segunda-feira, maio 30, 2005
Cheira-me que uma casa cheia de gajas vai ser uma alegria...
... e aproveito para dizer que estou apaixonad@ por este disco. Para quem pode [infelizmente não é o meu caso], amanhã, Aula Magna, a não perder. Mesmo.
Bird Gehrl
I am a bird girl now
I've got my heart
Here in my hands now
I've been searching
For my wings some time
I'm gonna be born
Into soon the sky
'Cause I'm a bird girl
And the bird girls go to heaven
I'm a bird girl
And the bird girls can fly
Bird girls can fly
Antony & The Johnsons, I am a bird now
... e aproveito para dizer que estou apaixonad@ por este disco. Para quem pode [infelizmente não é o meu caso], amanhã, Aula Magna, a não perder. Mesmo.
Bird Gehrl
I am a bird girl now
I've got my heart
Here in my hands now
I've been searching
For my wings some time
I'm gonna be born
Into soon the sky
'Cause I'm a bird girl
And the bird girls go to heaven
I'm a bird girl
And the bird girls can fly
Bird girls can fly
Antony & The Johnsons, I am a bird now
Quarto independente
ou
Despedida
Será que vais sentir a minha falta, de mim, que hoje sinto que tão pouco te aproveitei, ainda que bastas vezes em ti tenha respirado? Ainda que longe de ti, o teu usufruto nas raras vezes em que estive em casa ajudou-me a manter a candeia acesa. Sentirás tu a falta deste colchão fino, desta manta, deste neptuno açoriano na parede, das rochas no chão, do bambú solitário, dos livros? Dos mantras? Das almofadas coloridas? Das posturas? De mim?
Enquanto te esvaziava depois da última hora em ti sugada até ao tutano sorri e repeti para mim mesm@, tudo muda, tudo muda. Por ti, quarto de refúgio e de meditação, começa hoje o desagregar de um projecto, de um futuro, e começa a nascer o espaço de três presentes-projectos independentes mas companheiros. Sinto que me despeço fazendo jus à função para que te destinei no primeiro momento em que entrei nesta casa. Terminas este ciclo como espaço de morte e renascimento, zona de passagem, porta independente. Recebe bem a minha amiga. Trata-a bem.
ou
Despedida
Será que vais sentir a minha falta, de mim, que hoje sinto que tão pouco te aproveitei, ainda que bastas vezes em ti tenha respirado? Ainda que longe de ti, o teu usufruto nas raras vezes em que estive em casa ajudou-me a manter a candeia acesa. Sentirás tu a falta deste colchão fino, desta manta, deste neptuno açoriano na parede, das rochas no chão, do bambú solitário, dos livros? Dos mantras? Das almofadas coloridas? Das posturas? De mim?
Enquanto te esvaziava depois da última hora em ti sugada até ao tutano sorri e repeti para mim mesm@, tudo muda, tudo muda. Por ti, quarto de refúgio e de meditação, começa hoje o desagregar de um projecto, de um futuro, e começa a nascer o espaço de três presentes-projectos independentes mas companheiros. Sinto que me despeço fazendo jus à função para que te destinei no primeiro momento em que entrei nesta casa. Terminas este ciclo como espaço de morte e renascimento, zona de passagem, porta independente. Recebe bem a minha amiga. Trata-a bem.
quinta-feira, maio 26, 2005
20 Anos
Ontem recebi um telefonema a convidar-me para integrar o coro que interpretará a 9.ª de Beethoven com a Orquestra Metropolitana de Lisboa em concertos lá para o meio de Junho. Amo aquela música, ouvi-la e cantá-la. Mas à satisfação com que aceitei o convite, seguiu-se o choque [e o riso] e depois a depressão - os primeiros porque o segundo destes concertos será na Figueira da Foz, no Centro de Artes e Espectáculos Pedro Santana Lopes [deve ter sido o local da estreia dos célebres concertos para violino do Chopin]; a depressão porque se trata de concertos comemorativos da adesão de Portugal à UE [ou melhor, à CEE]. 1 de Janeiro de 1986, lembram-se? Vinte anos e milhões e milhões de euros depois, é este o estado em que estamos.
Muito obrigado a todos os nossos dirigentes. Mas especialmente ao seguro e firme D.Sebastião dos porta-moedas:
Roubado ao Miguel
Ontem recebi um telefonema a convidar-me para integrar o coro que interpretará a 9.ª de Beethoven com a Orquestra Metropolitana de Lisboa em concertos lá para o meio de Junho. Amo aquela música, ouvi-la e cantá-la. Mas à satisfação com que aceitei o convite, seguiu-se o choque [e o riso] e depois a depressão - os primeiros porque o segundo destes concertos será na Figueira da Foz, no Centro de Artes e Espectáculos Pedro Santana Lopes [deve ter sido o local da estreia dos célebres concertos para violino do Chopin]; a depressão porque se trata de concertos comemorativos da adesão de Portugal à UE [ou melhor, à CEE]. 1 de Janeiro de 1986, lembram-se? Vinte anos e milhões e milhões de euros depois, é este o estado em que estamos.
Muito obrigado a todos os nossos dirigentes. Mas especialmente ao seguro e firme D.Sebastião dos porta-moedas:
Roubado ao Miguel
Cuidado Casimiro!
Mais um post brilhante do Miguel, seguido de várias réplicas também a ler atentamente. É preciso mesmo pensar a contrapelo, é preciso não acreditar que a política seja uma mera conta de receitas e despesas de mercearia. E é preciso não desistir. Estamos cada vez mais perto do capitalismo selvagem e terceiro-mundista. Levámos o século XX a achar que a liberdade e a igualdade se iam espalhar e solidificar pelo mundo, mas ainda são demasiado frágeis. Muito mais frágeis que a fome de poder, a ganância e a cobardia política. E é por isso que a nossa vida continua, três anos depois, a ser comida pelo papão do défice. É por isso que nos dizem que temos de vomitar o que ainda não comemos enquanto os off-shores, os benefícios na banca e na bolsa, o sigilo bancário a sete chaves guardado são protegidos e nutridos e têm fraldas mudadas com elevo várias vezes ao dia. Não se enganem, meus amigos, só a forma é que é nova, porque há praticamente trinta anos que vivemos assim. E como se não bastasse, agora ainda nos espetam com um D.Sebastião de cara de pau e que solidificou em dez anos o que Portugal é hoje.
Já há mais de dez anos que oiço dizer que a Segurança Social não pode continuar como está, senão "isto" rebenta. Lembro de que já então, o comuna do Mário Castrim fez uma pergunta que eu continuo a repetir até hoje: "Isto", o quê? Os carros de luxo? As casas de luxo? As viagens de luxo? A corrupção? A fuga ao fisco, ou seja, a exploração desenvergonhada do trabalho de toda uma população? A acumulação escandalosa de meia-dúzia de fortunas enquanto a todos os que o têm contado se pede para apertarem o cinto? A mediocridade e a mesquinhez da visão do que é um país? É isso o que rebenta? Pois QUE REBENTE! QUE EXPLUDA!
Até quando vamos engolir estas desculpas esfarrapadas, até quando vamos acreditar que a economia é uma terrível e inexorável força do universo e não uma escolha política? Até quando vamos aceitar de cabeça baixa sermos a massa de escravos que alimenta panças e peidas e luxos? Quando é que vamos perceber o que significa "DeMoCrAcIa"? Já nem é o Big Brother que está a observar-nos, é o próprio D.Ubu. É dar finança, a D.Ubu, dai a finança toda, a D.Ubu. Que não reste nada, que nem um tostão escape - aos rapaces rufias que a vêm buscar -, dai toda a phinança, a D.Ubu!
Cuidado, mas muito cuidado com as imitações...
Mais um post brilhante do Miguel, seguido de várias réplicas também a ler atentamente. É preciso mesmo pensar a contrapelo, é preciso não acreditar que a política seja uma mera conta de receitas e despesas de mercearia. E é preciso não desistir. Estamos cada vez mais perto do capitalismo selvagem e terceiro-mundista. Levámos o século XX a achar que a liberdade e a igualdade se iam espalhar e solidificar pelo mundo, mas ainda são demasiado frágeis. Muito mais frágeis que a fome de poder, a ganância e a cobardia política. E é por isso que a nossa vida continua, três anos depois, a ser comida pelo papão do défice. É por isso que nos dizem que temos de vomitar o que ainda não comemos enquanto os off-shores, os benefícios na banca e na bolsa, o sigilo bancário a sete chaves guardado são protegidos e nutridos e têm fraldas mudadas com elevo várias vezes ao dia. Não se enganem, meus amigos, só a forma é que é nova, porque há praticamente trinta anos que vivemos assim. E como se não bastasse, agora ainda nos espetam com um D.Sebastião de cara de pau e que solidificou em dez anos o que Portugal é hoje.
Já há mais de dez anos que oiço dizer que a Segurança Social não pode continuar como está, senão "isto" rebenta. Lembro de que já então, o comuna do Mário Castrim fez uma pergunta que eu continuo a repetir até hoje: "Isto", o quê? Os carros de luxo? As casas de luxo? As viagens de luxo? A corrupção? A fuga ao fisco, ou seja, a exploração desenvergonhada do trabalho de toda uma população? A acumulação escandalosa de meia-dúzia de fortunas enquanto a todos os que o têm contado se pede para apertarem o cinto? A mediocridade e a mesquinhez da visão do que é um país? É isso o que rebenta? Pois QUE REBENTE! QUE EXPLUDA!
