quarta-feira, março 31, 2004
TSF, retrato de uma decadência
Um amigo em choque disse-me hoje que a TSF já passa canções dos Anjos. Está declarada a morte cerebral. Se bem que os maninhos sempre cantam um bocadinho melhor que o João Pedro Pais.
Um amigo em choque disse-me hoje que a TSF já passa canções dos Anjos. Está declarada a morte cerebral. Se bem que os maninhos sempre cantam um bocadinho melhor que o João Pedro Pais.
Ainda temos 8 - OITO!!! - bilhetes para oferecer
... e que nervos isto nos está a dar!
ADENDA: Continuamos com 8 bilhetes para oferecer. Precisamos de começar a pedir dinheiro por eles, para perceberem que vale mesmo a pena e que se trata de uma coisa com qualidade? A oferta termina às 19.30.
... e que nervos isto nos está a dar!
ADENDA: Continuamos com 8 bilhetes para oferecer. Precisamos de começar a pedir dinheiro por eles, para perceberem que vale mesmo a pena e que se trata de uma coisa com qualidade? A oferta termina às 19.30.
SALDOS · REBAJAS · SOLDES · SALE · SALDI · REDUZIERT
As Trutas, na sua imarcescível magnanimidade e infinita bondade, vêm por este meio oferecer dez bilhetes para o ensaio geral da Paixão Segundo S. João, de J.S.Bach, hoje, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, às 20.00h.
Uma vez que só podemos disponibilizar 10 bilhetes mas não queremos assistir a atropelos e agressões entre todos os que ansiavam desesperadamente por esta oportunidade, as Trutas acharam por bem oferecer dois bilhetes a cada uma das primeiras cinco pessoas que aqui deixarem um salmonete.
Sim, é mesmo verdade! Não terão de responder a quízes manhosos nem adivinhar a cor favorita de cada uma das Trutas. Basta apenas que deixem um salmonete NESTE POSTE dizendo:
- que gostavam muito de ir ao ensaio geral;
- a razão pela qual este será o dia mais feliz das vossas vidas (ok, esta é facultativa);
- se querem mesmo os dois bilhete ou apenas um, caso em que esta experiência única será concedida a mais do que cinco pessoas;
- o nome com o qual pretendem levantar os bilhetes na bilheteira da Fundação Calouste Gulbenkian, entre as 19h e as 20h. Se preferirem não divulgar esse dado, podem enviar um e-mail para as Trutas (o endereço encontra-se na coluna do lado esquerdo do templeite).
ADENDAS DA VERMELHA:
ADENDA 1: Como não temos a certeza de a bilheteira estar aberta, os bilhetes estarão, a partir das 18h, na portaria, logo à entrada, na posse do segurança que costuma estar atrás de uma mesinha em PVC, com cara de mau.
ADENDA 2: Não se deixem levar pelo número de salmonetes... isto é malta que gosta muito de conversar, mas pedir bilhetes, 'tá quieto. Portanto, se depararem com o cenário habitual (ou seja, 1423 salmonetes apensos a este poste, mais coisa menos coisa), tentem a vossa sorte, mesmo assim...
As Trutas, na sua imarcescível magnanimidade e infinita bondade, vêm por este meio oferecer dez bilhetes para o ensaio geral da Paixão Segundo S. João, de J.S.Bach, hoje, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, às 20.00h.
Uma vez que só podemos disponibilizar 10 bilhetes mas não queremos assistir a atropelos e agressões entre todos os que ansiavam desesperadamente por esta oportunidade, as Trutas acharam por bem oferecer dois bilhetes a cada uma das primeiras cinco pessoas que aqui deixarem um salmonete.
Sim, é mesmo verdade! Não terão de responder a quízes manhosos nem adivinhar a cor favorita de cada uma das Trutas. Basta apenas que deixem um salmonete NESTE POSTE dizendo:
- que gostavam muito de ir ao ensaio geral;
- a razão pela qual este será o dia mais feliz das vossas vidas (ok, esta é facultativa);
- se querem mesmo os dois bilhete ou apenas um, caso em que esta experiência única será concedida a mais do que cinco pessoas;
- o nome com o qual pretendem levantar os bilhetes na bilheteira da Fundação Calouste Gulbenkian, entre as 19h e as 20h. Se preferirem não divulgar esse dado, podem enviar um e-mail para as Trutas (o endereço encontra-se na coluna do lado esquerdo do templeite).
ADENDAS DA VERMELHA:
ADENDA 1: Como não temos a certeza de a bilheteira estar aberta, os bilhetes estarão, a partir das 18h, na portaria, logo à entrada, na posse do segurança que costuma estar atrás de uma mesinha em PVC, com cara de mau.
ADENDA 2: Não se deixem levar pelo número de salmonetes... isto é malta que gosta muito de conversar, mas pedir bilhetes, 'tá quieto. Portanto, se depararem com o cenário habitual (ou seja, 1423 salmonetes apensos a este poste, mais coisa menos coisa), tentem a vossa sorte, mesmo assim...
terça-feira, março 30, 2004
Les Triplettes de Belleville
Quem apanhou o post em que eu falava do Finding Nemo, sabe que me apaixonei perdidamente pelos peixes palhaços e os tubarões assassinos em recuperação anónima. Pois digo-vos agora, amigos: O ÓSCAR FOI MAL ENTREGUE. Este filme é maravilhoso, é a herança de Tati na animação, o texto é o que importa menos, as personagens são humanas, solitárias e solidárias, a alegria e a felicidade resistem a tudo, mesmo à miséria e ao esquecimento, a beleza estética é embasbacante. O simbolismo também. Penso que todos nós conhecemos uma Madame Souza como aquela, silenciosa, preocupada, disponível, desapegada, com o indispensável buçozinho português e uma perplexidade constante. Champion, o seu neto com nome de cão, misantropo e esfíngico, sonhando de pequenino com a bicicleta que acompanha os pais na fotografia colada na parede. Bruno, o cão com nome de gente, oráculo silencioso de sonhos e premonições. As velhas triplettes e a sua música concreta, as suas peles e rugas, a sua feliz excentricidade e os seus pobres sapos. Os homens quadrados e grandes que suportam e transportam os pequeninos ridículos poderosos mafiosos fumadores de charutos e abatedores de cavalos. E a hiperbólica e subserviente flexibilidade do garçon do restaurante. E a música. E a perspectiva alargada e deformada. Uma obra-prima. Uma obra de arte em todo o seu esplendor.
Vão lá encantar-se. E não saiam antes do final dos créditos, é um conselho que vos dou.
Quem apanhou o post em que eu falava do Finding Nemo, sabe que me apaixonei perdidamente pelos peixes palhaços e os tubarões assassinos em recuperação anónima. Pois digo-vos agora, amigos: O ÓSCAR FOI MAL ENTREGUE. Este filme é maravilhoso, é a herança de Tati na animação, o texto é o que importa menos, as personagens são humanas, solitárias e solidárias, a alegria e a felicidade resistem a tudo, mesmo à miséria e ao esquecimento, a beleza estética é embasbacante. O simbolismo também. Penso que todos nós conhecemos uma Madame Souza como aquela, silenciosa, preocupada, disponível, desapegada, com o indispensável buçozinho português e uma perplexidade constante. Champion, o seu neto com nome de cão, misantropo e esfíngico, sonhando de pequenino com a bicicleta que acompanha os pais na fotografia colada na parede. Bruno, o cão com nome de gente, oráculo silencioso de sonhos e premonições. As velhas triplettes e a sua música concreta, as suas peles e rugas, a sua feliz excentricidade e os seus pobres sapos. Os homens quadrados e grandes que suportam e transportam os pequeninos ridículos poderosos mafiosos fumadores de charutos e abatedores de cavalos. E a hiperbólica e subserviente flexibilidade do garçon do restaurante. E a música. E a perspectiva alargada e deformada. Uma obra-prima. Uma obra de arte em todo o seu esplendor.
Vão lá encantar-se. E não saiam antes do final dos créditos, é um conselho que vos dou.
Jantar das Trutas Reloaded
O regresso a casa (ou o que eu me lembro dele)
A emocionante perseguição policial de que as Trutas foram alvo - felizmente, a argúcia e agilidade da Azul ao volante conseguiram despistar os nossos perseguidores.
Fotografias de Laranja
O regresso a casa (ou o que eu me lembro dele)
A emocionante perseguição policial de que as Trutas foram alvo - felizmente, a argúcia e agilidade da Azul ao volante conseguiram despistar os nossos perseguidores.
Fotografias de Laranja
segunda-feira, março 29, 2004
domingo, março 28, 2004
Portogofone
Seis espectáculos em três dias.
Despertar da Primavera, de Wedekind, no TeCa. Uma visão de Nuno Cardoso de um texto pré-freudiano [meia-dúza de anos depois deve ter sido um autêntico bom-bom para o nosso Segismundo, aliás, já que o antecipou admiravelmente], uma adolescência que continua viva, reprimida, ignorada, fábrica de caminhos, de pessoas e de monstros. Eu era apenas um bébé quando nasci! Uma rapariga de quatorze anos que não percebe muito bem como é que engravida e que morre ali à nossa frente às mãos de uma fazedora de anjos. Quantas morreram em Portugal pelas mesmas razões enquanto me sentei no auditório e assisti ao nosso retrato, imutável por cem anos? Quantos anjos se fizeram enquanto me deliciei com um espectáculo cheio de beleza, com um elenco jovem e cheio de talento, com uma sala cheia de canalha de pé, aplaudindo? Este espectáculo tem de vir a Lisboa, tem de percorrer o país. Este espectáculo é belíssimo e urgente. Como a sexualidade. Como a adolescência.
