudantes, do básico ao superior, quando pensamos na participação dos jovens nas lutas dos trabalhadores, quando pensamos nos milhares de jovens presentes nas lutas pela paz, vemos que é possível encarar com confiança o futuro do nosso povo.
E no entanto...
No entanto há muitas promessas de Abril que não se cumpriram. Há muitos recuos nos direitos que Abril nos trouxe. Demasiados. Há muito quem diga que a democracia começou noutro 25, em Novembro. Há quem queira ajustar contas com o 25 de Abril e fazer da nossa geração uma geração sem direitos.
A começar no direito à educação: foi com o 25 de Abril que conseguimos a massificação do ensino, que levámos os filhos das classes trabalhadoras a todos os níveis da escola. Mas hoje, 29 anos depois, será que podemos falar em igualdade? Será que podemos falar em iguais condições de acesso, de frequência e de sucesso de todos os jovens em todos os graus de ensino? Basta olhar para os terríveis dados do abandono e do insucesso escolares ou da iliteracia para perceber que não. E basta olhar para as ofensivas que aí vêm para perceber que o que se recuou ainda não chega. Que quem quer o regresso da escola à moda antiga se prepara para novos ataques à escola pública, gratuita e de qualidade. E basta:
- basta olhar para uma revisão curricular que insiste na divisão entre escolas de primeira, trampolins para o ensino superior, e escolas de segunda, túneis para a mão-de-obra barata, sendo a capacidade financeira de cada família determinante no acesso a umas ou outras;
- basta olhar para a sobranceria com que os vários governos encaram as reivindicações dos estudantes;
- basta olhar para o novo anunciado aumento das propinas, que distancia cada vez mais os jovens do prosseguimento de estudos, o que – é bom recordá-lo hoje novamente – é um direito de todos e uma base indispensável ao desenvolvimento do nosso país;
- basta ver como os currículos das escolas continuam a empurrar o 25 de Abril para o fim do ano lectivo, matéria dada à pressa para cumprir o programa; como se continua a chamar “antigo regime” ao fascismo, mascarando a polícia política, o colonialismo, a censura, a exploração, a submissão aos grandes grupos económicos, a pobreza, a fome, as prisões, a guerra colonial, o atraso. Defender Abril também é exigir que nas escolas se ensine e se aprenda a luta do nosso povo contra o fascismo.
E nesta lógica passamos à Cultura, com sucessivas políticas de incoerência, de desleixo, de desrespeito até. Cortes de subsídios ou subsídios irrisórios, ausência de direitos e desregulamentação no que toca a praticamente todas as áreas e profissionais, artistas sem casa e teatros e auditórios votados ao abandono – e quem arranja soluções alternativas é facilmente, como sabemos, despejado -, enfim, desprezo pelas artes, por quem as ensina, por quem as aprende, por quem as vive e por quem as recebe e faz viver. Desprezo, no fundo, pela identidade de um país e como tal pelo seu povo. Mas o princípio é básico e, mostra-nos a História, nada original. Um povo inculto e sem horizontes nem perspectivas é incomparavelmente mais fácil de controlar, de enganar, de cercear, de asfixiar. É mais fácil de calar.
E podemos continuar a olhar para a nossa realidade, para outros sectores da sociedade, e ver como outro direito, consagrado até pelas nações unidas como direito universal, é todos os dias pisado e ultrapassado: o direito ao trabalho. Este Código Laboral quer aprofundar o caminho da precariedade, que os jovens conhecem tão bem, dos baixos salários, da submissão ao patrão, do desemprego. Quer também, e sobretudo, criar uma geração sem direitos e impedir a organização dos trabalhadores nas empresas, tudo em nome de uma paz podre, de um fosso cada vez maior entre ricos e pobres, em nome de um desenvolvimento de números e percentagens que impede os sonhos e as realizações de milhares de jovens do nosso país.
Um povo inculto é mais fácil de calar, sabêmo-lo. Mas no que temos de pensar é no porquê de NÓS deixarmos que nos calem. Porque a responsabilidade é de todos e de cada um de nós. Devemos aos que deram a vida pela liberdade e aos que ainda estão connosco provar que a sua luta não foi em vão. Já dissemos também que a melhor forma de defender a liberdade, hoje que a sabemos nossa e vital, é exercê-la. Hoje, Dia da Liberdade, dia de esperança e de luta, nós, jovens, dizemos que a luta continua!
Abril fez das gerações nascidas depois de 1974 jovens portadores de uma herança de luta e de liberdade, legada pelos milhares de homens e mulheres que durante os terríveis 48 anos de fascismo resistiram à opressão e à perseguição, quantas vezes dando a sua própria vida em nome do sonho da construção de uma sociedade de liberdade e solidariedade, de democracia e igualdade.
É verdade que se costuma afirmar – como se de um defeito se tratasse – que os jovens nascidos depois do 25 de Abril encaram a liberdade como algo tão natural como respirar. Claro que para a liberdade plena e absoluta ainda nos faltam muitos passos a dar, de todos e de cada um. Mas é um valor positivo, de que todos nós, e especialmente todos aqueles que das mais diversas formas fizeram com que as portas de Abril se abrissem, nos devemos orgulhar. É um valor positivo que os jovens reajam quase instantaneamente contra quem lhes queira cercear a liberdade, impor decisões sem os ouvir, censurá-los. É boa esta certeza da liberdade conquistada, é bom que entendamos todos que a melhor forma de a defender é exercê-la. E quando pensamos nas lutas dos estudantes, do básico ao superior, quando pensamos na participação dos jovens nas lutas dos trabalhadores, quando pensamos nos milhares de jovens presentes nas lutas pela paz, vemos que é possível encarar com confiança o futuro do nosso povo.
E no entanto...
No entanto há muitas promessas de Abril que não se cumpriram. Há muitos recuos nos direitos que Abril nos trouxe. Demasiados. Há muito quem diga que a democracia começou noutro 25, em Novembro. Há quem queira ajustar contas com o 25 de Abril e fazer da nossa geração uma geração sem direitos.