Até quando vamos engolir estas desculpas esfarrapadas, até quando vamos acreditar que a economia é uma terrível e inexorável força do universo e não uma escolha política? Até quando vamos aceitar de cabeça baixa sermos a massa de escravos que alimenta panças e peidas e luxos? Quando é que vamos perceber o que significa "DeMoCrAcIa"? Já nem é o Big Brother que está a observar-nos, é o próprio D.Ubu. É dar finança, a D.Ubu, dai a finança toda, a D.Ubu. Que não reste nada, que nem um tostão escape - aos rapaces rufias que a vêm buscar -, dai toda a phinança, a D.Ubu!
Cuidado, mas muito cuidado com as imitações...
quarta-feira, maio 25, 2005
Bom, se não for eu os homens sedutores ficam injustiçados [e faltam aqui tantos...]
... mas tantos, nem vos passa pela cabeça. É nestas alturas que penso que o mundo é um lugar maravilhoso.
... mas tantos, nem vos passa pela cabeça. É nestas alturas que penso que o mundo é um lugar maravilhoso.
terça-feira, maio 24, 2005
Marcha virtual - dia 19 de Junho
1.º Imprimir um cartaz com dizeres simpáticos em coreano (aconselho os menos experientes a utilizarem os modelos fornecidos pela Greenpeace);
2.º Posar para a foto (com o cartaz);
3.º Enviar a fotografia à Greenpeace, para que seja projectada no dia 19, na Coreia.
(ver instruções em AQUI)
1.º Imprimir um cartaz com dizeres simpáticos em coreano (aconselho os menos experientes a utilizarem os modelos fornecidos pela Greenpeace);
2.º Posar para a foto (com o cartaz);
3.º Enviar a fotografia à Greenpeace, para que seja projectada no dia 19, na Coreia.
(ver instruções em AQUI)
segunda-feira, maio 23, 2005
Eu e os meus momentos no metro, ora com gente ora com papel...
Hoje foi dia de aprender um novo [para mim] e genial [para mim também, claro...] conceito: a Superstição Materialista. Três meses e dezenas de textos de apoio sobre o simbolismo e surrealismo depois, eis que regresso ao senhor Denis de Rougemont e a esta delícia que se chama O Amor e o Ocidente. E estou a adorar o reencontro, oh lá se estou! Em França é tudo superior, em França, no Inverno é fresco, no Verão faz calor, em França...
"Reduziu-se" tudo o que se podia -e um pouco mais- ao instinto sexual "extraviado". O século XIX, no seu conjunto, só se sente feliz quando consegue "reduzir" o superior ao inferior, o espiritual ao material, o significativo ao insignificante. E a isso chama "explicar". Que isso seja, a maior parte das vezes, à custa das piores negações do sentido crítico, não preciso demonstrá-lo aqui em pormenor: disse algures [em Penser avec les mains] que, quanto a mim, essa propensão moderna é o sinal dum ressentimento profundo para com a poesia e toda a actividade criadora em geral -portanto, arriscada- do espírito.
Hoje foi dia de aprender um novo [para mim] e genial [para mim também, claro...] conceito: a Superstição Materialista. Três meses e dezenas de textos de apoio sobre o simbolismo e surrealismo depois, eis que regresso ao senhor Denis de Rougemont e a esta delícia que se chama O Amor e o Ocidente. E estou a adorar o reencontro, oh lá se estou! Em França é tudo superior, em França, no Inverno é fresco, no Verão faz calor, em França...
"Reduziu-se" tudo o que se podia -e um pouco mais- ao instinto sexual "extraviado". O século XIX, no seu conjunto, só se sente feliz quando consegue "reduzir" o superior ao inferior, o espiritual ao material, o significativo ao insignificante. E a isso chama "explicar". Que isso seja, a maior parte das vezes, à custa das piores negações do sentido crítico, não preciso demonstrá-lo aqui em pormenor: disse algures [em Penser avec les mains] que, quanto a mim, essa propensão moderna é o sinal dum ressentimento profundo para com a poesia e toda a actividade criadora em geral -portanto, arriscada- do espírito.
A minha rua
Dobro a última esquina antes de chegar a casa e cruzo-me com um verdadeiro arquétipo romântico de sem-abrigo -cabeludo, bardudo, a cheirar mal, mas muito direito e seguro no caminhar, os olhos claros brilhantes e penetrantes sob a escuridão pilosa e sebosa do rosto-, como que um vencido da vida de cabeça erguida, com ar de quem sabe alguma coisa muito importante que eu não sei. A rafeira preta que vive na minha rua desde que os donos, dois prédios abaixo de mim, deixaram de lhe abrir a porta de casa, tem, descobri hoje, um problema com alguns tipos de pessoa. Perseguia o anacoreta urbano, ladrando furiosamente, conseguindo mesmo pô-lo a correr -divertido, e sempre sem perder a compostura- e a mim no meio da rua a gozar a cena e o enquadramento privilegiado. Logra expulsá-lo do seu território quando um velhote gorducho, de ar triste e também pouco limpo dobra a esquina do convento, imediatamente acima de onde eu estou, e logo a fiel guardiã acomete sobre ele no seu ladrar grave e ressoante. Mais um que já se pirou, este, coitado, não conseguia correr para se livrar daquela voz tonitroante do canino e obstinado juiz da sua higiene pessoal, lá teve de gramar com a farrusquita a ladrar até ao fim da rua. Estava mesmo chateada, ela, quase nem parou para receber as festas e a conversa a que sempre tem direito quando comigo se cruza. Mas compreendo-a. Se eu tivesse, mesmo vivendo na rua, uma coleira ao pescoço e alguém tivesse tido a triste ideia de a ela atar três ou quatro fitas do Senhor do Bonfim -duas delas de um branco resplandescente-, também não andaria no melhor dos meus humores.
-'Tadita da bicha, agora puseram-lhe essas porcarias ao pescoço, parece uma noiva.
Descendo vagarosamente a rua vem uma velhota baixinha, de cabelos brancos e rosto luminoso. É a minha vizinha do 25. Já ia a entrar no prédio, mas respondo-lhe e fico à porta esperando que ela chegue à minha beira. E vai falando, não há direito abandonarem assim um bicho, ela tinha um irmão, mas como tinha o pêlo todo enroladinho alguém já o levou, agora esta... Pois, respondo eu, esta é mais "normal", não é? Eu até a levava, mas dois gatos e uma vida muito fora de casa, era impossível. Ela, pois, eu também não a posso ter em casa, senão... Quem pode, não quer saber, quem quer não pode... E depois de mais alguma conversa de [genuinamente] boa-vizinhança, apresento-me e estendo-lhe a mão e recebo, juntamente com um olhar muito vivo e doce, uma daquelas frases pequeninas e aparentemente banais, como a nossa rafeira:-Gostei muito de falar com @ menin@. E naquele amoroso reconhecimento senti bater todas as portas que se fecharam já na rua antes que a minha vizinha Mabília de Jesus, de cabelos brancos e pernas trôpegas, conseguisse chegar para terminar a conversa que tentara entabular.
Dobro a última esquina antes de chegar a casa e cruzo-me com um verdadeiro arquétipo romântico de sem-abrigo -cabeludo, bardudo, a cheirar mal, mas muito direito e seguro no caminhar, os olhos claros brilhantes e penetrantes sob a escuridão pilosa e sebosa do rosto-, como que um vencido da vida de cabeça erguida, com ar de quem sabe alguma coisa muito importante que eu não sei. A rafeira preta que vive na minha rua desde que os donos, dois prédios abaixo de mim, deixaram de lhe abrir a porta de casa, tem, descobri hoje, um problema com alguns tipos de pessoa. Perseguia o anacoreta urbano, ladrando furiosamente, conseguindo mesmo pô-lo a correr -divertido, e sempre sem perder a compostura- e a mim no meio da rua a gozar a cena e o enquadramento privilegiado. Logra expulsá-lo do seu território quando um velhote gorducho, de ar triste e também pouco limpo dobra a esquina do convento, imediatamente acima de onde eu estou, e logo a fiel guardiã acomete sobre ele no seu ladrar grave e ressoante. Mais um que já se pirou, este, coitado, não conseguia correr para se livrar daquela voz tonitroante do canino e obstinado juiz da sua higiene pessoal, lá teve de gramar com a farrusquita a ladrar até ao fim da rua. Estava mesmo chateada, ela, quase nem parou para receber as festas e a conversa a que sempre tem direito quando comigo se cruza. Mas compreendo-a. Se eu tivesse, mesmo vivendo na rua, uma coleira ao pescoço e alguém tivesse tido a triste ideia de a ela atar três ou quatro fitas do Senhor do Bonfim -duas delas de um branco resplandescente-, também não andaria no melhor dos meus humores.
-'Tadita da bicha, agora puseram-lhe essas porcarias ao pescoço, parece uma noiva.
