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domingo, fevereiro 27, 2005

Sem palavras...

Rezem por mim!
Palavras de João Paulo II à janela do hospital.

Olha qu'esta, ahn? É nestas alturas que percebo que a Segurança Social só pode ter os dias contados: se é esta a segurança no trabalho que têm os manda-chuvas da ICAR... que podemos nós exigir aos nossos meros e seculares países e empregadores? Livra!!! Já nem dEus proteje os seus franchisers...

sábado, fevereiro 26, 2005

A amizade, o que é?

Comunicação? Identificação? Compreensão? Carinho? Admiração? Longas conversas de domingo à tarde sobre tudo e sobre nada? Meias palavras? Emoções inteiras? Saudades?

Talvez um pouco de tudo isto. E tanto mais. Não sei. Mas sei que ontem um amigo muito querido fez anos. Parabéns, meu lindo! E essa ressaca, vai? ;)

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Surpresas que o não são.

Conheci o Filipe Palma há ano e meio no Faial, e foi com ele que subi ao Pico, num dia que nunca esquecerei. O Filipe é uma pessoa que me fascina. Simples e inteligente, calmo e cheio de energia, de bem com a vida e ávido dela. Deliciei-me com os relatos dele sobre o Nepal -e com a forma singela como dizia que o povo nepalês é o mais feliz do mundo, não obstante as carências com que vive-, com a maneira ternurenta como falava dos périplos de bicicleta pelas Flores com as sobrinhas, com a vida que escolheu viver, abandonando o ensino para viajar e explorar, dar e receber, respirar e conhecer, conhecer conforto e desconforto. Abraçar o mundo e perder-se por dentro dele. Muito me tocou a prenda que me ofereceu no regresso à Horta, por ser testemunho da amizade que nasceu naquelas horas de esforço e de fascínio. Ontem peguei no Público e fiquei a saber que o meu amigo Filipe foi para a Antárctida de caiaque. Só tem três fósforos para três dias, mas isso não me preocupa, porque sei que não o preocupa. Sei que está feliz, sozinho, não no meio do nada, mas no meio de tudo. E por momentos, enquanto lia a última página do jornal, senti-me lá, com ele. E aproveitei para lhe deixar um beijo e toda a minha admiração.

Dá-lhe, Filipe!

R. de São João*



No pátio sob as traseiras do meu inbicto apartamento há um bar com karaoke às terças à noite. Ora, se ontem foi quinta, por que raio estive eu a ouvir o Cozinheiro Sueco a cantar o Hello Dolly?!

*Lêr: Roua de San Joããoe

Tourada de "beneficência"

Para grande perplexidade minha, a Liga Portuguesa Contra o Cancro decidiu promover um espectáculo de morte e sofrimento para angariação de fundos. Já não se trata aqui da tal "questão cultural" que conduz à organização anual de uma determinada "festa" numa determinada terrinha, o que temos é uma "tourada de beneficência" (whatever that means...)

Independentemente das razões pessoais que levam uns a tolerar, outros a tentar compreender o fenómeno das touradas (e outros até a gostar!), independentemente dos meus sentimentos em relação a esse tipo de atitude, o que me indigna verdadeiramente nesta iniciativa da Liga Portuguesa Contra o Cancro é o facto de uma associação que trabalha com e para combater o sofrimento humano decidir promover o sofrimento animal, como forma de angariar fundos. Indigna-me o facto de não ter em conta as diferentes sensibilidades dos seus associados, uma vez que muitos deles serão veementemente contra este espectáculo deplorável. Lamento profundamente que a crueldade possa ser utilizada para angariar dinheiro (e para perder um sem número de donativos, mas isso já é uma questão de falta de inteligência, para se juntar à falta de valores). E envergonha-me que se chame a isto "um dia pela vida".



que vida?

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Do desejo


Ilustração de Yuko Shimizu [lembram-se deste site?]

Cortou os cabelos. E, surpresos, tremeram os dedos por nunca terem invadido os caracóis agora desaparecidos.

terça-feira, fevereiro 22, 2005

A guerra é a guerra...

Ontem, no debate do Prós e Contras, a luta de classes desfilou em passarela para quem quisesse admirá-la. Um lado afirma de cátedra que só há um caminho - o da aproximação aos direitos sociais asiáticos, o trabalho escravo-pouco-remunerado - e insiste na crise e que o dinheiro não cai do céu e acudam que vem aí a esquerda - mas qual crise, se nunca, como este ano, subiram tanto as vendas de automóveis de luxo [parece-me que só a Rolls escapou, será essa a crise?]. Do outro, a esquerda e as ciências humanas chamando os bois pelos nomes, respondendo que se age como se não existisse política [ou seja, escolha, direcção, prioridades] e só o mercado tirano valesse, o que é uma acabada mentira.

E dei por mim a pensar... realmente, é uma guerra.

A guerra entre os que comem dinheiro devorando vidas e os que todos os dias têm menos direito de viver. Não nos enganemos, senhores. Estão a tentar convencer-nos de que para isto não ir para a latrina nós temos de ser carne para canhão, escravos resignados. É MENTIRA, uma torpe mentira. Ainda hoje li um comentário no Renas que falava exactamente dos perigos de "baixar a guarda". Não poderia estar mais de acordo. Os glutões devoradores que se lambuzam enquanto tentam convencer-nos de que nós mesmos, a nossa individualidade, a nossa qualidade de vida, os nossos direitos sociais, são O OBSTÁCULO AO PROGRESSO, não se afundam sozinhos, antes se alimentam das nossas inércias, das nossas perplexidades, da nossa incapacidade para a associação e para a luta.