A começar no direito à educação: foi com o 25 de Abril que conseguimos a massificação do ensino, que levámos os filhos das classes trabalhadoras a todos os níveis da escola. Mas hoje, 29 anos depois, será que podemos falar em igualdade? Será que podemos falar em iguais condições de acesso, de frequência e de sucesso de todos os jovens em todos os graus de ensino? Basta olhar para os terríveis dados do abandono e do insucesso escolares ou da iliteracia para perceber que não. E basta olhar para as ofensivas que aí vêm para perceber que o que se recuou ainda não chega. Que quem quer o regresso da escola à moda antiga se prepara para novos ataques à escola pública, gratuita e de qualidade. E basta:
- basta olhar para uma revisão curricular que insiste na divisão entre escolas de primeira, trampolins para o ensino superior, e escolas de segunda, túneis para a mão-de-obra barata, sendo a capacidade financeira de cada família determinante no acesso a umas ou outras;
- basta olhar para a sobranceria com que os vários governos encaram as reivindicações dos estudantes;
- basta olhar para o novo anunciado aumento das propinas, que distancia cada vez mais os jovens do prosseguimento de estudos, o que – é bom recordá-lo hoje novamente – é um direito de todos e uma base indispensável ao desenvolvimento do nosso país;
- basta ver como os currículos das escolas continuam a empurrar o 25 de Abril para o fim do ano lectivo, matéria dada à pressa para cumprir o programa; como se continua a chamar “antigo regime” ao fascismo, mascarando a polícia política, o colonialismo, a censura, a exploração, a submissão aos grandes grupos económicos, a pobreza, a fome, as prisões, a guerra colonial, o atraso. Defender Abril também é exigir que nas escolas se ensine e se aprenda a luta do nosso povo contra o fascismo.
E nesta lógica passamos à Cultura, com sucessivas políticas de incoerência, de desleixo, de desrespeito até. Cortes de subsídios ou subsídios irrisórios, ausência de direitos e desregulamentação no que toca a praticamente todas as áreas e profissionais, artistas sem casa e teatros e auditórios votados ao abandono – e quem arranja soluções alternativas é facilmente, como sabemos, despejado -, enfim, desprezo pelas artes, por quem as ensina, por quem as aprende, por quem as vive e por quem as recebe e faz viver. Desprezo, no fundo, pela identidade de um país e como tal pelo seu povo. Mas o princípio é básico e, mostra-nos a História, nada original. Um povo inculto e sem horizontes nem perspectivas é incomparavelmente mais fácil de controlar, de enganar, de cercear, de asfixiar. É mais fácil de calar.
E podemos continuar a olhar para a nossa realidade, para outros sectores da sociedade, e ver como outro direito, consagrado até pelas nações unidas como direito universal, é todos os dias pisado e ultrapassado: o direito ao trabalho. Este Código Laboral quer aprofundar o caminho da precariedade, que os jovens conhecem tão bem, dos baixos salários, da submissão ao patrão, do desemprego. Quer também, e sobretudo, criar uma geração sem direitos e impedir a organização dos trabalhadores nas empresas, tudo em nome de uma paz podre, de um fosso cada vez maior entre ricos e pobres, em nome de um desenvolvimento de números e percentagens que impede os sonhos e as realizações de milhares de jovens do nosso país.
Um povo inculto é mais fácil de calar, sabêmo-lo. Mas no que temos de pensar é no porquê de NÓS deixarmos que nos calem. Porque a responsabilidade é de todos e de cada um de nós. Devemos aos que deram a vida pela liberdade e aos que ainda estão connosco provar que a sua luta não foi em vão. Já dissemos também que a melhor forma de defender a liberdade, hoje que a sabemos nossa e vital, é exercê-la. Hoje, Dia da Liberdade, dia de esperança e de luta, nós, jovens, dizemos que a luta continua!
Primeira desova da Truta Branca!
Foi ela que me enviou isto, donde considerem-na uma desova por procuração...
Conta-se que no século passado um turista americano foi à cidade do Cairo, no Egipto, com o objectivo de visitar um famoso sábio. O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.
- Onde estão os seus móveis? - perguntou o turista. E o sábio, rapidamente, perguntou também:
- E onde estão os seus...?
- Os meus?! - surpreendeu-se o turista - Mas eu estou aqui só de passagem!
- Eu também... - concluiu o sábio.
Foi ela que me enviou isto, donde considerem-na uma desova por procuração...
Conta-se que no século passado um turista americano foi à cidade do Cairo, no Egipto, com o objectivo de visitar um famoso sábio. O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.
- Onde estão os seus móveis? - perguntou o turista. E o sábio, rapidamente, perguntou também:
- E onde estão os seus...?
- Os meus?! - surpreendeu-se o turista - Mas eu estou aqui só de passagem!
- Eu também... - concluiu o sábio.
terça-feira, abril 20, 2004
Atingimos os duzentos e quarenta e qualquer coisa comentários no poste anterior!
Não devíamos estar a receber um prémio? Ou temos de nos contentar com o facto de já termos dado cabo do haloscan?...
Não devíamos estar a receber um prémio? Ou temos de nos contentar com o facto de já termos dado cabo do haloscan?...
segunda-feira, abril 19, 2004
E assim encerra o ciclo "A Infância das Trutas"
Truta Laranja no infantário
Fotografia gentilmente cedida pela mãe da Truta Laranja
Truta Laranja no infantário
Fotografia gentilmente cedida pela mãe da Truta Laranja
domingo, abril 18, 2004
Ora cá está!
O computer master privou-nos da nossa Azul. Aqui fica, para não terem saudades até ao seu regresso.
O computer master privou-nos da nossa Azul. Aqui fica, para não terem saudades até ao seu regresso.
sábado, abril 17, 2004
Ainda para P.