Descendo vagarosamente a rua vem uma velhota baixinha, de cabelos brancos e rosto luminoso. É a minha vizinha do 25. Já ia a entrar no prédio, mas respondo-lhe e fico à porta esperando que ela chegue à minha beira. E vai falando, não há direito abandonarem assim um bicho, ela tinha um irmão, mas como tinha o pêlo todo enroladinho alguém já o levou, agora esta... Pois, respondo eu, esta é mais "normal", não é? Eu até a levava, mas dois gatos e uma vida muito fora de casa, era impossível. Ela, pois, eu também não a posso ter em casa, senão... Quem pode, não quer saber, quem quer não pode... E depois de mais alguma conversa de [genuinamente] boa-vizinhança, apresento-me e estendo-lhe a mão e recebo, juntamente com um olhar muito vivo e doce, uma daquelas frases pequeninas e aparentemente banais, como a nossa rafeira:-Gostei muito de falar com @ menin@. E naquele amoroso reconhecimento senti bater todas as portas que se fecharam já na rua antes que a minha vizinha Mabília de Jesus, de cabelos brancos e pernas trôpegas, conseguisse chegar para terminar a conversa que tentara entabular.
domingo, maio 22, 2005
Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho
Edgar Degas, Danceuse regardant la plante de son pied droit e Alberto Giacometti, Femme qui marche
Tate Gallery, Londres, 1998
Fotografias de Manel da Truta
Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando, como em sonho.
Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto às vezes, outras m'avergonho.
Que, tornando ante vós, senhora, tal,
Quando m'era mister tant' outr' ajuda,
de que me valerei, se alma não val?
Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.
Sá de Miranda
Edgar Degas, Danceuse regardant la plante de son pied droit e Alberto Giacometti, Femme qui marche
Tate Gallery, Londres, 1998
Fotografias de Manel da Truta
Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando, como em sonho.
Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto às vezes, outras m'avergonho.
Que, tornando ante vós, senhora, tal,
Quando m'era mister tant' outr' ajuda,
de que me valerei, se alma não val?
Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.
Sá de Miranda
4:44 am
Sim, deambulo por aqui a estas horas, depois de um deambular de reconhecimento por Lisboa... a que é minha e a que ainda pode vir a ser.
Dessassogad@, mas feliz.
P.S.
Não sou eu que estou vesg@. Para o Blogger e o seu estranho fuso horário, são 4:24... [suspiro]
Sim, deambulo por aqui a estas horas, depois de um deambular de reconhecimento por Lisboa... a que é minha e a que ainda pode vir a ser.
Dessassogad@, mas feliz.
P.S.
Não sou eu que estou vesg@. Para o Blogger e o seu estranho fuso horário, são 4:24... [suspiro]
sábado, maio 21, 2005
Eu já desconfiava...
... se bem que durante anos estive cert@ de que era, quase de fio a pavio, The Pillow Book do Greenaway. Mas enfim, se pensar bem no assunto, o diagnóstico por extenso deste teste nem seria muito diferente se fosse aquele o resultado... pois, bate certo. Mas eu gostava mesmo de ser era The meaning of life... creio que seria bem mais feliz.
Visto no Ready to act
... se bem que durante anos estive cert@ de que era, quase de fio a pavio, The Pillow Book do Greenaway. Mas enfim, se pensar bem no assunto, o diagnóstico por extenso deste teste nem seria muito diferente se fosse aquele o resultado... pois, bate certo. Mas eu gostava mesmo de ser era The meaning of life... creio que seria bem mais feliz.
Visto no Ready to act
sexta-feira, maio 20, 2005
Mais um texto a ler com toda a atenção...
... vindo ao sabor dos tempos que vão correndo. A ler urgentemente, a divulgar até. Brilhante desmontagem da suposta rebeldia da "nova direita". Com a limpeza a que o Miguel já nos habituou.
... vindo ao sabor dos tempos que vão correndo. A ler urgentemente, a divulgar até. Brilhante desmontagem da suposta rebeldia da "nova direita". Com a limpeza a que o Miguel já nos habituou.
Para o Pedro
Sem receitas, amiguinho, mas com paciência, isso vai. E with a little help from your friends. Abraço forte para ti.
Ó senhor da loja
já que a vida é curta
diga-me lá, se souber
quantos metros tem a dor
E já que ainda por cima
a vida é pesada
diga-me lá, se puder
quantos quilos tem o amor
E já que a paciência
tem os seus limites
diga-me lá quantos são
que é p'ra eu saber se espero ou não
quando for desesperar
Já que a vida é curta
e o futuro, diz que está aqui já
(sei lá)
já que o futuro vêm
em peças separadas p'ra montar
(ah! ah! ah! ah!)
antes que se esgote
reserve desde já o seu exemplar
Caramba
está-se p'raqui a dançar na corda bamba
sem se saber para que lado é que se cai
nem com que pé é que se samba
Ó senhor da loja
já que a vida é bela
diga-me lá se souber
em que espelho a devo olhar
Mas se por outro lado
diz que a vida é dura
arranje-me aí, se tiver
um capacete p'ra eu marrar
E já que a vida é feita
de pequenos nadas
guarde-me aí quatro ou cinco
que é p'ra quando for domingo
eu os poder saborear
Já que a vida é curta
e o futuro, diz que está aqui já
(sei lá)
já que o futuro vêm
em peças separadas p'ra montar
(ah! ah! ah! ah!)
antes que se esgote
reserve desde já o seu exemplar
Caramba
está-se p'raqui a dançar na corda bamba
sem se saber para que lado é que se cai
nem com que pé é que se samba
Ó senhor da loja
já que a vida é breve
arranje-me aí os ponteiros
dum relógio que atrasar
E já que no fundo
vai tudo dar ao mesmo
diga-me se o mesmo é mesmo
tudo o que ainda vai mudar
E já que é preciso
deitar contas à vida
desconte-me aí os meses
em que apenas fiz às vezes
doutro que não era eu
Sérgio Godinho, Caramba, Canto da Boca, 1981
Sem receitas, amiguinho, mas com paciência, isso vai. E with a little help from your friends. Abraço forte para ti.
Ó senhor da loja
já que a vida é curta
diga-me lá, se souber
quantos metros tem a dor
E já que ainda por cima
a vida é pesada
diga-me lá, se puder
quantos quilos tem o amor
E já que a paciência
tem os seus limites
diga-me lá quantos são
que é p'ra eu saber se espero ou não
quando for desesperar
Já que a vida é curta
e o futuro, diz que está aqui já
(sei lá)
já que o futuro vêm
em peças separadas p'ra montar
(ah! ah! ah! ah!)
antes que se esgote
reserve desde já o seu exemplar
Caramba
está-se p'raqui a dançar na corda bamba
sem se saber para que lado é que se cai
nem com que pé é que se samba
Ó senhor da loja
já que a vida é bela
diga-me lá se souber
em que espelho a devo olhar
Mas se por outro lado
diz que a vida é dura
arranje-me aí, se tiver
um capacete p'ra eu marrar
E já que a vida é feita
de pequenos nadas
guarde-me aí quatro ou cinco
que é p'ra quando for domingo
eu os poder saborear
Já que a vida é curta
e o futuro, diz que está aqui já
(sei lá)
já que o futuro vêm
em peças separadas p'ra montar
(ah! ah! ah! ah!)
antes que se esgote
reserve desde já o seu exemplar
Caramba
está-se p'raqui a dançar na corda bamba
sem se saber para que lado é que se cai
nem com que pé é que se samba
Ó senhor da loja
já que a vida é breve
arranje-me aí os ponteiros
dum relógio que atrasar
E já que no fundo
vai tudo dar ao mesmo
diga-me se o mesmo é mesmo
tudo o que ainda vai mudar
E já que é preciso
deitar contas à vida
desconte-me aí os meses
em que apenas fiz às vezes
doutro que não era eu
Sérgio Godinho, Caramba, Canto da Boca, 1981
Ai, o Metro, o Metro...
Entro no Marquês e encosto-me perto da porta a ler o jornal. As portas cerram, o comboio arranca e oiço um silvo acompanhando a progressão da velocidade. Parecia mesmo uma voz, masculina, adulta. Não... estou a alucinar. Alguma borracha de alguma porta deve ter um escape de ar, uma coisa qualquer. Que homem adulto poderia estar a fazer estas figuras? Esquece... Esqueço. Picoas. Passageiros entram e alguns levantam-se para sair no Saldanha. Entre eles está um homem alto, não propriamente gordo, mas grande, de cabelos alourados e pele tisnada. Coloca-se a meu lado, frente à porta que se fecha. E ao arrancar do comboio lá oiço aquele estranho uivo, nitidamente humano. Olho discretamente, primeiro para ele, depois em frente onde alguns passageiros arregalam os olhos e uma moça procura o meu olhar de reconhecimento na gargalhada que não consegue reprimir. Eu estou demasiado perto da caldeira, e bom, o gajo é grande e pode não achar graça. Enfio o nariz no Inimigo Público e vou gerindo o riso tentando não olhar para a minha compincha de paródia enquanto -pouf, pouf, pouf, pouf.... pouf........ pouf......... shhhhhhhhhh- a composição pára e a locomotiva vai bufar para outra freguesia. Finalmente rimos sem pejo, enquanto os outros passageiros mantêm os seus olhos arregalados e o queixo caído. As portas fecharam-se. Ela olhou pela janela e eu para o meu jornal. O que ela não ouviu foi que ao meu lado, junto à porta, tomara a ribalta uma senhora de ar respeitável e doméstico que foi murmurando canções numa vozinha pequenina e esganiçadinha até à estação seguinte.