Escrever, falar, de Jacinto Lucas Pires, no Rivoli. O texto no espaço. As palavras que são nossas mas que dizemos como se fossem de outros. Que palavras conseguimos dizer, que palavras conseguimos escutar, até onde agentamos antes de gritar, desnecessariamente? Digamos que o homem entra num lugar como este, pára e senta-se... digamos que um outro homem, portanto, já temos dois homens.Matei a minha mulher porque ela tinha um amante, desculpe, como disse?, nada, nada, e a sua Clara?, no Parque da Cidade, sozinha e eu sem coragem de lhe falar, mas um dia vou, um dia vou... digamos que.
Retrato de Nós, no São João, leituras encenadas por António Durães. O jantar de Sttau Monteiro desenhou-nos no prato há quarenta anos. Digamos que o Super Pop já não é o que era e o reflexo continua lá.
Um Hamlet a Mais, no São João, Ricardo Pais, naturalmente. Shakespeare e o negro príncipe da Dinamarca, Ofélia e Gertrude, a mulher e o seu duplo, a luta como coreografia, a esgrima como modo de vida, a plasticidade, a luz, o som, a reinterpretação e a procura, a inquietação, a fronteira entre a luz e a sombra, entre a liberdade e a clausura. As cumplicidades. Não deves confiar em nós, somos pessoas instáveis. No D. Maria II, brevemente.
Tudo isto é fado, recital de Luísa Cruz e Jeff Cohen. A cereja no topo do bolo. As imagens do fado projectadas nas mãos de Jeff Cohen, as palavras do fado na voz e no corpo de Luísa Cruz, o nobre São João e o seu público fizeram sombra à mais castiça casa de Alfama e os poetas ocuparam os lugares que não se vêem e deixaram-se levar na corrente, como nós todos. Esperamos o cd. O fado espera o cd que há-de vir. Ah, garganta linda!!!
Aguantar, de Nuno Carinhas, no Rivoli. Hoje foi dia de Frida Kahlo, ou seja, de luta, sofrimento, auto-reconhecimento e beleza. Vim ao Porto alimentar-me. Morra Marta, morra farta!
Todas as cidades de teatro são pólos de uma cosmogonia de muitas cidades outras e das suas línguas. Fazer teatro é pertencer naturalmente a uma nação plural e infinita. E sobreviver nessa nação é um imperativo ético para quem tem consciência exacta da sua dimensão. Cosmopolita não é o que mimetiza as grandezas dos outros, mas o que aceita o desafio de deixar-se sobressaltar por essas grandezas.
Ricardo Pais, 1999
Seis espectáculos em três dias.
Despertar da Primavera, de Wedekind, no TeCa. Uma visão de Nuno Cardoso de um texto pré-freudiano [meia-dúza de anos depois deve ter sido um autêntico bom-bom para o nosso Segismundo, aliás, já que o antecipou admiravelmente], uma adolescência que continua viva, reprimida, ignorada, fábrica de caminhos, de pessoas e de monstros. Eu era apenas um bébé quando nasci! Uma rapariga de quatorze anos que não percebe muito bem como é que engravida e que morre ali à nossa frente às mãos de uma fazedora de anjos. Quantas morreram em Portugal pelas mesmas razões enquanto me sentei no auditório e assisti ao nosso retrato, imutável por cem anos? Quantos anjos se fizeram enquanto me deliciei com um espectáculo cheio de beleza, com um elenco jovem e cheio de talento, com uma sala cheia de canalha de pé, aplaudindo? Este espectáculo tem de vir a Lisboa, tem de percorrer o país. Este espectáculo é belíssimo e urgente. Como a sexualidade. Como a adolescência.
Escrever, falar, de Jacinto Lucas Pires, no Rivoli. O texto no espaço. As palavras que são nossas mas que dizemos como se fossem de outros. Que palavras conseguimos dizer, que palavras conseguimos escutar, até onde agentamos antes de gritar, desnecessariamente? Digamos que o homem entra num lugar como este, pára e senta-se... digamos que um outro homem, portanto, já temos dois homens.Matei a minha mulher porque ela tinha um amante, desculpe, como disse?, nada, nada, e a sua Clara?, no Parque da Cidade, sozinha e eu sem coragem de lhe falar, mas um dia vou, um dia vou... digamos que.
Retrato de Nós, no São João, leituras encenadas por António Durães. O jantar de Sttau Monteiro desenhou-nos no prato há quarenta anos. Digamos que o Super Pop já não é o que era e o reflexo continua lá.
Um Hamlet a Mais, no São João, Ricardo Pais, naturalmente. Shakespeare e o negro príncipe da Dinamarca, Ofélia e Gertrude, a mulher e o seu duplo, a luta como coreografia, a esgrima como modo de vida, a plasticidade, a luz, o som, a reinterpretação e a procura, a inquietação, a fronteira entre a luz e a sombra, entre a liberdade e a clausura. As cumplicidades. Não deves confiar em nós, somos pessoas instáveis. No D. Maria II, brevemente.
Tudo isto é fado, recital de Luísa Cruz e Jeff Cohen. A cereja no topo do bolo. As imagens do fado projectadas nas mãos de Jeff Cohen, as palavras do fado na voz e no corpo de Luísa Cruz, o nobre São João e o seu público fizeram sombra à mais castiça casa de Alfama e os poetas ocuparam os lugares que não se vêem e deixaram-se levar na corrente, como nós todos. Esperamos o cd. O fado espera o cd que há-de vir. Ah, garganta linda!!!
Aguantar, de Nuno Carinhas, no Rivoli. Hoje foi dia de Frida Kahlo, ou seja, de luta, sofrimento, auto-reconhecimento e beleza. Vim ao Porto alimentar-me. Morra Marta, morra farta!
Todas as cidades de teatro são pólos de uma cosmogonia de muitas cidades outras e das suas línguas. Fazer teatro é pertencer naturalmente a uma nação plural e infinita. E sobreviver nessa nação é um imperativo ético para quem tem consciência exacta da sua dimensão. Cosmopolita não é o que mimetiza as grandezas dos outros, mas o que aceita o desafio de deixar-se sobressaltar por essas grandezas.
Ricardo Pais, 1999
sexta-feira, março 26, 2004
Natureza morta com colar
seria o título desta composição, se eu tivesse conseguido apanhar o bife que jazia no prato do Manel. Ou se as Trutas tivessem pedido fruta para a sobremesa... mas não! Preferiram bolos, imagine-se! E assim se arruina uma ideia genial para o título de uma obra...
seria o título desta composição, se eu tivesse conseguido apanhar o bife que jazia no prato do Manel. Ou se as Trutas tivessem pedido fruta para a sobremesa... mas não! Preferiram bolos, imagine-se! E assim se arruina uma ideia genial para o título de uma obra...
quinta-feira, março 25, 2004
Alegria e festa (leia-se: comida e bebida da boa)! Ah, e Trutas, claro!
Fotografias do jantar das Trutas - parte prima.
Fotografias do jantar das Trutas - parte prima.
Petição
Corremos, neste momento, o risco de vir a ser aplicada às bibliotecas de todo tipo uma taxa a pagar às editoras pelo empréstimo de livros. É surreal. É estúpido. É mais uma barreira no acesso à educação, à cultura, à investigação, à evolução. Será grave em qualquer país da UE, em Portugal será uma catástrofe. Vão lá e façam o que acharem que têm a fazer.
Corremos, neste momento, o risco de vir a ser aplicada às bibliotecas de todo tipo uma taxa a pagar às editoras pelo empréstimo de livros. É surreal. É estúpido. É mais uma barreira no acesso à educação, à cultura, à investigação, à evolução. Será grave em qualquer país da UE, em Portugal será uma catástrofe. Vão lá e façam o que acharem que têm a fazer.
quarta-feira, março 24, 2004
Brevemente, mesmo muito brevemente, aqui, fotografias do jantar das Trutas
Ainda me encontro em período de contemplação, sem conseguir partilhá-las com a blogosfera.
(leia-se: ficaram todas escuras, estou a tentar recuperá-las)
Ainda me encontro em período de contemplação, sem conseguir partilhá-las com a blogosfera.
(leia-se: ficaram todas escuras, estou a tentar recuperá-las)
terça-feira, março 23, 2004
Para P.
Aqui estou, novamente. Outro quarto, outra ala, já poucas me falta conhecer. Escolhi a vida que levo, que outra vida poderia querer quem sempre sonhou ser saltimbanco, jogral de filosofias, actor de palco pela vida fora? Tenho duas casas. A minha casa é verdade. Sobre a outra, a casa do mundo, sinto-me pairando, nunca ficando. E no entanto sei que a minha casa não é minha, só tudo o resto me pertence. O resto onde sinto que não fico.
Na minha casa estás tu. A minha casa é nossa. Mas a nossa casa não é nossa. Só o resto. Por isso pairo sobre esta cama, frente a esta janela com vista para uma janela com vista para esta janela. Porque à janela tu não estás e a cama não tem nem terá o teu cheiro e na ausência do teu cheiro se esvai a realidade destes lençóis. E no entanto dormirei. Ou pairarei sobre o sono, noutra noite sem a cadência do teu coração.
E a possibilidade da vida pairante é sorridente e leve, assim como as memórias que guardo dela. Simpáticas, posso dizê-lo. E sabê-las presentes dentro de mim é tudo aquilo de que este tronco precisa para saber que pode aguentar o risco de contigo querer partilhar raízes e solo.
Pairarei sobre o sono. Sem a cadência do teu coração.
Aqui estou, novamente. Outro quarto, outra ala, já poucas me falta conhecer. Escolhi a vida que levo, que outra vida poderia querer quem sempre sonhou ser saltimbanco, jogral de filosofias, actor de palco pela vida fora? Tenho duas casas. A minha casa é verdade. Sobre a outra, a casa do mundo, sinto-me pairando, nunca ficando. E no entanto sei que a minha casa não é minha, só tudo o resto me pertence. O resto onde sinto que não fico.
