<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d5669356\x26blogName\x3dThe+Amazing+Trout+Blog\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dTAN\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://theamazingtroutblog.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://theamazingtroutblog.blogspot.com/\x26vt\x3d7427130160736514488', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

terça-feira, setembro 30, 2003

Das escutas telefónicas

Anthony: Está lá? Rico?
Rico: Está lá?
Anthony: Rico?
Rico: Estou.
Anthony: Rico?
Rico: Estou a ouvir mal.
Anthony: És tu, Rico? Não estou a ouvir.
Rico: O quê?
Anthony: Estás a ouvir-me?
Rico: Está lá?
Anthony: Rico?
Rico: A ligação está má.
Anthony: Estás a ouvir?
Rico: Está lá?
Anthony: Rico?
Rico: Está lá?
Anthony: Telefonista, a ligação está má.
Telefonista: Desligue e torne a ligar.
Rico: Está lá?

Por causa desta evidência, Anthony (o Peixe) Rotunno e Rico Panzini foram condenados e estão a prestar serviço, por quinze anos, em Sing Sing por posse ilegal de erva.


in Woody Allen, Para acabar de vez com a cultura

As Trutas - agora em livro

Isto da blogosfera é, realmente, uma coisa fantástica. Inaugurámos este nosso cantinho há apenas duas semanas e já temos quem escreva em (estrangeiro!) sobre nós.

Qual Prof. Marcelo, recomendo-vos o fantástico livro (que não li, obviamente) “How To Catch A Trout Every Time - When Spinner Fishing Your Favorite Stream Or River.”

Escreve-nos este nosso admirador:

I decided that I would understand how a Trout thinks, and see if I can increase my chances of success. Being a fairly studious type of person, it didn’t take me long to devour every book I could get my hands on from the local bookstore and the library. Within a week I knew more about Trout than 99.9% of the world's population. And guess what happened on the next fishing trip...
...
There’s a host of great general fishing tips which are covered in the book:

* Know when a Trout can see you! p.15
(normalmente, quando está a olhar para ti... mas é melhor confirmar, no livro)

* Learn the best times to fish for trout... THEIR FEEDING TIMES... Plus, learn how to catch them even outside their feeding times! (It’s a secret you must follow or you’ll get nothing.) p.24
(costuma ser ao pequeno almoço, almoço, lanche e jantar, mas realmente, no caso de algumas Trutas, há a pausa das 19:50 para as batatas fritas... é uma boa ideia, apanhá-las em frente à máquina das batatas fritas!! Este escritor sabe mesmo disto...)

* How to maintain your fishing equipment for maximum longevity. p.51 (wow.... estamos a entrar na parte hard-core)

* Learn what the ideal conditions are which cause a feeding frenzy among Trout. (Unfortunately, if one factor is out of place they will literally starve themselves until everything is in place again.) p.24 to 29 (feeding frenzy?... ok, os pacotes de batatas são pequenitos e nós somos várias, mas daí a dizer que nós "literally starve"...)

* Know when a Trout’s metabolism is in the normal range and therefore hungry! (When it’s low, they are sluggish and will not travel or look for food.) p.81 (isto não me soa mesmo nada bem!)

* How to land a big trout! (There are some conditions that are essential.) p.39
(e ficaram por aqui os comentários...)

* And many more!

sexta-feira, setembro 26, 2003

Frase do dia

A rejeição da proposta do BE contra a concentração nos "media" é típica de uma certa direita sem "curriculum", que confunde governação democrática com eleições periódicas, confunde justiça social com caridade e confunde liberdade com liberalismo.

Miguel Sousa Tavares, no Público de hoje.

Eu nem digo nada, que não vale a pena. Ide ler o artigo, ide. Uma boa ajuda para ver mais claro e pôr as ideias em ordem não é de desprezar.

Vale a pena recordar

"Gay people, well, gay people are EVIL, evil right down to their cold black hearts which pump not blood like yours or mine, but rather a thick, vomitous oil that oozes through their rotten veins and clots in their pea-sized brains which becomes the cause of their Nazi-esque patterns of violent behavior. Do you understand?"

Mr. Garrison, South Park

quinta-feira, setembro 25, 2003

Amina

A nigeriana condenada à morte por lapidação foi hoje absolvida e sairá em liberdade por ordem do Tribunal de Recurso do estado de Katsina, no norte da Nigéria.

Fiquei feliz. Não sei se foi a minha assinatura, ou todas as que constituíram o abaixo assinado que circulou o mundo (será presunção minha pensar que podem ter sido?). Mas serviram para chamar a atenção para esta horrenda condenação. Foi a consternação mundial, por ainda existir tamanha barbárie sob a forma de "lei".

quarta-feira, setembro 24, 2003

Taxistas discutem aumento das tarifas nas chegadas do aeroporto de Lisboa

Noticia hoje o Publico.pt que os representantes dos taxistas querem criar uma tarifa especial para o aeroporto de Lisboa: uma bandeirada de valor acrescido ou um suplemento de aeroporto.

No entanto, parece que há quem esteja contra, nomeadamente a Deco. Mas eu tenho a certeza de que só estão contra porque ainda não prestaram atenção ao (sensível) argumento de Florêncio Almeida, presidente da ANTRAL.

Eu reproduzo:
Questionado sobre a hipótese de os clientes poderem passar a apanhar o táxi na praça das partidas, por ser mais barato, responde que "isso já acontece, com medo de serem maltratados". Portanto, "se o utente quiser ter o táxi logo à mão, digamos assim, terá que pagar o justo valor".


Ora bem! Se não quiser ser maltratado quando entra num táxi, tem de pagar mais! Parece-me justo! E também me parece justo que os taxistas que aguardam todo o dia na praça das chegadas (porque a isso são obrigados, coitados!) cobrem uma taxa diferente, já que prestam um serviço diferente: é que, além do transporte do passageiro, fazem visitas guiadas pela cidade e arredores (mesmo que o passageiro tenha como destino o Campo Grande, fica logo a conhecer Frielas, Moscavide, Cacém, e outras bonitas localidades), proporcionam maravilhosos momentos de lazer enquanto se servem do táxi como carrossel, às voltinhas no Marquês de Pombal e, com alguma sorte, o passageiro poderá ainda viver emocionantes situações, quando o respeitável taxista decide travar a fundo quando o sinal está quase, quase a mudar para o amarelo, ou quando acelera a fundo quando avista um carro, vindo da esquerda, já no meio de um cruzamento.