I'll be your mirror
Reflect what you are, in case you don't know
I'll be the wind, the rain and the sunset
The light on your door to show that you're home
When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
'Cause I see you
I find it hard to believe you don't know
The beauty that you are
But if you don't, let me be your eyes
A hand in your darkness, so you won't be afraid
When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
'Cause I see you
I'll be your mirror
Lou Reed, The Velvet Underground & Nico, 1967
I'll be your mirror
Reflect what you are, in case you don't know
I'll be the wind, the rain and the sunset
The light on your door to show that you're home
When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
'Cause I see you
I find it hard to believe you don't know
The beauty that you are
But if you don't, let me be your eyes
A hand in your darkness, so you won't be afraid
When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
'Cause I see you
I'll be your mirror
Lou Reed, The Velvet Underground & Nico, 1967
sexta-feira, abril 16, 2004
Hoje é o dia mundial de um maravilhoso mistério do corpo humano
Minha voz
Minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção
Por ser feliz por sofrer por esperar
Eu canto
P’ra ser feliz p’ra sofrer para esperar
Eu canto
Meu amor
Acredite
Que se pode crescer assim p’ra nós
Uma flor sem limite
É somente porque eu trago a vida aqui na voz
Caetano Veloso
Minha voz
Minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção
Por ser feliz por sofrer por esperar
Eu canto
P’ra ser feliz p’ra sofrer para esperar
Eu canto
Meu amor
Acredite
Que se pode crescer assim p’ra nós
Uma flor sem limite
É somente porque eu trago a vida aqui na voz
Caetano Veloso
Eu
Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.
Alberto Caeiro, 1-10-1917
Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.
Alberto Caeiro, 1-10-1917
quinta-feira, abril 15, 2004
Blame Canada, blame Canada...
Casa Branca diz que a substância é sete vezes mais forte
EUA queixam-se da marijuana de alta potência proveniente do Canadá
Isto é mesmo estar do contra... os tipos são bons agricultores e os vizinhos americanos queixam-se! Inveja, é o que é...
Casa Branca diz que a substância é sete vezes mais forte
EUA queixam-se da marijuana de alta potência proveniente do Canadá
Isto é mesmo estar do contra... os tipos são bons agricultores e os vizinhos americanos queixam-se! Inveja, é o que é...
Quando for grande quero ser gato e fugir com a Azul e o Bom Selvagem
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa
quarta-feira, abril 14, 2004
Petição: só mais um Zé Manel para o Iraque
Um homem e o seu sonho. Ajuda o Zé Manel. Assina a petição.
Um homem e o seu sonho. Ajuda o Zé Manel. Assina a petição.
What's a homossexual?
O Vaticano não reconhece os homossexuais como sendo cidadãos com direitos. De acordo com o Expresso online, esta quinta-feira, a Santa Sé acaba de aprovar um texto de mais de 800 páginas sobre sexo e família, no qual consta a frase: «Os homossexuais não têm direitos, dado que a homossexualidade não tem valor social».
Acabei de ler esta notícia (divulgada aqui, aqui e aqui) e lembrei-me deste genial texto. South Park, claro. Se o assunto não fosse tão sério, só podia mesmo ser tratado como anedota.
Adenda: Uma vez que o ficheiro de som demora a descarregar, aqui fica o texto:
Stan: Mr. Garrison, can I ask you a question?
Mr. Garrison: Well of course Stanley, what is it?
Stan: What's a - homosexual?
Mr. Garrison: Hoh, well, Stanley, I guess you came to the right person. Sit down.
Stanley, gay people...well, gay people are evil. Evil right down to their cold black hearts, which pump not blood like yours and mine. But rather a thick, vomitous oil that oozes through their rotten veins and clots in their pea sized brains which becomes the cause of their Naziesque patterns of violent behavior. Do you understand?
Stan: I guess.
Mr. Garrison: Good, I'm glad we could have this little talk Stanley. Now you go outside and practice football like a good little heterosexual.
O Vaticano não reconhece os homossexuais como sendo cidadãos com direitos. De acordo com o Expresso online, esta quinta-feira, a Santa Sé acaba de aprovar um texto de mais de 800 páginas sobre sexo e família, no qual consta a frase: «Os homossexuais não têm direitos, dado que a homossexualidade não tem valor social».
Acabei de ler esta notícia (divulgada aqui, aqui e aqui) e lembrei-me deste genial texto. South Park, claro. Se o assunto não fosse tão sério, só podia mesmo ser tratado como anedota.
Adenda: Uma vez que o ficheiro de som demora a descarregar, aqui fica o texto:
Stan: Mr. Garrison, can I ask you a question?
Mr. Garrison: Well of course Stanley, what is it?
Stan: What's a - homosexual?
Mr. Garrison: Hoh, well, Stanley, I guess you came to the right person. Sit down.
Stanley, gay people...well, gay people are evil. Evil right down to their cold black hearts, which pump not blood like yours and mine. But rather a thick, vomitous oil that oozes through their rotten veins and clots in their pea sized brains which becomes the cause of their Naziesque patterns of violent behavior. Do you understand?
Stan: I guess.
Mr. Garrison: Good, I'm glad we could have this little talk Stanley. Now you go outside and practice football like a good little heterosexual.
terça-feira, abril 13, 2004
Estou tão ansiosa...
Parece que só estreia em Portugal lá para o final do mês... e ainda falta tanto!
(Obrigadinha ao Renas por me ter lembrado que estava quase a estrear, o que quer dizer que vou andar aqui aos pulinhos, a treinar o meu calão japonês e a chatear toda a gente para ir ver o filme comigo até o dito aparecer nos cinemas)
Parece que só estreia em Portugal lá para o final do mês... e ainda falta tanto!
(Obrigadinha ao Renas por me ter lembrado que estava quase a estrear, o que quer dizer que vou andar aqui aos pulinhos, a treinar o meu calão japonês e a chatear toda a gente para ir ver o filme comigo até o dito aparecer nos cinemas)
segunda-feira, abril 12, 2004
sábado, abril 10, 2004
O Amor [II]
Para o Katraponga.
Talvez
Quem sabe um dia
Por uma alameda do zoológico ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não pudemos amar na vida
Com o estelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Por que sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe, minha vida
Para que não mais existam
Amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
Que sacrificar-se
Por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja pelo menos o universo
E a mãe
Seja no mínimo a terra
Vladimir Maiakovsky, adaptado por Caetano Veloso e Ney Costa Santos
Para o Katraponga.