Na minha casa estás tu. A minha casa é nossa. Mas a nossa casa não é nossa. Só o resto. Por isso pairo sobre esta cama, frente a esta janela com vista para uma janela com vista para esta janela. Porque à janela tu não estás e a cama não tem nem terá o teu cheiro e na ausência do teu cheiro se esvai a realidade destes lençóis. E no entanto dormirei. Ou pairarei sobre o sono, noutra noite sem a cadência do teu coração.
E a possibilidade da vida pairante é sorridente e leve, assim como as memórias que guardo dela. Simpáticas, posso dizê-lo. E sabê-las presentes dentro de mim é tudo aquilo de que este tronco precisa para saber que pode aguentar o risco de contigo querer partilhar raízes e solo.
Pairarei sobre o sono. Sem a cadência do teu coração.
Ser corajoso
Eu já nem consigo dizer que é preocupante a incapacidade que o ser humano tem de aprender com a história, que é desesperante a incapacidade que cada um de nós tem de olhar para dentro para daí poder olhar para fora com menos preconceito, começo a sentir-me a Dori, do Finding Nemo: se não tivesse memória do que tenho visto neste mundo talvez houvesse desculpa para continuar a repetir ad infinitum algo que ao longo dos séculos tem sido pregado por mentes bem mais clarividentes que a minha. Mas é também a memória do que tenho visto neste mundo que me devolve esperança de que, por um estranho capricho da natureza, ao comer o peixe haja quem incorpore o sermão. E com a esperança regressa a preocupação. E fecha-se o círculo. Por isso acabo por regressar sempre a estes temas, por isso continuo convicto de que a política - o serviço à "polis", à "cidade", e a cidade é feita de gente - ainda faz sentido. Que a democracia e a liberdade terão sempre neste campo a batalha final, embora apenas algumas das que a precedem.
E uma deprimente ofensiva-defensiva está em acção. Como bem aponta Eduardo Prado Coelho no Público de hoje,
existe uma moralização do debate que parece querer impor uma só posição possível: quem não esteja hoje com Bush só pode ser um cobarde, um pusilânime, um membro de uma sociedade corrompida, um indivíduo falho de carácter, um representante de uma esquerda "oportunista e amolecida". Donde, ou se é pró-Bush, ou nem sequer se merece existir, acrescido de uma despolitização do debate em nome da guerra: partindo daquele princípio de que "em tempo de guerra não se limpam armas", alguns pretendem defender que "em tempo de guerra não se faz política".
Eu continuarei a debater com quem estiver interessado em conversar e não em bombardear o inimigo. Continuarei a manifestar-me enquanto for necessário. Continuarei a repetir, para quem me quiser ouvir, que olho por olho e o mundo acabará cego.
E a subrescrever por inteiro o certeiro final da coluna de EPC: Mas se, para combatermos o inimigo, eliminamos o que o inimigo quer combater em nós, não estaremos a dar-lhe a vitória pelo mais perverso dos caminhos?
Até lá chegarmos, continuaremos a ver Pacheco Pereira no seu escritório, José António Lima na redacção do seu jornal, Maria João Avillez nos estúdios da SIC ou Helena Matos enquanto vai buscar as crianças à escola a proclamarem: "É a guerra! É a guerra!" E acharem que isto é que é ser corajoso.
Eu já nem consigo dizer que é preocupante a incapacidade que o ser humano tem de aprender com a história, que é desesperante a incapacidade que cada um de nós tem de olhar para dentro para daí poder olhar para fora com menos preconceito, começo a sentir-me a Dori, do Finding Nemo: se não tivesse memória do que tenho visto neste mundo talvez houvesse desculpa para continuar a repetir ad infinitum algo que ao longo dos séculos tem sido pregado por mentes bem mais clarividentes que a minha. Mas é também a memória do que tenho visto neste mundo que me devolve esperança de que, por um estranho capricho da natureza, ao comer o peixe haja quem incorpore o sermão. E com a esperança regressa a preocupação. E fecha-se o círculo. Por isso acabo por regressar sempre a estes temas, por isso continuo convicto de que a política - o serviço à "polis", à "cidade", e a cidade é feita de gente - ainda faz sentido. Que a democracia e a liberdade terão sempre neste campo a batalha final, embora apenas algumas das que a precedem.
E uma deprimente ofensiva-defensiva está em acção. Como bem aponta Eduardo Prado Coelho no Público de hoje,
existe uma moralização do debate que parece querer impor uma só posição possível: quem não esteja hoje com Bush só pode ser um cobarde, um pusilânime, um membro de uma sociedade corrompida, um indivíduo falho de carácter, um representante de uma esquerda "oportunista e amolecida". Donde, ou se é pró-Bush, ou nem sequer se merece existir, acrescido de uma despolitização do debate em nome da guerra: partindo daquele princípio de que "em tempo de guerra não se limpam armas", alguns pretendem defender que "em tempo de guerra não se faz política".
Eu continuarei a debater com quem estiver interessado em conversar e não em bombardear o inimigo. Continuarei a manifestar-me enquanto for necessário. Continuarei a repetir, para quem me quiser ouvir, que olho por olho e o mundo acabará cego.
E a subrescrever por inteiro o certeiro final da coluna de EPC: Mas se, para combatermos o inimigo, eliminamos o que o inimigo quer combater em nós, não estaremos a dar-lhe a vitória pelo mais perverso dos caminhos?
Até lá chegarmos, continuaremos a ver Pacheco Pereira no seu escritório, José António Lima na redacção do seu jornal, Maria João Avillez nos estúdios da SIC ou Helena Matos enquanto vai buscar as crianças à escola a proclamarem: "É a guerra! É a guerra!" E acharem que isto é que é ser corajoso.
sábado, março 20, 2004
Desta vez foi a Laranja
E não é que demos mais uma ideia ao Inimigo Público? Vão lá ver, se não estão lá fotos das Lajes com o Durão disfarçado com bigodes e derivados. Ó Trutas, o BAL é que tem razão, podíamos estar a fazer um dinheirão com isto!
E não é que demos mais uma ideia ao Inimigo Público? Vão lá ver, se não estão lá fotos das Lajes com o Durão disfarçado com bigodes e derivados. Ó Trutas, o BAL é que tem razão, podíamos estar a fazer um dinheirão com isto!
A verdade contra a guerra
Não sei quantos éramos, mas estávamos lá muitos. Uma participação inesperada arrancou sorrisos e aplausos: no telhado do condomínio de luxo em construção entre a António Maria Cardoso e a Rua do Alecrim, meia-dúzia de operários empunharam cartazes à passagem da manif, com slogans como "Paz e trabalho" [trabalho, nããã, esta gente que gosta de manifs só dança na rua e fuma ganzas, a mim não me enganam eles!]. Também nós levávamos cartazes, megafones, bombos e esperança. Com slogans mais ou menos bem apanhados, que assim todos juntos não se torna muito prático um discurso politico-filosófico sobre os princípios de vida, humanidade, paz, democracia, justiça e inteligência pelos quais ali gritámos. Pela Terra, pela verdade, pela liberdade, pelo fim da manipulação em nome de interesses particulares, em nome do poder deles, do mundo deles. Sim, a guerra é deles, mas os mortos são nossos. Não, não morreu nenhum português, como na blogosfera jocosamente se perguntou, mas a resposta à sua mediocridade está na própria pergunta, nem merece a pena dizer mais nada. E depois a ATTAC e outros movimentos similares é que são "anti-globalização".
Não sei quantos éramos. Mas estivémos lá. E estaremos enquanto for necessário. Nem que nos atirem aos cornos com as poltronas já cavadas.
Não sei quantos éramos, mas estávamos lá muitos. Uma participação inesperada arrancou sorrisos e aplausos: no telhado do condomínio de luxo em construção entre a António Maria Cardoso e a Rua do Alecrim, meia-dúzia de operários empunharam cartazes à passagem da manif, com slogans como "Paz e trabalho" [trabalho, nããã, esta gente que gosta de manifs só dança na rua e fuma ganzas, a mim não me enganam eles!]. Também nós levávamos cartazes, megafones, bombos e esperança. Com slogans mais ou menos bem apanhados, que assim todos juntos não se torna muito prático um discurso politico-filosófico sobre os princípios de vida, humanidade, paz, democracia, justiça e inteligência pelos quais ali gritámos. Pela Terra, pela verdade, pela liberdade, pelo fim da manipulação em nome de interesses particulares, em nome do poder deles, do mundo deles. Sim, a guerra é deles, mas os mortos são nossos. Não, não morreu nenhum português, como na blogosfera jocosamente se perguntou, mas a resposta à sua mediocridade está na própria pergunta, nem merece a pena dizer mais nada. E depois a ATTAC e outros movimentos similares é que são "anti-globalização".
Não sei quantos éramos. Mas estivémos lá. E estaremos enquanto for necessário. Nem que nos atirem aos cornos com as poltronas já cavadas.
quarta-feira, março 17, 2004
Isto é que é uma depressão que vale a pena!
O filme é uma pérola. A figura em questão é extraordinária. Paul Giamatti, que é este senhor com um olhar psicopata, é assombroso na composição que faz de Harvey Pekar - sobretudo considerando que o autêntico está presente ao longo do filme e parece inimitável. Uma experiência a repetir.
E não me sai da cabeça a frase de Pekar [o original] para David Letterman quando este o gozava em directo na televisão pela última vez: Go ahead, have a laugh! It's your world, anyway, I just live in it. Assim, directo no estômago, para quem quiser pensar.
O filme é uma pérola. A figura em questão é extraordinária. Paul Giamatti, que é este senhor com um olhar psicopata, é assombroso na composição que faz de Harvey Pekar - sobretudo considerando que o autêntico está presente ao longo do filme e parece inimitável. Uma experiência a repetir.