Mistérios

Mas se é mistério porquê dar-lhe um nome?

Porquê atribuir-lhe caracterí­sticas?

Porquê uma confissão? Será que o secular, onde vivemos, comemos, bebemos e amamos, tem absolutamente de ser separado do espiritual? Ou será cristão ter o pão guardado? Por essa ordem de ideias, desde que a tua espiritualidade esteja (ou pense estar) em sintonia com Deus - seja lá o que isso for, porque pelos vistos tu também não chegaste a nenhuma conclusão - é legítimo que defendas polí­ticas de desigualdade, injustiça, fome e guerra? Pois, por isso é que existem os Bagões e os Portas. E os Salazares. Porque no Céu, no post-mortem, no Paraí­so, no Juizo Final, no que lhe queiras chamar, a justiça será reposta e todos encontraremos a paz.

E se estiveres errada? São sempre os mesmo que morrem, que sofrem, que choram, que desesperam e em desespero morrem. E na morte acabam, se estiveres errada, claro. Pois é, mas é um mistério, não é? E aceitar esse mistério é muito cómodo e uma boa desculpa para não se questionar o indesculpável.

Por que não assumir que o que todos nós temos é medo de nascermos e morrermos sozinhos e de nunca podermos saber o que vamos encontrar nessa solidão? O medo do vazio. O medo da nossa própria insignificância. O medo de andarmos a desperdiçar esta vida e de não termos outra para compensar. O medo de que não exista sentido nas coisas senão aquele que nós lhes damos.

E um animal não é só um animal? Um animal que nasce no meio do sangue e quando morre é comido por abutres ou vermes é o quê? Ou achas que as galinhas também têm alma? E levam-na para a cabidela com elas? E as minhocas, também têm direito a essa espiritualidade elevada que, para ti, não é fruto dos nossos 2000cm3 de cérebro? E se têm, como é que usufruem dela?

Eu considero-me espiritual, muito espiritual, mesmo. Porque penso e questiono. Porque não sigo caminhos traçados por poderes de vária ordem. Porque acho que no secular é que o espiritual se completa e pode contribuir para mudar ou melhorar alguma coisa. Porque não quero correr o risco de desperdiçar esta vida sem ter mais nenhuma para remendar...

...há quem afirme
há quem assegure
que é depois da vida que a gente encontra a paz prometida
por mim marquei-lhe encontro na vida!

A busca da verdade

Eu diria mais: quem busca Deus com sinceridade, não busca mais do que a verdade, quer disso tenha consciência quer não. Mesmo que a verdade, que é como quem diz, o conhecimento de tudo, não esteja ao alcance do ser humano. Por isso é que pessoas como tu me são tão caras e me merecem tanto respeito. Tu, não o teu Deus.

Pois é, nós somos animais e só animais. Temos 2000cm3 de cérebro, o que permitiu que criássemos artefactos e em consequência disso conceitos abstractos, como a verdade, a fé, Deus, etc. Não quer dizer que sejamos os "escolhidos" entre os restantes bichos da criação, somos fruto do acaso, como tudo no fundo. E é difícil à brava lidar com isso, eu sei, sendo filho de ateu lido com isso todos os dias desde que me lembro de pensar.

De qualquer modo, o Deus da Bíblia não está muito contente com essa procura da verdade, parece-me. Isto é, se concordares que não existe verdade sem conhecimento, por que carga de água é que Ele nos expulsou do Paraíso só porque quisemos conhecer a diferença entre o bem e o mal? E no fundo era tão simples: como escreve o Saramago no "Evangelho...", o bem e o mal não existem em si mesmos, cada um é apenas a ausência do outro.

Não tenho dúvidas, no entanto, de que tal como se explicava as trovoadas como manifestações do sobrenatural - a minha avó ainda hoje se fecha às escuras na casa-de-banho, com medo do "castigo do Senhor", o que ela terá feito para merecer ser castigada é que eu não sei - hoje continuamos a necessitar de Deus para dar sentido à nossa vida tão carente dele e para explicar o inexplicável. E que não é necessariamente de natureza divina, apenas está fora da nossa compreensão.

terça-feira, setembro 23, 2003

Elites

É muito gratificante para mim ver algo em que acredito, algo por que luto, algo que para mim é parte fulcral do sentido da (minha) vida, exposto de uma forma tão clara, tão terra-a-terra e simultaneamente tão carregada de sensibilidade. Dinheiro é fácil de ganhar, aquilo de que se fala neste post é muito mais do que isso. É o mundo, é a humanidade, é o espírito, é a justiça, são os olhos e o coração abertos.

Muito, mas muito obrigado ao Crítico.

Da Aplicabilidade do Perfil de Bloguista ou Tirem-me Daqui Que Sou Claustrofóbica ou ainda Por Que São Os Homens Tão Redutores

Eis que vemos, há dias, uma referência ao nosso blog feita pelo José Mário! Scroll down, scroll down e damos por nós a ler um post acerca do perfil típico do bloguista português... 30 anos, divorciado ou solteiro, ligação fácil à internet (que é a tradução de "não tem nada que fazer e mata-se a conseguir uma ligação mais do que dez minutos"), possível jornalista (ou numa profissão em que tenha de escrever com uma certa regularidade) ou em vias de fazer o doutoramento... Pois é... O problema é que saber feito de senso comum não costuma levar a lado nenhum, e se bem que até tenha a sua piada imaginar o bloguista-tipo (parece que já lhe estamos a ver o desenho numa qualquer esquadra... PROCURA-SE... bem, pelos vistos já há quem corresponda ao perfil), esta coisa de reduzir a complexidade dá-nos logo uns calafrios e uma falta de ar... A realidade é demasiado estranha e complexa e não se dá bem com padronizações nem com os típicos encaixotanços da era televisiva. Como sempre, a melhor parte não cabe no ecrã...