Entro no Marquês e encosto-me perto da porta a ler o jornal. As portas cerram, o comboio arranca e oiço um silvo acompanhando a progressão da velocidade. Parecia mesmo uma voz, masculina, adulta. Não... estou a alucinar. Alguma borracha de alguma porta deve ter um escape de ar, uma coisa qualquer. Que homem adulto poderia estar a fazer estas figuras? Esquece... Esqueço. Picoas. Passageiros entram e alguns levantam-se para sair no Saldanha. Entre eles está um homem alto, não propriamente gordo, mas grande, de cabelos alourados e pele tisnada. Coloca-se a meu lado, frente à porta que se fecha. E ao arrancar do comboio lá oiço aquele estranho uivo, nitidamente humano. Olho discretamente, primeiro para ele, depois em frente onde alguns passageiros arregalam os olhos e uma moça procura o meu olhar de reconhecimento na gargalhada que não consegue reprimir. Eu estou demasiado perto da caldeira, e bom, o gajo é grande e pode não achar graça. Enfio o nariz no Inimigo Público e vou gerindo o riso tentando não olhar para a minha compincha de paródia enquanto -pouf, pouf, pouf, pouf.... pouf........ pouf......... shhhhhhhhhh- a composição pára e a locomotiva vai bufar para outra freguesia. Finalmente rimos sem pejo, enquanto os outros passageiros mantêm os seus olhos arregalados e o queixo caído. As portas fecharam-se. Ela olhou pela janela e eu para o meu jornal. O que ela não ouviu foi que ao meu lado, junto à porta, tomara a ribalta uma senhora de ar respeitável e doméstico que foi murmurando canções numa vozinha pequenina e esganiçadinha até à estação seguinte.
Isto não é um recital de poesia
Amanhã às 23h30, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de São Luiz, Bernardo Soares convoca Nuno Artur Silva, Sérgio Godinho, João Reis, Cristina Carvalhal, Joana Manuel e António Jorge Gonçalves, bem como Fernando Pessoa e outros pares, para um serão de desassossego e inquietude. Todos os desassossegados -em maior ou menor grau- serão bem-vindos.
Amanhã às 23h30, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de São Luiz, Bernardo Soares convoca Nuno Artur Silva, Sérgio Godinho, João Reis, Cristina Carvalhal, Joana Manuel e António Jorge Gonçalves, bem como Fernando Pessoa e outros pares, para um serão de desassossego e inquietude. Todos os desassossegados -em maior ou menor grau- serão bem-vindos.
quinta-feira, maio 19, 2005
Dez mandamentos para alguns concidadãos arranjarem uma vida e pararem de querer telecomandar as pilinhas e os pipis dos nossos jovens
Eu ia escrever sobre essa linda petição que anda circular e que protesta contra a educação sexual nas escolas [com especial ênfase na maldita masturbação, que como toda a gente sabe mata bébés que poderiam ter sido - a não ser que o paizinho descobrisse, aí a tua garina ia direitinha com o paizinho até Badajoz -, como, é facto tão comprovado como o aborto provocar cancro da mama, nos deixa assim meio tripados e condena-nos mais cedo ou mais tarde a abrir uma gabardine encardida pás miúdas nos túneis... mas falta-me qualquer coisa, espera... ah, é verdade, e vamos para o inferno]. Mas face a este brilhante, inspirado e espiritualíssimo decálogo do Miguel, e para além destas alarvidadezitas que já escrevi, até me sinto em heresia se algo me atrever a acrescentar-lhe. Ide, senhores, e contemplai a luz!
Eu ia escrever sobre essa linda petição que anda circular e que protesta contra a educação sexual nas escolas [com especial ênfase na maldita masturbação, que como toda a gente sabe mata bébés que poderiam ter sido - a não ser que o paizinho descobrisse, aí a tua garina ia direitinha com o paizinho até Badajoz -, como, é facto tão comprovado como o aborto provocar cancro da mama, nos deixa assim meio tripados e condena-nos mais cedo ou mais tarde a abrir uma gabardine encardida pás miúdas nos túneis... mas falta-me qualquer coisa, espera... ah, é verdade, e vamos para o inferno]. Mas face a este brilhante, inspirado e espiritualíssimo decálogo do Miguel, e para além destas alarvidadezitas que já escrevi, até me sinto em heresia se algo me atrever a acrescentar-lhe. Ide, senhores, e contemplai a luz!
quarta-feira, maio 18, 2005
Um apelo à coragem do governo...
... agora já em petição organizada na net. Pelo direito a optar. Pelo direito ao corpo. Contra a ditadura das moralidades pretensamente superiores, contra a repressão sexual e reprodutiva das mulheres. Pela aprovação legislativa de uma lei que não podia nunca ter sido referendada. Assinem.
... agora já em petição organizada na net. Pelo direito a optar. Pelo direito ao corpo. Contra a ditadura das moralidades pretensamente superiores, contra a repressão sexual e reprodutiva das mulheres. Pela aprovação legislativa de uma lei que não podia nunca ter sido referendada. Assinem.
terça-feira, maio 17, 2005
segunda-feira, maio 16, 2005
IVG: afinal, o que é que está em causa?
Por falta de tempo postei sem explicações de maior a carta aberta que recebi por e-mail de uma ex-colega de faculdade e actual funcionária do PCP exigindo a legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez por via parlamentar. Apenas o Z. se sentiu desafiado para o debate acerca do que pretende esta carta. Apenas e infelizmente, pois parece-me ser um debate bem pertinente neste ponto de bloqueio a que chegámos.
Temos discutido nos salmonetes, mas decidi novamente esclarecer aqui os meus pontos de vista. Primeiro porque o Haloscan tem as suas limitações. Segundo porque nos tempos de seca que correm, não se pode desperdiçar uma boa desova. E terceiro, porque o último comentário do Z. pega num ponto que me interessa, e muito, refutar.
Comecemos então pelo referendo. Penso que muitos estarão de acordo que todo este processo não passa de uma patética e criminosa forma de passar ao largo dos tempos, dos direitos e do inevitável. O bloqueio a que assistimos hoje, sem qualquer trabalho por parte da direita, que nada teve de boicotar para chegarmos onde estamos, nasce do monstruoso erro em que o governo de Guterres incorreu ao avançar para o referendo. Nasce do erro colossal do maior partido da “esquerda” ao aceitar que se referendasse uma matéria de saúde pública, direitos humanos e cidadania. Mas tem um renascimento na última campanha eleitoral, em que o PS de Sócrates não teve coragem de assumir a legalização da IVG por via parlamentar como ponto de honra no seu programa – levando atrás de si um Bloco cheio de boas intenções no que toca à calendarização de novo referendo e consequente desbloqueio desta situação quase burlesca [ainda assim levaram o meu voto, mas não me convencem de que esta foi a melhor estratégia]. Pesando embora as divergências no que toca à interpretação do último referendo, penso que até nessa leitura faltou coragem à esquerda: devia ter-se lutado pelo não acatamento do resultado, pela clarificação do seu carácter não-vinculativo. O resultado do referendo à legalização da IVG foi a renúncia à decisão por parte dos eleitores. Para mim, e como disse já nos salmonetes, isto significa que o poder está novamente nas mãos dos deputados. Daí ser tão importante a coragem do PS. Daí ser tão dramática a sua ausência.
Dizem-me que ignorar o referendo de má-memória seria um desvirtuamento da democracia. Pois eu respondo que a democracia não se esgota em procedimentos políticos. E com um copy-paste dos salmonetes explico-me já: para mim é muito claro que o actual estado de coisas desvirtua muito, mas muito mais, a democracia do que o não respeito por um referendo em que os eleitores não quiseram decidir. A democracia não é uma ditadura das maiorias, muito menos das minorias e ainda menos é uma mera linha de funcionamento institucional e formal. Ou melhor, não deveria ser, que a nossa, infelizmente, tem mostrado pouco mais que isso. Uma verdadeira democracia jamais deveria referendar uma questão como esta. Mas chegando a onde chegámos, e uma vez que o PS não teve coragem para fazer o que devia – referendar a legalização da IVG nas legislativas, como parte integrante do seu programa de governo -, resta-me[nos], continuar a lutar contra esta situação inominável e fétida. E contra o referendo. Se e quando ele for facto consumado, então lutarei pelo SIM.
Mas deixa o Z., a talhe de foice, no seu último salmonete: No entanto, faço-te notar que a razão de ser de toda a argumentação contra a IVG se baseia precisamente na delimitação do que é o teu corpo e do que passa a ser corpo alheio. Essa é a verdadeira natureza do debate sobre a IVG e não podes dar o assunto por encerrado porque, efectivamente, não está. As pessoas que acreditam que um feto é um ser humano estão a defender a mesmíssima coisa que tu defenderias quanto à pena de morte ou às penas de Talião.