Talvez
Quem sabe um dia
Por uma alameda do zoológico ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não pudemos amar na vida
Com o estelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Por que sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe, minha vida
Para que não mais existam
Amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
Que sacrificar-se
Por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja pelo menos o universo
E a mãe
Seja no mínimo a terra
Vladimir Maiakovsky, adaptado por Caetano Veloso e Ney Costa Santos
O Amor
O amor transcende tudo e todos. O amor é a parte da vida que compensa todo o mal que o homem faz. O amor é ver uma ponte e imaginar não haver distâncias. O amor é sentir a chuva a cair em mim como se fossem beijos. O amor é ser sozinho e viver com todos. O amor é nunca esquecer as palavras bonitas que um dia nos disseram...
Katraponga, nos comentários da sua beluga.
Perdoa-me a usurpação, meu querido, mas é uma definição tão bonita de algo tão indefinível... "A chuva a cair em mim como se fossem beijos". Verdadeiro. Universal.
O amor transcende tudo e todos. O amor é a parte da vida que compensa todo o mal que o homem faz. O amor é ver uma ponte e imaginar não haver distâncias. O amor é sentir a chuva a cair em mim como se fossem beijos. O amor é ser sozinho e viver com todos. O amor é nunca esquecer as palavras bonitas que um dia nos disseram...
Katraponga, nos comentários da sua beluga.
Perdoa-me a usurpação, meu querido, mas é uma definição tão bonita de algo tão indefinível... "A chuva a cair em mim como se fossem beijos". Verdadeiro. Universal.
sexta-feira, abril 09, 2004
O general
("Depois de fortemente bombardeada, a cidade X foi ocupada pelas nossas tropas.")
O general entrou na cidade
ao som de cornetas e tambores ...
Mas por que não há "vivas"
nem flores?
Onde está a multidão
para o aplaudir, em filas na rua?
E este silêncio
Caiu de alguma cidade da Lua?
Só mortos por toda a parte.
Mortos nas árvores e nas telhas,
nas pedras e nas grades,
nos muros e nos canos ...
Mortos a enfeitarem as varandas
de colchas sangrentas
com franjas de mãos ...
Mortos nas goteiras.
Mortos nas nuvens.
Mortos no Sol.
E prédios cobertos de mortos.
E o céu forrado de pele de mortos.
E o universo todo a desabar cadáveres.
Mortos, mortos, mortos, mortos ...
Eh! levantai-vos das sarjetas
e vinde aplaudir o general
que entrou agora mesmo na cidade,
ao som de tambores e de cornetas!
Levantai-vos!
É preciso continuar a fingir vida,
E, para multidão, para dar palmas,
até os mortos servem,
sem o peso das almas.
José Gomes Ferreira
("Depois de fortemente bombardeada, a cidade X foi ocupada pelas nossas tropas.")
O general entrou na cidade
ao som de cornetas e tambores ...
Mas por que não há "vivas"
nem flores?
Onde está a multidão
para o aplaudir, em filas na rua?
E este silêncio
Caiu de alguma cidade da Lua?
Só mortos por toda a parte.
Mortos nas árvores e nas telhas,
nas pedras e nas grades,
nos muros e nos canos ...
Mortos a enfeitarem as varandas
de colchas sangrentas
com franjas de mãos ...
Mortos nas goteiras.
Mortos nas nuvens.
Mortos no Sol.
E prédios cobertos de mortos.
E o céu forrado de pele de mortos.
E o universo todo a desabar cadáveres.
Mortos, mortos, mortos, mortos ...
Eh! levantai-vos das sarjetas
e vinde aplaudir o general
que entrou agora mesmo na cidade,
ao som de tambores e de cornetas!
Levantai-vos!
É preciso continuar a fingir vida,
E, para multidão, para dar palmas,
até os mortos servem,
sem o peso das almas.
José Gomes Ferreira
Então a guerra não acabou?
ou
Os invasores são nossos amigos!
(...)
Segundo um balanço avançado pelo director do principal hospital da cidade [Falluja], os combates provocaram mais de 450 vítimas, entre civis e membros dos grupos armados em luta contra as tropas americanas.
Um colaborador de um dos dirigentes iraquianos a participar na mediação do conflito — que levou à suspensão temporária dos combates — garantiu que pelo menos 400 iraquianos morreram.
Ambas as fontes calculam em cerca de um milhar o número de pessoas feridas nos combates, desencadeados segunda-feira, quando os "marines" norte-americanos lançaram uma operação em grande escala para capturar os responsáveis pela morte de quatro seguranças americanos, na semana passada nos arredores da cidade.
Entre as tropas norte-americanas, o número de baixas deverá ascender a mais de duas dezenas, embora não exista um balanço oficial. Várias dezenas de militares ficaram feridos nos confrontos, que durante quatro dias se desenrolaram num ambiente de guerra urbana.
(...)
Confrontado com estes números, Adnan Pachachi, um membro sunita do Conselho de Governo iraquiano (entidade representativa da população junto da administração americana do Iraque) considerou os combates em Falluja "ilegais e totalmente inaceitáveis".
Segundo o responsável, a acção mais não é do que "uma punição colectiva de todos os habitantes" da cidade pela morte dos quatro civis americanos. "Essa questão não poderia ter sido resolvida desta maneira, não se pode punir todos os habitantes de Falluja por aquela acção".
(...)
Os combates estão também a ser condenados por vários países, em especial no mundo árabe, mas também pela Rússia, que apelou aos EUA para "suspenderem as operações militares", considerando existir um "uso desproporcional da força". Por seu lado, a Jordânia, anunciou que vai enviar para a cidade ajuda de emergência, constituída essencialmente por medicamentos, cobertores e comida.
Apesar destas reticências, a AFP adianta que os "marines" se preparam para relançar as operações militares na cidade, onde permanecem centenas de homens armados, prosseguindo as buscas casa a casa.
(...)
Os militares da coligação lutam, assim, em duas frentes de combate — a Oeste com os sunitas, a Sul com os xiitas — mas os analistas acreditam que as duas comunidades poderão esquecer velhas rivalidades e unir-se na luta contra o ocupante. Sinal disso, é o facto de centenas de xiitas e sunitas estarem a acorrer em auxílio da população de Falluja — cidade cada vez mais símbolo da insurreição iraquiana.