E não me sai da cabeça a frase de Pekar [o original] para David Letterman quando este o gozava em directo na televisão pela última vez: Go ahead, have a laugh! It's your world, anyway, I just live in it. Assim, directo no estômago, para quem quiser pensar.
As coisas que uma pessoa aprende a ler revistas que encontra no bar dos artistas do Coliseu dos Recreios de Lisboa ou Por que é que as revistas femininas são tão imbecis?
Vai fazer anos de casada?
Se está prestes a comemorar mais um aniversário de casamento, não deixe passar a data em branco. Neste artigo, poderá encontrar formas originais de surpreender a cara-metade.
- Diga-lhe que costuma espreitá-lo pela fechadura da porta e deixe transparecer que também gostava que ele o fizesse. Verá como é aliciante pensar que ele pode estar a observá-la a qualquer momento.
- Ate-lhe as mãos e peça-lhe que ate também as suas. A nossa sugestão é que façam amor sem se tocar.
- Peça-lhe que a vá buscar ao emprego e convide-o a entrar. Feche a porta da sala e pratique sexo, sempre na iminência de serem descobertos por alguém.
- Envie-lhe mensagens eróticas, de 20 em 20 minutos, para o telemóvel. No final da tarde, convide-o para tomarem um copo.
in Mulher Moderna (não sei de que mês, não prestei atenção.)
Vai fazer anos de casada?
Se está prestes a comemorar mais um aniversário de casamento, não deixe passar a data em branco. Neste artigo, poderá encontrar formas originais de surpreender a cara-metade.
- Diga-lhe que costuma espreitá-lo pela fechadura da porta e deixe transparecer que também gostava que ele o fizesse. Verá como é aliciante pensar que ele pode estar a observá-la a qualquer momento.
- Ate-lhe as mãos e peça-lhe que ate também as suas. A nossa sugestão é que façam amor sem se tocar.
- Peça-lhe que a vá buscar ao emprego e convide-o a entrar. Feche a porta da sala e pratique sexo, sempre na iminência de serem descobertos por alguém.
- Envie-lhe mensagens eróticas, de 20 em 20 minutos, para o telemóvel. No final da tarde, convide-o para tomarem um copo.
in Mulher Moderna (não sei de que mês, não prestei atenção.)
terça-feira, março 16, 2004
Terrorismo político
Não me canso de divulgar opiniões que me parecem calmas e perspicazes. A vez a Os dias depois.
Tão perigoso como o fundamentalismo islâmico é o fundamentalismo cristão quando inventa guerras assentes em mentiras. A espiral do ódio para que estamos a ser conduzidos tem de ser travada por alguém. Democraticamente. Foi o que começou a fazer o povo espanhol. Por cá, os arautos dos pajens de Washington que temos actualmente no poder, aperceberam-se de repente que a seguir pode ser aqui. Sobressaltados com os resultados das eleições em Espanha lançaram-se, portanto, numa escalada de terrorismo verbal. O que eles, os nossos rambos (como são chamados, e bem, no Glória Fácil) pretendem dizer-nos é: se amanhã não votarem no poder instalado estareis, vós todos também, portugueses, a apoiar o terrorismo. É uma mensagem infame. É a ameaça velada de quem, no fundo, gostaria de poder decretar o pensamento único. E já agora, porque não?, o partido único.
Não me canso de divulgar opiniões que me parecem calmas e perspicazes. A vez a Os dias depois.
Tão perigoso como o fundamentalismo islâmico é o fundamentalismo cristão quando inventa guerras assentes em mentiras. A espiral do ódio para que estamos a ser conduzidos tem de ser travada por alguém. Democraticamente. Foi o que começou a fazer o povo espanhol. Por cá, os arautos dos pajens de Washington que temos actualmente no poder, aperceberam-se de repente que a seguir pode ser aqui. Sobressaltados com os resultados das eleições em Espanha lançaram-se, portanto, numa escalada de terrorismo verbal. O que eles, os nossos rambos (como são chamados, e bem, no Glória Fácil) pretendem dizer-nos é: se amanhã não votarem no poder instalado estareis, vós todos também, portugueses, a apoiar o terrorismo. É uma mensagem infame. É a ameaça velada de quem, no fundo, gostaria de poder decretar o pensamento único. E já agora, porque não?, o partido único.
Há um ano...
... nos Açores, o ocidente mostrava ao mundo que a guerra não é entre povos, mas sim entre líderes fanáticos, cegos e surdos, de um e de outro lado. O Boss assinalou, há dois dias, a efeméride.
... nos Açores, o ocidente mostrava ao mundo que a guerra não é entre povos, mas sim entre líderes fanáticos, cegos e surdos, de um e de outro lado. O Boss assinalou, há dois dias, a efeméride.
segunda-feira, março 15, 2004
Não se pode lançar uma guerra por acaso, não se pode fazer uma guerra com base em mentiras.
José Luís Zapatero
Esperemos que nunca se esqueça do que está hoje a dizer.
José Luís Zapatero
Esperemos que nunca se esqueça do que está hoje a dizer.
Já começou
Para os fanáticos cá deste lado, foram os fanáticos do lado de lá que ganharam as eleições espanholas. A maré negra na Galiza nunca existiu, o governo do PP nunca tentou manipular informação e eleitores, não, e o pós-11 de Março teve como desmérito branquear a ETA (esta é muito boa) e mostrar aos terroristas que podem interferir em resultados eleitorais. Pobre gente, que nem consegue reconhecer a democracia e a cidadania em acção. Compreendo cada vez melhor por que razão o ciclo vicioso da intolerância, da soberba e do terrorismo é tão difícil de quebrar: um fanático não deixa facilmente convencer-se de que o é, lute por que deus lutar.
Para mais desenvolvimentos, aconselho uma visitinha aqui e, como sempre, aqui.
Para os fanáticos cá deste lado, foram os fanáticos do lado de lá que ganharam as eleições espanholas. A maré negra na Galiza nunca existiu, o governo do PP nunca tentou manipular informação e eleitores, não, e o pós-11 de Março teve como desmérito branquear a ETA (esta é muito boa) e mostrar aos terroristas que podem interferir em resultados eleitorais. Pobre gente, que nem consegue reconhecer a democracia e a cidadania em acção. Compreendo cada vez melhor por que razão o ciclo vicioso da intolerância, da soberba e do terrorismo é tão difícil de quebrar: um fanático não deixa facilmente convencer-se de que o é, lute por que deus lutar.
Para mais desenvolvimentos, aconselho uma visitinha aqui e, como sempre, aqui.
O Manel enganou-se, hoje é que o blogue das Trutas faz 6 meses...
... o que significa: mais um dia de festejos!! Mais um dia a comer bolos!!!
(Dá sempre jeito começar a festejar com um dia de antecedência! Isto não foi nada inocente, pois não, Manel?)
... o que significa: mais um dia de festejos!! Mais um dia a comer bolos!!!
(Dá sempre jeito começar a festejar com um dia de antecedência! Isto não foi nada inocente, pois não, Manel?)
domingo, março 14, 2004
Chumbo eleitoral em Espanha
Para que os donos do poder compreendam que a mentira também tem consequências. Ganha a democracia. Pena que tenha sido à custa de tantas vidas.
Para que os donos do poder compreendam que a mentira também tem consequências. Ganha a democracia. Pena que tenha sido à custa de tantas vidas.
E tudo era possível
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio e era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder de uma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível e era só querer
Ruy Belo
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio e era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder de uma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível e era só querer
Ruy Belo
sábado, março 13, 2004
É só querer aprender... ou relembrar.
E os espanhóis na Calle Génova, um ano depois de terem gritado não! à guerra, mostram-nos que afinal não somos completamente impotentes.
E os espanhóis na Calle Génova, um ano depois de terem gritado não! à guerra, mostram-nos que afinal não somos completamente impotentes.
A GUERRA «PREVENTIVA» DE BUSH NA VELHA EUROPA, comentário de J.Silva no Barnabé
Reproduzo-o aqui porque está nele um resumo do que inconsequentemente têm lançado para a roleta os donos deste nosso mundo democrático. Espero que sejam estes os últimos estertores da mentalidade servilista, imperialista, classista, hipócrita, surda, muda e criminosa que tem comandado este triste ocidente nos últimos anos. Porque se não são, temo que sejam o início de algo bem tenebroso. Os espanhóis nos darão algumas respostas, no domingo. O PP merecia uma derrota claríssima nas urnas, nem tanto pela sua responsabilidade moral no caso de estarmos face - como cada vez mais parece que é o caso - a uma acção da Al-Quaeda, antes pela vergonhosa actuação no pós 11 de Março. A ver vamos.
Segue o texto do J.Silva, que infelizmente não tem homepage.
As petrolíferas norte-americanas, para desalojarem do Iraque as empresas concorrentes francesas, alemãs e russas mataram mais de 40 mil mouros iraquianos, fazendo descer abruptamente o preço da Vida Humana.
Os familiares e amigos dos 40 mil mouros mortos no Iraque retaliaram em Madrid – a guerra já está na Velha Europa!!!
Nos Açores, os Agentes Funerários GW Bush, Blair, Aznar e Durão Barroso proclamaram ao Mundo o fim do Direito Internacional e o início de uma nova era de Lei da Selva – aí a têm agora em Madrid!!!!!!!!!!
A primeira consequência da guerra é o Funeral – aí os têm , a face mais verdadeira da guerra!!!
Convém não esquecer a deputada Maria Elisa do PSD que afirmou que o Direito Internacional nem sempre deve ser respeitado – aqueles tipos que puseram as bombas em Madrid deram-lhe ouvidos.
O mais trágico é que muitos dos que morreram em Madrid eram contra a guerra «preventiva» de Bush, Blair e Aznar!!!