Não, caro Z., não é essa a razão, mas antes a falácia. O que está em causa não é o que cada um pensa sobre o início do que se pode chamar vida humana. O que está em causa é o que cada um pensa sobre a mulher. Porque, e aí não há debate possível, a ciência não consegue especificar mais do que o famoso intervalo entre as 12 e as 24 semanas [e trata-se, de momento, da legalização até às dez semanas com excepções clínicas até às dezasseis]- e isso está bem patente no teu discurso quando falas nas "pessoas que acreditam que um feto é um ser humano". É aí, no acreditar, que reside o engulho. Porque todas as conclusões, moralizações ou efabulações são e devem ser de âmbito pessoal. Porque ninguém pode saber. E se ninguém pode saber, isto coloca-nos um dilema de muito clara resolução: o que é mais importante, os moralismos e a imposição de uma crença e de uma visão pessoal e/ou comunitária, ou o direito de uma cidadã a tomar decisões sobre o seu próprio útero e sobre os nove meses subsequentes da sua vida? Não é o direito do feto que está em causa. É o conceito de mulher. E é precisamente por isso que prefiro a expressão Interrupção Voluntária da Gravidez ou IVG ao vulgar Aborto. Porque o que está em causa não é o abortar de qualquer coisa. É o direito da mulher a decidir interromper algo que se passa dentro do seu corpo e tem repercussões irreversíveis sobre a sua vida. E é isto que é preciso frisar. É isto, diria mesmo, que é preciso desmascarar.
E porque isto anda mesmo tudo ligado, deixo eu também o meu talhe de foice: é urgente assinar a petição pelo Dia Internacional Contra a Homofobia [digo isto, mas espero que a ausência de comentários não releve da ausência de atenção ou intenção] e abraçar esta luta, porque, como se pode ler no final dessa bela página que se chama I’m no lady…
A homossexualidade é um produto de uma forma particular de imposição de papéis (ou padrões aceitáveis) de comportamento baseados no sexo; desta forma é uma categoria inautêntica (e não consoante a "realidade"). Numa sociedade em que os homens não oprimam as mulheres, e que à expressão sexual seja permitido expressar sentimentos, as categorias da homossexualidade e da heterossexualidade desaparecerão. Miriam Schneir,Feminism in Our Time: The Essential Writing, World War II to the Present
Porque os direitos humanos e cívicos têm razões que o referendo desconhece. E isto anda mesmo tudo ligado...
Por falta de tempo postei sem explicações de maior a carta aberta que recebi por e-mail de uma ex-colega de faculdade e actual funcionária do PCP exigindo a legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez por via parlamentar. Apenas o Z. se sentiu desafiado para o debate acerca do que pretende esta carta. Apenas e infelizmente, pois parece-me ser um debate bem pertinente neste ponto de bloqueio a que chegámos.
Temos discutido nos salmonetes, mas decidi novamente esclarecer aqui os meus pontos de vista. Primeiro porque o Haloscan tem as suas limitações. Segundo porque nos tempos de seca que correm, não se pode desperdiçar uma boa desova. E terceiro, porque o último comentário do Z. pega num ponto que me interessa, e muito, refutar.
Comecemos então pelo referendo. Penso que muitos estarão de acordo que todo este processo não passa de uma patética e criminosa forma de passar ao largo dos tempos, dos direitos e do inevitável. O bloqueio a que assistimos hoje, sem qualquer trabalho por parte da direita, que nada teve de boicotar para chegarmos onde estamos, nasce do monstruoso erro em que o governo de Guterres incorreu ao avançar para o referendo. Nasce do erro colossal do maior partido da “esquerda” ao aceitar que se referendasse uma matéria de saúde pública, direitos humanos e cidadania. Mas tem um renascimento na última campanha eleitoral, em que o PS de Sócrates não teve coragem de assumir a legalização da IVG por via parlamentar como ponto de honra no seu programa – levando atrás de si um Bloco cheio de boas intenções no que toca à calendarização de novo referendo e consequente desbloqueio desta situação quase burlesca [ainda assim levaram o meu voto, mas não me convencem de que esta foi a melhor estratégia]. Pesando embora as divergências no que toca à interpretação do último referendo, penso que até nessa leitura faltou coragem à esquerda: devia ter-se lutado pelo não acatamento do resultado, pela clarificação do seu carácter não-vinculativo. O resultado do referendo à legalização da IVG foi a renúncia à decisão por parte dos eleitores. Para mim, e como disse já nos salmonetes, isto significa que o poder está novamente nas mãos dos deputados. Daí ser tão importante a coragem do PS. Daí ser tão dramática a sua ausência.
Dizem-me que ignorar o referendo de má-memória seria um desvirtuamento da democracia. Pois eu respondo que a democracia não se esgota em procedimentos políticos. E com um copy-paste dos salmonetes explico-me já: para mim é muito claro que o actual estado de coisas desvirtua muito, mas muito mais, a democracia do que o não respeito por um referendo em que os eleitores não quiseram decidir. A democracia não é uma ditadura das maiorias, muito menos das minorias e ainda menos é uma mera linha de funcionamento institucional e formal. Ou melhor, não deveria ser, que a nossa, infelizmente, tem mostrado pouco mais que isso. Uma verdadeira democracia jamais deveria referendar uma questão como esta. Mas chegando a onde chegámos, e uma vez que o PS não teve coragem para fazer o que devia – referendar a legalização da IVG nas legislativas, como parte integrante do seu programa de governo -, resta-me[nos], continuar a lutar contra esta situação inominável e fétida. E contra o referendo. Se e quando ele for facto consumado, então lutarei pelo SIM.
Mas deixa o Z., a talhe de foice, no seu último salmonete: No entanto, faço-te notar que a razão de ser de toda a argumentação contra a IVG se baseia precisamente na delimitação do que é o teu corpo e do que passa a ser corpo alheio. Essa é a verdadeira natureza do debate sobre a IVG e não podes dar o assunto por encerrado porque, efectivamente, não está. As pessoas que acreditam que um feto é um ser humano estão a defender a mesmíssima coisa que tu defenderias quanto à pena de morte ou às penas de Talião.
Não, caro Z., não é essa a razão, mas antes a falácia. O que está em causa não é o que cada um pensa sobre o início do que se pode chamar vida humana. O que está em causa é o que cada um pensa sobre a mulher. Porque, e aí não há debate possível, a ciência não consegue especificar mais do que o famoso intervalo entre as 12 e as 24 semanas [e trata-se, de momento, da legalização até às dez semanas com excepções clínicas até às dezasseis]- e isso está bem patente no teu discurso quando falas nas "pessoas que acreditam que um feto é um ser humano". É aí, no acreditar, que reside o engulho. Porque todas as conclusões, moralizações ou efabulações são e devem ser de âmbito pessoal. Porque ninguém pode saber. E se ninguém pode saber, isto coloca-nos um dilema de muito clara resolução: o que é mais importante, os moralismos e a imposição de uma crença e de uma visão pessoal e/ou comunitária, ou o direito de uma cidadã a tomar decisões sobre o seu próprio útero e sobre os nove meses subsequentes da sua vida? Não é o direito do feto que está em causa. É o conceito de mulher. E é precisamente por isso que prefiro a expressão Interrupção Voluntária da Gravidez ou IVG ao vulgar Aborto. Porque o que está em causa não é o abortar de qualquer coisa. É o direito da mulher a decidir interromper algo que se passa dentro do seu corpo e tem repercussões irreversíveis sobre a sua vida. E é isto que é preciso frisar. É isto, diria mesmo, que é preciso desmascarar.
E porque isto anda mesmo tudo ligado, deixo eu também o meu talhe de foice: é urgente assinar a petição pelo Dia Internacional Contra a Homofobia [digo isto, mas espero que a ausência de comentários não releve da ausência de atenção ou intenção] e abraçar esta luta, porque, como se pode ler no final dessa bela página que se chama I’m no lady…
A homossexualidade é um produto de uma forma particular de imposição de papéis (ou padrões aceitáveis) de comportamento baseados no sexo; desta forma é uma categoria inautêntica (e não consoante a "realidade"). Numa sociedade em que os homens não oprimam as mulheres, e que à expressão sexual seja permitido expressar sentimentos, as categorias da homossexualidade e da heterossexualidade desaparecerão. Miriam Schneir,Feminism in Our Time: The Essential Writing, World War II to the Present
Porque os direitos humanos e cívicos têm razões que o referendo desconhece. E isto anda mesmo tudo ligado...
Amanhã, 17 de Maio, Dia de Luta Contra a Homofobia, o único requisito é não ficar em casa
Programação e linque, tudo sacado ao meu noivo João
14h50 - 17h30
Curta-metragem, Mesa de Debate e Documentário na FNAC Chiado
Auditório Fnac Chiado Armazéns do Chiado Rua Nova do Almada, 110 Lojas 1.07, 2.02, 3.02, 4.07 e 5.13 1150-182 Lisboa Tel: + (351) 21 322 18 00 Estação de Metro | Underground: Baixa/Chiado Entrada Livre
14H50 – Exibição de curta-metragem de animação do “Sponge Bob”
O desenho animado Sponge Bob foi recentemente vítima da direita conservadora norte-americana que questionou a sexualidade desta simpática esponja, que vive no fundo do mar, em Bikini Bottom, junto do seu inseparável amigo Patrick, uma estrela-do-mar cor-de-rosa. O propósito deste ataque homofóbico surgiu da inclusão de Sponge Bob num vídeo a ser transmitido nas escolas norte-americanas onde um conjunto de conhecidos desenhos animados recria a canção “We are Family”. A direita conservadora entendeu que Sponge Bob deveria ser excluído desse clip por não passar uma imagem positiva às crianças, dada a sua presumível homossexualidade…
15h00 – Debate "A homofobia à portuguesa"
O debate centrar-se-á nas diversas dimensões que a homofobia tem em particular em Portugal, nomeadamente teológicas, jurídicas, médicas, políticas, sociais e culturais. Perante uma sociedade que aposta numa educação para a cidadania, não será o debate público o lugar privilegiado para expor e desfazer muitos preconceitos? Não será mais eficaz a luta contra a homofobia, nomeadamente ao nível político, se for permitido ao grupo “tomar o poder”, em vez de vitimizar ou proteger os seus membros?