Não são citações de um jornal árabe. São do Público. Vale a pena pensar sobre isto? Ou será que nem isto faz com que certas pessoas tenham vergonha na cara?
ou
Os invasores são nossos amigos!
(...)
Segundo um balanço avançado pelo director do principal hospital da cidade [Falluja], os combates provocaram mais de 450 vítimas, entre civis e membros dos grupos armados em luta contra as tropas americanas.
Um colaborador de um dos dirigentes iraquianos a participar na mediação do conflito — que levou à suspensão temporária dos combates — garantiu que pelo menos 400 iraquianos morreram.
Ambas as fontes calculam em cerca de um milhar o número de pessoas feridas nos combates, desencadeados segunda-feira, quando os "marines" norte-americanos lançaram uma operação em grande escala para capturar os responsáveis pela morte de quatro seguranças americanos, na semana passada nos arredores da cidade.
Entre as tropas norte-americanas, o número de baixas deverá ascender a mais de duas dezenas, embora não exista um balanço oficial. Várias dezenas de militares ficaram feridos nos confrontos, que durante quatro dias se desenrolaram num ambiente de guerra urbana.
(...)
Confrontado com estes números, Adnan Pachachi, um membro sunita do Conselho de Governo iraquiano (entidade representativa da população junto da administração americana do Iraque) considerou os combates em Falluja "ilegais e totalmente inaceitáveis".
Segundo o responsável, a acção mais não é do que "uma punição colectiva de todos os habitantes" da cidade pela morte dos quatro civis americanos. "Essa questão não poderia ter sido resolvida desta maneira, não se pode punir todos os habitantes de Falluja por aquela acção".
(...)
Os combates estão também a ser condenados por vários países, em especial no mundo árabe, mas também pela Rússia, que apelou aos EUA para "suspenderem as operações militares", considerando existir um "uso desproporcional da força". Por seu lado, a Jordânia, anunciou que vai enviar para a cidade ajuda de emergência, constituída essencialmente por medicamentos, cobertores e comida.
Apesar destas reticências, a AFP adianta que os "marines" se preparam para relançar as operações militares na cidade, onde permanecem centenas de homens armados, prosseguindo as buscas casa a casa.
(...)
Os militares da coligação lutam, assim, em duas frentes de combate — a Oeste com os sunitas, a Sul com os xiitas — mas os analistas acreditam que as duas comunidades poderão esquecer velhas rivalidades e unir-se na luta contra o ocupante. Sinal disso, é o facto de centenas de xiitas e sunitas estarem a acorrer em auxílio da população de Falluja — cidade cada vez mais símbolo da insurreição iraquiana.
Não são citações de um jornal árabe. São do Público. Vale a pena pensar sobre isto? Ou será que nem isto faz com que certas pessoas tenham vergonha na cara?
quarta-feira, abril 07, 2004
Como?
Como é que se limpa uma ferida que não se vê?
Como é que se escala um muro que teima em não implodir?
Como é que se agarra quem foge querendo ficar?
Como é que o amor não chega?
Como é que se beija o inimigo?
Como é que se limpa uma ferida que não se vê?
Como é que se escala um muro que teima em não implodir?
Como é que se agarra quem foge querendo ficar?
Como é que o amor não chega?
Como é que se beija o inimigo?
terça-feira, abril 06, 2004
segunda-feira, abril 05, 2004
Solidariedade
Venho recordar-vos que podemos determinar o destino de parte do nosso IRS, sem qualquer encargo, a favor de uma instituição de apoio social e humanitário. O Estado português fica obrigado a transferir 0,5% do IRS liquidado para uma organização à nossa escolha (que deverá estar especialmente inscrita para esse fim).
Para tal, basta entregar, com a declaração de impostos, o Anexo H e preencher, no quadro 9, campo 2, o nome e n.º de contribuinte da instituição em causa.
Segue uma listinha com algumas das instituições a quem poderá ser feito esse donativo:
Abraço - Assoc. de Apoio a Doentes de VIH/SIDA
Rua da Rosa, 243 - 1º
1200-385 LISBOA
Telef. 21 342 59 29/21 397 42 98
Nº Contribuinte: 503 170 151
Ajuda de Berço - Crianças em Risco
Av. de Ceuta, nº 51 - loja 6A/B
1300 LISBOA
Telef. 21 362 82 74
Nº Contribuinte: 504 296 442
Aldeias de Crianças SOS
Estrada do Livramento
Bicesse
2765 ESTORIL
Telef. 21 361 69 50
Nº Contribuinte: 500 846 812
AMI - Assistência Médica Internacional
Rua José do Patrocínio, 49
Marvila
1900 LISBOA
Telef. 21 790 10 98
Nº Contribuinte: 502 744 910
APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
Rua do Comércio, 56 – 5º
1100 –150 Lisboa
Telef. 21 885 40 90
Nº Contribuinte: 502 547 952
Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa - APCL
Av. Rainha D. Amélia
1600 LISBOA
Telef. 21 754 06 93
Nº Contribuinte: 506 610 624
Banco Alimentar Contra a Fome
Estação da C.P. Alcântara Terra - Armazém 1
Avenida de Ceuta
1300 LISBOA
Telef. 21 364 96 55
Nº Contribuinte: 502 671 858
CADin - Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil
Edifício CADin - Estrada da Malveira
2750-782 CASCAIS
Telef. 21 485 82 40
Nº Contribuinte: 506 285 871
Comité Português para a UNICEF
Av. António Augusto de Aguiar, 56 - 2º Esq.