No entanto, achámos alguma graça a este carimbo criado pelo José Mário. Pela simples razão de que não podia ser mais desadequado a estas trutas (e por isso sorrimos de satisfação quando lemos o “ecléctico”, na descrição que o José Mário fez das trutas). Nenhuma de nós tem 30 anos (meu Deus, descobrimos agora que a esperança média de vida de uma truta é de apenas 20 anos!!), nenhuma de nós nada sem a sua truta-metade e não pertencemos à classe média urbana (suburbana, talvez).
Qualquer uma das trutas viveu, recentemente, momentos de verdadeira angústia e desespero em frente ao computador. There's no such thing as “acesso fácil” seja ao que for, no que toca a computadores.
Quanto às profissões por nós exercidas, mais uma vez José Mário se engana redondamente. As trutas não exercem profissões que exijam hábitos de escrita diária. As trutas escrevem apenas porque lhes apetece e nunca porque tenham de se exercitar para desempenhar qualquer outra função.

Além disso, somos trutas muito instruídas e bem posicionadas ('xa-nos cá esticar as barbatanas, que é coisa que muito se faz aqui pela blogosfera): as que, de nós, ainda não são doutoradas, são gratificantemente reconhecidas nas suas profissões - todas elas ligadas às artes - pelo mérito até agora demonstrado. E esse mérito mede-se, sobretudo, no público, nas palmas, nas multidões em êxtase e nos admiradores à espera, com flores, por vezes debaixo de chuva torrencial, ao frio e ao vento. A eles o nosso agradecimento.

Agora que contradissemos o que abaixo foi dito acerca de o blog dever valer pelo que é e não pelas pessoas que o mantêm - teve de ser, não tínhamos leitores - voltaremos à tal invisibilidade, com a correspondente impunidade.

Solvet saeclum in favilla

E assim todo este mundo é naufrágio.

Berio... saudoso.

Também temos o nosso Ary... foram não sei quantos mil que tombaram pelo Chile.

Os artistas bem que artistam, mas cada um de nós anda mais ocupadinho com outras coisinhas, não é?

O que me entristece mesmo - e uma vez que não consigo acreditar em qualquer tipo de vida consciente para além da morte - é que esta gente que trata a vida e o mundo como lixo todos os dias nunca venha sequer a perceber o crime que cometeu, em toda a sua profundidade.

Traduções com palas nos olhos

Síndrome do Revisor Não Praticante: quem me conhece sabe que sempre sofri deste mal - a nossa Vermelha até deu uma ajudinha numa meteórica conversão às regras da assembleia. É por isso que tenho de partilhar convosco as minhas questões existenciais.

Tudo isto porque a RTP vai passar o filme que leva o título de Le fabuleux déstin d'Amélie Poulain. Ora o tradutor português achou por bem reproduzir o título tal e qual, mas cortando o apelido da rapariga - donde, O fabuloso destino de Amélie. Mas porquê? Qual é a opção estética subjacente a esta escolha? Será só porque Poulain não rima com destino? Será que quem deu nome ao filme reparou que a moça é chamada sempre de Amélie Poulain e que essa é uma escolha do realizador e do argumentista? Será que não se apercebeu que Amélie mais não é do que uma personagem de BD e que portanto a sua identidade assenta no nome completo?

Ou será que ainda vamos ver "Uma aventura de Corto" ou "Os irmãos Dalton reencontram Lucky"?

Vale a pena recordar...

O que uma pessoa encontra ao vasculhar as actas do nosso muito querido The Amazing Trout Club... Um excerto de uma notícia que deve ter sido publicada na Lusa (mas para ser sincera já não tenho a certeza...) em Janeiro deste ano (antes da invasão do Iraque, portanto).


«O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, afirmou hoje que uma tentativa de ataque terrorista no Reino Unido de grupos como a Al-Qaeda é "inevitável".
De acordo com o primeiro-ministro, "as recentes detenções mostram que a rede terrorista está lá como no resto do mundo". »

(o que é que será que ele quis dizer com isto?! "Povo nepalês, tremei de medo porque a Al-Qaeda também está entre vós"??)

«Blair considerou ainda que existem "informações que apontam para ligações entre membros da Al-Qaeda e algumas pessoas no Iraque", ressalvando que não "existem provas que liguem membros do regime iraquiano a elementos da Al-Qaeda". Porém, o chefe do Governo britânico sublinha que afirmar que "não existe qualquer ligação entre a Al-Qaeda e o Iraque seria igualmente falso".»

(La Pallice faz um sucesso entre estes gajos...)

segunda-feira, setembro 22, 2003

Bush promete retaliação se o planeta for atingido por asteróide

in actas do The Amazing Trout Club


Autor: Truta Azul
Data: 2/1/2003
Hora: 21:48

(A Truta Azul não citou a fonte desta notícia e eu também não vou adivinhar...)