Moderado pelo Prof. Doutor Fernando Cascais, o debate contará, entre outros convidados, com Celso Júnior (Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa), Sérgio Vitorino (Panteras Rosa), e representantes do PS e do BE.
16h30 – Ante-estreia do Documentário “The Tasty Bust Reunion” (Austrália, 2003, 52’; Realização: Stephen Maclean)
Descrito como o Stonewall Australiano, este documentário relata os eventos ocorridos em 1994, na discoteca Tasty, de Melbourne, numa noite em que 463 clientes ficaram brutalmente reféns da polícia durante horas, obrigados a despirem-se perante as autoridades e examinados com luvas de borracha, num acto que se viria a provar como cruelmente homofóbico. Os clientes do Tasty levaram posteriormente a cabo um acto judicial contra a polícia do Condado de Victoria, acabando por vencer, naquele que se tornou num caso histórico e exemplar na Austrália. Este excelente, rigoroso e, por vezes, bem-humorado documentário faz parte da programação do 9º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, e é aqui apresentado em antestreia, a propósito do Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia.
Organização: Associação Cultural Janela Indiscreta em parceria com a Associação ILGA Portugal e as Panteras Rosa – Frente de Combate à Homofobia Apoio: FNAC, Storm Productions, Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa.
21h
Homofobia Explícita: projecção no Largo Camões de vídeos de violência homófoba
Projecção de imagens violentas de ataques homófobos a Marchas Pride em Belgrado, Cracóvia e Zagreb: a homofobia visível no espaço público na Europa tornada visível no espaço público em Portugal.
Organização: Associação ILGA Portugal
Apoio: Junta de Freguesia da Encarnação
Programação e linque, tudo sacado ao meu noivo João
14h50 - 17h30
Curta-metragem, Mesa de Debate e Documentário na FNAC Chiado
Auditório Fnac Chiado Armazéns do Chiado Rua Nova do Almada, 110 Lojas 1.07, 2.02, 3.02, 4.07 e 5.13 1150-182 Lisboa Tel: + (351) 21 322 18 00 Estação de Metro | Underground: Baixa/Chiado Entrada Livre
14H50 – Exibição de curta-metragem de animação do “Sponge Bob”
O desenho animado Sponge Bob foi recentemente vítima da direita conservadora norte-americana que questionou a sexualidade desta simpática esponja, que vive no fundo do mar, em Bikini Bottom, junto do seu inseparável amigo Patrick, uma estrela-do-mar cor-de-rosa. O propósito deste ataque homofóbico surgiu da inclusão de Sponge Bob num vídeo a ser transmitido nas escolas norte-americanas onde um conjunto de conhecidos desenhos animados recria a canção “We are Family”. A direita conservadora entendeu que Sponge Bob deveria ser excluído desse clip por não passar uma imagem positiva às crianças, dada a sua presumível homossexualidade…
15h00 – Debate "A homofobia à portuguesa"
O debate centrar-se-á nas diversas dimensões que a homofobia tem em particular em Portugal, nomeadamente teológicas, jurídicas, médicas, políticas, sociais e culturais. Perante uma sociedade que aposta numa educação para a cidadania, não será o debate público o lugar privilegiado para expor e desfazer muitos preconceitos? Não será mais eficaz a luta contra a homofobia, nomeadamente ao nível político, se for permitido ao grupo “tomar o poder”, em vez de vitimizar ou proteger os seus membros?
Moderado pelo Prof. Doutor Fernando Cascais, o debate contará, entre outros convidados, com Celso Júnior (Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa), Sérgio Vitorino (Panteras Rosa), e representantes do PS e do BE.
16h30 – Ante-estreia do Documentário “The Tasty Bust Reunion” (Austrália, 2003, 52’; Realização: Stephen Maclean)
Descrito como o Stonewall Australiano, este documentário relata os eventos ocorridos em 1994, na discoteca Tasty, de Melbourne, numa noite em que 463 clientes ficaram brutalmente reféns da polícia durante horas, obrigados a despirem-se perante as autoridades e examinados com luvas de borracha, num acto que se viria a provar como cruelmente homofóbico. Os clientes do Tasty levaram posteriormente a cabo um acto judicial contra a polícia do Condado de Victoria, acabando por vencer, naquele que se tornou num caso histórico e exemplar na Austrália. Este excelente, rigoroso e, por vezes, bem-humorado documentário faz parte da programação do 9º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, e é aqui apresentado em antestreia, a propósito do Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia.
Organização: Associação Cultural Janela Indiscreta em parceria com a Associação ILGA Portugal e as Panteras Rosa – Frente de Combate à Homofobia Apoio: FNAC, Storm Productions, Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa.
21h
Homofobia Explícita: projecção no Largo Camões de vídeos de violência homófoba
Projecção de imagens violentas de ataques homófobos a Marchas Pride em Belgrado, Cracóvia e Zagreb: a homofobia visível no espaço público na Europa tornada visível no espaço público em Portugal.
Organização: Associação ILGA Portugal
Apoio: Junta de Freguesia da Encarnação
domingo, maio 15, 2005
E isto anda tudo ligado, portanto,...
...têm dois dias para assinar a petição pela institucionalização do Dia Internacional Contra a Homofobia.
Tudo vergonhosamente roubado ao Cacaoccino
...têm dois dias para assinar a petição pela institucionalização do Dia Internacional Contra a Homofobia.
Tudo vergonhosamente roubado ao Cacaoccino
Carta Aberta ao Secretário-Geral do Partido Socialista, ao Presidente e deputados(as) do seu Grupo Parlamentar
Um Apelo à coragem:
Aprovar a lei de despenalização do aborto até 28 de
Junho de 2005
Os/as cidadãos(ãs) abaixo-assinados recordam que do
debate parlamentar realizado no passado dia 20 de
Abril resultaram duas decisões: a proposta de
realização de um referendo, que o Presidente da
República considerou não estarem reunidas as condições
necessárias para a sua realização, e a aprovação de um
Projecto-lei do Partido Socialista que contou com os
votos favoráveis de uma larga maioria de deputados dos
partidos que defendem a despenalização do aborto.
Os/as cidadãos(ãs) abaixo-assinados assumiram, até ao
momento, posições distintas sobre o modo de proceder à
alteração do actual quadro legal.
Decidem, contudo, neste momento, concentrar esforços
num forte apelo à coragem do Partido Socialista que
permita suspender um complexo processo, tendo em vista
a tentativa de realização de um Referendo que, na
prática, se salda por novos adiamentos e inquietantes
incertezas quanto à alteração do actual quadro legal.
Decidem, por isso, apelar ao Secretário-Geral do
Partido Socialista, ao Presidente e deputados(as) do
seu grupo parlamentar para que accionem o processo
legislativo conducente à discussão e aprovação, até ao
próximo dia 28 de Junho, de uma nova lei de
despenalização do aborto (incorporando propostas dos
projectos do PCP, BE, PEV), estabelecendo assim como
únicas prioridades o fim da perseguição de mulheres e
a garantia de condições à realização de uma
interrupção voluntária da gravidez em condições de
segurança.
[suspiro] Mais uma corrida, maaaaaais uma viagem. É copiar, assinar individualmente ou aos molhos e concentrar respostas em f.mateus@pcp.pt. As mulheres deste país e a democracia agradecem.
Um Apelo à coragem:
Aprovar a lei de despenalização do aborto até 28 de
Junho de 2005
Os/as cidadãos(ãs) abaixo-assinados recordam que do
debate parlamentar realizado no passado dia 20 de
Abril resultaram duas decisões: a proposta de
realização de um referendo, que o Presidente da
República considerou não estarem reunidas as condições
necessárias para a sua realização, e a aprovação de um
Projecto-lei do Partido Socialista que contou com os
votos favoráveis de uma larga maioria de deputados dos
partidos que defendem a despenalização do aborto.
Os/as cidadãos(ãs) abaixo-assinados assumiram, até ao
momento, posições distintas sobre o modo de proceder à
alteração do actual quadro legal.
Decidem, contudo, neste momento, concentrar esforços
num forte apelo à coragem do Partido Socialista que
permita suspender um complexo processo, tendo em vista
a tentativa de realização de um Referendo que, na
prática, se salda por novos adiamentos e inquietantes
incertezas quanto à alteração do actual quadro legal.
Decidem, por isso, apelar ao Secretário-Geral do
Partido Socialista, ao Presidente e deputados(as) do
seu grupo parlamentar para que accionem o processo
legislativo conducente à discussão e aprovação, até ao
próximo dia 28 de Junho, de uma nova lei de
despenalização do aborto (incorporando propostas dos
projectos do PCP, BE, PEV), estabelecendo assim como
únicas prioridades o fim da perseguição de mulheres e
a garantia de condições à realização de uma
interrupção voluntária da gravidez em condições de
segurança.