Reproduzo-o aqui porque está nele um resumo do que inconsequentemente têm lançado para a roleta os donos deste nosso mundo democrático. Espero que sejam estes os últimos estertores da mentalidade servilista, imperialista, classista, hipócrita, surda, muda e criminosa que tem comandado este triste ocidente nos últimos anos. Porque se não são, temo que sejam o início de algo bem tenebroso. Os espanhóis nos darão algumas respostas, no domingo. O PP merecia uma derrota claríssima nas urnas, nem tanto pela sua responsabilidade moral no caso de estarmos face - como cada vez mais parece que é o caso - a uma acção da Al-Quaeda, antes pela vergonhosa actuação no pós 11 de Março. A ver vamos.
Segue o texto do J.Silva, que infelizmente não tem homepage.
As petrolíferas norte-americanas, para desalojarem do Iraque as empresas concorrentes francesas, alemãs e russas mataram mais de 40 mil mouros iraquianos, fazendo descer abruptamente o preço da Vida Humana.
Os familiares e amigos dos 40 mil mouros mortos no Iraque retaliaram em Madrid – a guerra já está na Velha Europa!!!
Nos Açores, os Agentes Funerários GW Bush, Blair, Aznar e Durão Barroso proclamaram ao Mundo o fim do Direito Internacional e o início de uma nova era de Lei da Selva – aí a têm agora em Madrid!!!!!!!!!!
A primeira consequência da guerra é o Funeral – aí os têm , a face mais verdadeira da guerra!!!
Convém não esquecer a deputada Maria Elisa do PSD que afirmou que o Direito Internacional nem sempre deve ser respeitado – aqueles tipos que puseram as bombas em Madrid deram-lhe ouvidos.
O mais trágico é que muitos dos que morreram em Madrid eram contra a guerra «preventiva» de Bush, Blair e Aznar!!!
sexta-feira, março 12, 2004
Acabo de receber este e-mail
Hola:
Me han llegado estas fotos. Por lo menos que circulen.
"Hola. Una amiga del M. del Interior me ha pasado estas fotos de los "angelitos" de lo de esta mañana. Por favor, máxima difusión a ver si cazan a estos hijos de puta.
Gracias"
Seguiam fotos de cerca de uma dúzia de cadastrados da ETA.
Já não basta o Aznar em directo afirmando que nada será escondido ao povo espanhol imediatamente após ter mantido que a ETA continua a ser a principal via da investigação - apesar de a ETA negar e a Al-Quaeda reivindicar - só faltava que os ciber-atrasados mentais começassem a conspurcar ainda mais o que devia ser só dor e honestidade e se transforma em cobarde aflição e preocupação eleitoral.
Se não respeitam os vivos, respeitem ao menos a memória dos mortos, porra.
Hola:
Me han llegado estas fotos. Por lo menos que circulen.
"Hola. Una amiga del M. del Interior me ha pasado estas fotos de los "angelitos" de lo de esta mañana. Por favor, máxima difusión a ver si cazan a estos hijos de puta.
Gracias"
Seguiam fotos de cerca de uma dúzia de cadastrados da ETA.
Já não basta o Aznar em directo afirmando que nada será escondido ao povo espanhol imediatamente após ter mantido que a ETA continua a ser a principal via da investigação - apesar de a ETA negar e a Al-Quaeda reivindicar - só faltava que os ciber-atrasados mentais começassem a conspurcar ainda mais o que devia ser só dor e honestidade e se transforma em cobarde aflição e preocupação eleitoral.
Se não respeitam os vivos, respeitem ao menos a memória dos mortos, porra.
Às vezes acho que o meu habitat natural devia ser este...
Fotografia de Laranja
Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Fotografia de Laranja
Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen
quinta-feira, março 11, 2004
Frase do dia
Cito o Público de hoje, num artigo sobre a antestreia de "A Paixão de Cristo":
João César das Neves, docente de Economia na Universidade Católica, começou por salientar que "este é um filme para cristãos". "Quem não foi educado na sociedade cristã não percebe porque é que atiram pedras àquela mulher [Maria Madalena].
Não há por aí um católico de serviço que queira atirar pedras a este senhor?...
Cito o Público de hoje, num artigo sobre a antestreia de "A Paixão de Cristo":
João César das Neves, docente de Economia na Universidade Católica, começou por salientar que "este é um filme para cristãos". "Quem não foi educado na sociedade cristã não percebe porque é que atiram pedras àquela mulher [Maria Madalena].
Não há por aí um católico de serviço que queira atirar pedras a este senhor?...
quarta-feira, março 10, 2004
Vale a pena reflectir sobre isto
Se há poucas coisas em relação às quais nos podemos orgulhar do país que temos, esta é uma delas: Portugal foi pioneiro na abolição da pena de morte e na renúncia à sua execução, mesmo antes de abolida.
É interessante pensar que, de acordo com dados da Amnistia Internacional, em 1990 só 36 países tinham abolido a pena de morte. No entanto, cá pelo nosso país, foi em 3 de Julho de 1863, numa sessão da Câmara dos Deputados, apresentada a seguinte proposta:
1º - Fica abolida a pena de morte;
2º - É extinto o hediondo ofício de carrasco;
3º - É riscada do orçamento do Estado a verba de 49$200 réis para o executor.
Contudo, apenas foi possível reunir consenso à volta desta proposta em 1867, ano em que viria a ser aprovada uma lei que aboliu a pena de morte para todos os crimes, exceptuados os militares - Lei de 1 de Julho de 1867.
Foi há quase 150 anos. Não foi ontem. Por isso é que, quando leio notícias destas, ainda me custa a crer...
E agora, remeto-vos para este excelente texto do Senhor Carne.
Se há poucas coisas em relação às quais nos podemos orgulhar do país que temos, esta é uma delas: Portugal foi pioneiro na abolição da pena de morte e na renúncia à sua execução, mesmo antes de abolida.
É interessante pensar que, de acordo com dados da Amnistia Internacional, em 1990 só 36 países tinham abolido a pena de morte. No entanto, cá pelo nosso país, foi em 3 de Julho de 1863, numa sessão da Câmara dos Deputados, apresentada a seguinte proposta:
1º - Fica abolida a pena de morte;
2º - É extinto o hediondo ofício de carrasco;
3º - É riscada do orçamento do Estado a verba de 49$200 réis para o executor.
Contudo, apenas foi possível reunir consenso à volta desta proposta em 1867, ano em que viria a ser aprovada uma lei que aboliu a pena de morte para todos os crimes, exceptuados os militares - Lei de 1 de Julho de 1867.
Foi há quase 150 anos. Não foi ontem. Por isso é que, quando leio notícias destas, ainda me custa a crer...
E agora, remeto-vos para este excelente texto do Senhor Carne.
Pois é, e alguém se espanta ainda?
Ah, os direitos humanos... No Grão de Areia, últimos desenvolvimentos no caso dos prisioneiros de Guantanamo. É absolutamente vergonhoso. Aos apoiantes do Bush Júnior só tenho uma coisa a dizer: pior cego é aquele que não quer ver.
Ah, os direitos humanos... No Grão de Areia, últimos desenvolvimentos no caso dos prisioneiros de Guantanamo. É absolutamente vergonhoso. Aos apoiantes do Bush Júnior só tenho uma coisa a dizer: pior cego é aquele que não quer ver.
Ainda o aborto
Novamente no Barnabé, o Rui Tavares resume a questão do aborto num post desempoeirado. Muito atacado, como seria de esperar. Deu-me vontade de sistematizar aqui também as minhas ideias, tão bem sintetizadas pelo Senhor Carne, esse rei dos celôganes: Sou contra o aborto, como qualquer pessoa sensível, sou a favor da despenalização do aborto, como qualquer pessoa sensata.
Quer queiram quer não, senhores, tudo se resume ao seguinte:
1. ninguém tem certezas quanto ao início da vida e do que se convencionou chamar de "pessoa humana";
2. a despenalização não se pretende estendida para lá de uma certeza: a da existência de um sistema nervoso central já formado, entre as 12 e as 24 semanas;
3. todos os pontos de partida para a avaliação do que é um aborto se baseiam apenas e só em conceitos morais-filosóficos-ideológicos-éticos-pessoais, cada um tão válido como o outro, e em nada mais;
4. é uma questão de integridade física e de consciência da mulher - eventualmente do homem, mas esse tem escolha e muitas vezes escolhe não ter nada a ver com o assunto sem que ninguém o obrigue a carregar uma gravidez de nove meses no seu próprio corpo, não é verdade? -, de cada mulher individualmente, é uma decisão pessoal, é um direito inalienável e não é com base em princípios subjectivos e absolutamente contraditórios que um determinado grupo, por muito convicto que esteja da superioridade moral dos seus cânones, deve poder determinar o que é legal ou não no que toca à esfera íntima de cada um.
E se acham que isto, que não é mais do que escreve o Rui no seu post, é leviandade ou arrogância ideológica, então, caros senhores, permitam-me dizer que o conceito de democracia já conheceu, realmente, melhores dias.
Novamente no Barnabé, o Rui Tavares resume a questão do aborto num post desempoeirado. Muito atacado, como seria de esperar. Deu-me vontade de sistematizar aqui também as minhas ideias, tão bem sintetizadas pelo Senhor Carne, esse rei dos celôganes: Sou contra o aborto, como qualquer pessoa sensível, sou a favor da despenalização do aborto, como qualquer pessoa sensata.
Quer queiram quer não, senhores, tudo se resume ao seguinte:
1. ninguém tem certezas quanto ao início da vida e do que se convencionou chamar de "pessoa humana";
2. a despenalização não se pretende estendida para lá de uma certeza: a da existência de um sistema nervoso central já formado, entre as 12 e as 24 semanas;
3. todos os pontos de partida para a avaliação do que é um aborto se baseiam apenas e só em conceitos morais-filosóficos-ideológicos-éticos-pessoais, cada um tão válido como o outro, e em nada mais;
4. é uma questão de integridade física e de consciência da mulher - eventualmente do homem, mas esse tem escolha e muitas vezes escolhe não ter nada a ver com o assunto sem que ninguém o obrigue a carregar uma gravidez de nove meses no seu próprio corpo, não é verdade? -, de cada mulher individualmente, é uma decisão pessoal, é um direito inalienável e não é com base em princípios subjectivos e absolutamente contraditórios que um determinado grupo, por muito convicto que esteja da superioridade moral dos seus cânones, deve poder determinar o que é legal ou não no que toca à esfera íntima de cada um.