O presidente dos Estados Unidos da América, George W. Bush, afirmou que o seu país retaliará no caso de a Terra ser atingida por um asteróide de largas dimensões. Este comentário surge na sequência da descoberta efectuada por astrónomos de um observatório no Novo México e que aponta como possível, ainda que, por enquanto, improvável, o embate de um asteróide com cerca de dois quilómetros de diâmetro com a superfície terrestre no dia 1 de Fevereiro de 2019.
"Estamos preparados para ataques deste género e estamos convictos de que a tragédia de 11 de Setembro não se voltará a repetir," afirmou Bush, "Quem ousar atacar os Estados Unidos da América terá de pagar, sejam talibans, o Saddam, uns pretos... perdão... uns afro-americanos quaisquer ou a própria natureza."
De acordo com os cientistas, existe uma possibilidade muito real de o planeta ser atingido por um objecto celeste de grandes dimensões, visto que esse tipo de coisas já aconteceu várias vezes no passado, normalmente com intervalos de vários milhões de anos. No entanto, são necessários mais cálculos para averiguar a possibilidade real de o asteróide 2002 NT7 colidir com o planeta Terra dentro de apenas dezassete anos.
A comprovar-se, o impacto deste asteróide com o nosso planeta poderá provocar uma catástrofe à escala mundial, libertando uma quantidade imensa de energia que destruirá tudo na zona de impacto e provocando ondas gigantes que destruirão zonas costeiras em diversas áreas do planeta. Para além disso, as perturbações no campo electromagnético da Terra destruirão de uma forma irreparável todos os equipamentos electrónicos de que a humanidade depende para assegurar a sua própria existência.
Em conferência de imprensa que se seguiu à reunião em que um grupo de astrónomos tentou explicar ao presidente o funcionamento do universo durante cinco longas horas e com o auxílio de gravuras ilustradas e vídeos didácticos, Bush afirmou que "se o universo decidiu passar-se para o lado do terror e lutar contra a democracia, a liberdade, o progresso e tudo o que é bom, ou seja, os Estados Unidos da América, vamos fazê-lo arrepender-se de ter nascido e ainda mais de se ter passado para o lado que não está do nosso lado e, por conseguinte, está contra nós e, ainda por cima, é nosso inimigo." Como medidas retaliatórias, Bush prometeu bombardear o universo, destruí-lo completamente, derrubar o seu governo e instituir um regime fantoche.
Numa conferência de imprensa adicional, alguns minutos depois, o presidente voltou a dirigir-se ao mundo para fazer algumas correcções. "Disseram-me agora que os Estados Unidos da América não têm ainda capacidade militar para bombardear o universo por isso teremos que detectar os aliados do universo na Terra e bombardeá-los a eles," corrigiu.
De acordo com fontes da Casa Branca que nos forneceram informação confidencial em troca de berlindes coloridos, os países apontados como prováveis colaboradores do pérfido universo são, surpreendentemente, o Sudão, o Iraque, o Irão, a Coreia do Norte e a Líbia. Os governos destes países já se manifestaram igualmente preocupados com a possibilidade de a Terra ser atingida por um asteróide e garantiram não ter qualquer responsabilidade no assunto. A única excepção foi o governo da Coreia do Norte que não confirmou nem desmentiu, deixando aberta a possibilidade de serem os norte-coreanos os responsáveis pelo possível embate com o corpo celeste.
Posteriormente, o secretário de Estado americano, Colin Powell, e o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, confirmaram em conferência de imprensa conjunta que o governo dos Estados Unidos estaria a procurar estabelecer contactos com o universo para averiguar qual a possibilidade de se estabelecerem conversações com o agressor de forma a evitar um confronto directo. "Se tal não for possível," afirmou Powell, "procuraremos convencer o inimigo a encaminhar o asteróide para longe do território americano e também dos territórios dos seus aliados... mas sobretudo do americano, claro."

A síndrome do macho latino

Depois de toda a polémica, o maestro Miguel Graça Moura ficará mesmo à frente dos destinos da AMEC - Associação Música Educação e Cultura, que tutela a Orquestra Metropolitana de Lisboa e cinco escolas agregadas, entre as quais a Academia Nacional Superior de Orquestra. A proposta que poderia ter levado à sua destituição foi chumbada com 14 votos contra e 11 a favor.
Depois de o jornal EXPRESSO ter denunciado uma altamente condenável utilização dos dinheiros da Orquestra Metropolitana para fazer face a despesas pessoais, eu penso que esta desculpabilização do maestro só se poderá justificar pelo interessantíssimo fenómeno que constitui a “síndrome do macho latino”.
Repare-se:
As tais despesas pessoais incluíram mesquinhices como desbaratizações (?!), contas de água, luz e telefone (que, ao que parece, chegavam a atingir as centenas de contos por mês), artigos de cozinha (blargh! esta fez-me imaginar MGM de avental, em frente ao seu novíssimo trem de cozinha patrocinado pela Orquestra Metropolitana...), artigos para o lar (nem imagino o quê! nem quero, na verdade...) e botões de punho em ouro no valor de 100 contos. Se a lista ficasse por aqui, não tenho qualquer dúvida de que o maestro seria imediatamente posto na rua. Mas não fica! A Orquestra patrocinou ainda ao maestro estadas em hotéis da zona de Lisboa, como o Hotel Albatroz, em Cascais (50 contos por noite), e no Ceasar Park de Sintra (duas diárias que custaram 144 contos e, de outra vez, uma noite de 96 contos), passagens aéreas e estadas «no estrangeiro», sem especificação do destino ou do motivo, um vestido (!) e viagens a Portugal pagas a três cidadãs estrangeiras (de quem, curiosamente, nunca ninguém ouviu falar). Pois aqui é que ele se safou! No momento da votação, todos os homens presentes devem ter sentido uma profunda admiração pelo maestro. “Ao menos se eu me tivesse lembrado de fazer o mesmo...” Nesse momento, os votantes esqueceram o trem de cozinha e as desbaratizações e votaram no maestro. “Um gajo assim honra a classe!”

No fundo, foi o mesmo fenómeno que desculpou Tomás Taveira... e o mesmo que levou Jô Soares a perguntar a Marta Suplicy, prefeita de São Paulo, se ela usava “calcinha vermelha” (só porque, segundo dizem, a prefeita é uma mulher modernaça e bem-disposta). Ao que ela lhe perguntou se também tinha demonstrado interesse pelas cuecas de Fernando Henrique Cardoso quando foi ele o convidado. E bem.

domingo, setembro 21, 2003

Praia do Almoxarife, Faial, 19 Agosto 2003
Fim da tarde


Doem-me os pés. Estive no meio das nuvens, encharcado até aos ossos, duvidei seriamente das minhas capacidades para chegar ao ponto mais alto de Portugal. Mas cheguei. Pisei a cratera e vi as nuvens de cima. Almocei e deixei-me secar ao sol, como uma pele a curtir.

O Pico é poderoso, agreste e generoso. Com a altitude muda de caras e de cheiros, os fetos que nos dão as boas-vindas na base vão cedendo lugar ao lilás pequeno das urzes e aos musgos resistentes. Pelo caminho cruzam-se caminhantes e caminheiros, trocam informações, sorrisos, cumplicidades e bons augúrios.
Boa descida!
Boa subida!

E finalmente a caldeira, a cratera. Surge inóspita e colossal, mas abriga-nos e acolhe-nos no calor forte do Sol por sobre as nuvens de cujas entranhas saímos ensopados.

Mais cem metros e estaria no Piquinho, o ponto mais alto, mas a ganga molhada prende os movimentos e a coragem também ficou a curtir ao sol. Vejo o Pedro e o Filipe escalando e ali me fico, sobrevoando o mundo. E estou feliz.

E as encostas do Pico recebem-nos de novo, levam-nos pela mão. E de novo o coração das nuvens, e de novo a chuva, e de novo o sol, e de novo o coração das nuvens. E de novo o sol, e a bocarra da Furna escancarada para nós. E os fetos e as giestas. E caminhantes que agora se fazem ao dorso rochoso do vulcão adormecido, prestes a tornarem-se personagens de mais um sonho. Como nós antes deles. Como outros que agora descem e nos rochosos abrigos do sonho pernoitaram.