1069-115 LISBOA
Telef. 21 317 75 00
Nº Contribuinte: 500 883 823
Cruz Vermelha Portuguesa
Campo Grande, 28-6º
1200-360 LISBOA
Telef. 21 782 24 00
Nº Contribuinte: 500 745 749
Leigos para o Desenvolvimento
Estrada da Torre, nº 26
1769-014 LISBOA
Telef. 21 757 43 57 / 21 757 42 78
Nº Contribuinte: 501 917 705
Liga Portuguesa contra o Cancro
Av. Columbano Bordalo Pinhheiro, 57-3º
1070-061 LISBOA
Telef. 21 722 18 10
Nº Contribuinte: 500 967 768
SOL - Associação de Apoio às Crianças Infectadas com VIH/SIDA
Cç. Tapada, nº 149
1300 LISBOA
Telef. 21 362 57 71
Nº Contribuinte: 503 075 922
Venho recordar-vos que podemos determinar o destino de parte do nosso IRS, sem qualquer encargo, a favor de uma instituição de apoio social e humanitário. O Estado português fica obrigado a transferir 0,5% do IRS liquidado para uma organização à nossa escolha (que deverá estar especialmente inscrita para esse fim).
Para tal, basta entregar, com a declaração de impostos, o Anexo H e preencher, no quadro 9, campo 2, o nome e n.º de contribuinte da instituição em causa.
Segue uma listinha com algumas das instituições a quem poderá ser feito esse donativo:
Abraço - Assoc. de Apoio a Doentes de VIH/SIDA
Rua da Rosa, 243 - 1º
1200-385 LISBOA
Telef. 21 342 59 29/21 397 42 98
Nº Contribuinte: 503 170 151
Ajuda de Berço - Crianças em Risco
Av. de Ceuta, nº 51 - loja 6A/B
1300 LISBOA
Telef. 21 362 82 74
Nº Contribuinte: 504 296 442
Aldeias de Crianças SOS
Estrada do Livramento
Bicesse
2765 ESTORIL
Telef. 21 361 69 50
Nº Contribuinte: 500 846 812
AMI - Assistência Médica Internacional
Rua José do Patrocínio, 49
Marvila
1900 LISBOA
Telef. 21 790 10 98
Nº Contribuinte: 502 744 910
APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
Rua do Comércio, 56 – 5º
1100 –150 Lisboa
Telef. 21 885 40 90
Nº Contribuinte: 502 547 952
Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa - APCL
Av. Rainha D. Amélia
1600 LISBOA
Telef. 21 754 06 93
Nº Contribuinte: 506 610 624
Banco Alimentar Contra a Fome
Estação da C.P. Alcântara Terra - Armazém 1
Avenida de Ceuta
1300 LISBOA
Telef. 21 364 96 55
Nº Contribuinte: 502 671 858
CADin - Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil
Edifício CADin - Estrada da Malveira
2750-782 CASCAIS
Telef. 21 485 82 40
Nº Contribuinte: 506 285 871
Comité Português para a UNICEF
Av. António Augusto de Aguiar, 56 - 2º Esq.
1069-115 LISBOA
Telef. 21 317 75 00
Nº Contribuinte: 500 883 823
Cruz Vermelha Portuguesa
Campo Grande, 28-6º
1200-360 LISBOA
Telef. 21 782 24 00
Nº Contribuinte: 500 745 749
Leigos para o Desenvolvimento
Estrada da Torre, nº 26
1769-014 LISBOA
Telef. 21 757 43 57 / 21 757 42 78
Nº Contribuinte: 501 917 705
Liga Portuguesa contra o Cancro
Av. Columbano Bordalo Pinhheiro, 57-3º
1070-061 LISBOA
Telef. 21 722 18 10
Nº Contribuinte: 500 967 768
SOL - Associação de Apoio às Crianças Infectadas com VIH/SIDA
Cç. Tapada, nº 149
1300 LISBOA
Telef. 21 362 57 71
Nº Contribuinte: 503 075 922
domingo, abril 04, 2004
Britney Spears É "Uma Amante Experiente e Criativa"
Alguém me explica que raio está isto a fazer na secção cultural do Público?
Alguém me explica que raio está isto a fazer na secção cultural do Público?
12 anos
Salgueiro Maia, 1 de Julho de 1944 - 4 de Abril de 1992
Quem é este homem, vencedor de batalhas, de revoluções, que agora desce à terra, em campa rasa, ao som do «Grândola, Vila Morena»?(...) tudo se pode resumir a uma breve legenda: Salgueiro Maia, soldado português que à frente de 240 homens e com dez carros de combate da EPC avançou em 25 de Abril de 1974 sobre Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço levando os ministros de um regime ditatorial de quase 50 anos a fugir como coelhos assustados, cercou o Quartel do Carmo obrigando Marcelo Caetano a render-se e a demitir-se. Atingiu o posto de tenente-coronel, recusou cargos de poder. É o mais puro símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril.
E quase tudo terá ficado dito.
Salgueiro Maia, 1 de Julho de 1944 - 4 de Abril de 1992
Quem é este homem, vencedor de batalhas, de revoluções, que agora desce à terra, em campa rasa, ao som do «Grândola, Vila Morena»?(...) tudo se pode resumir a uma breve legenda: Salgueiro Maia, soldado português que à frente de 240 homens e com dez carros de combate da EPC avançou em 25 de Abril de 1974 sobre Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço levando os ministros de um regime ditatorial de quase 50 anos a fugir como coelhos assustados, cercou o Quartel do Carmo obrigando Marcelo Caetano a render-se e a demitir-se. Atingiu o posto de tenente-coronel, recusou cargos de poder. É o mais puro símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril.