É a guerra, senhores. Sem obuzes, mas não menos guerra.


P.S.
Tiro o chapéu à participação de Miguel Portas. Assim como o outro Miguel, deu-me mais um sinal de que votei bem, de que não poderia ter votado melhor.

If we hadn't done what she told us to do there'd be no trouts swimming in these waters...

So, Happy Birthday Ms Orange!




Um granda, granda beijo!

Santana Lopes abandona liderança do PSD

Nem como pega-monstro ele presta...

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Parabéns atrasados, velhote!


(o da direita)

domingo, fevereiro 20, 2005

Até já se respira melhor!!!


Imagem roubada ao meu noivo João, que deve andar por aí, desvairado, a festejar. Minh'alma está com ele! :) E agora com licença, vou ouvir o discurso do Menino Guerreiro que jaz morto e apodrece.


... vamos ter de apanhar as canas, mais cedo ou mais tarde, mas isso agora é o menos. O Bloco sobe, a CDU sobe, para mim neste momento a maioria absoluta PS é apenas um pormenor. Portugal não está completamente catatónico, afinal! Boa democracia para todos!!!

Então um bom dia para todos!

Votem bem. Não se contentem com assinar de cruz. Façam diferença. Façam um país.

sábado, fevereiro 19, 2005

A Paixão considerada como uma prova de montanha

Bom, acabo de descobrir este texto - ou melhor, acabam de mo dar a descobrir - e ri-me tanto que não resisto a partilhá-lo convosco. E é melhor que seja agora, no início da Quaresma. Se o postasse na Páscoa nem quero imaginar a quantidade de cibernautas que me cairíam em cima... e pensar que é um texto com cerca de cem anos. [suspiro]


Barrabás, inscrito, desistiu.

O "starter" Pilatos, puxando pelo seu cronómetro de água, ou clepsidra, que lhe molhou as mãos, a menos que tivesse, muito simplesmente, cuspido lá para dentro -, deu o sinal de partida.

Jesus arrancou a toda a velocidade.

Segundo o excelente redactor desportivo São Mateus, era uso, naqueles tempos, flagelar, à partida, os "sprinters" ciclistas, como fazem os cocheiros aos seus hipomotores. O chicote é não só um estimulante como uma massagem higiénica. Jesus, portanto, arrancou em óptima forma, mas logo lhe sobreveio um acidente com os pneus. Uma sementeira de espinhos deixou-lhe a roda da frente toda crivada.

Reprodução fiel dessa autêntica coroa de espinhos se pode ver, hoje em dia, na montra de quelquer loja de velocípedes, como reclamo de pneus à prova de furo. Coisa que não o era o pneu de Jesus, mero tubo-sigla para provas de pista.

Os dois ladrões, que se entendiam às mil maravilhas, tomaram a dianteira.

É falso que se tenham utilizado cravos. Os três que figuram nas imagens constituem o desmonta-pneus conhecido por "à la minuta".

Mas é conveniente falar, antes de mais nada, nos trambolhões. Antes disso, porém, descrevamos o melhor possível a máquina.

O quadro é uma invenção relativamente recente. Só em 1890 é que apareceram as primeiras bicicletas com quadro. Até aí, o corpo da máquina era formado por dois tubos soldados perpendicularmente um ao outro. Era a chamada bicicleta direita ou de cruz. Depois do acidente dos pneus, subiu por conseguinte Jesus a encosta a pé, levando às costas o quadro ou, por assim dizer, a cruz.

Gravuras da época reproduzem, de fotografias, todo esse espectáculo. Parece, todavia, que depois do conhecido acidente que tão desastrosamente pôs termo à corrida da Paixão e que hoje, próximo da data do seu aniversário, toma foros de actualidade, dado o acidente semelhante acontecido ao conde Zborowski na serra da Túrbia, o desporto velocípede foi durante algum tempo proibido por decreto do Governo Civil. Daí se percebe que os jornais ilustrados, ao reproduzirem essa célebre cena, tivessem figurado as bicicletas de um modo fantasista. Confudiram a cruz do corpo da máquina com essoutra cruz, o guiador direito. Representavam Jesus com as duas mãos espalmadas sobre o guiador, e agora por isso, notemos que Jesus velocipedava deitado de costas, no intuito de diminuir a resistência do ar.

Note-se, também, que o eixo ou cruz da máquina era, como certos aros de roda actuais, feito de madeira.

Houve quem insinuasse, sem motivo, que a máquina de Jesus era uma draisiana, aparelho bastante inverosímil na subida de uma prova de montanha. Segundo velhos hagiógrafos velocipedófilos, tais como Santa Brígida, Gregório de Tours e Ireneu, a cruz estava munida de um dispositivo que eles designam por "suppedaneum". Não é preciso ser-se muito douto para o traduzir por "pedal".

Justo Lípsio, Justino e Erício Puteano descrevem um outro acessório que em 1634, no dizer de Cornélio Curtius, ainda se nos depara nas cruzes do Japão: uma saliência da cruz ou do eixo, feita de madeira ou coiro, sobre a qual o ciclista se encavalita: o selim, como é evidente.

Estas descrições não são, aliás, mais inexactas do que a definição de bicicleta dada hoje pelos Chineses: "Mula pequena guiada pelas orelhas e forçada a caminhar à custa de muitas pézadas."