E depois uma esplanada na Madalena e algum merecido repouso. E depois bom tempo no canal onde o mar não tem marés a medir. E o ilhéu deitado e o ilhéu de pé. E a fenda que afinal é golfinho que afinal é santa. E os cagarros nadando e voando e planando contra o vento, os cagarros ainda em silêncio porque a luz do dia os abraça.

E o Faial. E a oferta do Filipe, que foi afinal muito maior do que dois cadernos nepaleses feitos à mão a partir de lokta, uma planta que cresce entre os 3500 e os 4000 metros de altitude.

E nós. Felizes.

Saudades de casa...

E aqui estou eu, gozando os últimos dias de calmaria antes dos vários ciclones de correria, stress (perdoem o itálico e a falta do "e" no fim, mas no meu dicionário pessoal esta continua a ser uma palavra estrangeira), angústia, realização e felicidade que tomam conta de mim quando estou a trabalhar. Não pensem que escrevo isto de ânimo leve: tenho perfeita noção do enorme privilégio de que usufruo.

Mas mesmo assim ainda adormeço com o som das cagarras conversando na noite sobre a tenda e acordo com a esmagadora saudação do Pico, observando o nosso despertar do outro lado do canal, ou com o Vale das Furnas verdejando sob a nossa varanda.

Não me levem a mal. Não são saudades das férias, que muitas vezes são a altura menos interessante do ano... são saudades destas férias. São saudades dos Açores.

sábado, setembro 20, 2003

Emanuel: Revolução na música popular

E falando em Tony Carreira, não resisti a desenterrar este inocente divertimento, lá dos trutíferos arquivos, dos idos em que o germe deste belogue surgiu. Falo, é claro, do nosso querido The Amazing Trout Club.

Emanuel: Revolução na música popular
Autor: Manel da Truta
Data: 14/5/2003
Hora: 22:19

Agora é pá galhofa!

No armazém onde a malta tem estado a ensaiar há umas revistas dos co-locatários, entre as quais fui descobrir uma Super Maxim com uma entrevista que é uma revelação para qualquer músico. Deliciem-se com alguns trechos, que eu cá nem comento.

Super Maxim, Setembro de 2002

"Emanuel, isso do pimba ainda está a dar?

-Sempre deu e continuará a dar. A diferença é que a partir de 1994, em vez de cinco, passámos a ter 500 cantores de música ligeira popular. Alguns intragáveis (tipe, tu?), uns razoáveis outros bons e cerca de dez muito bons (eles são mesmo muitos, foda-se!).

Então porque é que o Emanuel não aparece na televisão?

-Aí estamos a falar do factor moda, empolgado (desta gosto, empolgado...) pelos média. Entre 1996 e 1998, foi a moda do pimba, que desapareceu com a vinda (vinda?... de onde?) das "boys" e "girlsbands". Mas isso também já acabou. Acredito que a música popular vai regressar, talvez com menos impacte (também gosto, impacte...).

Mas o pimba só virou moda porque as pessoas gostam de ouvir música sobre sexo (a música em cima do sexo, ahn, o quê? queres ver que no pimba também há música programática?)...

-Nada disso. Quando escrevi o "Nós Pimba", nunca levei a letra para o lado sexual (eu nessa altura até andava no seminário e escrevi aquilo para uma aula de Introdução à Filosofia de Santo Agostinho...). As pessoas é que fizeram isso. E ainda bem! Mas o verdadeiro sucesso está na magia da melodia (whooooa!)...

O segredo, então, não está na magia do sexo?

-Não. Está na melodia. Andei vários anos a pesquisar e a desenvolver a música popular para conseguir esta sonoridade (acho que vocês na Gulbenkian a esta hora devem ter ouvido a minha gargalhada! Nem consigo comentar... Ainda estou com o diafragma aos pulos.)...

As músicas populares são todas iguais!

-Não senhor. Sou músico e produtor experimentado. Estudei música tradicional, que não saía da cepa torta (o Graça e o Giacometti só não andam às voltas no túmulo porque vozes de burro não chegam ao céu), para saber como haveria de criar um novo estilo. Analisei tudo, do vira ao corridinho, e verifiquei que o que controlava melhor o ritmo do corpo era o chula (o chula? E é assim mesmo, o ritmo do corpo quer-se é bem controlado e quadrado, como a música, que é para dar com a forma do cérebro do compositor). A partir daí, criei novos sentidos melódicos (diafragma aos saltos). Isto é mais complicado do que as pessoas pensam (diafragma no tecto).

É como criar um produto novo...

-Sim, mas não é como uma lata de sardinhas. Isto é arte. É uma obra-prima da música popular (Amoooor! Viste por aí o meu diafragma?). Mas lá chegaremos. A história está a jogar a meu favor. Quando algum técnico (sim, um técnico de resíduos sólidos...) que perceba de música analisar o meu trabalho, vai perceber que houve uma revolução (e mai nada!) na música popular. Foi essa revolução que fez o sucesso.

Já entendemos que isto é um produto muito bem pensado, mas a verdade é que a maioria das pessoas diz que o pimba não presta.

-Quando ouço essas coisas não sei se chore se ria (estás como eu a ler esta entrevista!). Já devíamos ter abandonado essa mentalidade (livra!!!!). Não gostar de uma coisa não significa que não tenha qualidade (pois não, eu farto-me de dizer é muito bom, está muito bem feito, mas não gosto. Claro que nunca o disse em relação a ti, filho!). As pessoas têm de entender que para diferentes estados emocionais há diversas músicas.

Mas apesar da qualidade da sua música, sabe que nunca será convidado para dar concertos no CCB ou no Casino. Isso deixa-o triste?

-Não. Ter vinte mil pessoas à frente (eu tive cinquenta mil na manif, tunga!), em apogeu máximo (que dizer mais?) e a cantar as minhas canções, é uma sensação tão boa como estar a cantar no CCB. Os outros músicos não são melhores do que eu (presunção e água benta...). Desenvolvem é a arte de outra forma (...tanto dá até que fura.). Se tivesse continuado a tocar guitarra quatro horas por dia - como tocava - (e a tansa da minha irmã, agarrada ao piano o dia todo? Tenho de lhe dizer que é um desperdício de tempo!)em vez de ser orquestrador e produtor, se calhar também estava lá.