[suspiro] Mais uma corrida, maaaaaais uma viagem. É copiar, assinar individualmente ou aos molhos e concentrar respostas em f.mateus@pcp.pt. As mulheres deste país e a democracia agradecem.
quinta-feira, maio 12, 2005
Às vezes ainda me conseguem espantar...
"Matar uma criança no seio materno é mais violento que matar uma criança de cinco anos".
Não fosse a frase já inqualificável, por si, ainda teve de ser proferida pelo padre Domingos Oliveira, da paróquia de Lordelo do Ouro, durante a missa de sétimo dia de Vanessa Pereira, a menina de cinco anos que morreu vítima da brutalidade dos seus familiares, no Porto.
Não contente, este padre tentou explicar que «uma criança no ventre da mãe "não se pode defender" de qualquer agressão, enquanto "uma criança de cinco anos pode reagir, pode chorar, queixar-se"».
Apropriado ao caso da Vanessa, portanto.
"Matar uma criança no seio materno é mais violento que matar uma criança de cinco anos".
Não fosse a frase já inqualificável, por si, ainda teve de ser proferida pelo padre Domingos Oliveira, da paróquia de Lordelo do Ouro, durante a missa de sétimo dia de Vanessa Pereira, a menina de cinco anos que morreu vítima da brutalidade dos seus familiares, no Porto.
Não contente, este padre tentou explicar que «uma criança no ventre da mãe "não se pode defender" de qualquer agressão, enquanto "uma criança de cinco anos pode reagir, pode chorar, queixar-se"».
Apropriado ao caso da Vanessa, portanto.
Pelo mar dos actores adentro
Mar Adentro não é um grande filme, como tanto têm insistido os críticos. Mas tão pouco é um mero veículo para Javier Bardem. Ou apenas para ele. É um veículo para uma afirmação de liberdade, de afecto, de humanidade. E um show de representação. O que Bardem faz é praticamente sobre-humano, nos humores, na franqueza, no pudor, no olhar de uma profundidade simultaneamente resignada, serena, triste, inteligente, brincalhona, afectuosa, distante, sensível - e quantos mais adjectivos aqui acumular, mais me explico na descrição e mais evidencio a sua inexorável insuficiência face ao trabalho de actor que tão generosamente nos é oferecido por este homem num só olhar. Mas não só de Bardem vive este filme, senão da corrente de afectos e entregas que se constrói em seu redor. Na mouche, a personagem Gené [Clara Segura], a assistente da Associação Derecho de Morir Dignamente que dá apoio jurídico e amizade a Ramón Sampedro, lidando quotidianamente com a vontade de morrer dos outros, enquanto gera uma nova vida e nos surge sempre diametralmente longe da imagem de uma Parca com qualquer tipo de interesse na morte, antes como alguém que luta por uma liberdade individual, pelo fim de uma arbitrariedade inominável. Rosa e Julia, também diametralmente opostas e em oposição pelo objecto comum de afecto, pela educação, pelo meio social, pela própria saúde. Javier, o sobrinho-grunho-quase-filho, o calhau que sente e chora e que executa com o avô as invenções do tio. O pai de olhar triste e perdido. O irmão cheio de raivas nas suas ignorantes certezas e nos seus medos. Mas sobretudo e acima de todos, a cunhada-ama-enfermeira Manuela, uma Mabel Rivera admirável, no sofrimento silencioso, na compreensão amorosa, no desvelo companheiro, na revolta e no carinho, crescendo sempre e sempre até ao silencioso e avassalador clímax da despedida.
Em suma, concordo, não é um filmaço. Mas tem belíssimos momentos - impagável, a maratona do Irmão Andres - jovem mensageiro na disputa socrática com o padre tetraplégico e fala-barato - que corre escada acima escada abaixo, numa exaustão física e psicológica que nos oferece a dúvida crescendo no olhar estupefacto [era capaz de jurar que para este frade a vida clerical acabou nas escadas da casa e com as palavras de Ramón Sampedro]. Mas não sendo um filmaço, é um manifesto, da arte do actor de cinema e da liberdade, de viver e de morrer.
Mar Adentro não é um grande filme, como tanto têm insistido os críticos. Mas tão pouco é um mero veículo para Javier Bardem. Ou apenas para ele. É um veículo para uma afirmação de liberdade, de afecto, de humanidade. E um show de representação. O que Bardem faz é praticamente sobre-humano, nos humores, na franqueza, no pudor, no olhar de uma profundidade simultaneamente resignada, serena, triste, inteligente, brincalhona, afectuosa, distante, sensível - e quantos mais adjectivos aqui acumular, mais me explico na descrição e mais evidencio a sua inexorável insuficiência face ao trabalho de actor que tão generosamente nos é oferecido por este homem num só olhar. Mas não só de Bardem vive este filme, senão da corrente de afectos e entregas que se constrói em seu redor. Na mouche, a personagem Gené [Clara Segura], a assistente da Associação Derecho de Morir Dignamente que dá apoio jurídico e amizade a Ramón Sampedro, lidando quotidianamente com a vontade de morrer dos outros, enquanto gera uma nova vida e nos surge sempre diametralmente longe da imagem de uma Parca com qualquer tipo de interesse na morte, antes como alguém que luta por uma liberdade individual, pelo fim de uma arbitrariedade inominável. Rosa e Julia, também diametralmente opostas e em oposição pelo objecto comum de afecto, pela educação, pelo meio social, pela própria saúde. Javier, o sobrinho-grunho-quase-filho, o calhau que sente e chora e que executa com o avô as invenções do tio. O pai de olhar triste e perdido. O irmão cheio de raivas nas suas ignorantes certezas e nos seus medos. Mas sobretudo e acima de todos, a cunhada-ama-enfermeira Manuela, uma Mabel Rivera admirável, no sofrimento silencioso, na compreensão amorosa, no desvelo companheiro, na revolta e no carinho, crescendo sempre e sempre até ao silencioso e avassalador clímax da despedida.
Em suma, concordo, não é um filmaço. Mas tem belíssimos momentos - impagável, a maratona do Irmão Andres - jovem mensageiro na disputa socrática com o padre tetraplégico e fala-barato - que corre escada acima escada abaixo, numa exaustão física e psicológica que nos oferece a dúvida crescendo no olhar estupefacto [era capaz de jurar que para este frade a vida clerical acabou nas escadas da casa e com as palavras de Ramón Sampedro]. Mas não sendo um filmaço, é um manifesto, da arte do actor de cinema e da liberdade, de viver e de morrer.
terça-feira, maio 10, 2005
Coisas especiais que me acontecem no norte...
Ver o meu nome, pequenino que seja, numa das primeiras páginas da primeira edição integral da saga ubuesca em Portugal [eu bem suspeitava que isto valia mais que qualquer cachet] - e participar - com uma leitura encenada - no lançamento editorial, da forma menos solene possível.
Ter o dito livro ternamente rabiscado por dezasseis pessoas que invadiram o meu coração - umas mais recentemente que outras [sem falar no dinheirão que aquilo me vai render daqui a uns anitos, se os palcos não me enriquecerem, ahahah].
Ter a Laurie Anderson na plateia, uma luzinha que até no meio de um público anónimo brilha e sorri [e exercer o autocontrolo de não sair do palco a correr para ir pedir-lhe autógrafos...]. E saber mais tarde que ela adorou o que viu [embora da língua só tenha entendido Merdra! e Ubu, eheheh].
Ter o Dan Stulbach na plateia, saltando da cadeira - que nem mola, viu? - no final da récita e aplaudindo entusiasmado.
Dançar o "Dancemos no Mundo" com o Sérgio Godinho num buraco cheio de fumo da Rua da Alegria. E resumir nesse refrão a alegria de viver a arte em conjunto... e de não saber, nem querer, separá-la da vida.
Só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos levantando o pó
dançar
como amigo só.
Ver o meu nome, pequenino que seja, numa das primeiras páginas da primeira edição integral da saga ubuesca em Portugal [eu bem suspeitava que isto valia mais que qualquer cachet] - e participar - com uma leitura encenada - no lançamento editorial, da forma menos solene possível.
Ter o dito livro ternamente rabiscado por dezasseis pessoas que invadiram o meu coração - umas mais recentemente que outras [sem falar no dinheirão que aquilo me vai render daqui a uns anitos, se os palcos não me enriquecerem, ahahah].
Ter a Laurie Anderson na plateia, uma luzinha que até no meio de um público anónimo brilha e sorri [e exercer o autocontrolo de não sair do palco a correr para ir pedir-lhe autógrafos...]. E saber mais tarde que ela adorou o que viu [embora da língua só tenha entendido Merdra! e Ubu, eheheh].
Ter o Dan Stulbach na plateia, saltando da cadeira - que nem mola, viu? - no final da récita e aplaudindo entusiasmado.
Dançar o "Dancemos no Mundo" com o Sérgio Godinho num buraco cheio de fumo da Rua da Alegria. E resumir nesse refrão a alegria de viver a arte em conjunto... e de não saber, nem querer, separá-la da vida.
Só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos levantando o pó
dançar
como amigo só.
QUE FAZES NESTE MOMENTO?
Duh, estou a responder a este fantástico chain test que a Sara me (impingiu) enviou!
QUE PLANOS TENS PARA ESTE FIM DE SEMANA?