E se acham que isto, que não é mais do que escreve o Rui no seu post, é leviandade ou arrogância ideológica, então, caros senhores, permitam-me dizer que o conceito de democracia já conheceu, realmente, melhores dias.
Para a Azul
The Brain - is wider than the Sky -
For - put them side by side -
The one the other will contain
With ease - and You - beside-
Emily Dickinson
The Brain - is wider than the Sky -
For - put them side by side -
The one the other will contain
With ease - and You - beside-
Emily Dickinson
segunda-feira, março 08, 2004
Simone de Beauvoir
Porque as lutas não terminam porque nós queremos ou porque mudámos de milénio
Encontro esta resposta de súmula e consciência no Grão de Areia, por ocasião deste dia da mulher trabalhadora. Infelizmente, caros amigos, está ainda actual. Felizmente está nas nossas mãos continuar a lutar para que deixe de estar.
Gerassi. Disse que a sua própria consciência feminista desenvolveu-se durante a experiência de escrita de “O Segundo Sexo”. De que forma vê o desenvolvimento do movimento depois da publicação deste livro do ponto de vista da sua própria trajectória?
Beauvoir. Ao escrever “O Segundo Sexo” percebi, pela primeira vez, que eu própria estava a levar uma vida falsa, ou melhor, que estava a lucrar desta sociedade centrada no homem sem me dar conta disso. O que aconteceu é que desde cedo aceitei os valores masculinos, e vivia de acordo com eles. Claro que eu tinha bastante sucesso, e isso reforçou a crença de que homens e mulheres poderiam ser iguais se a mulher quisesse tal equidade. Por outras palavras, eu era uma intelectual. Tivera a sorte de provir de um dado sector da sociedade, a burguesia, que não só pôde financiar as melhores escolas mas também permitir que me ocupasse calmamente de ideias. Devido a isso, consegui entrar no mundo dos homens sem muita dificuldade. Mostrei que podia debater filosofia, arte, literatura, etc., ao “nível dos homens”. Reservei o que era particular à condição da mulher para mim mesma. Fui incentivada a continuar pelo meu sucesso. À medida que o ia fazendo, vi que poderia ganhar a vida tão bem quanto um intelectual do sexo masculino e que era levada tão a sério como qualquer um dos meus pares. (…) Cada passo reforçou a minha ideia de independência e igualdade. Assim sendo, tornou-se muito fácil esquecer que uma secretária jamais usufruiria dos mesmos privilégios. (…) De facto, eu pensava, sem nunca admitir, que “se eu posso, também elas podem”. Ao pesquisar e escrever “O Segundo Sexo” apercebi-me que os meus privilégios resultavam do facto de ter abdicado, pelo menos em alguns aspectos cruciais, da minha condição feminina. Se colocarmos isto em termos de classe, percebê-lo-á facilmente: tinha-me tornado uma colaboracionista de classe. Bom, era uma espécie de equivalente nos termos da luta entre géneros. Através de “O Segundo Sexo” tomei consciência da necessidade da luta. Percebi que a grande maioria das mulheres simplesmente não tivera as oportunidades que eu tivera, que as mulheres são, de facto, definidas como um Segundo sexo pela sociedade centrada nos homens, cuja estrutura implodiria caso essa orientação fosse genuinamente destruída. E que, tal como os povos económica e politicamente dominados em qualquer parte do mundo, é muito difícil e lento o desenvolvimento de uma rebelião. Primeiro esses povos teriam que tornar-se conscientes dessa dominação. Depois teriam que crer na sua própria força para transformá-la. Aquelas que lucram com a sua “colaboração” têm que perceber a natureza da sua traição. E, finalmente, aquelas que têm mais a perder por tomarem partido, ou seja, mulheres que, como eu, ascenderam a uma carreira e posição de sucesso, têm de ter vontade de arriscar a insegurança para ganharem respeito próprio. E terão que perceber que, de entre as suas irmãs, as que são mais exploradas serão as últimas a juntarem-se-lhe. (…) Ou seja, por todas estas razões as mulheres não se mobilizaram. Claro que houve movimentos interessantes, muito inteligentes e pequenos, que lutaram por emancipações políticas, pela participação política das mulheres, mas não me reporto a esses. Depois veio o ano de 1968 e tudo mudou. Sei que alguns acontecimentos importantes ocorreram antes disso.(...) De facto, as mulheres americanas estavam bastante mobilizadas por essa altura. Elas, mais do que ninguém, por razões óbvias, estavam mais conscientes das contradições entre a nova tecnologia e o papel conservador de manter a mulher na cozinha. À medida que se desenvolve a tecnologia – sendo esta o poder do cérebro e não do músculo – o raciocínio de que a mulher é o sexo fraco e que, por isso, deve ter um papel secundário já não pode ser racionalmente mantido. Uma vez que as inovações tecnológicas estavam tão largamente difundidas na América, as americanas não poderiam escapar às contradições. Assim, foi normal que o movimento feminista tenha o seu maior impulso no coração do capitalismo imperialista, mesmo que esse impulso tenha sido estritamente económico, ou seja, baseado na reivindicação de salário igual para trabalho igual. Mas foi dentro do movimento anti-imperialista que a verdadeira consciência feminista se desenvolveu. Tanto no movimento contra a Guerra do Vietname como no rescaldo da revolta de 68 em França e em outros países europeu, as mulheres começaram a perceber o seu poder. Tendo percebido que o capitalismo conduz necessariamente à dominação dos povos pobres de todo o mundo, massas de mulheres começaram a juntar-se à luta de classes – mesmo que não aceitassem o termo “luta de classes”. Tornaram-se activistas. Juntaram-se às marchas, manifestações, campanhas, grupos clandestinos e à esquerda militante. Lutaram, tanto quanto qualquer homem, por um futuro sem exploração nem alienação. Mas o que aconteceu? Nos grupos ou organizações a que se juntaram, descobriram que eram tanto o segundo sexo como o eram na sociedade que queriam suplantar. (…) As mulheres tornaram-se as dactilógrafas, as fazedoras de café desses grupos pseudo-revolucionários. Bem, não deveria dizer pseudo. Muitos destes grupos eram genuinamente revolucionários. Mas treinados, desenvolvidos, moldados numa sociedade orientada para o homem, e esses revolucionários trouxeram essa orientação para o seio do próprio movimento. Como é natural, esses homens não abandonariam voluntariamente essa orientação, tal como a classe burguesa não abandonará voluntariamente o seu poder. Assim sendo, tal como pertence aos pobres destruir o poder dos ricos, também pertence às mulheres destruir o poder dos homens. E isso não significa dominar os homens em alternativa. Significa estabelecer a igualdade. Tal como o socialismo, o verdadeiro socialismo, estabelece a igualdade económica entre todos os povos, o movimento feminista aprendeu que terá de estabelecer a igualdade de género através da conquista desse poder à classe dominante dentro do movimento, ou seja, aos homens. Por outras palavras: uma vez dentro da luta de classes, as mulheres perceberam que essa luta não eliminaria a luta entre sexos. Foi neste ponto que me consciencializei do que acabara de dizer. Antes disso estava convencida que a igualdade de género seria apenas possível depois do capitalismo ser destruído e, consequentemente – e é este “consequentemente” que é uma falácia – deveríamos encetar, primeiramente, a luta de classes. É verdade que a igualdade entre sexos é impossível sob o capitalismo. (…) Mas não é verdade que uma revolução socialista estabeleça necessariamente a igualdade sexual. Veja-se a URSS ou a Checoslováquia, onde (mesmo que lhe chamemos “socialistas”, e eu não chamo) existe uma profunda confusão entre emancipação do proletariado e emancipação da mulher. O proletariado acaba sempre por ser composto de homens. Os valores patriarcais mantiveram-se lá tanto quanto aqui. E isso – esta consciência de que a luta de classes não integra a luta de sexos – é o que é novo.
(tradução de Andreia Cunha)
Porque as lutas não terminam porque nós queremos ou porque mudámos de milénio
Encontro esta resposta de súmula e consciência no Grão de Areia, por ocasião deste dia da mulher trabalhadora. Infelizmente, caros amigos, está ainda actual. Felizmente está nas nossas mãos continuar a lutar para que deixe de estar.
Gerassi. Disse que a sua própria consciência feminista desenvolveu-se durante a experiência de escrita de “O Segundo Sexo”. De que forma vê o desenvolvimento do movimento depois da publicação deste livro do ponto de vista da sua própria trajectória?