Abreviaremos o relato da corrida propriamente dita, bastamente referida em obras especializadas e expostas, através da pintura e da escultura, em monumentos "ad hoc".

Na encosta bastante escarpada do Gólgota há catorze curvas. Foi à terceira que Jesus deu o primeiro trambolhão. Sua mãe, nas bancadas, alarmou-se.

O excelente treinador Simão Cireneu cuja função, se não fora o acidente dos espinhos, seria a de o "puxar" e de lhe aparar o vento, carregou com a máquina.

Jesus, se bem que de braços a abanar, transpirou. Não é certo que uma espectadora lhe tivesse enxugado o rosto; o que não há dúvida, porém, é que a reporter Verónica lhe tirou um instantâneo com a sua kodak.

O segundo trambolhão ocorreu ao chegar à sétima curva, com o chão escorregadio. Jesus derrapou pela terceira vez sobre uma calha, à undécima curva.

À oitava, as semimundanas de Israel acenavam com os lenços.

O deplorável acidente por demais sabido ocorreu na décima primeira curva. Encontrava-se Jesus, nesse preciso momento, dead-head com os dois ladrões. Ninguém ignora, também, que ele continuou a corrida como aviador... mas isso sai fora deste assunto.


Alfred Jarry, in Spéculations, Trad. Luiza Neto Jorge [Antologia do Humor Negro, Edições Afrodite]

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Piada à moda do meu pai...

Depois de ver o pio documentário sobre a irmã Lúcia na RTP1, ontem à noite, e depois de compreender a ligação indiscutível entre os 3 segredos e a Perestroyka, fiquei só com uma dúvida a roer-me: mas então a Senhora de Fátima era agente da CIA? Qual seria o número?

Bom, escusado será dizer que não conheço nenhum Ricardão Sousa e que o PSD agora usa Spam ilegal para a sua campanha... o mais triste é que nem sequer me espanta.

-----Mensagem original-----
De: Ricardo [mailto:ricardao.sousa@sapo.pt]
Enviada: qui 17-02-2005 10:08
Para: Ricardo
Cc:
Assunto: E, se os "ratos" voltarem a abandonar o navio... Pensem bem antes de votar nos "ratos" Socrates, Guterres, Jaime Gama, etc.


Meus caros , eu nem ia votar pois estava desiludido com tudo isto … só que alguém me chamou à razão “ já viste que se os Socialistas ganham, vão lixar isto tudo de novo, vamos voltar a ficar com as contas num caos e… quando virem que o país está sem controle fogem de novo ?



Realmente é verdade, o mais dificil, está feito, foi feito por quem não fugiu , deu a cara nas medidas menos populares, endireitou as contas publicas, etc. .



Vou votar, vou consciente que estive asté ontem quase a fazer a asneira de dar mais um voto aos que nunca fizeram nada por Portugal.





Vou dar o beneficio da duvida ao P.S.D. e a Santana Lopes .





Peço a todos vós que pensem bem, … acho que todos os partidos fizeram mais por Portugal que o Partido Socialista o único que fugiu quando viu o “barco “ a afundar-se ,



Por isso não votem na arrogância e covardia .



Qualquer outra opção de voto vos vai pesar menos na consciência.´

Resposta:
Meu caro,

Não faço ideia de quem sejas, não conheço - que me lembre - nenhum Ricardão Sousa e pelo conteúdo da tua missiva parece-me que tenho gosto em não conhecer. Se esta é uma versão electrónica da patética carta do Santaninha a pedir para votarmos "por favor" - e nele, claro - podes tirar o cavalinho da chuva: nunca votei PS, não votarei agora exactamente pela principal razão de que ele é demasiado igual ao PSD - e tal facto, neste momento, não poderia ser mais repugnante. Partidos de conveniência, de serviço a grupos e lobbies, de "estou-me a cagar para o mexilhão, o poder é que me interessa"... a grande diferença é a percentagem de fachos no PSD, incomparavelmente maior. Ah, e o PS apesar de tudo tem um líder... um mau líder, mas pronto. Agora vocês? Aquilo é uma anedota, uma anedota que nos custa bem cara. E que vai ser escorraçada como merece. Este tipo de campanha, em que incluo o teu inenarrável e-mail, é uma ofensa à inteligência dos portugueses. E eu tenho o hábito de manter os neurónios em funcionamento, o que é péssimo para os vossos objectivos, lamento. E nunca na vida substiruiria ratos por ratazanas carnívoras do tamanho de coelhos.

Estou na dúvida, sim, sobre se votarei Bloco de Esquerda ou CDU, mas qualquer que seja a escolha será consciente e contra a hipocrisia, contra o uso da política para proveito próprio, contra o gozo total com a população que tem sido a vossa [des]governação, a vossa pilhagem generalizada, a vossa auto-vitimização. Para ver palhaços, vou ao circo. Agradeço por isso que não voltes a fazer brincadeiras destas e que respeites a minha consciência cívica, sejas tu quem fores - ou sejam vocês quem forem.

Tenham vergonha na cara. Passem-na por água e respirem fundo. Vocês VÃO PERDER as eleições. Mas não fiques triste, Ricardão: quem vai ganhar vai ser Portugal. Recorre ao teu patriotismo para dormires melhor no domingo à noite, sim? É um conselho que te dá uma consciência clarinha, clarinha e muito de bem consigo própria.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Vermelho


Imagem retirada daqui.

Even the sun-clouds this morning cannot manage such skirts.
Nor the woman in the ambulance
Whose red heart blooms through her coat so astoundingly --

A gift, a love gift
Utterly unasked for
By a sky

Palely and flamily
Igniting its carbon monoxides, by eyes
Dulled to a halt under bowlers.