E quase tudo terá ficado dito.
sábado, abril 03, 2004
What a woman must do
Until you walk, run, fight a mile in her shoe
Don’t dare stand in front of me and tell me
What a woman must do
Until you have walked, run, fought a mile in her shoe
Don’t you dare stand in front of me and tell me
What a woman must do
What a woman must do
She must
Swing from chandeliers for undeserving spouses and paramours
Who deny her suffrage by day, but crave and praise her womanly wiles by night
Good enough to fuck but, not good enough to vote
She must
Go from the beauty of Africa, to the horrors of massa
Go from titties dangling bare and shameless
To being branded, licentious, temptress, embarrassed
Go from land of yams and heat hot
To land of cash crops and sellers block
Go… from God names, to no name, to his names
Go… from God names, to no name, to his names
Now black
Now inhuman
Freedom stolen, family stolen, now beholden… but still golden
Field hollerin’… and Ain’t I A Woman
Ain’t I A Woman
I can see her, me
Washing dishes, clothes, and children
Making love, money, dinner, and beds
Always the first one of a sinking ship
But last in the line to receive respect
What
What a
What a woman
What a woman must
What a woman must do
What a woman must do
What a woman must do
Must do
Must do, must do, must do, must do, must do…
She must
Wipe away tears and reclaim strength
After rape, abortion, lover’s betrayal, child’s birth, child’s death, husband’s abuse
Tricking to buy baby shoes
She must
Be called a muse
Which is just a synonym for use
Put upon pedestals
Dainty and protected
And because of that disrespected
Victorianized
Made a paradox of famous anonymity
Left to go insane with too much femininity
Staring at yellow wallpaper
Her heart
Open
Her legs
Open
Warm and welcoming
Waiting… for phone calls that never come
Waiting… for words of appreciation that never come
Waiting… for equal pay that never comes
Waiting
Waiting, Waiting, Waiting,
Waiting, Waiting, Waiting,
Waiting for love
Waiting for acknowledgment not judgment
Waiting
And when seeking or achieving any kind of power
Reduced to labels like…
Concubine. Cunt. Bitch. Whore. Stunt. Witch. Dyke.
Concubine. Cunt. Bitch. Whore. Stunt. Witch. Dyke.
What
What a
What a woman
What
What a
What a woman must
What a woman must
What a woman must do
What a woman must do
She must
Never settle for less based upon her womaness
Embrace the pronoun and power of SHE
Know if nothing else that her uniqueness is blessed
And a necessary component in the union between universe and people
Equal to man
At times above human understanding
She don’t have to lay down for nothing or nobody
Her body in and out a wonder
The wonder of SHE
The wonder of SHE
Ursula Rucker
Until you walk, run, fight a mile in her shoe
Don’t dare stand in front of me and tell me
What a woman must do
Until you have walked, run, fought a mile in her shoe
Don’t you dare stand in front of me and tell me
What a woman must do
What a woman must do
She must
Swing from chandeliers for undeserving spouses and paramours
Who deny her suffrage by day, but crave and praise her womanly wiles by night
Good enough to fuck but, not good enough to vote
She must
Go from the beauty of Africa, to the horrors of massa
Go from titties dangling bare and shameless
To being branded, licentious, temptress, embarrassed
Go from land of yams and heat hot
To land of cash crops and sellers block
Go… from God names, to no name, to his names
Go… from God names, to no name, to his names
Now black
Now inhuman
Freedom stolen, family stolen, now beholden… but still golden
Field hollerin’… and Ain’t I A Woman
Ain’t I A Woman
I can see her, me
Washing dishes, clothes, and children
Making love, money, dinner, and beds
Always the first one of a sinking ship
But last in the line to receive respect
What
What a
What a woman
What a woman must
What a woman must do
What a woman must do
What a woman must do
Must do
Must do, must do, must do, must do, must do…
She must
Wipe away tears and reclaim strength
After rape, abortion, lover’s betrayal, child’s birth, child’s death, husband’s abuse
Tricking to buy baby shoes
She must
Be called a muse
Which is just a synonym for use
Put upon pedestals
Dainty and protected
And because of that disrespected
Victorianized
Made a paradox of famous anonymity
Left to go insane with too much femininity
Staring at yellow wallpaper
Her heart
Open
Her legs
Open
Warm and welcoming
Waiting… for phone calls that never come
Waiting… for words of appreciation that never come
Waiting… for equal pay that never comes
Waiting
Waiting, Waiting, Waiting,
Waiting, Waiting, Waiting,
Waiting for love
Waiting for acknowledgment not judgment
Waiting
And when seeking or achieving any kind of power
Reduced to labels like…
Concubine. Cunt. Bitch. Whore. Stunt. Witch. Dyke.
Concubine. Cunt. Bitch. Whore. Stunt. Witch. Dyke.
What
What a
What a woman
What
What a
What a woman must
What a woman must
What a woman must do
What a woman must do
She must
Never settle for less based upon her womaness
Embrace the pronoun and power of SHE
Know if nothing else that her uniqueness is blessed
And a necessary component in the union between universe and people
Equal to man
At times above human understanding
She don’t have to lay down for nothing or nobody
Her body in and out a wonder
The wonder of SHE
The wonder of SHE
Ursula Rucker
Uma mulher
Gostava de conseguir escrever sobre o concerto e nada mais do que o concerto. Mas é impossível. O público era estranho. O grande problema de se tornar um nome praticamente incontornável da spoken word e, portanto, de uma certa cultura alternativa - também conhecida como "cultura-ou" - é que depois tem de se gramar com públicos que só não são mainstream porque dá mais estilo ser "ou". E depois é o que se vê. Ursula sentiu necessidade de falar muito, mas o público nunca chegou a abrir realmente o canal. Gente a entrar e a sair, a circular pelas coxias, uma energia estranha aliada a um som desequilibrado que prejudicou demasiadas vezes a fruição do jogo entre as palavras e a música e, por último, um Teatro Municipal muito lindo e renovado, cheio de condições mas no qual quem ocupa a segunda plateia tem de gramar com conversas entre arrumadores, gente a entrar UMA HORA depois do espectáculo começado, a ausência de uma mísera cortina para impedir a agressão da luz de cada vez que se abre a porta para o foyer e seguranças, arrumadores e técnicos a entrar e a sair indiscriminadamente, escancarando - e por vezes deixando escancarada - a dita porta. Sempre que estive prestes a levantar vôo agarraram-me as asas. Nada pode ser mais revoltante num concerto assim. Devo dizer: O TEATRO MUNICIPAL DE SÃO LUIZ DEVIA TER VERGONHA!