Beauvoir. Ao escrever “O Segundo Sexo” percebi, pela primeira vez, que eu própria estava a levar uma vida falsa, ou melhor, que estava a lucrar desta sociedade centrada no homem sem me dar conta disso. O que aconteceu é que desde cedo aceitei os valores masculinos, e vivia de acordo com eles. Claro que eu tinha bastante sucesso, e isso reforçou a crença de que homens e mulheres poderiam ser iguais se a mulher quisesse tal equidade. Por outras palavras, eu era uma intelectual. Tivera a sorte de provir de um dado sector da sociedade, a burguesia, que não só pôde financiar as melhores escolas mas também permitir que me ocupasse calmamente de ideias. Devido a isso, consegui entrar no mundo dos homens sem muita dificuldade. Mostrei que podia debater filosofia, arte, literatura, etc., ao “nível dos homens”. Reservei o que era particular à condição da mulher para mim mesma. Fui incentivada a continuar pelo meu sucesso. À medida que o ia fazendo, vi que poderia ganhar a vida tão bem quanto um intelectual do sexo masculino e que era levada tão a sério como qualquer um dos meus pares. (…) Cada passo reforçou a minha ideia de independência e igualdade. Assim sendo, tornou-se muito fácil esquecer que uma secretária jamais usufruiria dos mesmos privilégios. (…) De facto, eu pensava, sem nunca admitir, que “se eu posso, também elas podem”. Ao pesquisar e escrever “O Segundo Sexo” apercebi-me que os meus privilégios resultavam do facto de ter abdicado, pelo menos em alguns aspectos cruciais, da minha condição feminina. Se colocarmos isto em termos de classe, percebê-lo-á facilmente: tinha-me tornado uma colaboracionista de classe. Bom, era uma espécie de equivalente nos termos da luta entre géneros. Através de “O Segundo Sexo” tomei consciência da necessidade da luta. Percebi que a grande maioria das mulheres simplesmente não tivera as oportunidades que eu tivera, que as mulheres são, de facto, definidas como um Segundo sexo pela sociedade centrada nos homens, cuja estrutura implodiria caso essa orientação fosse genuinamente destruída. E que, tal como os povos económica e politicamente dominados em qualquer parte do mundo, é muito difícil e lento o desenvolvimento de uma rebelião. Primeiro esses povos teriam que tornar-se conscientes dessa dominação. Depois teriam que crer na sua própria força para transformá-la. Aquelas que lucram com a sua “colaboração” têm que perceber a natureza da sua traição. E, finalmente, aquelas que têm mais a perder por tomarem partido, ou seja, mulheres que, como eu, ascenderam a uma carreira e posição de sucesso, têm de ter vontade de arriscar a insegurança para ganharem respeito próprio. E terão que perceber que, de entre as suas irmãs, as que são mais exploradas serão as últimas a juntarem-se-lhe. (…) Ou seja, por todas estas razões as mulheres não se mobilizaram. Claro que houve movimentos interessantes, muito inteligentes e pequenos, que lutaram por emancipações políticas, pela participação política das mulheres, mas não me reporto a esses. Depois veio o ano de 1968 e tudo mudou. Sei que alguns acontecimentos importantes ocorreram antes disso.(...) De facto, as mulheres americanas estavam bastante mobilizadas por essa altura. Elas, mais do que ninguém, por razões óbvias, estavam mais conscientes das contradições entre a nova tecnologia e o papel conservador de manter a mulher na cozinha. À medida que se desenvolve a tecnologia – sendo esta o poder do cérebro e não do músculo – o raciocínio de que a mulher é o sexo fraco e que, por isso, deve ter um papel secundário já não pode ser racionalmente mantido. Uma vez que as inovações tecnológicas estavam tão largamente difundidas na América, as americanas não poderiam escapar às contradições. Assim, foi normal que o movimento feminista tenha o seu maior impulso no coração do capitalismo imperialista, mesmo que esse impulso tenha sido estritamente económico, ou seja, baseado na reivindicação de salário igual para trabalho igual. Mas foi dentro do movimento anti-imperialista que a verdadeira consciência feminista se desenvolveu. Tanto no movimento contra a Guerra do Vietname como no rescaldo da revolta de 68 em França e em outros países europeu, as mulheres começaram a perceber o seu poder. Tendo percebido que o capitalismo conduz necessariamente à dominação dos povos pobres de todo o mundo, massas de mulheres começaram a juntar-se à luta de classes – mesmo que não aceitassem o termo “luta de classes”. Tornaram-se activistas. Juntaram-se às marchas, manifestações, campanhas, grupos clandestinos e à esquerda militante. Lutaram, tanto quanto qualquer homem, por um futuro sem exploração nem alienação. Mas o que aconteceu? Nos grupos ou organizações a que se juntaram, descobriram que eram tanto o segundo sexo como o eram na sociedade que queriam suplantar. (…) As mulheres tornaram-se as dactilógrafas, as fazedoras de café desses grupos pseudo-revolucionários. Bem, não deveria dizer pseudo. Muitos destes grupos eram genuinamente revolucionários. Mas treinados, desenvolvidos, moldados numa sociedade orientada para o homem, e esses revolucionários trouxeram essa orientação para o seio do próprio movimento. Como é natural, esses homens não abandonariam voluntariamente essa orientação, tal como a classe burguesa não abandonará voluntariamente o seu poder. Assim sendo, tal como pertence aos pobres destruir o poder dos ricos, também pertence às mulheres destruir o poder dos homens. E isso não significa dominar os homens em alternativa. Significa estabelecer a igualdade. Tal como o socialismo, o verdadeiro socialismo, estabelece a igualdade económica entre todos os povos, o movimento feminista aprendeu que terá de estabelecer a igualdade de género através da conquista desse poder à classe dominante dentro do movimento, ou seja, aos homens. Por outras palavras: uma vez dentro da luta de classes, as mulheres perceberam que essa luta não eliminaria a luta entre sexos. Foi neste ponto que me consciencializei do que acabara de dizer. Antes disso estava convencida que a igualdade de género seria apenas possível depois do capitalismo ser destruído e, consequentemente – e é este “consequentemente” que é uma falácia – deveríamos encetar, primeiramente, a luta de classes. É verdade que a igualdade entre sexos é impossível sob o capitalismo. (…) Mas não é verdade que uma revolução socialista estabeleça necessariamente a igualdade sexual. Veja-se a URSS ou a Checoslováquia, onde (mesmo que lhe chamemos “socialistas”, e eu não chamo) existe uma profunda confusão entre emancipação do proletariado e emancipação da mulher. O proletariado acaba sempre por ser composto de homens. Os valores patriarcais mantiveram-se lá tanto quanto aqui. E isso – esta consciência de que a luta de classes não integra a luta de sexos – é o que é novo.
(tradução de Andreia Cunha)
Feliz dia, gajas!
No Barnabé, uma curta e valiosa lição de História. Roubo-lhe a imagem, porque gosto, porque sim. Ide lá, ide.
No Barnabé, uma curta e valiosa lição de História. Roubo-lhe a imagem, porque gosto, porque sim. Ide lá, ide.
domingo, março 07, 2004
Por princípio sou contra as quotas...
... mas neste país atolado em hábitos e mentalidades retrógrados, vejo-me obrigado a defendê-las.
Disse.
... mas neste país atolado em hábitos e mentalidades retrógrados, vejo-me obrigado a defendê-las.
Disse.
Tomar partido II
Tomar partido é irmos à raiz
do campo aceso da fraternidade
pois a razão dos pobres não se diz
mas conquista-se a golpes de vontade.
Cantaremos a força de um país
que pode ser a pátria da verdade
e a palavra mais alta que se diz
é a linda palavra liberdade.
Tomar partido é sermos como somos
é tirarmos de tudo quanto fomos
um exemplo um pássaro uma flor.
Tomar partido é ter inteligência
é sabermos em alma e consciência
que o Partido que temos é melhor.
José Carlos Ary dos Santos
Tomar partido é irmos à raiz
do campo aceso da fraternidade
pois a razão dos pobres não se diz
mas conquista-se a golpes de vontade.
Cantaremos a força de um país
que pode ser a pátria da verdade
e a palavra mais alta que se diz
é a linda palavra liberdade.
Tomar partido é sermos como somos
é tirarmos de tudo quanto fomos
um exemplo um pássaro uma flor.
Tomar partido é ter inteligência
é sabermos em alma e consciência
que o Partido que temos é melhor.
José Carlos Ary dos Santos
Tomar partido I
O Miguel prossegue a sua vigilância às reacções mais-ou-menos-contra ou mais-ou-menos-a-favor das declarações de Santo Villas-Boas [mal aproveitado nome]. Deixo os débitos de legalismo de Rita Lobo Xavier para quem tenha mais competências que eu e passo já ao texto de Carlos Amaral Dias. Concordo com o Miguel na redução do artigo ao "cientifismo", no aspecto em que Carlos Amaral Dias pode expôr as suas convicções sem assim diminuir as legítimas exigências de demissão - baseadas exactamente no preconceito e na falta de credibilidade científica que as malfadadas declarações revelam - sem diminuir, dizia, a actuação de quem não é necessariamente cientista, mas antes cidadão, activista, actor dos movimentos sociais sem os quais os cientistas falariam para o boneco. O dito senhor tem responsabilidades de topo na adopção em Portugal, ocupa um cargo público, fala com base em preconceitos morais e ideológicos, contrariando praticamente todos os discursos científicos relativos à questão. Caro Professor, se isto não é motivo para uma demissão, não sei o que seria.
Mas para mim, e ao contrário do que pretende o Miguel, Amaral Dias acaba por tomar partido, subtilmente, sem compromisso, com base na verdade possível que o pensamento esclarecido e em evolução pode ir alcançando. A ciência toma partidos, se não não é ciência. Toma partido pela procura ao invés do obscurantismo, pela investigação ao invés do preconceito, pela honestidade, pela clareza, pela simplicidade e pela lógica. E digo mais: no seu "e mais não digo" está o partido que não tem coragem de tomar, porque o imprescindível exercício rigoroso da razão não se pode esgotar em si mesmo. Ou não é rigoroso. É oco.