O my God, what am I
That these late mouths should cry open
In a forest of frost, in a dawn of cornflowers.


Sylvia Plath, Poppies in October, in Ariel

Sacralização do regime - take II?

Foi numa hora de muitas "preocupações, desgostos e talvez dúvidas" para o presidente do Conselho, Oliveira Salazar, que, em 13 de Novembro de 1945, o então cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, enviou ao seu amigo e antigo condiscípulo um cartão tranquilizador. Nele se referia a uma carta da irmã Lúcia que Cerejeira recebera e onde a antiga vidente de Fátima fazia referências ao que entendia ser a missão divina de Salazar.

"O Salazar é a pessoa por Ele (Deus) escolhida para continuar a governar a nossa Pátria, ... a ele é que será concedida a luz e graça para conduzir o nosso povo pelos caminhos da paz e da prosperidade"

Luto nacional? Não em meu nome.

Imagens do progresso



Recebido por e-mail; obrigad@ Pédr ;)

domingo, fevereiro 13, 2005

Parabéns, Rojita!

Oferta aberta

Continuava a conversa com a Mente aqui pelos salmonetes e na Antena 1 o Júlio Machado Vaz dizia, enquanto eu escrevia, este poema. É daquelas coincidências felizes e misteriosas. E não resisti. Este poema é o meu presente para ti, querida Mente, e para quem o quiser receber. Um beijo.

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.


António Ramos Rosa

Entrelinhas

Gentilmente, a Mente explica-me por extenso e muito bem a razão porque não gosta do cartaz das Panteras Rosa que incita ao voto contra a homofobia da direita. Creio que se trata de uma mera questão de interpretações e acho que por fim a apreciação só pode relevar da sensibilidade de cada um… e da maior ou menor paciência que sobre dos diários de campanha.

Mas há um ou outro ponto que me merece uma paragem para reflexão e resposta. Dizem as Panteras que “o assunto da homossexualidade deve ser levado até ao voto”, diz a Mente, Pessoalmente, não vou neste tipo de mobilização e por um motivo muito simples: o voto, julgo, não deve estar condicionado pela orientação sexual do eleitor. Não poderia estar mais de acordo, o voto deve ser ditado pela consciência e pela reflexão. E a prova é a quantidade de homossexuais armariados - e não só - que não só não lutam por, como recusam terminantemente quaisquer direitos lgbt, qualquer visibilidade pública, qualquer reconhecimento de estatuto de cidadão completo com direito a decidir o que quiser sobre a sua vida amorosa sem por isso ser penalizado socialmente. Mas há um pormenor, Mente: para esses homossexuais, armariados, semi-assumidos ou deliberadamente [auto-]marginalizados, a homossexualidade não é um assunto. Um assunto político, pelo menos. Estão no seu direito? Estão. Aliás, o cartaz não é tanto para eles como para mim, que sou, até à data, totalmente heterossexual, mas que considero a questão lgbt um assunto político, mais que isso, uma básica questão de direitos cívicos e respeito humano.

Quanto às três questões que colocas, a resposta para mim é só uma. Tu, enquanto lésbica, branca, preta, alta ou baixa, deves votar de acordo com a tua consciência e com a tua visão social, como eu o farei. Um apelo de campanha vale por isso e por nada mais. Não é um inquérito da polícia do pensamento, apenas um apelo ao voto. Vale o que vale, ou seja, vale o valor que lhe dermos. Por mais que eu gostasse de convencer a minha vizinha da Rua de São João - que tem uma reforma de caca e passa os dias a estender roupa numa janela podre de um prédio mais podre ainda - de que, pelos seus próprios interesses, ela deve votar à esquerda, o mais mais certo é que a cruz vá direitinha para o Rio, não o Douro, mas o outro. É a vida. Tenho pena, é tudo.

Por fim, a Mente chega à conclusão de que estamos face a um apelo mal-disfarçado ao voto no Bloco. Bom, concordo que é uma interpretação possível, sendo mais que reconhecida a ligação do BE à luta lgbt. Mas não é a única ilação a tirar, cara Mente, e nada melhor do que leres o balanço da actividade do PCP na Assembleia da República para veres que nem só do Bloco nasce a luta contra a discriminação com base na orientação sexual, embora nenhum outro movimento a apresente como bandeira tão assumida.

Como viste, houve paciência. Há sempre paciência para boas discussões, com argumentos e sem merdas. ;)

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Paradoxos do minimalismo

Na rua das Oliveiras, mesmo frente à porta de artistas do TeCA, alguém escreveu na parede:

Um único verso seria uma nódoa no meu poema.

... e a seguir deve ter explodido.

Cavaterra

Temos corpos de marioneta. Quando pela corda descemos abaixo do chão e a noite ocre se abate sobre os nossos ombros pasmados e a terra negra nos cobre os olhos, as enxadas e as picaretas definem-nos, indefinidamente a uns e outros, indefinidamente homens e marionetas, indefinidamente.

No meio do escuro e sob a larga capa da morte, dançamos e fazemos dançar. Eu sou tu e tu és eu, o meu braço move-se porque tu decides, a tua perna sobe porque eu a iço, marionetas um do outro e do que ficou tão lá para cima que cá em baixo não se reflecte a imagem. E esquecemos.