Mas apesar de tudo, na minha frente esteve aquela mulher com as suas palavras, os seus músicos e o seu filho na barriga. Foi engraçado, numa época em que praticamente toda a gente faz questão de dar nome e identidade aos filhos a partir do momento em que uma máquina permite que se veja o sexo do bébé, ouvi-la apresentar-se: "I'm Ursula Rucker and we don't know who this is yet". Como que dizendo "It really doesn't matter, as far as love is concerned". No veludo da voz, as palavras rudes e doces e rudes novamente, desfiando-se. Os gestos do seu hip-hop muito pessoal - hip hop is not a musical cathegory, it's a culture-, a honestidade, a consciência, a luta, o amor. Se nós ainda fazemos sentido, tudo isto ainda faz sentido.
Querem saber do que falo, vão ao site conhecê-la. Podem ouvir os dois álbuns e ler os textos. A poesia urbana resiste. E bem.
Gostava de conseguir escrever sobre o concerto e nada mais do que o concerto. Mas é impossível. O público era estranho. O grande problema de se tornar um nome praticamente incontornável da spoken word e, portanto, de uma certa cultura alternativa - também conhecida como "cultura-ou" - é que depois tem de se gramar com públicos que só não são mainstream porque dá mais estilo ser "ou". E depois é o que se vê. Ursula sentiu necessidade de falar muito, mas o público nunca chegou a abrir realmente o canal. Gente a entrar e a sair, a circular pelas coxias, uma energia estranha aliada a um som desequilibrado que prejudicou demasiadas vezes a fruição do jogo entre as palavras e a música e, por último, um Teatro Municipal muito lindo e renovado, cheio de condições mas no qual quem ocupa a segunda plateia tem de gramar com conversas entre arrumadores, gente a entrar UMA HORA depois do espectáculo começado, a ausência de uma mísera cortina para impedir a agressão da luz de cada vez que se abre a porta para o foyer e seguranças, arrumadores e técnicos a entrar e a sair indiscriminadamente, escancarando - e por vezes deixando escancarada - a dita porta. Sempre que estive prestes a levantar vôo agarraram-me as asas. Nada pode ser mais revoltante num concerto assim. Devo dizer: O TEATRO MUNICIPAL DE SÃO LUIZ DEVIA TER VERGONHA!
Mas apesar de tudo, na minha frente esteve aquela mulher com as suas palavras, os seus músicos e o seu filho na barriga. Foi engraçado, numa época em que praticamente toda a gente faz questão de dar nome e identidade aos filhos a partir do momento em que uma máquina permite que se veja o sexo do bébé, ouvi-la apresentar-se: "I'm Ursula Rucker and we don't know who this is yet". Como que dizendo "It really doesn't matter, as far as love is concerned". No veludo da voz, as palavras rudes e doces e rudes novamente, desfiando-se. Os gestos do seu hip-hop muito pessoal - hip hop is not a musical cathegory, it's a culture-, a honestidade, a consciência, a luta, o amor. Se nós ainda fazemos sentido, tudo isto ainda faz sentido.
Querem saber do que falo, vão ao site conhecê-la. Podem ouvir os dois álbuns e ler os textos. A poesia urbana resiste. E bem.
sexta-feira, abril 02, 2004
Frase do dia
Se não fossem os problemas que eu tenho, eu era a mulher mais feliz do mundo.
Helena Isabel, numa telenovela da TVI. O argumento deve ser da Lili Caneças.
Se não fossem os problemas que eu tenho, eu era a mulher mais feliz do mundo.
Helena Isabel, numa telenovela da TVI. O argumento deve ser da Lili Caneças.
Crítica ao concerto de ontem, Paixão Segundo S. João, J.S.Bach, Fundação Calouste Gulbenkian
A contralto: estava linda.
A soprano: parecia a Barbie-cantora-lírica.
O público das quintas-feiras na Gulbenkian: é um nojo. Uns são uma cambada de mal educados que passa o concerto inteiro a tossir, a aclarar a garganta e a assoar-se ruidosamente, e os outros não aparecem. É inacreditável: um concerto esgotado há já vários meses tinha apenas 3/4 da sala cheia. Não se compreende esta falta de respeito pelas outras pessoas, aquelas que realmente querem ir ao concerto mas já não podem porque está esgotado. É sempre assim, mas ontem foi escandaloso: muitos, mesmo muitos lugares livres. Fico à espera do dia em que os convidados da Administração e os assinantes de bilhetes para toda a temporada avisem a Gulbenkian de que não podem ir ao concerto, para que esses bilhetes possam ser vendidos. De preferência a pessoas com um pouco mais de respeito pelos músicos e restante público.
A contralto: estava linda.
A soprano: parecia a Barbie-cantora-lírica.
O público das quintas-feiras na Gulbenkian: é um nojo. Uns são uma cambada de mal educados que passa o concerto inteiro a tossir, a aclarar a garganta e a assoar-se ruidosamente, e os outros não aparecem. É inacreditável: um concerto esgotado há já vários meses tinha apenas 3/4 da sala cheia. Não se compreende esta falta de respeito pelas outras pessoas, aquelas que realmente querem ir ao concerto mas já não podem porque está esgotado. É sempre assim, mas ontem foi escandaloso: muitos, mesmo muitos lugares livres. Fico à espera do dia em que os convidados da Administração e os assinantes de bilhetes para toda a temporada avisem a Gulbenkian de que não podem ir ao concerto, para que esses bilhetes possam ser vendidos. De preferência a pessoas com um pouco mais de respeito pelos músicos e restante público.
quinta-feira, abril 01, 2004
Terei ouvido bem?...
Portugal tem um acordo de cooperação militar com a Arábia Saudita, pareceu-me ouvir agora na RTP. Essa exemplar democracia. Esse amigo que, está mais que provado, nada tem ou teve alguma vez a ver com os terroristas com quem não nos passa pela cabeça negociar. Estamos sempre na frente no que toca às boas relações internacionais. Ninguém nos pára!
Mas será que ninguém nos pára?!...
Portugal tem um acordo de cooperação militar com a Arábia Saudita, pareceu-me ouvir agora na RTP. Essa exemplar democracia. Esse amigo que, está mais que provado, nada tem ou teve alguma vez a ver com os terroristas com quem não nos passa pela cabeça negociar. Estamos sempre na frente no que toca às boas relações internacionais. Ninguém nos pára!
Mas será que ninguém nos pára?!...