O Miguel prossegue a sua vigilância às reacções mais-ou-menos-contra ou mais-ou-menos-a-favor das declarações de Santo Villas-Boas [mal aproveitado nome]. Deixo os débitos de legalismo de Rita Lobo Xavier para quem tenha mais competências que eu e passo já ao texto de Carlos Amaral Dias. Concordo com o Miguel na redução do artigo ao "cientifismo", no aspecto em que Carlos Amaral Dias pode expôr as suas convicções sem assim diminuir as legítimas exigências de demissão - baseadas exactamente no preconceito e na falta de credibilidade científica que as malfadadas declarações revelam - sem diminuir, dizia, a actuação de quem não é necessariamente cientista, mas antes cidadão, activista, actor dos movimentos sociais sem os quais os cientistas falariam para o boneco. O dito senhor tem responsabilidades de topo na adopção em Portugal, ocupa um cargo público, fala com base em preconceitos morais e ideológicos, contrariando praticamente todos os discursos científicos relativos à questão. Caro Professor, se isto não é motivo para uma demissão, não sei o que seria.
Mas para mim, e ao contrário do que pretende o Miguel, Amaral Dias acaba por tomar partido, subtilmente, sem compromisso, com base na verdade possível que o pensamento esclarecido e em evolução pode ir alcançando. A ciência toma partidos, se não não é ciência. Toma partido pela procura ao invés do obscurantismo, pela investigação ao invés do preconceito, pela honestidade, pela clareza, pela simplicidade e pela lógica. E digo mais: no seu "e mais não digo" está o partido que não tem coragem de tomar, porque o imprescindível exercício rigoroso da razão não se pode esgotar em si mesmo. Ou não é rigoroso. É oco.
sábado, março 06, 2004
Cool...
Which Sex and the City Player Are You? Find out @ She's Crafty
You're upbeat, insightful, effervescent and imaginative.
Sometimes a little too imaginative... You're all about the subtext, about what's going on between the lines. You very rarely take anything at face-value.
You also have a tendancy to be a little neurotic and self-absorbed, and fall for guys who are either (for the most part) emotionally unattainable or completely wrong for you.
That's okay, though, everyone loves you anyway. You're very well-liked. You always have a shoulder for your friends to cry on or an ear for them to gossip in. High-profile and fun, you're the life of the party.
Carrie quotes:
"You can't make friends with a squirrel. Squirrels are just rats with cuter outfits."
"I'm thinking balls are to men, what purses are to women. It's just a little bag but we'd feel naked in public without it."
"The only thing I've ever successfully made in the kitchen is a mess. And several small fires."
Which Sex and the City Player Are You? Find out @ She's Crafty
You're upbeat, insightful, effervescent and imaginative.
Sometimes a little too imaginative... You're all about the subtext, about what's going on between the lines. You very rarely take anything at face-value.
You also have a tendancy to be a little neurotic and self-absorbed, and fall for guys who are either (for the most part) emotionally unattainable or completely wrong for you.
That's okay, though, everyone loves you anyway. You're very well-liked. You always have a shoulder for your friends to cry on or an ear for them to gossip in. High-profile and fun, you're the life of the party.
Carrie quotes:
"You can't make friends with a squirrel. Squirrels are just rats with cuter outfits."
"I'm thinking balls are to men, what purses are to women. It's just a little bag but we'd feel naked in public without it."
"The only thing I've ever successfully made in the kitchen is a mess. And several small fires."
sexta-feira, março 05, 2004
Pelo direito à escolha
Concentração, dia 8 de Março, segunda-feira, às 18 horas, no Largo Camões, em Lisboa. Pela despenalização do aborto. Pelo fim do obscurantismo. Pelo direito ao corpo. Pelo respeito e pela cidadania.
Concentração, dia 8 de Março, segunda-feira, às 18 horas, no Largo Camões, em Lisboa. Pela despenalização do aborto. Pelo fim do obscurantismo. Pelo direito ao corpo. Pelo respeito e pela cidadania.
Heart and Soul
Instants that can still betray us
A journey that leads to the sun
Soulless and bent on destruction
Struggle between right and wrong
You take my place in the show-down
I'll observe with a pitiful eye
And humble ask for forgiveness
A request well beyond you and I
Heart and soul, one will burn
An abyss that lasted creation
A circus complete with all fools
Foundations that lasted the ages
Then ripped apart at their roots
Beyond all this good the terror
The grip of a mercenary hand
When savagery returns
for good reason
There's no turning back the last stand
Heart and soul, one will burn
Existence-well what does it matter
I exist on the best terms I can
The past is now part of my future
The present is well out of hand
Heart and soul, one will burn
One will burn, one will burn
Heart and Soul, one will burn
Ian Curtis
Instants that can still betray us
A journey that leads to the sun
Soulless and bent on destruction
Struggle between right and wrong
You take my place in the show-down
I'll observe with a pitiful eye
And humble ask for forgiveness
A request well beyond you and I
Heart and soul, one will burn
An abyss that lasted creation
A circus complete with all fools
Foundations that lasted the ages
Then ripped apart at their roots
Beyond all this good the terror
The grip of a mercenary hand
When savagery returns
for good reason
There's no turning back the last stand
Heart and soul, one will burn
Existence-well what does it matter
I exist on the best terms I can
The past is now part of my future
The present is well out of hand
Heart and soul, one will burn
One will burn, one will burn
Heart and Soul, one will burn
Ian Curtis
Pouca vergonha!
Não chamo a este post Pornografia porque o Daniel já se adiantou.
Eu nem sei que diga, não sei se me choque [já está], se me revolte [onde é que isso já vai...], se ria [é tentador, mas para isso era preciso ter grandes esperanças em que episódios como este abrissem definitivamente os olhos a algumas pessoas, e infelizmente estou longe de ter quaisquer certezas], se chore [não, isso não, se nos deixarmos todos deprimir nunca mais saímos da merda!]... venho aqui. Ainda bem que este blogue existe [suspiro].
Ando à beira de rebentar com esta questão do aborto. Começa a tornar-se intolerável admitir que um grupo político-moral-ideológico-religioso ou mesmo apenas conscientemente exercendo o seu direito ao livre pensamento consiga impor a sua vontade, do meio do novelo das suas próprias convicções e contradições, e sentir-se no direito de agredir a liberdade individual e física das mulheres deste país. Mas as mulheres já não são único e suficiente alvo, pois que uma vez perdidas... sim senhores, de pequenino se torce o destino, já diz o Sérgio, e deixemos agora ir a vós as criancianhas - para que comecem desde já a perder a sanidade mental.
Olhem para isto e digam-me que porra poderia ter a ver com a despenalização do aborto?!
E agora leiam isto, e digam-me lá se não há gente que mete nojo?!...
Perdoem-me o latim, mas já não há CÚ!
Não chamo a este post Pornografia porque o Daniel já se adiantou.
Eu nem sei que diga, não sei se me choque [já está], se me revolte [onde é que isso já vai...], se ria [é tentador, mas para isso era preciso ter grandes esperanças em que episódios como este abrissem definitivamente os olhos a algumas pessoas, e infelizmente estou longe de ter quaisquer certezas], se chore [não, isso não, se nos deixarmos todos deprimir nunca mais saímos da merda!]... venho aqui. Ainda bem que este blogue existe [suspiro].
Ando à beira de rebentar com esta questão do aborto. Começa a tornar-se intolerável admitir que um grupo político-moral-ideológico-religioso ou mesmo apenas conscientemente exercendo o seu direito ao livre pensamento consiga impor a sua vontade, do meio do novelo das suas próprias convicções e contradições, e sentir-se no direito de agredir a liberdade individual e física das mulheres deste país. Mas as mulheres já não são único e suficiente alvo, pois que uma vez perdidas... sim senhores, de pequenino se torce o destino, já diz o Sérgio, e deixemos agora ir a vós as criancianhas - para que comecem desde já a perder a sanidade mental.
Olhem para isto e digam-me que porra poderia ter a ver com a despenalização do aborto?!
E agora leiam isto, e digam-me lá se não há gente que mete nojo?!...
Perdoem-me o latim, mas já não há CÚ!
Em aterragem
Um espectáculo que termina é uma vida que acaba e se renova. É um alívio angustioso. É uma satisfação triste. Ainda iremos a Setúbal, mas cada récita terminada deixa de ser mais uma para ser menos uma. Terei muitas saudades dos desvarios cénicos dos lunáticos génios da matemática e dos privados desvarios de cada uma daquelas vozes e daquelas almas que encheram fatos de espuma e personagens. Do meu querido companheiro de cena e contracena, sempre tão atento, sempre tão generoso, sempre tão inspirador nas trocas e reconfortante nas energias. Dos senhores-músicos-instrumentistas que nos afagaram o soalho limpo e regular onde deslizaram os pés destes tangos. Do jardineiro-do-roseiral, que tanto tempo dedicou a cada um de nós e dos gritos de dor colectiva nascidos dos exercícios que nos fortaleceram corpo e espírito a cada passo.
Este foi o meu brinde para cada um deles na noite da estreia. Hoje é também o meu brinde de despedida.
Acho sempre que estes putos estão prestes a voar. Como nós esta noite. MERDA!!!
Fajã do Ouvidor, São Jorge, Açores
Um espectáculo que termina é uma vida que acaba e se renova. É um alívio angustioso. É uma satisfação triste. Ainda iremos a Setúbal, mas cada récita terminada deixa de ser mais uma para ser menos uma. Terei muitas saudades dos desvarios cénicos dos lunáticos génios da matemática e dos privados desvarios de cada uma daquelas vozes e daquelas almas que encheram fatos de espuma e personagens. Do meu querido companheiro de cena e contracena, sempre tão atento, sempre tão generoso, sempre tão inspirador nas trocas e reconfortante nas energias. Dos senhores-músicos-instrumentistas que nos afagaram o soalho limpo e regular onde deslizaram os pés destes tangos. Do jardineiro-do-roseiral, que tanto tempo dedicou a cada um de nós e dos gritos de dor colectiva nascidos dos exercícios que nos fortaleceram corpo e espírito a cada passo.
Este foi o meu brinde para cada um deles na noite da estreia. Hoje é também o meu brinde de despedida.
Acho sempre que estes putos estão prestes a voar. Como nós esta noite. MERDA!!!
Fajã do Ouvidor, São Jorge, Açores