Pedra por pedra, trabalho circular, labor sem meta. Pedra por pedra, e a escada quase chega. Pedras suspensas no escuro com homens por cima tentando assomar não se sabe onde, ou melhor, a todo o lado e por isso a nenhures, ou por fim lá, lá a cima. Toma a minha pedra e ajuda-me a subir. Ah! Quase chega, a escada. Quase. Abraça-me. Quase.



Homens-marioneta, desaparecemos nas carrelas e voltamos a surgir, sempre desarticulados, sempre pasmados com este mundo de sombras em trânsito. Enterramo-nos na terra e nas pedras que como nós cabem e se fazem transportar nas mesmas carrelas. Três são dois mais um e um corpo entre duas carrelas, sozinho, sai de cena. É tarde.

Não regressa. Kommt, ihr Töchter, helft mir klagen. Caíu. Um. Depois outro e depois outro. Sehet! Wen? Den Bräutigam. Wie? Als wie ein Lamm! Caem no vórtice ocre e negro. Sehet! Was? Seht die Geduld. Wohin? Auf unsre Schuld.

Pequenas luzes no escuro, pequenos corpos deformados, uma perna torta e manca, uma corcunda, o corpo tenso e lasso, fechado sobre si e infantilmente disponivel. E voa, num carrossel de cordas e marionetas. Voa. E fica no ar, como o som de uma trompa.

No Teatro Carlos Alberto, até ao próximo sábado, a Circolando apresenta Cavaterra, parte do seu Ciclo das Minas. A não perder por nada, pessoal da Invicta...

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Pedro, fofo, a malta está contigo, ok?



Aliás, já não sei quem dizia há uns dias que a direita moralmente conservadora, em consciência, só pode votar no Jerónimo, o único líder casado activo nesta campanha, eheheh...


E para meter mais uma farpazita: se oiço outra vez o Louçã a falar da necessidade de um novo referendo sobre a IVG ainda mudo de ideias e quem vota no Jerónimo sou eu.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Fórmula mágica ou Como a Nova Democracia é subvalorizada

Isto realmente em Portugal ninguém se entende. São os pseudo-sociais-democratas que deviam chamar-se de liberais, são os pseudo-socialistas que deviam chamar-se de sociais-democratas, und so weiter... Enfim, a minha grande dúvida de campanha é de facto se o Manuel Monteiro criou aquela coisa maravilhosa da Nova Democracia prenhe de Ideias Velhas Velhas Velhas apenas porque, como disse Carlos Magno hoje na Antena 1, "os partidos são empresas com alvarás para fazer política" e o ex-sócio o tramou com o conselho de administração do PP, ou se de facto o objectivo foi a criação um pequeno laboratório filosófico e metafísico, porque não dizê-lo, Pataphysico, um local de vanguarda na descoberta de soluções para a aparentemente fatal decadência desta pura sociedade que a moral judaico-cristã para nós construíu. É que ele dá as respostas que faltavam. Ele precavê o futuro. Senão, vejamos...

No tempo de antena dessa ND, o Monteirinho resumiu as preocupações das mães e domésticas que cheias de superioridade moral tinham falado antes e lançou o antídoto para a decadência acelerada, franqueando obstáculos, abrindo gloriosos caminhos para o futuro:

-.na parte do discurso que foi construída em conjunto com o padre Lereno, da paróquia de S.João de Brito, afirmou-se a inviolabilidade da vida humana da concepção até à morte natural e a recusa inamovível do direito dos homossexuais ao casamento civil e à adopção [e consequentemente o direito de centenas de crianças a saírem das instituições para famílias equilibradas e afectivas, mas isso agora, como diz a outra, não interessa nada, certo?];

-.para terminar, claro, tinha de ser atacada [mas baixinho...] essa grande arma do deboche que se chama Educação Sexual nas Escolas, mas apenas através desta bela e inspirada frase- "A educação sexual deve ser um acto de liberdade dos pais" [esta gente é gira, quando tratamos de um conjunto de células no útero de uma mulher, a "criança" é tudo o que lhes interessa, quando as crianças são lançadas no mundo, não são os seus interesses, mas a liberdade dos pais que está acima de tudo... suspiro], ou seja, os pais devem ser livres para dar cabo dos filhos e neles projectarem todos os preconceitos, medos, recalcamentos e perversões que os seus pais por sua vez tenham projectado em si.

Eu não entendo como é que este menino é posto de parte, se ele e o seu colégio detêm a FMNDAD [Fórmula Mágica Nova Democracia para Acabar com o Deboche]. Sim, porque estando estes primeiros passos completos, as vantagens não poderiam ser mais claras:

1. sublimação de uma magnífica raça de normais alienados, a nossa esperança para o futuro;

2. manutenção ou acréscimo do número de homossexuais armariados ou mesmo casados, de todo o modo impedidos de viverem uma sexualidade livre e instados a alimentar a imagem de que são normais, o que dará uma imagem incomparavelmente melhor do nosso país, pelo menos para os padrões do Vaticano, indicador mais-que-fiável de progresso humano e social;

3. manutenção ou acréscimo do número de suicídios de homossexuais reprimidos, logo na adolescência ou até aos trinta anos.

Ora, se somarmos 2 com 3 não teremos 5, mas sim uma fórmula que levará a que cada vez menos casais homossexuais façam exigências de casamento civil ou de direitos de adopção. Será que o Portinhas e o Santaninha não vêem a genialidade disto? Será que só o padre Lereno aceitará o Monteirinho como acólito? É por estas e por outras que o país não anda para a frente: falta de apoios à investigação e desprezo pela competência, é o que é!