Pois, mas será sempre um pimba e não alguém que faz arte. Aceita bem isso?

-Sou um homem crescido e evoluído, por isso tenho de ser condescendente (obrigada, Rabi! Que seria de nós, pobres seres pensantes, sem a tua infinita misericórdia?!). As pessoas não conseguem ver a diferença entre o bom e o mau (oh pá, é que está tão escondida...). Metem os cantores deste género no mesmo saco (pois, bela ideia. Todos num saco e o saco pelo rio abaixo. Morra o pimba, morra glup glup glup!). Não aceito bem isso, claro. Preferia que as pessoas estivessem mais elucidadas."

Ora digam lá que não foi um bocadinho bem passado. E para terminar em beleza só queria acrescentar que também apanhei uma noticiazinha onde a Cláudisabel (acho que é assim que se escreve...) diz que vai fazer um monólogo... com outra artista.

Palavras para quê? Artistas portugueses...

Também, eu tenho azar...

Cometi o erro de ligar a televisão a esta hora, neste dia da semana... e apanho o fim do Top Mais e descubro que o segundo lugar das tabelas é ocupado por nada mais nada menos que Tony Carreira, ao vivo no Pavilhão Atlântico! Eu sei, eu sei, estamos em Portugal. Mas o homem não canta, o homem não dança, o homem não tem qualquer tipo de sex-appeal, mais parece um escriturário a cantar para um carimbo ou um guarda nocturno de um banco ou de uma multinacional em pleno acto de abocanhamento de uma lanterna!

Sim, eu sei, a música! É a música que vale. E a música é uma grandessí­ssima merda, o que hoje-em-dia é meio caminho para vender e ascender ao estrelato, nem que seja para fazer render o peixe nunca mais criando nada mas aparecendo nas revistas durante os dez anos seguintes. Ainda assim, custa-me a engolir, o que é que querem?

P.S.
Em primeiro lugar no top estão os Tribalistas... e depois não acreditam em mim quando grito aos nove ventos que somos um paí­s esquizóide e sem acompanhamento psicológico...

sexta-feira, setembro 19, 2003

Fantasias abruptas ou Presunção e água benta...

Escreveu JPP que troca o seu comentário na SIC pela escolha dos temas do Fórum TSF.
Concordo, estes fóruns estão completamente desfasados da realidade! Então onde é que já se viu fazerem fóruns sobre obras públicas (tipo, viadutos pedonais, calculo que JPP não os utilize frequentemente, mas daí até ser um tema de esquerda...), a Justiça (ora mas que raio de ideia! comunas, de certezinha!), a Assembleia da República (pff, devem achar que a esquerda é democrática!), a educação (educação, educação, por mais que estudem nunca conseguirão descodificar o Abrupto!)? Realmente JPP tem razão: onde é que já se viu, deixar falar quem por tradição só leva no cachaço?! Ahn?! E que nitidamente não tem qualificações para tomar conta da antena! Esquerdelhos!

Se bem que só quando vir esclarecida aquela investigação luso-francesa que fala do envolvimento de um ou mais ministros do actual governo em actividades pedófilas é que me convenço de que a Esquerda está a apoderar-se da nossa comunicação social.

Ou quando o José Manuel Fernandes deixar de ser director do Público.

Ou quando vir publicada neste mesmo jornal a minha resposta à coluna de Eduardo Prado Coelho sobre o hífen (ver neste belogue "Guerra Ortográfico-Ideológica"; agradecido...).

Ou quando por cada nove vezes que surge no écran o Durão Barroso apareça uma vez (umazinha, só umazinha) o Carlos Carvalhas ou o Francisco Louçã, ou ambos (isso é que era uma intentona!!).

Ou quando vir nomes como o de Manuel Gusmão, Urbano Tavares Rodrigues ou Vital Moreira, por exemplo, a abrilhantar o painel de comentadores de algum programa televisivo.

Ou quando as sanções disciplinares e as expulsões forem tão importantes quando ocorrem no PCP como no PP, PS ou PSD.

Como vê, JPP, pode ficar descansado, a invasão vermelha ainda vem longe.

Agora, há uma coisa que me faz espécie: o JPP não é de direita?! Como é que um rapaz tããão inteligente escolheu tão mal o partido? Não lhe explicaram onde se ia meter quando se inscreveu? É triste, ao fim de tantos anos aperceber-se de que esteve sempre equivocado, não?

Ou estou a dar-lhe a notícia em primeira mão?! Tenha calma, tenha calma! Respire... Ok!... Uff!

Por outro lado, eu conheço as suas opiniões e os seus textos (também, que remédio, como fugir-lhe se ele insiste em perseguir-nos por todo o lado?)... O JPP não é de direita? Pois... presunção e água benta...

O que reanlemte nos inertessa

Já devem ter recebido aquele e-mail que anda a circular no espaço cibernáutico há uns dias, com um etsduo fieto plea Uinvesriadde de Cmabgirde e que eu me escuso aqui de reproduzir, até porque o Barnabé já o fez.

É fantástica a capacidade que o nosso cérebro tem de se abstrair dos erros para captar aquilo que realmente nos interessa... agora já percebo por que é que aquela marca nova de roupa, a French Connection United Kingdom, cuja etiqueta é constituída apenas pela sua sigla, está a fazer tanto sucesso....

quinta-feira, setembro 18, 2003

Maria, o chá!

Luís Sepúlveda, o que eu gosto deste gajo!
Lançou um novo livro nos trinta anos do 11 de Setembro chileno, cuja acção se inicia no dia da morte de Allende. Pequenas pérolas em entrevista televisiva:

"Para evitar a extradição Pinochet teve de ser declarado louco. Espero que viva mil anos declarado louco."

"Os dois onzes de Setembro têm algo em comum: são ambos resultado da desastrosa política externa norte-americana. Foram Nixon e Kissinger quem armou os golpistas no Chile e foram os EUA que armaram os talibãs."

"Os portugueses devem ter-se sentido muito envergonhados ao verem o seu próprio primeiro-ministro subservientemente 'servindo chá' a Bush, Blair e Asnar enquanto estes decidiam sobre a vergonhosa invasão do Iraque."