Se esta amigdalite continuar simpática como até agora, aguarda-me um fim de semana no sofá, na companhia do AXN e de tijelas de nestum arroz.
QUE COISAS TE CAUSAM STRESS NESTE MOMENTO?
Já ter excedido a minha quota diária de pastilhas para a garganta e ainda são só novimeia da manhã...
QUE FIZESTE DESDE O ACORDAR ATÉ AGORA?
Assoei-me, comi o meu Nestum de arroz na companhia do meu truto (que também comeu uma tigela daquilo, por solidariedade), assoei-me, deambulei pela casa em pijama durante meia hora e agora sentei-me ao computador. Exciting...
A QUEM IRÁS PASSAR ESTA PAIN IN THE ASS ESTE TESTE FANTÁSTICO?
À Rojita, ao Pedro e ao Bom Selvagem.
Duh, estou a responder a este fantástico chain test que a Sara me (impingiu) enviou!
QUE PLANOS TENS PARA ESTE FIM DE SEMANA?
Se esta amigdalite continuar simpática como até agora, aguarda-me um fim de semana no sofá, na companhia do AXN e de tijelas de nestum arroz.
QUE COISAS TE CAUSAM STRESS NESTE MOMENTO?
Já ter excedido a minha quota diária de pastilhas para a garganta e ainda são só novimeia da manhã...
QUE FIZESTE DESDE O ACORDAR ATÉ AGORA?
Assoei-me, comi o meu Nestum de arroz na companhia do meu truto (que também comeu uma tigela daquilo, por solidariedade), assoei-me, deambulei pela casa em pijama durante meia hora e agora sentei-me ao computador. Exciting...
A QUEM IRÁS PASSAR ESTA PAIN IN THE ASS ESTE TESTE FANTÁSTICO?
À Rojita, ao Pedro e ao Bom Selvagem.
sexta-feira, maio 06, 2005
E agora?
O que é que eu faço com este buraco que vai ficar cá dentro assim que atravessar a ponte da Arrábida, deixando a minha rua para trás?
O que é que eu faço com este buraco que vai ficar cá dentro assim que atravessar a ponte da Arrábida, deixando a minha rua para trás?
quinta-feira, maio 05, 2005
Mais uma petição
Ontem a propósito do caso Ivo Ferreira, um amigo argumentava quanto ao elitismo que aparentemente muitos vêem na movimentação em torno de um jovem cineasta. Eu continuo a achar que a única coisa de distingue o Ivo de um pedreiro [para aproveitar o argumento do Z. nos salmonetes do meu post sobre o assunto] é que provavelmente o pedreiro não teria uma rede de amigos com conhecimentos e possibilidades de avançar para uma petição na net. É injusto que não se consiga fazer tudo, mas isso não tira valor ao que se pode - e deve - tentar alcançar. O meu amigo - que por coincidência não se chama Z., mas Zé - acrescentou ainda que gostava de ver era petições que pudessem ter efeitos reais, olha, petições contra as portagens, por exemplo! A minha resposta foi imediata: tens computador, tens conhecimentos, faz tu! E não é que hoje recebo por e-mail esta petição contestando a cobrança total de portagens nas vias que estão em obras e que frequentemente atrasam os utilizadores ao invés de os servirem de acordo com o que os fazem pagar?
Bom, gostava de dizer que fui eu que impulsionei isto. Mas mesmo com toda a sua capacidade de persuasão, duvido que o Zé tivesse conseguido juntar mais de dez mil assinaturas de ontem para hoje, eheheh...
Ontem a propósito do caso Ivo Ferreira, um amigo argumentava quanto ao elitismo que aparentemente muitos vêem na movimentação em torno de um jovem cineasta. Eu continuo a achar que a única coisa de distingue o Ivo de um pedreiro [para aproveitar o argumento do Z. nos salmonetes do meu post sobre o assunto] é que provavelmente o pedreiro não teria uma rede de amigos com conhecimentos e possibilidades de avançar para uma petição na net. É injusto que não se consiga fazer tudo, mas isso não tira valor ao que se pode - e deve - tentar alcançar. O meu amigo - que por coincidência não se chama Z., mas Zé - acrescentou ainda que gostava de ver era petições que pudessem ter efeitos reais, olha, petições contra as portagens, por exemplo! A minha resposta foi imediata: tens computador, tens conhecimentos, faz tu! E não é que hoje recebo por e-mail esta petição contestando a cobrança total de portagens nas vias que estão em obras e que frequentemente atrasam os utilizadores ao invés de os servirem de acordo com o que os fazem pagar?
Bom, gostava de dizer que fui eu que impulsionei isto. Mas mesmo com toda a sua capacidade de persuasão, duvido que o Zé tivesse conseguido juntar mais de dez mil assinaturas de ontem para hoje, eheheh...
Eu não queria dizer "I told you so"...
...mas não teria sido mais honesto, limpo e eficiente assumir os direitos das mulheres ao seu próprio corpo como um objectivo de campanha? É que elas continuam a morrer e a ser julgadas, enquanto os senhores se afogam em papéis e argumentos que já ninguém pode ouvir. A lei deve passar na Assembleia, sem referendo. As incubadoras são equipamento hospitalar que se liga à corrente. Para definição de "mulher", não acham um pouco redutor? Por favor, já chega de palhaçada!!!
Legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez Já!
...mas não teria sido mais honesto, limpo e eficiente assumir os direitos das mulheres ao seu próprio corpo como um objectivo de campanha? É que elas continuam a morrer e a ser julgadas, enquanto os senhores se afogam em papéis e argumentos que já ninguém pode ouvir. A lei deve passar na Assembleia, sem referendo. As incubadoras são equipamento hospitalar que se liga à corrente. Para definição de "mulher", não acham um pouco redutor? Por favor, já chega de palhaçada!!!
Legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez Já!
segunda-feira, maio 02, 2005
Cinco últimos espectáculos para a desdramatização da pátria
Só até sábado, 7 de Maio. Depois não digam que não avisei...
Só até sábado, 7 de Maio. Depois não digam que não avisei...
É realmente uma obra maravilhosa...
Álvaro Siza, Casa de Chá da Boa-Nova, Leça da Palmeira
... e bem portuguesa na sua orgânica, uma vez que fecha ao domingo. Eu nem tenho palavras para tanta visão. Ah, e o Siza não tem culpa, duvido que lucre com o movimento do lugar que tão bem respira sobre aquele rochedo desde 1958. Tal como também não tem responsabilidade sobre o betão que cresce desalmadamente em redor ou dedo no projecto do pré-fabricado Bar Azul que tanto embeleza a paisagem limítrofe.
[suspiro]
Álvaro Siza, Casa de Chá da Boa-Nova, Leça da Palmeira
... e bem portuguesa na sua orgânica, uma vez que fecha ao domingo. Eu nem tenho palavras para tanta visão. Ah, e o Siza não tem culpa, duvido que lucre com o movimento do lugar que tão bem respira sobre aquele rochedo desde 1958. Tal como também não tem responsabilidade sobre o betão que cresce desalmadamente em redor ou dedo no projecto do pré-fabricado Bar Azul que tanto embeleza a paisagem limítrofe.
[suspiro]
Não devem ter nada de importante com que se preocupar...
Como alguns de vós podem já saber pela comunicação social, o cineasta português Ivo M. Ferreira foi preso no Dubai por ter fumado um charro. Está preso há cerca de 28 dias numa cela esconsa com umas dezenas de outros detidos. Arrisca-se a uma pena de 5 anos de cadeia. Isto tudo, repito, por ter sido apanhado - o malandro! - a fumar UM CHARRO! A petição que circula tem um tom pedinchão e reverente que até enjoa. Só que estes países tão alegremente propagandeados pela indústria turística internacional como verdadeiros paraísos, mas nos quais meia dúzia de donos anafados se sentam em cima dos direitos humanos, são como são, e o que importa agora é a vida do Ivo, o tempo do Ivo. Podia estender aqui uma série de elogios sobre a pessoa [que conheço apenas pelas opiniões carinhosas e respeitosas de relações comuns] e sobre o cineasta, mas sinceramente penso que a única coisa que interessa é que ele está onde está, na situação em que está, por ter fumado um charro.
Por consciência, por solidariedade, pelo Ivo, assinem a petição.
Como alguns de vós podem já saber pela comunicação social, o cineasta português Ivo M. Ferreira foi preso no Dubai por ter fumado um charro. Está preso há cerca de 28 dias numa cela esconsa com umas dezenas de outros detidos. Arrisca-se a uma pena de 5 anos de cadeia. Isto tudo, repito, por ter sido apanhado - o malandro! - a fumar UM CHARRO! A petição que circula tem um tom pedinchão e reverente que até enjoa. Só que estes países tão alegremente propagandeados pela indústria turística internacional como verdadeiros paraísos, mas nos quais meia dúzia de donos anafados se sentam em cima dos direitos humanos, são como são, e o que importa agora é a vida do Ivo, o tempo do Ivo. Podia estender aqui uma série de elogios sobre a pessoa [que conheço apenas pelas opiniões carinhosas e respeitosas de relações comuns] e sobre o cineasta, mas sinceramente penso que a única coisa que interessa é que ele está onde está, na situação em que está, por ter fumado um charro.
Por consciência, por solidariedade, pelo Ivo, assinem a petição.