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Este sim, sabe do que está a falar

"No ensino básico, o incremento da qualidade passa pela correcção de sérios défices no ensino da matemática, da língua Portuguesa, das línguas estrangeiras e das artes."
in programa eleitoral do PSD


domingo, fevereiro 06, 2005

Acho indecente...

... que ninguém tenha avisado o pároco de S.João de Brito que faz a missa na Antena 1, que aqueles cartazes a convocar uma manif pela poligamia são publicidade de um desodorizante.



Acho que ainda me estou a rir...

sábado, fevereiro 05, 2005

Ainda antes de ir...

... a ler, de mente aberta, este belíssimo post do João O.

Puorto!

Pessoal, estou de abalada. Para além do stress que implica uma semi-mudança com trabalho para vir fazer a Lisboa regularmente e acrescendo que após anos de saúde inabalável os meus gatos deram em ser duros de ouvido -lá vai sobrar para o meu puto que vai ter de dominar três feras em cima da mesa da cozinha para expremer-lhes para os tímpanos a porcaria do Otoceril-, durante os próximos três meses o acesso à net vai ser bastante limitado, embora já saiba que não aguento muito tempo sem vocês. Mas nem tudo é mau: vou mergulhar num texto antológico, brilhantemente adaptado, cantar composições de um dos meus autores de eleição e viver a visão de um grande encenador, numa cidade que me toca muito profundamente.

Fiquem bem e sejam felizes. Eu vou ali acima fazer o mesmo.

Porque todos temos direito à vida privada e ao espaço público

Associação ILGA Portugal , @t, Clube Safo, Não te Prives, Panteras Rosa, PortugalGay.pt e rede ex aequo condenam a promoção da discriminação de lésbicas e gays em campanhas eleitorais

A salvaguarda da vida privada é um dos nossos valores: queremos que todas as lésbicas, gays, bissexuais e transgénero (LGBT), tal como as pessoas heterossexuais, tenham de facto o usufruto da sua vida privada. Isso significa que temos que nos dedicar à luta contra a homofobia e contra a inerente discriminação em termos de direitos: porque a homofobia está presente no quotidiano das pessoas LGBT, porque as afecta nas suas relações familiares e laborais, porque entra publicamente, muitas vezes de forma violenta, na sua esfera privada.

Quando um elemento de um casal de gays morre, o elemento sobrevivo não é considerado família pela lei e não tem qualquer direito. Isto é vida privada – isto é um dos resultados da exclusão de gays e de lésbicas no acesso ao casamento civil.

Quando um casal de lésbicas tem um filho, a mulher que não é mãe biológica não tem qualquer possibilidade dereconhecimento legal da sua situação familiar, com todos os entraves que isso coloca no dia-a-dia. Isto é vida privada – isto é um dos resultados de políticas que teimam em não reconhecer que muitos gays e lésbicas já são pais e mães e que obviamente não há qualquer relação entre orientação sexual e possibilidade de reprodução e de exercício da parentalidade.

A oposição ao reconhecimento da igualdade de direitos para pessoas LGBT significa interferir com a vida privada – e representa a homofobia em acção.

Nesta campanha eleitoral, temos visto o apelo à homofobia e à discriminação em função da orientação sexual. Reconhecemos que há questões prioritárias para o país, mas sabemos também que políticas que atribuam direitos iguais para todas e todos não são incompatíveis com as demais políticas – e são também fundamentais não só para cidadãs e cidadãos LGBT mas para todas as pessoas que pretendem um Portugal mais Democrático. A liberdade e a igualdade são valores que devem reger as políticas dos vários partidos – e são preocupações reais da sociedade portuguesa.

Após a última revisão constitucional que fez com que a Lei Fundamental passasse a proibir a discriminação com base na orientação sexual, lutar contra a homofobia na sociedade e na lei é mais do que um requisito ético: é agora também a concretização de um dos princípios basilares da República Portuguesa. É a aplicação destes princípios que exigimos aos partidos.

Consideramos por isso absolutamente condenável a exploração da homofobia e a promoção da discriminação nas campanhas. Esperamos, pelo contrário, que o problema da discriminação em função da orientação sexual e que a necessidade de políticas de luta contra a homofobia sejam reconhecidos e tratados pelos partidos e pelos órgãos de comunicação social com a seriedade, relevância e dignidade que a Constituição exige.

Somos,

Associação ILGA Portugal
; Associação para o Estudo e Defesa dos Direitos à Identidade de Género - @t; Clube Safo; Não te Prives; Panteras Rosa - Frente de Combate à Homofobia; PortugalGay.pt; rede ex aequo

01 de Fevereiro de 2005

Visto no Renas e absolutamente susbcrito pela Trutaria.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Acabo de ouvir Santana Lopes dizer que a criação de empregos nada tem a ver com a acção do primeiro-ministro e do governo.

Chega a ser enternecedora, a forma como este menino parece olhar o mundo. E responsabilizamos quem? Talvez quem o ensinou a jogar Monopólio...

Os frutos das nossas ideologias

Ou uma nova ideologia feita do chão comum de várias, ou apenas uma acção que se sente premente e que reconhece o ser humano como tão pequeno e valioso que tem de ser a medida das coisas e o barómetro da sua justeza. Curiosamente ou não, esta reflexão sobre o que representa o BE tem estado fervilhante na minha cabeça e o Miguel sistematiza neste post a história desta esquerda heterogénea que converge para o Bloco - e assim contribui para que eu ponha a cabeça em ordem... espero que esta leitura ajude outros inquietos idealistas. Não espero que cale o Santana Lopes, porque esse só se cala quando o anzol o puxar definitivamente para a asfixia.