Um golpe de ironia, dois de clarividência, e até já me corre melhor o dia. Que gente assim exista vai-me mantendo com alguma esperança na humanidade...

Pois... a cultura tem destas coisas

Sofia Cerveira, Cartaz SIC Notícias, espectáculo Alma em Lisboa, no Convento dos Inglesinhos, Bairro Alto. Diz que Alma Mahler teve três maridos e outros tantos amantes (re)conhecidos, que foi uma mulher fascinante, que percorreu o mundo e que passou por Lisboa a caminho dos Estados Unidos em fuga da Europa ameaçada pelo nazismo, como tantos outros na sua época. É certo que já não estaria então na flor da juventude, longe disso, mas daí até ter cerca de 250 anos, oh Sofia, calma aí! Nesta altura do campeonato Deus Nosso Senhor já se tinha deixado de milagres desses... "Uma extraordinária mulher que viveu no séc.XVIII", foi o que eu ouvi! Brrrrr...

Bem, toda a História da Arte terá de ser reconstruída depois desta revelação espantosa (se bem que quem ouviu da boca de um auto-intitulado maestro que Bach era minimalista já nem se espanta com nada)... concluiremos, portanto, que Gustav Mahler foi um compositor barroco e que Klimt, Kokoschka e Gropius foram, sem dúvida, grandes nomes da pintura e da arquitectura setecentistas. Ou então também viveram tanto como o Noé.

quarta-feira, setembro 17, 2003

Insucesso escolar desmistificado

Não sei se já ouviram falar de um moço que dá pelo nome de Ricardo B.... é um dos residentes da casa do Big Brother. Ora, parece que esse rapaz alentejano tem graves problemas com a língua portuguesa, o que já lhe valeu um valente achincalhanço por parte da apresentadora do programa. Teresa Guilherme decidiu divulgar ao país (queixinhas!) alguns dos erros ortográficos cometidos pelo dito residente aquando do preenchimento da sua ficha de inscrição. Imaginem só o que não será preciso fazer, nos dias que correm, para que alguém se distinga pelos erros ortográficos que dá!
Perdoem-me a distracção, mas não prestei a devida atenção a essa pérola televisiva que é o Big Brother, e consegui apenas fixar que o rapaz trocava os "s" pelos "c" - parece que escreveu qualquer coisa do género "quando era pequeno gostava de cer bombeiro" (ou outro ofício do género, não prestei mesmo atenção) e que "é uma pessoa muito feliz graças adeus" (também já não sei se era exactamente esta a frase, não interessa).

Mas não é que ontem, estava eu a passar os olhos pela TV Guia (não, não estava no consultório do médico, foi mesmo em minha casa), quando percebi a razão de "cer" do problema de Ricardo B.:

"Isaura Barreiros, a mãe de Ricardo, desdramatiza os erros ortográficos do filho. 'Ele sempre foi assim, a trocar os s pelos c. Na escola, era obrigado a escrever 20 vezes os erros que fazia, mas... voltava ao mesmo."

Senhores professores, então não era melhor pôr a criança a escrever 20 vezes a palavra correcta? Coitado do pequeno, assim não há possibilidade de sucesso escolar que aguente!

Dissertação regada em Big Brother

Desde sempre me lembro de ouvir os actores de novelas contarem as reacções das pessoas na rua sempre que encarnavam vilões: a maior parte dos espectadores confundia actor com personagem e chegava a insultar o desgraçado que só estava a fazer o seu trabalho - e em princípio bem, já que era convincente...

Mas o povo evolui, a humanidade está em constante devir. Já não somos bimbos, não senhor, já sabemos distinguir as coisas. Não importa se faz de mau. É actor, pronto. E como aparece na televisão é famoso. E é por isso mesmo que para os residentes da casa que todo o país cusca

- será que nas penitenciárias também falam assim da malta, "os nossos residentes"... pá, pelo menos dos presos preventivamente há quatro anos, é uma questão de consideração -

para estes residentes, mais importante do que passar muito tempo em preventiva até que seja impossível - mesmo a quem se está cagando para eles - não lhes reconhecer as fuças e até o nome, é fazer merda antes de sair.

Ora pensem comigo: assim o povo vai dizer quando os vir cá fora, "olha filho, aquele é o jovem que nos proporcionou tão bons momentos de televisão quando tratou mal os colegas e deu um pontapé na outra", ou "vês, amor? este é aquele que na televisão segurava a cabeça das miúdas com as mãos para manter à força as caras delas a dois milímetros de distância da dele durante as conversas, não te lembras?, aquele que quando o contrariavam apanhava valentes carraspanas e obrigava toda a gente a aturar-lhe as neuras e a estupidez".

E pronto, a star is born.

Graçola do dia

Diz o Senhor Carne que os blogs deviam ser todos anónimos, que qualquer blog deveria valer por si enquanto tal, que os bloguistas deveriam escolher os seus preferidos baseados no conteúdo dos blogs e não no nome de quem está por detrás deles e que o nome de quem está por detrás deles deveria revelar-se e valer pelo que é no blog e por mais nada.
Pá... eu até curto essa cena dos "Bloguistas Anónimos", mas assim ninguém lia o Abrupto!

Consciência de Classe

Caríssimo STATLER e Marretas em geral:

A consciência de classe é uma coisa cada vez mais difícil de encontrar, mesmo no mais fodido dos cidadãos - por uma qualquer razão obscura, a maior parte da malta prefere deixar-se foder sozinha do que confessar ao parceiro que o fodem todos os dias contra a sua vontade - e sair em defesa dos nossos semelhantes é, por isso mesmo, uma coisa rara e muito bonita...

... mas sem querer ser desmancha prazeres, palpita-me que a esse senhor Castelo-Branco, o nome Marx só deve lembrar aquele rapaz de cabelo à futebolista, que cantava "wéréver iu gou, wáréver iu dú..."

E se calhar ainda bem, não fosse o vosso caro companheiro de bricolage desmanchar-se apoteotica e apopleticamente.

Onde é que vocês estavam no onze de Setembro?

Pois é, agora os americanos já têm o correspondente ao nosso "onde é que você estava no 25 de Abril?", que é (como não podia deixar de ser) o "onde é que você estava no onze de Setembro?"
E eu não resisto a partilhar convosco uma história engraçadissíma vivida, em pleno nine-eleven, por um casal famoso - George e Laura Bush. Eles são mesmo um prato! De ir às lágrimas!
Realmente há pessoas fantásticas, capazes de manter a boa disposição quando toda uma nação está deprimida, assustada, em profunda angústia e sofrimento. E ainda bem que são essas as pessoas que conduzem os destinos da nação!