Estive ontem a ver os três últimos episódios...



... e apaixonei-me perdidamente...


Gonçalo Waddington [Vaz]

... [já não é a primeira vez que que me apaixono pelo trabalho do Gonçalo, mas enfim, vale sempre a pena notar -além de que estava bonito que se farta e se há coisa que o Joaquim Leitão sabe fazer é filmar rostos difíceis e apaixonantes como este].

A série não tem grandes rasgos, mas segue o argumento e os diálogos deixados pelo "dissidente" Luís Filipe Rocha, tem belíssimos planos, uma direcção de actores irrepreensível e algumas interpretações impressionantes - Adriano Luz, São José Correia, Paulo Pires [dificilmente imagino um Ramos mais convincente, tenho de dar a mão à palmatória, e ainda por cima transmimtiu toda a tensão sexual e emocional entre a personagem e Maria, compensando a opacidade com que Leonor Seixas serve uma das mais transparentes personagens da história], Marco de Almeida, António Melo, Carla Chambel e a que acho a grande revelação, Nuno Nunes, são apenas alguns exemplos. Continuo para mim a conjecturar o que poderia ter sido disto se Luís Filipe Rocha não tivesse abandonado o projecto, mas não posso - por mais que me apeteça - desancar no trabalho do Joaquim Leitão. Posso apenas convencer-me, uma e outra vez, que se a nossa ficção televisiva não sai do lixo não é por falta de respiradouros, mas por falta de vontade.



[E sim, estive para aqui a suspirar por ter ficado de fora disto tudo por uma unha negra... chuifff]

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Vá, confessem lá que se fossem super-heróis também passavam a vida a atirar tartes à cara uns dos outros...

Cocktail
Cocktail


?? Which Alcoholic Drink Are You ??
brought to you by Quizilla

Estava-se mesmo a ver

Com esta conversa de dildos, sex toys e cenas kinky, o site meter não tem mãos a medir!
(ao menos é tudo gente séria, não é cá como o porcalhão que chegou até nós através da pesquisa "máquina de apanhar batatas". Realmente, há gente para tudo...)

Nada a acrescentar... infelizmente.

QUEREMOS UM PAÍS CULTURALMENTE ACTIVO
Documento de exigência de abertura de Concursos
de Apoio a Projecto Pontuais à Criação Artística em 2005


«O recém criado Instituto das Artes inicia o seu segundo ano de actividade executando um dos mais duros golpes sobre o futuro das artes no nosso país, anunciando que não haverá concursos de apoio a projectos pontuais em qualquer área de criação artística. Como é do domínio público, foi anunciada pelo Sr. Director do Instituto das Artes do Ministério da Cultura, Prof. Dr. Paulo Cunha e Silva, a inexistência de verbas para abertura destes concursos em 2005. Algumas das estruturas e criadores individuais abaixo assinados manifestaram de imediato a sua perplexidade em duas reuniões que tiveram, respectivamente com o Instituto das Artes e com o gabinete da Senhora Secretária de Estado da Cultura, Drª Teresa Caeiro.

Nessas reuniões, pudemos observar a óbvia descoordenação entre o Instituto das Artes e a tutela ministerial, ao ponto de haver objectivos e condutas antagónicas nesta matéria. Como no passado recente, o Estado está prestes a falhar na sua obrigação de apoio à criação artística devido a desentendimentos políticos a que os criadores e o público em geral são alheios. Deixámos bem claro, em ambas reuniões, que é imperativa a abertura imediata dos concursos de apoio a projectos pontuais de criação artística nas áreas do teatro, dança, música, artes contemporâneas e projectos transdisciplinares.

O ano de 2004 já foi marcado por atrasos e falhas graves por parte do Estado na condução dos Concursos para Apoio a Projectos Pontuais. Alguns foram apenas levados a cabo após eficaz empenhamento das estruturas artísticas. Outros, um ano depois, são ainda problemas sem solução. Estamos agora em Fevereiro de 2005 e não há ainda qualquer garantia de que o Concurso para Apoio a Projectos Pontuais venha a ter lugar. Exigimos que este abra de imediato, de forma a evitar um golpe duro no tecido artístico português, nos princípios de acesso democrático a apoios estatais e na relação de confiança e legalidade entre os criadores artísticos e o Estado.

O apoio a projectos pontuais pretende promover a inovação, a experimentação, a sedimentação de linguagens e a investigação, vectores fundamentais para a vitalidade e o desenvolvimento da cultura de um país. O que pretendemos é salvaguardar este espaço onde, a qualquer momento, podem surgir novos criadores, novos discursos e novos projectos que, representando a periferia, alimentam o centro e significam a continuidade de um tecido artístico estruturado, vivo, que deve evoluir, reflectir sobre si próprio e transformar-se continuamente.



De natureza diferente dos projectos instituídos e prosseguindo outros objectivos, os projectos pontuais são fundamentais para este diálogo permanente entre tradição e projecção no futuro. Ambos são necessários, desenvolvendo-se em campos complementares e interdependentes. A supressão de uma das partes põe em causa o todo, desvirtuando a finalidade destes apoios: o desenvolvimento da cultura e das artes portuguesas. Tal como na Ciência seria impensável acabar com a investigação, também na Cultura deve ser assegurado um espaço de risco, de experimentação e pesquisa contínua.