Quem nos conta esta história - hilariante, atrevo-me a dizer mais uma vez - é Michael Moore. Transcrevo o bocadinho que me fez rebolar no chão a rir.


"1. GEORGE AND LAURA ON 9/11 -- A BARREL OF LAUGHS!

The following is an interview with the First Couple from the current issue of one of my favorite magazines, Ladies Home Journal (Oct. '03). They are asked about what September 11, 2001, was like for them personally, and, although over 3,000 people had just perished, George W. was able to find some humor by the end of that day:

Peggy Noonan (the interviewer): You were separated on September 11th. What was it like when you saw each other again?

Laura Bush: Well, we just hugged. I think there was a certain amount of security in being with each other than being apart.

George W. Bush: But the day ended on a relatively humorous note. The agents said, "you'll be sleeping downstairs. Washington's still a dangerous place." And I said no, I can't sleep down there, the bed didn't look comfortable. I was really tired, Laura was tired, we like our own bed. We like our own routine. You know, kind of a nester. I knew I had to deal with the issue the next day and provide strength and comfort to the country, and so I needed rest in order to be mentally prepared. So I told the agent we're going upstairs, and he reluctantly said okay. Laura wears contacts, and she was sound asleep. Barney was there. And the agent comes running up and says, "We're under attack. We need you downstairs," and so there we go. I'm in my running shorts and my T-shirt, and I'm barefooted. Got the dog in one hand, Laura had a cat, I'm holding Laura --

Laura Bush: I don't have my contacts in , and I'm in my fuzzy house slippers --

George W. Bush: And this guy's out of breath, and we're heading straight down to the basement because there's an incoming unidentified airplane, which is coming toward the White House. Then the guy says it's a friendly airplane. And we hustle all the way back up stairs and go to bed.

Mrs. Bush: [LAUGHS] And we just lay there thinking about the way we must have looked.

Peggy Noonan (interviewer): So the day starts in tragedy and ends in Marx Brothers.

George W. Bush: THAT'S RIGHT-- WE GOT A LAUGH OUT OF IT!

(end)"

Um prato, este presidente... um prato, só vos digo!

segunda-feira, setembro 15, 2003

Guerra ortográfico-ideológica

Hoje deparei com uma coluna no jornal diário que habitualmente leio, patrocinada não sei por quem, em que um dos meus colaboradores favoritos do dito matutino, Eduardo Prado Coelho, teorizava sobre comparações políticas e fanatismos. Entre os seus argumentos para discordar do cartaz empunhado pelo simpático, velhinho e possivelmente militante do Partido Comunista Português, no qual de um modo simplificado e simplista se comparava Bush a Hitler, não vi contemplada a política de guerra preventiva, nem tão pouco a de invasão, de desrespeito limite pelos direitos humanos, de atropelo voluntário de qualquer regra internacional, de promoção e apoio de ditaduras sanguinárias. Numa coisa estaremos de acordo, no entanto: o que Hitler tinha a mais de loucura e psicopatia, Bush compensa com estupidez. Só o tempo dirá se uma é realmente mais perigosa do que a outra. Posso ainda dar uma achega ao faccioso e falacioso aproveitamento ideológico feito por E.P.C: estive presente em quase todas as manifestações anti-guerra (com hífen, será fanatismo?) realizadas em Lisboa e nelas vi cartazes semelhantes empunhados por simpáticos jovens comunistas, bloquistas, socialistas, independentes, enfim, um autêntico arco-íris. E por menos jovens. E por simpáticos velhinhos, decerto inconscientes. Eu, confesso, nunca transportei um, nem faço questão.

Nunca vi, numa coluna sua, E.P.C. insurgir-se contra comparações semelhantes em que a primeira variável não é Bush, mas Estaline - e desde já me penitencio se estiver errada ou se tenho andado distraído. As semelhanças serão imensas, mas também as diferenças. E penso que a diferença mais significativa é ideológica, filosófica e intelectual - a diferença entre um ditador que ascende nas contingências de uma revolução longa, lenta e difícil e o ideólogo de uma supremacia racial, de uma política de desigualdade, extermínio e imperialismo que com base nessas premissas e com o único objectivo de as cumprir ascendeu ao poder - com terríficas consequências dificilmente equiparáveis por qualquer outro tirano. Ou é essa a nossa esperança. Será só filosofia, será uma diferença abstracta, mas não é E.P.C. um intelectual, na melhor acepção da palavra?

Isto significa que o combate ao reflexo condicionado que a sineta do anticomunismo (o corrector ortográfico do meu computador sugere-me que não utilize o hífen - acedo, embora relutante), tão profundamente enraizou no salivante pensamento ocidental do pós-guerra, é ainda uma longa aventura. Na Festa do "Avante!" multiplicaram-se os debates, as discussões políticas, sociais, ambientais, económicas, culturais, confrontaram-se posições e argumentos, pensou-se. Presentes estiveram pensadores de vários quadrantes, naturalmente também muitos militantes, muitos simpatizantes do PCP, um partido que se assume como marxista-leninista - assim mesmo, com hífen e tudo, não obstante a sabotagem do corrector ortográfico. Que dizer dos pensadores que com ele se identificam, que nem são assim tão poucos nem tão insignificantes? Mas a Festa do "Avante!" tem destas coisas maravilhosas: existe neste tempo e com gente real, viva e acordada. E quem a conhece por dentro não pode deixar de sorrir com algumas condescendentes apreciações de quem de fora julga e opina. Ora a partir daqui dificilmente se entende que um dos nossos mais interessantes intelectuais, no mesmo espaço em que já nos ofereceu tantos e tão generosos testemunhos do seu humanismo, da sua inteligência, do seu sentido de justiça, da sua visão aberta do mundo e, não menos importante, da qualidade da sua prosa, consiga demonstrar um simplismo e uma estreiteza de horizontes dignos de alguns dos seus antípodas filosóficos, caçando uma espécie de gambozinos do pensamento neo-liberal. Deve ser a isto que chamam "independência intelectual".

Manel da Truta, 9/9/2003