Se, por um lado, estes apoios visam promover a actividade e a circulação de profissionais, não abrir este concurso significa que esse mesmo objectivo não será prosseguido, frustrando as expectativas de centenas de artistas, intérpretes e criadores, de todo o país e de todas as áreas da criação: Teatro, Dança, Música, Arte Contemporânea e projectos Transdisciplinares. A dinâmica inerente à atribuição destes apoios permitiu, ao longo dos anos, a manifestação de novas propostas, reflectindo-se no número crescente de profissionais em todo o país. Adiar estes concursos é, na sua essência, adiar uma actividade profissional já de si precária.

Os projectos não deixam de existir por deixarem de existir os apoios, mas é o gérmen da criação artística, frágil por natureza e mais necessitado de cuidados, que está a ser ameaçado. É o futuro das artes portuguesas que está a ser posto em causa. Os clássicos de hoje foram os experimentais de ontem.


É IMPERATIVA A ABERTURA IMEDIATA DE CONCURSOS DE APOIO AOS PROJECTOS PONTUAIS DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA.»


Aqui está o documento de momento em subscrição. Para vossa informação, para nossa divulgação, para reflexão de todos. Aos colegas que por aqui passem que estejam interessados em subscrevê-lo, enviem os seguintes dados para rampa23@sapo.pt até ao dia 03 de Fevereiro de 2005 [ou seja, amanhã]:

ESTRUTURAS: Nome / Área Criativa / Região do País onde têm a Sede / Endereço Electrónico e/ou Contacto Telefónico

INDIVIDUAIS: Nome / Profissão / Região do país onde moram e/ou trabalham / Endereço Electrónico e/ou Contacto Telefónico


Por um país vivo, contra as fábricas de zombies.

terça-feira, fevereiro 01, 2005

[In]Utilidades

Ontem numa conversa via msn, eu e o K. falámos um bocado sobre a utilidade de se votar ou não votar Sócrates nas próximas eleições - opção manifesta de gente próxima quer de um quer de outro. Curiosamente, e face ao meu manifestozito de apoio ao Bloco, o mesmo pertinente debate nasceu nos salmonetes. É um debate interessante, este, desafiador do sentido lógico e das convicções de cada um.

Nunca votei "útil" no sentido em que o voto útil é geralmente considerado, e por isso mesmo sempre estive segur@ da utilidade do meu voto. Talvez seja esta uma razão para me considerar menos habilitad@ a dissertar sobre a necessidade desse tal "voto [in]útil" nas próximas legistlativas. Ou talvez não...

Temos tido praticamente um só governo em trinta anos de democracia representativa. Um alterne PS-PSD com um eventual penetra que mudou de nome para voltar a surgir nos convites para a festa. Os resultados estão à vista de todos: perdemos produtividade, perdemos as oportunidades de crescimento, deixámos degradar a educação, a saúde e a administração pública [ai não, espera, isto é culpa dos sindicalistas, bolas...], não protegemos o ambiente, a cultura, a investigação, fomentámos a inveja, a mediocridade e a corrupção, temos um país esburacado, carcomido pelo conservadorismo, deprimido pela inércia. Este é o resultado de trinta anos de votos [in]úteis.

Estas eleições específicas, mais do que quaisquer outras mais recentes, são um convite ao voto por convicção. Santana Lopes está morto e o velador Paulo Portas já não convence nem nas feiras [aonde agora parece ter medo de ir]. Está bem claro quem vai ser o próximo primeiro-ministro, com mais ou menos colos, mais ou menos boatos, mais ou menos co-incineração. Reconhecendo embora que existe uma interessante ala esquerda no PS, essa ala se alguma força recente teve, perdeu-a na eleição de Sócrates para secretário-geral [independentemente da inevitabilidade que se possa ver neste resultado] e o que temos hoje é uma versão suavizada do PSD, uma mascarilha para a continuação das políticas liberais [no sentido europeu da expressão, não no norte-americano], uma estagnação das políticas sociais [os hospitais-empresa e o aborto são casos gritantes] -enfim, como nos últimos trinta anos, teremos o Tweedle Dee substituindo o Tweedle Dum. A única forma de tornar o meu voto útil é votar BE ou CDU, contribuindo para que exista uma maioria de esquerda no Parlamento sem uma maioria absoluta deste PS invertebrado.

A razão porque me decidi finalmente a votar BE. Bom, posso usar uma matriz próxima da que usei para o PS. O PCP está pejado de bons militantes, de bons políticos [no sentido de serviço à Polis] e faz no Parlamento um trabalho de formiguinha absolutamente sub-valorizado. Considero o voto na CDU um voto útil. Mas sinto que não posso fechar os olhos quando oiço o que devia sair da boca de um Jerónimo enredado nas frases feitas, sair limpo da boca de um Louçã [no debate na SIC Notícias] -e não falo de forma, mas de conteúdo; quando vejo um representante do PCP [perdoem-me, não me recordo do nome dele] com um discurso circular como um gato em volta do próprio rabo e uma Ana Drago com fibra, frontalidade e coerência de discurso, num ambiente que dificilmente lhe poderia ser mais adverso [num dos debates -mal-moderados por Fátima Campos Ferreira na RTP1]. Não posso esquecer-me das lutas cívicas que me movem quotidianamente e que são prioridades no programa do Bloco e de alguns progressos que graças aos seus pouquíssimos deputados se tem conseguido. Mas isto, claro, sou eu.

De qualquer modo, neste ponto não há grandes dúvidas para mim: votar útil é votar para uma maioria de esquerda. Útil é votar à esquerda do PS.